PATRIMÔNIOSPOSSÍVEIS

Arte, Rede e Narrativas da Memória em Contexto Iberoamericano

113

Arte, Patrimônio e Tecnologia

Objetos de Afeto: Tecendo Redes Colaborativas

Abordando o afeto como elemento conectivo e a diversidade como um dos elementos essenciais na tessitura de redes, apresentamos neste artigo projetos de arte colaborativa desenvolvidos em residências artísticas e em escolas públicas brasileiras, destacando seu potencial de transformação social e de alargamento dos conceitos e campos de atuação e produção artística. A colaboração tem no elemento da diversidade uma possibilidade rica de trocas que potencializa o grupo, em que o afeto torna-se o ingrediente essencial na criação de vínculos e transformação do cotidiano, no resgate de memória e na preservação do patrimônio.

Focusing on affection as a link element and diversity as one of the essential elements to the weaving of the network, we show to you collaborative art projects that were developed in artistic residences and at public schools, showing its potential of transformation and enlargement of concepts and fields of actuation and artistic production. Collaboration has in the diversity element an enriching changing of information that strengthens the entire group, where the affection becomes the main ingredient to create a bond and to transform the daily life, rescue memories and conserve heritage.

Autoria

Izabel Goudart

Artista e educadora. Docente e pesquisadora do quadro permanente do Colégio de Aplicação da UFRJ. Pós-doutoranda em Arte e Tecnologia do Media Lab/UFG, doutora em Comunicação e Semiótica (PUC/SP), mestre em Educação (UERJ) e licenciada em Química (UERJ).


114

O Tecer

O ato de tecer ou tessitura é uma tecnologia ancestral e que faz parte das manifestações e do patrimônio cultural dos povos ibero-americanos. Enquanto tecemos, narramos nossas histórias e vamos atando nossas memórias, partilhando nossos saberes e práticas, elaborando na urdidura e trama signos impregnados de nossos valores estéticos, éticos e políticos, impregnados de nossa subjetividade como indivíduos, comunidade, povo. Evoluímos e continuamos a tecer, tecemos redes de transporte, redes elétricas e de comunicação, redes desmaterializadas em bits e bytes da cultura digital. Tecemos uma memória expandida em uma profusão de arquivos textuais, sonoros e imagéticos, arquivadas em hardwares e serviços, distribuídas e comutadas por meio de diversos softwares e redes sociais. Tecemos uma comunicação globalizada e em rede, que modificou nossa noção de temporalidade e território. Ora expandindo, ora contraindo, ora apagando a noção de passado e futuro, reclamando uma atenção no aqui e agora, trazendo outras demandas e parâmetros que influenciam as formas de vincular e conectar indivíduos e gerações e os modos de produção e difusão de conhecimento e práticas.

Fig.1. Texto de Giordano Bruno, Os vínculos.
Fonte: acervo do projeto Aprender Brincando

O tecer carrega em si a memória da prática manual, da tessitura com as mãos. Esse ato que, na repetição de cada ponto, vai vinculando e gerando sentido e sentimento de conectividade e de capacidade de experimentar, de realizar e de estruturar. A cultura digital vem nos reconectar com essa dimensão do tecer, na qual a participação, a partilha e a colaboração vão propiciando a tessitura de outras redes e outros modos de fazê-las. Fazer redes é uma habilidade dialógica, em que precisamos lidar com uma zona ambígua da experiência, onde a habilidade e competência se encontram com a diferença insuportável (SENNET, 2012, p.18 ). Precisamos desenvolver a capacidade de negociação, de experimentação do novo e, mais ainda, de estruturação das mudanças ao longo do tempo; de desenvolver a empatia, isto é, a arte do encontro, a arte de mostrar-se mais atento ao outro em seus próprios termos. É nesse âmbito que os processos colaborativos despontam como possibilidade de contribuir e potencializar a tessitura de redes, de gerar um processo educativo voltado para o desenvolvimento de uma comunicação dialógica, empática e o florescer de afetos que contribuam para potência de agir individual e coletiva. Tecer redes é conectar ações, vincular, e o afeto é um ingrediente essencial nessa tessitura. Pois fazer rede é afetar, provocar um antes e um depois, potencializar o agir. A rede cessa quando o afetar se perde, quando a arte de narrar a si e o outro desaparece (GOUDART, I e GUIMARÃES, M, 2014, p. 186). Nessa perspectiva, encontramos em Spinoza (2013) uma filosofia prática que considera o afeto nessa dimensão de atuar na potência de agir de um corpo integrado à mente e numa perspectiva relacional com outros corpos.

Desde a confecção de artefatos materiais tecidos que nos possibilitaram coletar, caçar, armazenar, transportar, acolher, proteger, adornar, edificar e vestir, até a abstração das malhas urbanas e redes telemáticas, a tessitura constituiu-se como atividade voltada para a experiência coletiva de partilha, de mobilidade, de preservação e armazenamento, de comunicação. Artefatos e dispositivos materiais e imateriais que denominamos aqui de Objetos de Afeto. Objetos que provocam a experiência do vínculo, mas não apenas o ato de vincular unindo, costurando, mas o que a conectividade proporciona para além da matéria tecida (GOUDART, I e GUIMARÃES, M, 2014, p. 184).

115

A conectividade como propriedade sistêmica exprime a capacidade de agir sobre algo, de modificar sua linha de comportamento, sua trajetória ou sua história, a capacidade de estabelecer relações. A questão que trazemos é de que forma os processos colaborativos articulam a produção de vínculos, a conectividade e a tessitura de redes e o quanto esse tipo de articulação está relacionado com uma continuidade e permanência dos sistemas no tempo, ligados às formas como articulamos nossa sensibilidade, memória e elaboração das informações retidas, isto é, nossa capacidade de aprender no sentido alargado do termo – condição necessária à adaptação e evolução dos sistemas complexos. A capacidade de cooperar está enraizada nas etapas iniciais do desenvolvimento humano, mas precisa ser desenvolvida e pressupõe um conjunto de habilidades relacionadas com a capacidade de entender e mostrar-se receptivo ao outro para agir em conjunto, para partilhar. É na partilha que compensamos o que nos falta individualmente (SENNET, 2012).

Arte da Colaboração e Arte Colaborativa

Na proposição de projetos colaborativos que articulem arte, ciência e tecnologia, acolhemos o conceito de partilha do sensível de Jacques Rancière. Consideramos tais práticas como um campo de partilha do comum no que estas, “articulando maneiras de fazer, formas de visibilidade de maneiras de fazer e modos de pensabilidade de suas relações”, intervêm na experiência coletiva (GOUDART apud RANCIÈRE, 2012, p.14). Campo da partilha que é alimentado pela diversidade de experiências, formações culturais, competências e campos de conhecimentos específicos, pontos de vista e idades dos colaboradores, originando um tipo de experiência que tem na diferença um elemento fundamental. É na contraposição entre o que é comum e o que é particular que surgem possibilidades de conscientização de nossos próprios pontos de vista e valores, de ampliar um sentido de pertencimento e a capacidade de compreensão recíproca. Criam-se também oportunidades de exercício de uma vivência permeada pela ludicidade e jogo e de estratégias de interação social que facilitem o contato com a diversidade, apontadas por Richard Sennet (2012) como formas de ressignificação da noção de espaço e de um imaginário público liberto da lógica individualista capitalista (CAMPBELL, B., 2015)

No contexto contemporâneo, são projetos que incorporam as tecnologias digitais e os princípios da cultura livre e da cultura maker , elegendo a participação, a partilha e a colaboração como modo de propiciar processos abertos e horizontais e o fazer com as mãos como um modo de gerar autonomia e apropriação crítica das tecnologias, competência e domínio nas linguagens interativas da era digital. De um certo modo, recontextualizam os modos de transmissão de saberes e práticas das antigas oficinas medievais, reunindo nos laboratórios abertos experts e novatos para o desenvolvimento de projetos. Tais práticas, articuladas com as tecnologias tradicionais, possibilitam maior intercâmbio entre gerações, facilitando o registro, a preservação e a transmissão de saberes e memórias. São projetos que por sua abertura borram os limites que os contextualizam em um campo de saber específico. Estão centrados na experiência que provocam, na afecção que geram, sendo suscetíveis às mudanças provocadas, ao longo do processo, pelas interações e colaborações dos participantes, que vão acrescentando outras camadas não previstas.

116

Enquanto proposições artísticas, os projetos não estão centrados na produção de um objeto de arte ou uma ação performática, e também não se trata de produzir uma obra interativa ou arte relacional como discutida por Nicolas Bourriaud em Estética Relacional (2009), mas se inserem dentro de um corpo de projetos que enfatizam as relações sociais, a coletividade, a colaboração e o engajamento com pessoas e situações “reais”, propiciando ambiente que estimule a criação e o intercâmbio envolvendo todos os que atuam na concretização do projeto proposto. São projetos focados no cotidiano e na problematização dos modos de vida socialmente instituídos, em que os artistas atuam como mediadores sociais que ativam temporariamente o convívio (CAMPBELL, B., 2015, p. 41). Projetos que alargam os conceitos e campos de atuação e produção artística e que carregam grande potencial de transformação individual e coletiva.

Apresentaremos dois projetos realizados em contextos distintos, mas que situamos na perspectiva da arte colaborativa e de uma estética conectiva. O primeiro projeto, denominado Autonomias do Silêncio, foi realizado em 2012, no Interactivo´s Nuvem Hack Lab Rural; o segundo, Objetos de Afeto, foi realizado em 2014, em duas escolas públicas do estado do Rio de Janeiro, uma rural e outra urbana.

Autonomias do Silêncio

Autonomias do Silêncio é um projeto de arte colaborativa desenvolvido durante a residência de quinze dias, realizada na sede da Nuvem – Estação Rural de Arte e Tecnologia, situada, na época, no Vale do Pavão, em Visconde de Mauá. O projeto foi selecionado na chamada para o Interactivos, programa do Media Lab Prado (Madrid, Espanha), realizado em 2012, no Brasil, em parceria com a Nuvem. O Interactivos é uma plataforma de investigação e produção acerca da utilização criativa e educacional das tecnologias. O objetivo é propiciar o aprofundamento do uso da eletrônica e da programação por artistas, designers e educadores, contribuindo para o desenvolvimento de comunidades locais de produtores culturais nesse âmbito.

O Interactivos Nuvem 2012 abriu uma convocatória internacional para apresentação de seis projetos que abordassem a temática da Autonomia Rural e uma convocatória para colaboradores. Um dos projetos selecionado deveria ser de proposição de um residente da região de Visconde de Mauá. O projeto selecionado foi o Autonomias do Silêncio, que propunha abordar o silêncio como recurso natural em extinção e patrimônio ambiental e cultural a ser preservado. Elaborado pela bióloga Mariana Quinteiro e alguns amigos residentes da região, o projeto propunha uma vivência de escuta no Parque Nacional de Itatiaia e de transformação das formações rochosas chamadas Prateleiras em um estúdio eco-rústico. Um estudo sobre o silêncio a partir de uma experiência em campo em uma região de grande altitude:

Entender o silêncio... a princípio este trabalho buscou associar duas formas de autonomia. A primeira versa sobre a autonomia pessoal da escuta, encontrada em diferentes culturas ditas “rústicas”, em que momentos de silêncio são fundamentais para a compreensão de modos de vida com intensa conexão com os ciclos naturais. A segunda incorpora a autonomia de um estúdio “eco-rústico”, de gravação musical ao ar livre, utilizando o silêncio como uma das ferramentas de acústica de formações rochosas de grande amplificação, efeito e retorno. (Autonomias do Silêncio, 2012)

117

Mariana Quinteiro pesquisa as culturas e saberes tradicionais da Mata Atlântica, com ênfase em etnoconservação e etnobotânica. Mariana conduziu, com muita sensibilidade, um grupo de colaboradores de origens culturais, idades e formações diversas no desenvolvimento colaborativo do projeto. O grupo, formado por músicos da região, uma artista visual, um cientista social, uma bióloga, uma educadora e uma alquimista do software mexicana, reuniu arte, ciência, educação e tecnologia na cocriação de um projeto artístico resultante dos arquivos textuais, sonoros e imagéticos gerados ao longo da experiência no Parque de Itatiaia e das reflexões e pesquisas realizadas durante a residência no Vale do Pavão.

O silêncio é um patrimônio imaterial da humanidade. A prática do silêncio é considerada, em muitas culturas, como geradora de autonomia interior, por resultar em formas de escutas que vão além do fenômeno auditivo (Autonomias do Silêncio, 2012). Como propiciar uma experiência que possibilitasse refletir sobre o silêncio na condição de recurso natural e cultural foi uma das proposições sobre as quais a equipe de proponentes e colaboradores se debruçou durante os quinze dias. A riqueza da diversidade de pontos de vista, saberes e práticas de um grupo reunindo cientistas, artistas, educadores e moradores da região resultou em intensa produção de arquivos digitais originários dos registros imagéticos e sonoros de escuta no Parque de Itatiaia e textos produzidos pelo grupo. Arquivos reunidos em uma plataforma na web , uma instalação interativa e uma publicação impressa com versão digital .

A colaboração vai acrescentando camadas não previstas inicialmente, propiciando que o processo de cocriação seja potencializado. Uma estética conectiva brota como parte do processo, tendo no afeto e na partilha seus alicerces. O afeto é um elemento presente na escolha inicial dos colaboradores do projeto em que irão trabalhar, o tema é o objeto de afeto. A residência proporciona um habitar intensivo, e na convivência diária outros afetos vão surgindo, seja por afinidades pessoais ou por partilhas de experiências. Esse elemento conectivo vai tecendo as tramas e urdiduras e levando para caminhos imprevistos, caminhos construídos na experiência e pela experiência.

Fig.1. Página 8 da publicação produzida na residência.
Fonte: acervo do coletivo Autonomias do Silêncio

Assim como a tradição oral, a cultura do silêncio vem sendo perdida e, com ela, o olhar contemplativo, a escuta da natureza in situ, a reverberação que esta faz na mente humana e a autonomia que proporciona. Se alguns sons se encontram em extinção pelo desaparecimento de elementos da fauna e por mudanças na paisagem no nível global, esse silêncio igualmente se percebe ameaçado. Não pode ser medido, nem definido, mas experienciado, pois sua morada está além das palavras. (Autonomias do Silêncio, 2012)

Fig. 3. Página 4 da publicação produzida na residência.
Fonte: acervo do coletivo Autonomias do Silêncio
Fig. 4. Página 7 da publicação produzida na residência.
Fonte: acervo do coletivo Autonomias do Silêncio (atenção para critérios; dois pontos, maiúscula em página...)
Fig. 5. Página 13 da publicação produzida na residência.
Fonte: acervo do coletivo Autonomias do Silêncio
Figura 6.1. Cartões-postais para download disponibilizados no site.
Fonte: http://nuvem.tk/sites/silencio/?postais/
Figura 6.2. Cartões-postais para download disponibilizados no site.
Fonte: http://nuvem.tk/sites/silencio/?postais/
118

Objetos de afeto e tramas da escola: tecendo redes

A escola é um lugar que habitamos, espaço, comunidade na qual passamos boa parte de nossas vidas. É um território delimitado, onde habita uma comunidade que se articula em torno do propósito de educar coletivamente nossas crianças e jovens. Objetos de Afeto foi um projeto de arte colaborativa que se debruçou sobre a tessitura de redes e afetos no ambiente escolar e seu significado na educação e no cotidiano da comunidade. O projeto foi pensado a com base na proposição de laboratórios abertos: convidamos artistas, designers e programadores para tecerem redes com a comunidade escolar. Ao longo de três meses, tecemos coletivamente um livro bordado, tecemos redes wifi, tecemos uma rede para nossas árvores com crochê de dedo, tecemos cadeiras e mesas para o refeitório, tecemos narrativas coletivas e, assim, fomos narrando nossas histórias individuais e coletivas, criando vínculos, reavivando o afeto e a vida que pulsa para além dos currículos.

Na investigação das tessituras das redes e dos vínculos estabelecidos nessa trama, o laboratório aberto Objetos de Afeto e Tramas da Escola: Tecendo Redes, realizado em 2014 no Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp/UFRJ) e no Colégio Estadual Antônio Quirino (Visconde de Mauá, RJ), reuniu a iniciativa de dois projetos de pesquisa, ensino e extensão do CAp UFRJ, Aprender Brincando: uma Experiência Colaborativa e Arte do Fio, coordenados, respectivamente pelas docentes Izabel Goudart (Química) e Mariana Guimarães (Artes Visuais).

Aprender Brincando é um projeto de pesquisa, ensino e extensão que propõe a realização de laboratórios abertos voltados para o exercício da aprendizagem em rede e arte colaborativa. É experimento e investigação cujo intuito é tornar-se experiência, investigando as possibilidades e desdobramentos políticos, estéticos e éticos do uso da linguagem digital e tecnologias contemporâneas na construção de novos ambientes de aprendizagem, de modalidades de construção de conhecimento colaborativo em rede e da disseminação de princípios da cultura livre de participação, partilha e colaboração como fundamento para desenvolver uma ética de conectividade no ambiente escolar.

Arte do Fio utiliza a linguagem da bordadura nas Artes Visuais para produzir experiência na educação a partir da relação da arte com a ancestralidade da linguagem do bordado, da bordadura como linguagem de experiência, afeto, vínculo e liberdade. É uma investigação conceitual e plástica da bordadura contemporânea e seus inúmeros desdobramentos políticos, estéticos e éticos na educação e nas artes visuais. Na interseção dos dois projetos, o fazer manual da bordadura, do tecer com fios e agulha, com as mãos, alinhou-se ao tecer com fios invisíveis das práticas da cultura maker, da cultura livre, da linguagem da programação. E foram muitos e muitas mãos na construção coletiva de processos e objetos de afeto. Para tecer essa narrativa, selecionamos fragmentos de textos elaborados pelas educadoras e artistas Izabel Goudart e Mariana Guimarães (2015) e imagens do projeto:

119

Do livro-objeto

O bordado marca o suporte, decompõe o tempo no tecido, decompõe a vida. A linha impregna-se de tecido, adentra-se em suas tramas, entranha-se. Cada ponto bordado é um registro e um desejo de permanecer (GUIMARÃES, 2014). Assim, no suporte do tecido, foi bordado o livro-objeto; bordado por muitas mãos, tecido no desejo de permanecer, de registrar a experiência para propiciar experiência. Experiência que se constrói na linguagem e a partir dela, que, no ato de construir um objeto, do fazer artesanal, apropria-se da potência de agir, de afetar e ser afetado. É uma tessitura de afetos, em que cultivamos a alegria e a arte do encontro (consigo, com o outro, com os objetos, com o entorno) como um exercício de percepção dos afetos que aumentam ou diminuem nossa potência de agir.

Fig.7.1. – Livro-objeto - processos.
Fonte: Acervo do projeto.
Fig.7.2. – Livro-objeto - processos.
Fonte: Acervo do projeto.
Fig.7.3. – Livro-objeto - processos.
Fonte: Acervo do projeto.

Da rede de croché de dedo

Ao tecermos redes, adotamos uma perspectiva ecossistêmica e aprendemos pela e na experiência que interdependência e interconectividade são fios que tecem a trama da vida, pois somos muitos corpos; “o corpo humano compõe-se de muitos indivíduos (de naturezas diferentes), que são afetados pelos corpos exteriores de muitas maneiras e que têm necessidade, para conservar-se, de muitos outros corpos, pelos quais ele é como que continuamente regenerado” (SPINOZA, 2013, p.105). Assim, estendemos a rede nas árvores e bordamos linhas de comandos de programação. Linha que se adentra, entranha-se nos muros e paredes da escola, que imprime marcas em nossos corpos, afetando-nos, aumentando ou diminuindo nossa potência de agir.

Fig.8 – Rede tecida coletivamente por alunos da Escola Inácio de Azevedo.
Fonte: Acervo do projeto

Os objetos tecidos durante os laboratórios foram proposições iniciais dos artistas e programadores, que, partilhando seus processos e produções, orientaram o desenvolvimento colaborativo dos projetos. E é na poesia de Manoel de Barros que encontramos uma tradução de toda a potência desses processos. O vídeo Oficina é um relato audiovisual das experiências vividas, daquilo que as palavras não traduzem.

Fig.9. Frame do vídeo Oficina.
Fonte:https://youtu.be/SzO5BbRp9u8
120

Colaborando

A vida corre nessa complexa trama com velocidades diferenciadas. Os graus de intensidade e qualidade de participação estarão relacionados com as diversas modalidades de interação. A interatividade pluridirecional das redes digitais, com o uso de múltiplos recursos comunicacionais inseridos em redes distintas e interconectadas, aumentou o grau de sociabilidade, a abertura para as trocas, a diversidade, a solidariedade, a abertura para ações fomentadas pela prática da partilha de informação, conhecimento e afetos. A participação e a partilha favorecem o desenvolvimento da confiança e da reciprocidade e o reconhecimento da interdependência como uma propriedade que potencializa a construção colaborativa de redes de aprendizagem e conhecimento. A colaboração emerge como um padrão de comportamento de rede que favorece a diversidade de pontos de vista, de experiências, de saberes (práticos, científicos, comuns), que, junto com a flexibilidade, possibilita que o sistema permaneça sobrevivendo às perturbações e adaptando-se às condições mutantes. Por sua vez, as parcerias fundadas na confiança e na solidariedade propiciam que ambos os parceiros aprendam e mudem, coevoluam. Esses são princípios de organização de ecossistemas, uma ecologia de rede à qual precisamos estar atentos, reconhecer, preservar e cultivar.

Referências Bibliográficas

AUTONOMIAS DO SILÊNCIO (equipe). Texto de apresentação do projeto. Disponível em: http://nuvem.tk/sites/silencio/ , acesso em 25 de agosto de 2016.

BORRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. Tradução: Denise Bottman. 1.ed. São Paulo: Martins Editora, 2009

CAMPBELL, Brígida. Arte e esfera pública. Arte como gatilho sensível para a produção de novos imaginários. In: IPANEMA, Rogéria de; PUCU, Isabela; HOUAYEK, Hugo.; FERREIRA, Giovanni e MACHADO, Danielle. (Orgs.). Cidade em Obras – Imaginar, ocupar , redesenhar. 3o Encontro de Pesquisadores dos Programas de Pós-Graduação em Artes do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Belas Artes, Programa de Artes Visuais, 2015.

GABLIK, Susi. Estética conectiva: a arte depois do individualismo. In: BARBOSA, Ana Mae; GUINSBURG, J (Orgs.). O pós-modernismo. São Paulo: Perspectiva, 2008.

LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução: Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. (Coleção Educação: Experiência e Sentido)

GOUDART, Izabel. Cartografias da aprendizagem em rede: rastros das dinâmicas comunicacionais do Visualizar’11, Medialab Prado. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.

GOUDART, Izabel e GUIMARÃES, Mariana e,. Presença, vínculos e redes: por uma pedagogia da conectividade. In: ROCHA, Cleomar; SANTAELLA, Lucia (Orgs.). A Onipresença dos Jovens nas Redes Digitais. Sociotramas 2. Goiás: Cegraf UFG, 2014, pp. 169-190.

GUIMARÃES, Mariana de Souza. O design dos objetos artesanais produzidos no cotidiano de mulheres idosas. Dissertação (Mestrado em Artes e Design). Departamento de Artes e Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

____. Bordadura nas Artes Visuais. Vídeo documentário, XV Prêmio Arte na Escola Cidadã. São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HIg2VMw8Wzo. Acesso em 28 jun. 2015.

SENNET, Richard. Juntos: os rituais, os prazeres e a política da cooperação. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012.

VIEIRA, Jorge de Albuquerque. Teoria do conhecimento e arte: formas de conhecimento- arte e ciência uma visão a partir da complexidade. Fortaleza: Expressão, 2008.

Para mais informações sobre a trajetória da educação no campo da preservação do patrimônio cultural, ver: IPHAN, 2014; BIONDO, 2016.

Desde a publicação do Guia Básico de Educação Patrimonial (1999), primeira publicação sobre a temática, o Iphan não teria se manifestado oficialmente sobre o entendimento e a concepção deste campo.

Segundo Paulo Freire, a educação problematizadora é um esforço permanente no qual os homens, sujeitos do processo, vão se percebendo criticamente no mundo, pensam em si próprios e em sua condição frente à realidade.

“O INRC instrumentaliza o estabelecido no art. 8º do Decreto nº 3.551/2000, que institui: ‘[...] no âmbito do Ministério da Cultura, o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, visando a implementação de política especifica de inventário, referenciamento, e valorização desse patrimônio”.