1. Introdução
O Museu da Pessoa, fundado em São Paulo em 1991, é um museu virtual e colaborativo voltado para o registro, preservação e disseminação de histórias de vida. Foi pioneiro no Brasil ao perceber o potencial do multimídia no contexto da história oral. Um dos primeiros museus virtuais do mundo, desenvolveu plataforma digital que permite ampla participação do público seja acessando o acervo, seja produzindo suas próprias histórias e coleções. Devido a isso, é considerado pelo ICOM, do qual é membro institucional, um dos polos de inovação da museologia social brasileira, garantindo o acesso gratuito de todos aos registros de suas memórias.
2. Constituição de um acervo singular
Após 25 anos de atuação, o Museu da Pessoa constituiu um acervo audiovisual que apresenta a história do Brasil de fins do século XIX até hoje. São mais de 17 mil histórias de vida e 60 mil imagens digitalizadas (desenhos, ilustrações, documentos pessoais, mapas etc.) que retratam a memória oral do país: de histórias sobre a construção de Brasília às tradições ribeirinhas na Amazônia; das lembranças de trabalhadores escravos ao processo imigratório e migratório do país; dos detalhes do processo de criação artística das bonequeiras do Vale do Jequitinhonha ao saber das rezadeiras, benzedeiras e parteiras características da cultura tradicional brasileira. Uma história conhecida por dentro, vivida e narrada pelas próprias pessoas.
Apesar do período de constituição deste acervo ser relativamente recente, seu conteúdo transcende, em muito, este período da história brasileira. As narrativas de vida, assim como as imagens coletadas, referem-se não somente à trajetória de vida dos entrevistados. Nelas estão também presentes as origens familiares e suas trajetórias espaciais, sociais e culturais.
Às narrativas, soma-se o conjunto de imagens coletadas junto aos entrevistados durante a realização da entrevista. Trata-se de uma coleção ímpar em instituições museológicas. São imagens digitalizadas que retratam a vida privada da população brasileira nos últimos 150 anos. São fotos de infância, escola, família, casamento, viagens, trabalho, pequenos negócios, empreendimentos e estabelecimentos comerciais familiares, cidade, parques públicos, teatro, festas populares ou religiosas entre outros.
Este acervo possibilita uma ampla democratização da construção do saber histórico na medida em que inclui múltiplas vozes que, de forma absolutamente deshierarquizada, terminam por compor a diversidade cultural do país. Estão presentes narrativas indígenas , de comunidades ribeirinhas e quilombolas, assim como histórias que apresentam um Brasil industrial .
Um ponto de destaque do acervo do Museu da Pessoa é justamente sua capacidade de abordar diversos níveis de um “jogo de escalas” histórico (GINZBURG, 1976). Níveis não alcançáveis com a utilização de apenas livros ou documentos. O valor aqui reside nas experiências e vivências de cada entrevistado, daí seu caráter de patrimônio cultural imaterial, de valorização de saberes e tradições. Ao lermos, por exemplo, o depoimento de uma comerciante nascida em São Paulo, descobrimos que seu avô paterno veio da Itália, fugido da 1ª Guerra Mundial, conhecendo sua futura esposa, pernambucana, no porto de Santos. Ou seja: a partir da história de uma pessoa, conseguimos pesquisar temas de relevância nacional e até mesmo mundial, como a 1ª Guerra Mundial, a imigração italiana, a migração nordestina e o crescimento da cidade de São Paulo. A observação do micro para o macro é também possível. Privado e geral estão imbricados e garantem a riqueza e singularidade deste acervo.
443. Histórias de vida como patrimônio
Durante a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (2003), a UNESCO definiu este patrimônio como:
As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas -junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados- que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural .
Trabalhar com história requer compreender os valores por trás das escolhas que movimentaram a ordem dos acontecimentos no tempo e no espaço. Deste modo, o acervo do Museu da Pessoa encontra-se em total sintonia com a compreensão contemporânea do valor histórico presente na vida de pessoas comuns assim como no conhecimento acumulado por diversas comunidades culturais.
Enquanto a grande maioria dos documentos preservados em arquivos públicos é constituída por documentos oficiais, isto é, produzidos pelos órgãos oficiais de Estado, o Museu da Pessoa abre seu espaço museal à memória do cidadão comum sem hierarquia social. Além da memória de personalidades reconhecidas nacionalmente em áreas de atuação diversas, neste acervo a memória de toda e qualquer pessoa é valorizada como fonte de pesquisa histórica.
O valor histórico e patrimonial deste acervo está justamente em sua representatividade enquanto memória coletiva brasileira, indo de encontro com o estipulado pela UNESCO no que tange à conscientização local, nacional e internacional sobre a importância de práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas considerados patrimônio cultural do Brasil. Através da preservação e disseminação de suas histórias e saberes, o museu contribui com o respeito às comunidades, grupos e indivíduos envolvidos.
Um museu com um acervo de depoimentos orais não é uma novidade, pelo menos no Brasil. Entre as décadas de 60 e 80 do século XX proliferou a criação de museus da imagem e do som em todo o país. Estes museus, na sua maioria ligados à autarquia local (prefeitura ou mesmo governo estadual), foram criados com objetivo de preservar as histórias de grandes figuras da cultura local. A maioria deles trabalha com depoimentos orais de personalidades ligadas à música, literatura, cinema e fotografia. Além da criação de museus com enfoque nas histórias de vida, houve a proliferação do uso da história oral pela academia nos anos 70, mas sempre em projetos esparsos sem conexão entre si. O que é mais comum nos museus é a utilização de depoimentos de histórias de vida como uma documentação complementar aos objetos do acervo. No Museu da Pessoa as histórias de vida são o seu próprio acervo.
Mais do que musealizar pessoas, o seu foco é musealizar suas histórias, seus gestos e suas visões de mundo. A ideia de um museu aberto, construído em rede, e que permitisse, da forma mais ampla possível, a participação do público como criador de seu acervo levou a instituição a repensar conceitos de espaço, acervo e preservação. As novas tecnologias, então incipientes, foram definitivas para o estabelecimento de novos pressupostos de trabalho. Narrativas são objetos intangíveis por sua própria natureza. Não cabia ao Museu da Pessoa transformá-las em objetos tridimensionais - i.e. ter como foco apenas a preservação dos suportes -, nem mesmo concentrá-las em um dado “espaço”. A conclusão foi então a de que esta sede deveria ser virtual: uma base de dados organizada de forma a permitir amplo uso pela equipe do Museu da Pessoa assim como pelo público.
454. O Portal
O conceito de museu virtual é relativamente novo na museologia e surgiu a partir da década de noventa do século XX. Antes disso, o uso da Internet estava restrito ao ambiente acadêmico. De 1994 em diante, com a disseminação da Internet comercial, os museus passam a explorar o ambiente virtual, criando novas perspectivas na apresentação de seu acervo (HENRIQUES, 2004).
Desde sua criação, o Museu da Pessoa foi concebido para ser um museu virtual de histórias de vida. O objetivo não era ter um espaço físico para visitação, mas tentar alcançar um número mais abrangente de pessoas. Por ter se caracterizado desta forma, o patrimônio cultural imaterial constituído pelo acervo do museu não tem localidade definida. A sede física da instituição, assim como a reserva técnica que abriga as mídias contendo as histórias de vida e imagens, está localizada no bairro da Vila Madalena, em São Paulo capital. No entanto, o acesso a todo o conteúdo sempre se deu via internet, através do "real" endereço do museu: www.museudapessoa.net.
O site inicial do Museu da Pessoa, lançado em abril de 1996, pouco diferia da política de atuação dos primeiros sites na web: não passava de uma página institucional para divulgar o trabalho realizado pela Instituição. A home era repleta de links e redirecionamentos para outras páginas e informações em texto predominavam.
Já em 1997, com o avanço da internet, no Brasil e no mundo, e a visão cada vez mais clara de que seu uso significava uma mudança profunda e irreversível de paradigma, o Museu da Pessoa optou por abrir ao usuário a possibilidade de registrar sua própria história. Foi iniciada, então, a primeira versão da seção Conte sua História , cuja função era incentivar os leitores a participar criando novos conteúdos para o site. Logo em seguida, em 1998, este site foi considerado pelo New York Times uma das iniciativas mais inovadoras em Museus em todo o mundo .
O maior problema que se evidenciava naquele momento era a ausência de uma base de dados que desse suporte ao acervo, o que possibilitaria não só a organização do material, mas principalmente uma busca mais refinada no conteúdo. Assim, em meados dos anos 2000, teve início um processo de revisão do papel da instituição como museu e uma preocupação com a articulação de iniciativas, para que as histórias se conectassem e servissem como um eixo mobilizador de grupos sociais diversos.
Ciente destas necessidades, em 2008 o Museu da Pessoa passou a priorizar duas atividades: a reorganização do portal, revendo as ferramentas de interatividade, e um diagnóstico detalhado de todo o conteúdo produzido até então. A partir daí o museu aprofundou o uso de seu próprio acervo na criação de coleções temáticas e na mobilização dos usuários.
Em 2014 foi lançada oficialmente a ferramenta “Monte sua Coleção”, e o portal enveredou por um caminho que tinha como objetivo um design mais moderno, melhorias nas ferramentas já existentes e desenvolvimento de novas funcionalidades. Tais processos desembocaram, também, na implementação da responsividade (adequação de tela e elementos de usabilidade para dispositivos móveis), com funcionamento no início de 2016.
O portal – entendido e encarado como o museu em si - hospeda, então, os depoimentos que fazem parte do acervo e possibilita que o usuário/leitor navegue online por seu conteúdo, conhecendo de maneira aprofundada cada entrevista, que pode ser composta por textos, vídeos e imagens. Seu caráter colaborativo, uma de suas características mais acentuadas, permite que qualquer pessoa passe da posição de espectador, visitante, para tornar-se um colaborador, enviando histórias de vida e criando coleções com seus temas de interesse.
Assim, pode-se dizer que o Museu da Pessoa trabalha o patrimônio imaterial, por meio das ações museológicas, num espaço virtual. Dinâmica tal que lhe permite estar “aberto” 24 horas, divulgando as histórias de vida e também possibilitando a interação do público com este acervo, seja lendo histórias, contando histórias ou montando coleções temáticas.
4.1 Editorial
O portal, além de funcionar como base de dados do acervo, atua como um "espelho" de todas as produções e atividades que envolvem o Museu da Pessoa. Segue-se uma lógica na qual os conteúdos atualizados e destacados, na home e nos banners do slider, podem ser divididos da seguinte forma: notícias institucionais (cursos, eventos, marcos, conquistas, projetos), histórias e coleções criadas pelos internautas, coleções feitas com curadoria do Museu da Pessoa acerca de algum tema e/ou resultantes de algum projeto específico, novas parcerias (com instituições, ong´s, coletivos, veículos de mídia, etc) e vídeos em destaque, com redirecionamento para o Youtube, visando aumentar o tráfego neste canal. Os vídeos no canal de Youtube do museu são editados em no máximo 3 minutos e organizados em listas temáticas. Atualmente são mais de 1800 vídeos curta metragem criados a partir das entrevistas presente no acervo.
Já o Facebook é a principal rede social de atuação do Museu da Pessoa, com maior alcance e engajamento dos usuários. Nela, ocorre um espelhamento do que é destacado no portal, mas a disseminação de histórias de vida e coleções geralmente vêm atrelada a datas comemorativas, projetos realizados, ganchos com “notícias do momento”. É também o espaço onde o museu se posiciona perante debates políticos, sociais, culturais, etc). A estratégia de publicações está baseada em vídeos curtos e teasers que garantem maior visualização e, consequentemente, compartilhamento de conteúdo, auxiliando na tarefa de expansão do público do museu.
O Instagram, por outro lado, é a rede com utilização mais recente por parte do museu (segundo semestre de 2015). A decisão pelo ingresso na plataforma deu-se pela vontade de tornar cada vez mais conhecido o seu rico acervo iconográfico. Em linhas gerais, as postagens do Instagram acompanham as campanhas realizadas no portal e demais redes sociais, como divulgação de coleções temáticas, por exemplo. Quando não há campanhas em curso, as publicações alternam imagens de acervo e assuntos que estão em pauta na sociedade.
4.2 As ferramentas Conte sua história e Monte sua coleção
As histórias de vida trazem um universo cultural repleto de assuntos, conteúdos e significações. Contar uma boa história é bem diferente de fazer um bom relatório. Uma história bem contada tem clima, tensão, ritmo, revelações.
Talvez a principal ferramenta colaborativa do Museu da Pessoa seja a Conte Sua História. Através dela o usuário, após realizar um cadastro e confirmar estar de acordo com termos de licença de uso, pode contar sua própria história ou mesmo a de seus familiares, amigos e conhecidos. É possível ainda atrelar fotos e vídeos ao texto criado e o autor pode sempre retornar à história para acrescentar outras partes ou mesmo editar o conteúdo já presente. É importante ressaltar que o conteúdo gerado pelos visitantes através deste instrumento já ultrapassa, e muito, aquele produzido pelo próprio Museu da Pessoa através de seus projetos de memória. Pode-se dizer então que os usuários já são os maiores responsáveis pela produção do conteúdo presente no portal.
A plataforma também permite que os usuários, além de registrarem suas histórias, possam atuar como curadores utilizando o acervo para comporem suas próprias coleções. Ancorado por uma ideia de produção e curadoria colaborativa, o Museu da Pessoa apostou na criação da ferramenta Monte sua Coleção como uma maneira do visitante se apropriar ainda mais das histórias de vida, relegando novos significados e leituras a elas. Uma coleção é uma espécie de agrupamento, uma junção de histórias, imagens e vídeos ligadas por um tema, recorte, abordagem em comum. Em outras palavras, "um álbum de figurinhas" com um conteúdo selecionado.
O usuário pode, portanto, estender sua colaboração ao se tornar um curador que monta coleções com material do acervo do Museu da Pessoa. Para isso, basta realizar uma busca e encontrar um conteúdo relacionado aos temas que são de seu interesse: histórias de amor, fotos de casamentos, vídeos sobre futebol etc. As possibilidades e combinações são infinitas. Não há um número exato de depoentes (ou itens como história, vídeo, imagem) para compor uma coleção e a elaboração e reelaboração da mesma pode ser contínua, de acordo com as pesquisas dentro do acervo. A coleção não é uma amarra e as histórias de vida, justamente por suas singularidades, sempre transparecem novas situações e reflexões.
O acervo produzido pelos usuários é bastante diversificado, atrelando textos, vídeos, fotografias, entre outros documentos. Estes materiais passam a ser potenciais conteúdos para serem trabalhados pela equipe do museu em campanhas de divulgação no portal ou redes sociais. Só no ano de 2015, o Museu da Pessoa recebeu cerca de 350 histórias de vida e 37 coleções criadas por usuários a partir das histórias e imagens presentes no portal. Estes dados explicitam a atuação dos usuários como verdadeiros colaboradores, produzindo conteúdos e se apropriando do acervo de histórias de vida com finalidades diversas.
5. Um museu de todo mundo: construção colaborativa e voluntariado
O Museu da Pessoa abre suas portas, físicas e virtuais, para qualquer cidadão interessado em conhecer seu acervo. Desde sua fundação, entendia-se que as histórias deveriam se conectar em uma rede, acessível e pública. Como a iniciativa precedia a internet, explorou-se os recursos da época: organizar as histórias em uma base de dados e, em seguida, apresentá-las em quiosques multimídia e em CD ROMs. Para tal, não bastava apenas registrar e acondicionar as histórias. Era necessário transcrever, processar, revisar, indexar e apresentá-las de forma lúdica e interativa para o público. Este procedimento acontece ainda hoje.
48Cada entrevista constitui uma unidade do acervo − uma “obra” – formada pela gravação em áudio ou vídeo da entrevista, a transcrição e edição de cada narrativa que é, por sua vez, acompanhada do que se denomina material complementar − fotos e documentos – também unitariamente digitalizados e catalogados.
Os depoimentos são arquivados de forma a permitir uma busca ampla que atenda a públicos e interesses diversos. Cada entrevistado é catalogado por seu nome, sobrenome, data e local de nascimento, formação, religião, sexo, cor/raça; as histórias podem ser acessadas pela data de publicação, tema, nome do entrevistado, local e data da entrevista, além de palavras chaves. Cada foto e/ou documento é catalogado incluindo dados como local, data e tipo de evento, descrição, personagens, histórico da foto/documento, créditos e observações. Todo o material possui licença de uso de imagem.
A preocupação do Museu da Pessoa com preservação da diversidade artística e cultural brasileira vai de encontro ao proposto pelo Instituto Brasileiro de Museus em seu Plano Nacional Setorial de Museus (MinC-Ibram-2010). De acordo com às diretrizes presentes no documento, no que se refere à conservação, democratização e comunicação de acervos, o Museu da Pessoa tem buscado dar continuidade à digitalização e tratamento de seu conteúdo.
Não é necessário dizer quão trabalhoso é todo esse processo e, quando envolve uma equipe, como é difícil constituir parâmetros de qualidade do tratamento do material. Se pensarmos a imensidão de um acervo com mais de 17 mil histórias de vida e 60 mil imagens, seria necessária uma equipe gigantesca para que o conteúdo fosse tratado e disponibilizado no portal em um período relativamente curto. Foi pensando nisso e percebendo a interação crescente dos usuários que o Museu da Pessoa decidiu criar um programa de voluntariado voltado ao tratamento de seu acervo. Os interessados poderiam atuar na revisão de transcrições de histórias de vida, na criação de sinopses para as histórias, minibiografias para os entrevistados, além de tags que auxiliassem na busca pelas entrevistas, vídeos e fotos.
Por ser um museu virtual e ter um acervo composto por arquivos digitalizados, o Museu da Pessoa pôde criar um fluxo que incluía voluntários que não residissem apenas em São Paulo, já que para as atividades propostas não havia a necessidade de atuação presencial. As histórias eram enviadas via Google Drive e os voluntários, espalhados pelo Brasil e também outros países, podiam trabalhar no material, devolvendo conteúdo tratado da mesma forma.
Posteriormente o programa envolveu outras atividades, como a legendagem de vídeos da playlist do museu no Youtube e a produção de legendas em outros idiomas. Tudo isso buscando o aumento da acessibilidade do conteúdo a pessoas com dificuldades auditivas ou mesmo usuários de outros países.
Este programa, criado na segunda metade de 2014, já contou com mais de 70 voluntários, entre estudantes, aposentados, donas de casa, médicos etc. O Museu da Pessoa acredita que com a ajuda dos usuários, será possível disponibilizar todo o conteúdo no portal em um prazo de poucos anos (hoje apenas 43% das histórias de vida e 21% das imagens podem ser acessados pelo portal). Isso permitirá o visitar a totalidade deste conteúdo de qualquer lugar do mundo, o que amplifica exponencialmente as possibilidades de acesso a este patrimônio. É desta forma que todo nós, desde comunidades detentoras de saberes tradicionais até estudantes em grandes centros urbanos, poderemos acessar os registros preservados de nossa história sem sairmos de nossas casas. Tudo isso feito de forma colaborativa.
496. Conclusão
O Museu da Pessoa acredita que valorizar a diversidade cultural e a história de cada pessoa como patrimônio da humanidade é contribuir para a construção de uma cultura de paz. Sua missão é ser um Museu aberto e colaborativo que transforme as histórias de vida de toda e qualquer pessoa em fonte de conhecimento, compreensão e conexão entre pessoas e povos.
Este investimento estratégico na participação dos usuários visa, por um lado, preservar e ampliar o acesso às histórias de vida e, por outro, fortalecer as políticas de disseminação de acervo como forma de garantir sua perenização e a promoção da diversidade cultural brasileira. Levando em conta diretrizes com as do PNPI - Programa Nacional do Patrimônio Imaterial do IPHAN (2000), destinado a promover a dimensão imaterial do Patrimônio Cultural Brasileiro e a valorização do patrimônio cultural imaterial, a melhoria nas ferramentas de interatividade no portal, que possibilitam a criação de histórias e coleções, objetiva um aumento da participação dos grupos que produzem e transmitem manifestações culturais de natureza imaterial. Já o crescimento da disponibilização de conteúdo online assim como sua adequação às regras de acessibilidade busca dar ao público o acesso direto aos benefícios gerados por essa preservação.
No decorrer de mais de duas décadas de atuação, o portal do Museu da Pessoa cresceu de forma significativa, apresentando atualmente uma média de 500 mil visitantes ano (dados que levam em conta o biênio 2015-2016). A ideia é continuar trabalhando em inovações na plataforma e no estímulo os usuários. O objetivo é construir um museu feito por pessoas, que se apropriem das histórias de vida presentes no acervo e tornem-se cada vez mais as produtoras de conteúdo e guardiãs de um patrimônio que, no final de contas, é de todos de nós.
Referências
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Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial - Paris, 2003. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Convencao%20Salvaguarda%20Patrim%20Cult%20Imaterial%202003.pdf. Acesso em 06/12/2016
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução: Maria Betânia Amoroso; Tradução dos poemas: José Paulo Paes; revisão técnica: Hilário Franco Jr. - 1ª edição - São Paulo: Companhia das Letras, 2006. Título original: Il formaggio e i vermi: il cosmo di un mugnaio del'500. 1976
HENRIQUES, Rosali Maria Nunes. Memória, museologia e virtualidade: um estudo sobre o Museu da Pessoa. Dissertação apresentada na ULHT para a obtenção do grau de mestre em Museologia. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2004. Disponível em: https://pesquisafacomufjf.files.wordpress.com/2013/06/memc3b3ria-museologia-e-virtualidade-um-estudo-sobre-o-museu-da-pessoa.pdf Acesso em 05/12/2016.
INSTITUTO MUSEU DA PESSOA.NET. Tecnologia Social da Memória - Para comunidades, movimentos sociais e instituições registrarem suas histórias. São Paulo: 2009. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/public/editor/livro_tecnologia_social_da_memoria.pdf. Acesso em 05/12/2016
Plano Nacional Setorial de Museus - Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro de Museus. – Brasília, DF: MinC/Ibram, 2010. Disponível em: http://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/PSNM-Versao-Web.pdf>. Acesso em 06/12/2016.
Site do Museu da Pessoa - Depoimento de Germano Araújo. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/algumas-historias-44906. Acesso em 05/12/2016.
Site do Museu da Pessoa – Coleção lembranças maravilhosas de uma cidade. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/colecao/lembrancas-maravilhosas-de-uma-cidade-100255. Acesso em 05/12/2016.
Site do Museu da Pessoa – Coleção tradição e resistência: um olhar sobre os índios do Brasil. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/colecao/tradicao-e-resistencia-um-olhar-sobre-os-indios-do-brasil-101901. Acesso em 05/12/2016.
Site do Museu da Pessoa – Depoimento de Alfeu de Melo Valença. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/tudo-tem-sua-hora-e-sua-vez-99144/colecao/103875. Acesso em 05/12/2016.
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial - Paris, 2003. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Convencao%20Salvaguarda%20Patrim%20Cult%20Imaterial%202003.pdf. Acesso em 06/12/2016
Atualmente o Programa Conte Sua História é uma área central dentro do Museu da Pessoa. Ela abarca a produção, preservação e disseminação de todo o conteúdo da Instituição. Tendo a interdisciplinaridade como aspecto primordial, envolve os profissionais do Estúdio Aberto, onde são gravadas as entrevistas na sede do museu, além dos de Acervo e Portal.
Site The New York Times on the web - Articles Library. Disponível em: http://www.nytimes.com/library/tech/99/03/cyber/articles/16museums.html. Acesso em 05/12/2016.
Site do Museu da Pessoa - Como contar uma história. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/intro-conte-sua-historia. Acesso em 06/12/2016.
A digitalização diz respeito às mídias analógicas presentes no acervo do Museu da Pessoa. No decorrer de 25 anos, os suportes nos quais as entrevistas são gravadas mudou muito e o acervo do museu reflete isso: são MDs, fitas K7, Hi8, MiniDV, entre outras. Todo este material vem sendo digitalizado pela instituição. Atualmente as entrevistas são gravadas com câmeras digitais e o conteúdo é salvo em HDs externos, com backup em outros HDs.