Belém • Pará - 1999
Belém do Pará foi fundada em 1616 às margens da Baía do Guajará e Rio Guamá. Por sua posição junto a grandes rios, assumiu serviços de controle de produção e exportação e garantiu a condição de principal porto da Amazônia até o início do século XX.
Nos anos 1990 a ocupação irregular das margens do rio Guamá e da Baia do Guajará, com 30 km de extensão, apropriada por portos, estâncias e, palafitas foi contestada e houve uma luta para que projetos urbanísticos a requalificassem para o uso da população.
Paulo Chaves, secretário do Estado, já havia feito outros projetos com Rosa Kliass requalificando as margens dos rios para usufruto da população e a chama para este parque que é o último projeto da série Belém do Pará. A área estava antes sob a custódia da Marinha que, para conter as águas do rio, havia feito ali um muro retilíneo e um aterro imenso com um capinzal. A ideia de Paulo Chaves era fazer ali um restaurante para oferecer a vista da cidade com as torres das igrejas.
Rosa notou no terreno um conjunto tímido de aningas, uma planta típica das regiões ribeirinhas do norte do Brasil e expôs ao secretário que nenhuma cidade mais as haviam preservado. Esse era o último resquício de aninga em área urbana.
Rosa propôs a manutenção das aningas, propondo palafitas que passassem sobre o aningal sem prejudicá-lo, permitindo o acesso ao rio sem prejudicá-las. Além disso, criou um grande lago e fontes que simulavam as nascentes e iam levando água para o lago, incluindo meandros e um passeio de pedestres nesse trajeto, com pontes, por onde era possível apreciar o caminho das águas. Enfim, uma alegoria para as águas do rio, que simbolicamente penetravam no parque e criavam as zonas de vegetação do Estado.
Dois grandes compartimentos definem o Parque.
O primeiro, mais construído, com a portaria, o estacionamento, e a grande praça central definida pelo Armazém do Tempo, pavilhão de estrutura metálica reciclado, pelo edifício principal de construção em madeira que abriga o Memorial Amazônico da Navegação no primeiro piso e o Restaurante no piso superior.
O desenho da praça e a fonte sugerem o início do circuito das águas.
O segundo compartimento expressa mais explicitamente o caráter naturalístico adotado para o projeto que estabeleceu critérios de valorização do sítio, pela recuperação do imenso aningal e pela criação de ambientes representativos das três grandes regiões florísticas do estado do Pará: os campos, as áreas de várzea e as matas de terra firme, através da introdução de vegetação nativa de cada uma dessas regiões.
A água foi reintroduzida, assumindo agora um papel de condutor da paisagem nas formas mais variadas, de fonte, cascata, rio sinuoso, até alcançar o grande lago.
Caminhos, passarelas e pontes intercalados por recantos com pérgulas, se sucedem para alcançar os pontos de interesse: o borboletário, o viveiro de pássaros e a torre de observação.
Enfatizando esta situação, passarela de madeira, saindo do terraço de acesso ao restaurante e avançando sobre o aningal, alcança o pavilhão à borda do rio e permite a visão das torres da Feliz Lusitânia.
Rosa conseguiu salvar o aningal, que atingiu o porte de 7 m de altura com folhas de 1,5 m.
Sendo muito próximo ao primeiro núcleo original de assentamento da cidade, o Parque Mangal das Garças atualmente registra mais de 300 mil visitas ao ano. Além dos turistas, ele é intensamente apropriado pela população local, que pode vivenciar a natureza e as águas. Um aterro sem uso às margens do rio foi transformado de maneira a passar de trecho em processo de degradação a parque urbano, sintetizando e preservando algo da rica diversidade ecológica do ambiente amazônico.
Imagem 13 desenho José Luiz Brenna
Imagens de 1-12,14 acervo pessoal Rosa Kliass