Módulo 9

A relação família e escola na Educação de Surdos em tempos de pandemia


Proposta do módulo

Vamos discutir sobre:

  • A realidade e as dificuldades pelas quais os pais dos filhos surdos passam.
  • Sugestões aos professores de orientações aos pais sobre como eles podem acompanhar os filhos surdos na execução das atividades escolares.
  • Instruções aos professores com propostas de materiais visuais que os pais podem utilizar com o filho surdo.

1 Apresentação dos autores

Nubia Guimarães Faria

  • Formação: Pedagogia pela Faculdade Padrão – Goiânia/GO.
  • Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade Salgado e Oliveira – Goiânia/GO
  • É professora nos cursos Licenciatura em Letras: Libras e Bacharelado em Letras: Tradução e Interpretação em Libras/Português na UFG.

Sílvia Saraiva de França Calixto

  • Formação: Licenciatura em Letras/Libras na UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina.
  • Especialista em Docência de Ensino Superior pela FABEC Brasil - Faculdade Brasileira de Educação e Cultura - Goiânia – Goiás.
  • Mestre em Teoria e Análise Linguística pela UnB - Brasília – DF.
  • É professora nos cursos Licenciatura em Letras: Libras e Bacharelado em Letras: Tradução e Interpretação em Libras/Português na UFG.

Alessandra Campos Lima

  • Formação: Bacharelado em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
  • Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas pela Faculdade Araguaia, Goiânia – GO.
  • Mestre em Letras e Linguística pela UFG.
  • É professora nos cursos Licenciatura em Letras: Libras e Bacharelado em Letras: Tradução e Interpretação em Libras/Português na UFG.

Artur Moraes da Costa

  • Formação: Licenciatura em Letras: Português e Inglês pela UFG.
  • Especialista em Libras e Braille pela Faculdade Araguaia, Goiânia – GO.
  • Mestre em Letras e Linguística pela UFG.
  • É professor de Português para Surdos como segunda língua no CAS – Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez de Goiânia/Secretaria de Estado de Educação de Goiás

Bem-vinda e bem-vindo!


2 A realidade da família com filho surdo

Nós queremos convidar vocês a pensarem a respeito da família do aluno surdo! Você conhece a família do seu aluno surdo? Você sabe como está a situação desta família?

Todos nós temos vivido tempos muito difíceis, não é mesmo? A pandemia, o isolamento social, a perda de entes queridos e o desemprego podem afetar grandemente a dinâmica familiar. Neste contexto, a sensibilidade e o bom senso devem permear todas as nossas atividades como profissionais da educação.

Os pais ou responsáveis ouvintes que têm filho surdo, geralmente, não sabem se comunicar com eles por meio da Libras. A comunicação fica resumida a poucas palavras e gestos caseiros. E a sensação de isolamento, tanto para os pais, quanto para os filhos surdos, pode se intensificar! Negrelli e Marcon (2006, p. 5) ao citar Guarinello (2004) e Fernandes (1999), confirmam que a maior dificuldade entre os pais ouvintes e os filhos surdos é a comunicação.

“Guarinello (2004), [...] foi contundente ao afirmar que a falta de comunicação constitui o principal empecilho no relacionamento entre os filhos surdos e seus genitores. Essa dificuldade também foi abordada por Fernandes (1999), que a atribui à falta de identificação da língua, podendo resultar em problemas emocionais, falta de um contato mais próximo e dificuldades para o estabelecimento dos vínculos de afeto”.
(NEGRELLI; MARCON, 2006, p. 5)

Este fator pode influenciar negativamente no desempenho do aluno surdo. Por este motivo, é importante que o professor reconheça e esclareça à família que a Libras é a língua que pode oferecer conhecimento ao filho surdo e que é por meio deste conhecimento que ele poderá se desenvolver cognitivamente. Além disso, a língua de sinais promoverá e fortalecerá o vínculo familiar.

Silva e Bastos (2013, p.32) sugerem que o vínculo entre a escola e os pais [ou responsáveis] do aluno surdo “deve ser estreitado, para que haja melhor aproveitamento dos potenciais da criança”.

Olizaroski, Oliveira e Reis (2015) explicam que os pais ouvintes têm como língua natural, a língua oral. Se eles têm filhos ouvintes, a língua natural será a mesma, mas se seus filhos forem surdos, a língua natural dos filhos será a língua de sinais, ainda que a língua materna (a língua que a mãe fala), seja oral. Veja que há diferença entre a língua natural, aquela desenvolvida naturalmente pelo ser humano, e a língua materna, aquela que a criança aprende de sua mãe.

Observe a seguir a figura (OLIZAROSKI; OLIVEIRA; REIS, 2015):

Módulo 9

Fonte: Olizaroski, Oliveira e Reis (2015)

Por outro lado, as mesmas autoras explicam que quando os pais são surdos, a língua natural deles é a língua de sinais. Se eles tiverem um filho ouvinte, a língua natural desses filhos é a língua oral, mas a língua materna, a língua de sinais (a língua que a mãe deles “fala”). E, se os filhos forem surdos, tanto a língua natural, quanto a língua materna, será a língua de sinais. Confira na ilustração a seguir:

Módulo 9

Fonte: Olizaroski, Oliveira e Reis (2015)

Pensando no suporte e orientação que o professor pode oferecer à família de seu aluno surdo, nós preparamos algumas sugestões de atividades entre pais ou responsáveis e filhos que você pode achar interessantes!

Além disso, elaboramos uma sugestão de calendário, para auxiliar os pais ou responsáveis a dividir o tempo entre os afazeres domésticos e a atenção ao filho surdo. Mas, antes disso, precisamos entender e valorizar o tempo em família. Para isso, vamos conversar um pouco sobre a família ouvinte que têm filhos surdos?


3 A importância do tempo junto com o filho surdo

Dizem que nas grandes crises surgem também as grandes oportunidades. Estar em casa com o filho surdo pode ser uma ocasião propícia para estreitar e fortalecer os vínculos. E, como parte das experiências vivenciadas pelo professor, é comum ser procurado pela família, que geralmente compartilha os impasses, as dificuldades e também os avanços dos filhos surdos. Quando isso acontece, o professor pode tentar conhecer a dinâmica da família do aluno surdo, para sugerir a administração do tempo de estudo do aluno junto com os pais ou responsáveis e o tempo de lazer com o filho, sempre que possível.

Para aquelas famílias que dispõem de internet, o documentário “Sou surda e não sabia” apresenta uma surda adulta narrando sua vivência na escola e também pais ouvintes de filhos surdos e suas experiências e opiniões com relação à educação e à língua de sinais. É muito esclarecedor e comovente!

Vale a pena conferir!

O documentário está disponível no Youtube, no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc&t=877s.

Às vezes, mudar o “canal” de comunicação, de oral para visual, para os ouvintes, pode ser algo difícil, mas este é o “canal” ideal para se comunicar plenamente com o filho ou aluno surdo!

Silva, Pereira e Zanolli (2007) explicam que é comum que a família ouvinte tenha a expectativa de conversar com seu filho surdo na língua oral (o português). Portanto, entender e aceitar que a língua de sinais (a Libras) é a responsável pelo desenvolvimento de seu filho surdo fará toda a diferença, tanto para a aquisição de conhecimentos, quanto para orientações e cuidados que os pais ou responsáveis se vêem incumbidos de desempenhar ao longo da vida. Para tanto, o professor é o profissional indicado para dar essas orientações, tendo em vista que está mais próximo do aluno surdo e sua família.

“Cabe ressaltar a importância de que não só as famílias, mas os profissionais da área da saúde, da educação e os próprios membros da sociedade, possam refletir sobre suas concepções para que atitudes preconceituosas e ações discriminatórias em relação à pessoa surda se modifiquem e que o surdo possa, de fato, ser incluído numa sociedade majoritária, tendo o direito de ser reconhecido e respeitado na sua diferença”. (SILVA, PEREIRA e ZANOLLI, 2007, p. 8).

Administrar os afazeres domésticos e o tempo com os filhos não é uma tarefa simples. No entanto, organizar uma rotina semanal certamente auxiliará os pais ou responsáveis a otimizar o tempo entre os cuidados com a casa, o trabalho e os filhos.

Vamos dar uma olhada nas reflexões sobre organização do tempo?


3 Cronograma é fundamental! Por quê?

O cronograma é um documento que facilita uma boa organização. Ele permite acompanhar o desempenho das atividades com mais clareza e acessibilidade, proporcionando o entendimento da rotina e a realização de todas as tarefas propostas ali.

Estimula a autonomia também da criança, que tem acesso ao seu próprio cronograma e visualiza suas tarefas de forma independente. O cronograma também proporciona maior organização e bom uso do tempo da criança para os estudos.

O cronograma pode ser feito juntamente com o aluno surdo e seu responsável para que todos se sintam participantes da atividade a ser realizada.

Vejam uma sugestão de cronograma que pode ser adaptado à realidade de cada aluno ou aluna.

CALENDÁRIO SUGERIDO


4 Orientações sobre a execução das tarefas

Sabemos que cada família tem uma dinâmica, e cada aluno tem seu ritmo de estudo e aprendizagem. Por isso, é importante que se tenha em mente que as atividades propostas podem ser adaptadas da maneira que fique melhor para cada família. O espaço para estudo ou outras atividades realizadas em família deve ser organizado previamente, e, na medida do possível, seja tranquilo e bem iluminado e com todos os materiais a serem utilizados à mão.

Tendo esta ideia em mente, nós selecionamos algumas ações que podem ser sugeridas aos familiares, para desenvolverem com seu filho surdo. A nossa intenção é promover a aproximação e a interação entre pais ou responsáveis e seu filho surdo. Para isso, precisamos tomar o cuidado de não aumentar a carga já pesada dos familiares, mas, incentivar um momento de aprendizado por meio de atividades prazerosas e lúdicas.

Na balança acima apresentamos a dinâmica que envolve o professor, a família e o aluno surdo de um lado e, de outro, a escola, as atividades visuais e a comunicação em Libras. As atividades propostas, adaptadas para o aluno surdo, o incentivo para a comunicação na língua de sinais e o apoio e esclarecimentos que o professor pode oferecer à família, podem resultar no desenvolvimento cognitivo e no estreitamento dos laços familiares.

Na sequência, apresentamos uma série de sugestões que podem ser experimentadas pelas famílias e, de comum acordo com o(a) professor(a) poderá elaborar um banco de ideias, selecionando aquelas atividades das quais mais gostaram, para, posteriormente, realizarem de novo!

Para aqueles que têm acesso à internet, existem alguns sites bem instrutivos e animados para assistir em família!

A TV Ines tem um canal no Youtube com diversas séries. Dentre elas, nós destacamos essas a seguir, para a família assistir com o filho surdo:

Veja o programa especial para as mães! No programa De mãe para mãe, muitas questões sobre o dia-a-dia da pessoa surda são tratadas, sob a perspectiva de mães surdas.
Você pode assistir aos vídeos nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=1Lg7JurRQtk&list=PLk2FNFfBhQliE_rcIMKZ2Hlp2xlSST34-

Baú do Tito conta as aventuras muito divertidas do rapazinho surdo, todas em Libras, narradas em português!
Você pode conferir no lik: https://www.youtube.com/watch?v=K4-TGSIkUHQ&list=PLk2FNFfBhQljLbOo2iTuxPK3oDJlQQiad.

O diário da Bel exibe uma série de vídeos de uma adolescente surda. Nos vídeos ela apresenta fatos históricos do Brasil e também experiências ou questionamentos próprios da idade. São lindos os vídeos!
Confira: https://www.youtube.com/watch?v=3cb8P6kKB40&list=PLk2FNFfBhQlgZe5GvMHDlZhJtjv1OV-nS&index=2

O site Bibliolibras também tem várias histórias tradicionais, geralmente conhecidas de todos nós, mas que as crianças surdas não têm acesso ao conteúdo, justamente porque são contadas oralmente! Elas estão disponíveis em Libras, com narração em português, e têm o texto escrito da história também! Pode ser um bom programa para a família!
Você pode conferir as histórias pelo link a seguir: http://www.bibliolibras.com.br.

Também pensamos nas atividades que podem ser feitas pela família e o filho surdo, para colocarem a mão na massa, aprender e se divertir! Pensamos que as embalagens vazias dos produtos que seriam descartados podem ser a matéria prima para a criação de brinquedos. Este trabalho requer a participação da família, junto com o filho surdo e auxilia no desenvolvimento de várias habilidades.

Os sites a seguir apresentam diversos trabalhos feitos com sucatas:

Artesanato Brasil
https://artesanatobrasil.net/brinquedos-de-sucata.

Planejamento Infantil:
https://www.planejamentoinfantil.com.br/sucata/index.html.

Estimular os jogos em família também pode proporcionar tempo de entretenimento, fortalecendo os laços, proporcionando um tempo para a prática da comunicação visual entre pais ou responsáveis e o filho surdo e sem a necessidade do uso da internet.

Nos sites a seguir, há diversas sugestões de jogos; alguns utilizam os objetos que costumeiramente temos em casa, outros são para imprimir, ou para a criança desenhar, todos gratuitos. Confira:

Lunetas:
https://lunetas.com.br/25-brincadeiras-para-fazer-em-familia.

Um Como:
https://tempolivre.umcomo.com.br/artigo/brincadeiras-em-familia-29137.html.

Esperamos que esta nossa conversa e as sugestões dispostas neste módulo possam auxiliar você, professora e professor nas orientações às famílias dos seus alunos surdos!

Grande abraço!


6 Referências bibliográficas

NEGRELLI, Maria Elizabeth Dumont; MARCON, Sonia Silva. Família e criança surda. Ciência, Cuidado e Saúde. Maringá, v. 5, n. 1, p. 98-107, jan./abr. 2006. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/5146/3332. Acesso em: 14 dez. 2020.

OLIZAROSKI, Iara Mikal Horlland, OLIVEIRA,Verônica Rosemay, REIS, Leidiani da Silva. Língua Natural Versus Língua Materna no Contexto da Educação Bilíngue da pessoa surda. Anais da 18ª Jornada de Estudos Linguísticos e Literários Unioeste, 2015. Disponivel em: https://www.unioeste.br/portal/images/files/GpPORLIBRAS/Artigo_JELL_.pdf. Acesso em:16 dez. 2020.

SILVA, Angélica Bronzatto de Paiva e; PEREIRA, Maria Cristina da Cunha; ZANOLLI, Maria de Lurdes. Mães Ouvintes com Filhos Surdos: Concepção de Surdez e Escolha da Modalidade de Linguagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa Jul-Set 2007, Vol. 23 n. 3, pp. 279-286. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ptp/v23n3/a06v23n3.pdf. Acesso em: 14 dez. 2020.

SILVA, Luciana Santana da, BASTOS, Thereza. Pais ouvintes e filhos surdos: impasses na comunicação. Entrelaçando - Revista Eletrônica de Culturas e Educação. Caderno Temático: Educação Especial e Inclusão Nº. 8 p. 25-34, Ano IV (Junho/2013). Disponível em: https://www2.ufrb.edu.br/revistaentrelacando/index.php/edicoes-entrelacando/44-educacao-especial-e-inclusao. Acesso em: 15 dez. 2020.


Sites:

Documentário “Sou surda e não sabia”.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc&t=877s.

Artesanato Brasil:
https://artesanatobrasil.net/brinquedos-de-sucata.

Planejamento Infantil:
https://www.planejamentoinfantil.com.br/sucata/index.html.

Lunetas:
https://lunetas.com.br/25-brincadeiras-para-fazer-em-familia.

Um Como:
https://tempolivre.umcomo.com.br/artigo/brincadeiras-em-familia-29137.html.


ITENS

1 Apresentação dos autores: Nubia Guimarães Faria, Sílvia Saraiva de França Calixto, Alessandra Campos Lima e Artur Moraes da Costa

2 A realidade da família com filho surdo

3 A importância do tempo junto com o filho surdo

4 Cronograma é fundamental! Por quê?

5 Orientação sobre a execução das tarefas

6 Referências