Agora vamos falar um pouco sobre didática?
Entender um pouco sobre esse tema é importante quando se objetiva conhecer os modos como devemos nos reportar às comunidades, mobilizando o nosso conhecimento adquirido na formação desse curso para a transmissão desse conhecimento.
Como você tem visto em nossas discussões, trata-se muito mais do que a transmissão de conteúdos a esses sujeitos, pois esses aprendentes adultos têm conhecimentos a nos trazer e é, portanto, um processo dialético de ensino e aprendizagem onde todos ganham e precisam para a dinâmica e mudança social.
O modelo de ensino tradicional tende a desconsiderar as:
historicidades, os determinantes, os nexos internos, a rede teórica, enfim, os elementos que possibilitaram aquela síntese obtida; a ausência desses aspectos científicos, sociais e históricos deixa os conteúdos soltos, fragmentados, com o fim em si mesmos (ANASTASIOU, 2004, p. 13).
Considerar essas historicidades das comunidades é pensar que essas pessoas têm histórias e saberes que são necessários para a vida coletiva.
Mas, afinal de contas, o que é didática?
Por didática compreendemos:
- arte de transmitir conhecimentos; técnica de ensinar;
- parte da pedagogia que trata dos preceitos científicos que orientam a atividade educativa de modo a torná-la mais eficiente;
- direção do trabalho do instrutor em aula;
- direção da aprendizagem;
- estudo e aplicação dos procedimentos destinados a orientar a aprendizagem de maneira mais eficiente possível, em direção a objetivos previamente determinados
(https://www.significados.com.br/didatica/).
Vamos ler o texto apresentado em BOX.
Educação Bancária
Publicado em 2 de março de 2016, por Sandra Lucia de Souza Jorge.
Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/educacao-bancaria/140622
De acordo com o educador Paulo Freire, o termo “educação bancária” traduz a metodologia educacional das instituições tradicionais de ensino. No Brasil, temos os primórdios desse tipo de educação com a chegada dos jesuítas, que tinham como missão a catequização do povo nativo e, assim, produziram um sistema de ensino baseado na reprodução de conhecimento e promoveram discursos e teatralização do conteúdo a ser decorado e reproduzido pelos índios. Desta forma, os índios apenas reproduziam o idioma e a religião do povo dominador, mas de uma forma mutiladora (de suas tradições) e alienante (sem haver assimilação desses novos conteúdos).
Com a construção de escolas, o ensino continuava o mesmo: uma reprodução de conteúdos de forma arbitrária e mecânica.
O modelo educacional vinha da Europa, tendo Portugal e França como modelos principais. O homem branco, cristão e europeu era o modelo de homem a ser imitado, modelo ideal de ser humano.
Na educação tradicional, o professor é o centro do processo de aprendizagem, pois é tido como o detentor absoluto do saber, a fonte de todo conhecimento. Nesse tipo de educação, o discurso do professor deve ser decorado e reproduzido integralmente pelo aluno, e este deve permanecer sentado e calado enquanto o professor transmite o conteúdo.
Por isso, Paulo Freire critica esse tipo de ensino por não considerar aquilo que o aluno traz consigo, o conhecimento que a criança tem internalizado anteriormente ao seu período de ingresso na escola.
Paulo Freire denomina como Palavra mundo todo o saber que o aluno tem, tudo que ele conhece de sua vida pessoal, familiar e em sociedade.
Sendo assim, o grande educador propõe que se deixe de lado a educação bancária e se parta para uma educação realmente significativa, que tem o aluno como centro do processo de aprendizagem, e seus conhecimentos prévios de mundo sejam o ponto de partida para o professor iniciar o trabalho educativo escolar.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.
Se considerarmos o texto de JORGE (2016), a didática não deveria ser considerada uma transmissão de conhecimentos, mas dever-se-ia pensar como este conhecimento é repassado e reconstruído de forma a atribuir sentido ao que ensinamos e, sobretudo, ao que se aprende.
Não se trata, portanto, de apenas repassar informações ou fazer do educando um depósito de dados, corroborando o que aprendemos sobre educação bancária.
O modelo de educação centrada na simples transmissão de conteúdos não condiz com os pressupostos da educação popular, que demandam um esforço de compreender o que essas comunidades pensam sobre a realidade. Compreendemos que não se trata de hierarquia de saberes, mas de reciprocidade, na qual o conhecimento popular é ponto de partida para o início do conhecimento e complementa-se com o conhecimento científico.
Retomaremos isto na parte 3 deste módulo.
A educação deve ser permanente
- O ser humano é dinâmico e mutável e faz parte de uma sociedade em contínuas mudanças. As mudanças sociais exigem dos seres humanos uma constante atualização. A educação permanente é o desenvolvimento humano de forma integral e sem interrupção;
- educação se processa além da escola, e a sociedade oferece uma educação permanente e em constante mudança;
- o constante desenvolvimento científico e tecnológico exige a educação permanente;
- as mudanças sociais demandam profissionais em constante atualização.
Quando olhamos os dados de perfil da população carcerária, no Brasil, em 2016, um elemento que chama atenção é a baixa escolaridade. O acesso à educação e melhores condição de ensino podem contribuir com a alteração desse cenário também.
Quando comparamos os dados de escolaridade geral e da população carcerária, é possível ver como o estudo pode interferir na possibilidade de um futuro melhor.
Didática e suas estratégias de aprendizagem
A didática é importante nos processos de ensino-aprendizagem, garantindo que a educação cumpra seus objetivos.
Bem, levando-se em consideração que a didática é a arte ou técnica de ensinar, vamos ver algumas técnicas que podem ser usadas por vocês nas suas intervenções nas comunidades ou mesmo no dia a dia do seu trabalho.
Quando falamos de didática também é importante que tenhamos alguns conceitos em mente. Vamos ver alguns conceitos importantes e fazer a distinção entre eles?
Didática | Pedagogia | Educação |
---|---|---|
Arte ou técnica de ensinar | A ciência da educação | É o desenvolvimento harmônico e integral do ser humano |
Antes de vermos as técnicas propriamente ditas é importante ressaltarmos que a aprendizagem se faz mais significativa se a atividade estiver adaptada às situações da vida real dos participantes.
Veja o que diz o “Cone da Aprendizagem”, baseado no trabalho desenvolvido pelo educador norte-americano Edgar Dale, em 1969.
Agora sim, vamos ver algumas técnicas que podem ser utilizadas por vocês, caros(as) educandos(as).
Estratégia definida | Ocasião para uso | Vantagens / desvantagens |
---|---|---|
Aula expositiva dialogada É uma exposição do conteúdo com a participação ativa dos estudantes, cujo cohecimento prévio pode e deve ser considerado como ponto de partida para o início da discussão de um assunto. |
É utilizada para permitir que os estudantes interajam entre si e com o professor, deem o seu ponto de vista e discutam sobre determinado assunto. | A vantagem dessa estratégia é estimular o diálogo e pormover o debate; Dificuldades em iniciar o processo de discussão. |
Discussão em classe Esta atividade envolve toda a classe, e cada estudante contribui informalmente (grande grupo). |
É utilizada para permitir que os estudantes exponham suas opiniões oralmente a respeito de um dado problema. | A discussão em classe ajuda o estudante a compreender as questões e encoraja-o a desenvolver as habilidades de expressão oral e autoconfiança ao falar em público; Dificuldades em iniciar o processo de discussão. |
Discussão em grupo Envolve toda a classe com o professor atuando como supervisor (pequenos grupos). |
Quando assuntos polêmicos estão sendo tratados. | Pode resultar no desenvolvimento de relações mais positivas entre alunos e professores; Permite que alguns alunos evitem o envolvimento. |
Brainstorming (ou mutirão de ideias) Atividades que envolvem pequenos grupos (5-10 estudantes), aos quais se pede para apresentar soluções possíveis para um dado problema, sem se preocupar com análises críticas. Todas as sugestões são anotadas. O tempo limite é de 10-15 minutos. |
Deve ser usado como um recurso para encorajar e estimular ideias voltadas à solução de um dado problema. O tempo deve ser utilizado para produzir as ideias, e não para avaliá-las (elaboração de conceitos). | Estímulo à criatividade, liberdade; Dificuldades em evitar avaliações ou julgamentos prematuros das sugestões e em obter ideias originais. |
Debate Requer a participação de dois grupos para apresentar ideias e argumentos de pontos de vista opostos. |
Quando assuntos controvertidos estão sendo discutidos e existam propostas diferentes de soluções. | Quando assuntos controvertidos estão sendo discutidos e existam propostas diferentes de soluções. |
Questionário Desenvolvimento de um conjunto de questões ordenadas a ser submetido a um determinado público. |
Usado para obter informações e/ou amostragem de opinião das pessoas em relação à dada questão. | Aplicado de forma adequada, produz excelentes resultados; Demanda muito tempo e experiência para produzir um conjunto ordenado de questões que cubram as informações requeridas. |
Reflexão O oposto de mutirão de ideias. É fixado um tempo aos estudantes para que sentem em algum lugar e pensem acerca de um problema específico. |
Usado para encorajar o desenvolvimento de ideias em resposta a um problema. Tempo recomendado de 10 a 15 min. | Envolvimento de todos; Não pode ser avaliado diretamente. |
Imitação da mídia Estimula os estudantes à própria versão dos jornais, dos programas de rádio e TV. |
Os estudantes podem obter informações de sua escolha e levá-las para outros grupos. Dependendo das circunstâncias e do assunto a ser abordado, podem ser distribuídos na escola, aos pais e à comunidade. | Forma efetiva de aprendizagem e ação social; Para ser efetivo, o que é produzido deve ser razoavelmente comparável em qualidade à mídia existente, se for para uma circulação maior. |
Solução de problemas Esta estratégia está ligada a muitas outras; considera que ensinar é apresentar problemas e aprender é resolvê-los. |
Busca de soluções para problemas identificados. | O estudante treina/exercita a sua capacidade de resolver problemas apresentados, em um contexto real; O orientador deve conhecer a fundo a questão abordada. |
Jogos de simulação (role playing) Os participantes operacionalizam, através de jogos, as diversas situações de um dado tema, sempre ligados a sua realidade. Existem centenas de jogos recomendados. |
Identificação, análise e discussão das consequências de um dado problema da comunidade ou mesmo de aspectos positivos relevantes. | Facilitam o envolvimento do aluno com sua realidade, pois conhecem as consequências dos resultados obtidos; Dificuldades na apresentação de alternativas de soluções factíveis. |
Exploração do ambiente (environmental trial) Prevê a utilização/exploração dos recursos locais próximos para estudos, observações etc. |
Compreensão do metabolismo local, ou seja, da interação complexa dos processos ambientais à sua volta. | Agradabilidade na execução; grande participação das pessoas envolvidas; vivências em situações concretas; Requer planejamento minucioso. |
Júri simulado é a simulação de um júri em que, a partir de um problema, são apresentados argumentos de defesa e de acusação. |
Quando se trata de um assunto polêmico ou que, perceptivelmente, divide opiniões. | Pode levar o grupo à análise e avaliação de um fato proposto com objetividade e realismo, à crítica construtiva de uma situação e à dinamização do grupo para estudar profundamente um tema real. |
Atividade
Vamos colocar em prática os conceitos?
Pense na seguinte situação: uma comunidade rural que precisa ser orientada quanto a ações de promoção de saúde e/ou melhorias de saneamento. Como você repassaria conhecimentos básicos sobre isto na sua comunidade? Vamos discutir no Fórum?
Referências
ANASTASIOU, L. G. C.; PESSATE, L. Estratégias de ensinagem. In: ANASTASIOU, Léa das Graças C.; ALVES, Leonir Pessate. Processos de ensinagem na universidade. Joinville, Sc: Editora Univille, 2003.
DALE E. Audio-Visual Methods in Teaching. 3rd Ed. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1969.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
TONOZI-REIS, M. F. C. Metodologias aplicadas à Educação Ambiental. Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2008.