VOLTAR À COLEÇÃO ISBN:978-65-997623-6-9
Volume 4

Experiências na educação básica

Práticas de formação e metodologias de ensino

Intervenções Urbanas:
experimentações artísticas no espaço público

AUTORES
Newton Freire Murce Filho
Samuel Rodrigues do Nascimento
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Recados Urbanos

O produto educacional relatado neste texto consiste na realização de uma exposição de trabalhos artísticos dos alunos participantes de uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica (PPGEEB) do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE), da Universidade Federal de Goiás (UFG). Implica, outrossim, a ação educativa que culminou na mencionada exposição. A pesquisa em foco resultou na dissertação intitulada “Intervenções urbanas como estratégia no ensino de artes visuais: experimentações artísticas no espaço público”.

Partimos do entendimento de que vivemos em um mundo a cada dia mais plural, bem como da busca por uma educação intercultural em que a escola seja um espaço de comunicação e aprendizagem entre pessoas, grupos, conhecimentos, valores e tradições. No entanto, procuramos instigar os alunos participantes a desenvolverem um trabalho artístico numa perspectiva por meio da qual eles possam pensar o espaço público como espaço possível de construção de visualidades artísticas e questionadoras; logo, um contexto cuja proposta de ensino tenha por base as linguagens artísticas da arte urbana. Nessa perspectiva, escolhemos as intervenções urbanas como foco do trabalho com os estudantes participantes.

As intervenções urbanas são pensadas como campos de significação decorrentes de um conjunto de relações históricas, políticas, econômicas, culturais, sociais e estéticas, cujos sentidos perpassam os processos nos quais se constituem. Segundo Mazetti (2006), as intervenções urbanas são

trabalhos notadamente voltados para uma experiência estética que procura produzir novas maneiras de perceber o cenário urbano e criar novas relações afetivas com a cidade que não a da objetividade funcional que aplaca o dia-a-dia (MAZETTI, 2006, p.11).

Faz-se, então, pertinente indagar: De que modo o projeto de intervenção urbana pode trabalhar o desenvolvimento crítico dos alunos como pertencentes e autores do espaço público?

A disciplina “Intervenções urbanas” foi desenvolvida com oito alunos do 1°ano do ensino médio do CEPAE, com faixa etária entre quatorze e quinze anos, em meio à pandemia de COVID-19. O foco do trabalho nessa disciplina consistiu na produção artística dos alunos, dirigida para uma ação determinada (criação e exposição de lambe-lambes) no contexto urbano. A ação escolhida foi desenvolvida como forma de expressão para que o aluno pudesse, com base em condições técnicas, dialogar com seu espaço urbano, de forma simples e segura, haja vista a necessidade de distanciamento social.

O produto educacional inicial pensado antes da pandemia teria como trabalho final dos alunos uma exposição presencial no espaço escolar do CEPAE. Como tivemos de adaptar o projeto, decidimos realizar uma exposição virtual devido à necessidade de distanciamento social. As aulas foram ministradas de forma remota e a coleta de dados deu-se, basicamente, por e-mails.

Por meio dessa exposição virtual, tivemos por objetivo estabelecer uma relação entre as possibilidades de intervir no espaço público e a instauração de processos artísticos da arte urbana, por meio das redes sociais para divulgação. Possibilitamos a cada um dos alunos colocar em prática seus experimentos artísticos conceituais, baseados no ensino da disciplina ministrada durante a realização da pesquisa do mestrado.

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De acordo com a proposta da disciplina, os alunos teriam que criar lambe-lambes e elaborar textos que eles gostariam que as pessoas lessem nas ruas e que poderiam criar um significado para elas. Além da mensagem verbal e visual, o aluno teria de se preocupar com os locais em que pretendiam afixar o lambe-lambe, pensando-se em lugares estratégicos.

Os lambe-lambes são cartazes afixados em espaços públicos, sendo uma forma de comunicar e se apropriar do espaço em que estão escritos. Intervenções como as dos lambe-lambes possibilitam interações estéticas com o espaço urbano e entre os indivíduos que passam por aqueles locais, produzindo significados e discursos, nesse processo comunicativo. Os cartazes, em geral, podem ter diversos conteúdos, como: venda de produtos e serviços, propaganda de eventos, viés político, artístico etc. Eles lançam e conduzem reflexões, desejos, questionamentos. Essas visualidades e textualidades urbanas chegam até nós e nos atingem. Há uma interação instantânea com o indivíduo e com os lugares estratégicos de circulação. Daí o foco desta pesquisa nos cartazes artísticos.

A utilização do lambe-lambe foi pensada como possiblidade de expressão artística dentro das linguagens da arte urbana, buscando formas de ressignificar parte do espaço urbano onde cada aluno reside.

Acreditamos que o ensino das artes visuais no contexto pedagógico deva ir além da mera reprodução, focando também nos aspectos de produção poética dos alunos, enfatizando processos contemporâneos e conceituais. Os processos poéticos devem ser trabalhados a partir de uma visão pessoal originada das reflexões e questionamentos que os alunos trazem de seu contexto social e cultural.

Como proposta de trabalho com intervenções urbanas, mais especificamente, por meio do estudo da linguagem do lambe-lambe, foi possível desenvolver trabalhos artísticos capazes de gerar reflexão sobre o olhar urbano, por parte dos alunos participantes.

A exposição virtual desta pesquisa foi realizada por meio dos principais perfis do CEPAE no Instagram. Os perfis que contribuíram para a publicação nos feeds de suas páginas oficiais são os seguintes: do Grêmio Estudantil do CEPAE/UFG (Grêmio Estudantil Damiana da Cunha – CEPAE/UFG); do CEPAE – UFG e o da pós-graduação PPGEEB (Programa de Pós-Graduação Ensino na Educação Básica) do CEPAE/UFG. A seguir, apresentamos os trabalhos desenvolvidos pelos alunos para a exposição virtual contendo nossos comentários. Os textos dos alunos participantes foram preservados tal como nos foram enviados.

Figura 1: Cartaz da exposição virtual


Isabella Pimentel, 1°A.

Figura 2: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã...” Foto da aluna.

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A aluna Isabella escolheu a frase de um clássico da Legião Urbana. Ela assim relata:

"Escolhi um pequeno trecho da música Pais e Filhos que se encaixa com tudo que estamos vivendo na atualidade. Hoje temos uma pessoa do nosso lado e amanhã ela pode não estar ali. Na verdade, isso sempre aconteceu, mas hoje estamos vulneráveis como nunca, temos que valorizar cada momento com quem amamos."

Quanto ao espaço escolhido, a aluna comenta:

"Escolhi um poste onde é muito movimentado e, por ser em à frente um supermercado, muitas pessoas param ali."


Como se observa no texto da aluna, esse trabalho com base nas intervenções urbanas não apenas estimulou a reflexão, mas despertou sentimentos de valorização do espaço em que está inserida. Sobretudo, a forma de agir e pensar o mundo dentro de um contexto social extremamente sensível para a humanidade.

Figura 3 e 4: “keepcalm. Jesus te ama! Amanhã será diferente”. Foto da aluna


Acerca deste lambe-lambe, Isabella Pimentel relata:

"Escolhi esse lugar, pois, um ponto de ônibus é um lugar muito estressante e muitas pessoas passam por ali depois de um dia triste ou difícil; ler uma palavra de esperança pode ajudá-las, lembrar do amor de Deus, um amor que eu sinto e quero que as pessoas sintam também. E que elas nunca esqueçam que existe alguém do lado delas e que o amanhã pode ser melhor, um dia de oportunidades, um dia feliz, um dia produtivo e fazer com que elas não desistam."

O comentário da aluna revela um olhar sensível em relação ao outro. Denota também preocupação em relação ao momento perigoso pelo qual estamos passando e ao sofrimento das pessoas que usam o transporte público. Neste sentido, escolhe um lugar estratégico para afixar o lambe-lambe, a fim de que chegue ao alcance de muitas pessoas e na tentativa de levar um pouco de conforto, na visão dela.

O processo artístico pela intervenção urbana, por meio do lambe-lambe, estimula a relação do aluno com seu ambiente e com as questões sociais e culturais. Estas, por sua vez, envolvem fatores de reconhecimento e pertencimento que dizem respeito à realidade dele.

Essas características híbridas da linguagem da intervenção urbana são capazes de ultrapassar, inclusive, as fronteiras da própria arte, projetando-se na vida cotidiana, como foi preconizado nas vanguardas históricas da Alta Modernidade do início do século XX, em que a arte deveria fazer parte da vida (BARJA, 2008, p. 214).

A aluna conclui seus comentários assim afirmando:

"Sei que uma frase em lambe-lambe não resolve problema nenhum, mas lembrar que somos amados e que amanhã é um novo dia nos dá força."



Marcelo do Nascimento e Maria Paula, 1°A

Figura 5 e 6: “Quem inventou o amor? ” / “Não há fatos eternos”. Fotos dos alunos.
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Maria Paula e Marcelo do Nascimento decidiram fazer este trabalho em dupla. Marcelo Nascimento comenta a criação deles:

"Sobre os lambes, pensamos em algumas frases e decidimos que, para lambes, é melhor usar uma linguagem mais popular, algo que já é conhecido de alguma forma. Daí que veio a ideia do lambe da Maria que tem um questionamento derivado de uma música da banda Legião Urbana; não há uma intenção explicita de obter uma resposta para aquela pergunta, o que propomos é que o indivíduo a veja e passe a discorrer sobre como e quem inventou o amor na vida dele."

Neste trabalho com os alunos não se tem a intenção de formar os educandos como artistas e, sim, tornar o contato deles com a arte um processo significativo. Por meio da intervenção urbana, esse processo pode possibilitar ao educando ver o mundo que está em seu entorno de uma forma diferente.

Marcelo assim descreve sobre sua proposta:

"A minha é mais um protesto à dogmática: o relógio quebrado, as frases sumindo de forma decrescente e as mudanças de estilo dos caracteres demonstram que ‘não há fatos eternos’, tudo é mutável ao longo da vida e tudo acaba no final dela, então se pode concluir que há fatos que podem ser constantes durante um tempo, mas nunca são eternos."

Quando direcionamos os estudos da cultura visual para a educação, em particular para a leitura e produção voltadas à intervenção urbana, possibilitamos o ensino de artes como experiência reflexiva. Essa experiência permite a compreensão de como as imagens atuam nas ações, sentimentos e reflexões acerca do mundo contemporâneo.



Ítalo Pires, 1°A

Figura 7: “Você leu esse texto até o fim” / Figura 8: “Eu sei de uma coisa...”. Fotos do aluno

Ítalo explica sua escolha:

"Escolhi essas frases porque tive uma ideia de lambe-lambe em que os cartazes quebram a rotina exaustiva das pessoas."

Este trabalho com os alunos é uma ação desenvolvida na perspectiva da cultura visual. Considera-se o lambe-lambe como elemento da mediação de discursos no espaço público, com um olhar direcionado para o espaço público e intervindo nesse mesmo espaço.

Sobre os espaços, o aluno conclui:

"O meu lugar estratégico é nos postes e árvores da rua, onde aqueles que têm esse dia a dia corrido possam tirar um tempo para ler e filosofar."

A prática artística por meio da linguagem contemporânea da intervenção urbana pode ampliar a experiência estética dos alunos com as situações vividas no seu próprio cotidiano e dentro de sua realidade.



João Vitor, 1°B

Figura 9: “Amor é de mãe” / Figura 10: “Viva a vida como se fosse o último dia”. Fotos do aluno.

O aluno comenta seu trabalho:

"Eu escolhi essa frase ‘Amor é de mãe’, porque é um amor incondicional, amor verdadeiro, o amor que você pode confiar e o único que estará ao seu lado sempre. E ‘Viva a vida como se fosse o último dia’ porque a vida é única, deve se viver intensamente, aproveitar o máximo, ser feliz, aproveitar cada momento como se fosse o último dia."

As intervenções urbanas como proposta educacional nos espaços urbanos proporcionam rompimento com o espaço da sala de aula. Ademais, possibilitam a integração de novos territórios de maneira a estimular o sentido de transformação social nos educandos.

Sobre a escolha do local, o aluno afirma:

"O ponto de ônibus é espaço onde as pessoas estão paradas esperando o ônibus, e o poste fica na calçada, lugar de circulação de pedestre e visível para motoristas que passam por alí."

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Jordana Oliveira, 1°A

FFigura 11: “Quando você deseja o bem O bem te deseja também”. / Figura 12: “Não existe crescimento sem mudança. Evolua”. Fotos da aluna.

A aluna relata o seguinte:

"Eu escolhi essas frases porque eu estou em um momento difícil e elas me motivam a continuar tentando ser uma pessoa melhor, sempre esperar e batalhar para que tudo fique bem. Coloquei essas mensagens onde eu pego o ônibus e no muro da minha casa para que os meus vizinhos e qualquer outra pessoa sintam a mesma coisa que eu."

Acredita-se que essa prática possa estimular o educando em relação a um olhar mais crítico e à ressignificação da realidade na qual está inserido. E, desse modo, conduzir a “uma compreensão crítica do papel das práticas sociais do olhar e da representação visual, de suas funções sociais e das relações de poder às quais se vincula” (HERNANDEZ, 2007, p.41).



Maria Luiza, 1°B

Figura 13: “Eu te fiz agora sou teu deus poema ajoelha e me adora” / Figura 14: “Eu podia ser o que quisesse nesta vida, mas eu queria ser dele”. Fotos da aluna.

Segundo a aluna, o primeiro lambe-lambe é

"de um livro de poemas que tem o nome do autor ; Paulo Leminski é um grande poeta que trabalha de forma diferente com suas poesias. Esse poema fala sobre a adoração cega em minha opinião, diz que “alguém” os criou, então virou teu Deus, então devemos ajoelhar e os adorar sem qualquer questionamento real, o que mostra uma idealização cega de um ser."

Sobre o espaço escolhido,

"colei na porta de um portão de uma casa que está abandonada a muito tempo aqui perto da minha., achei interessante trabalhar com a arte nesse lugar, onde ninguém vive e no meio de um lugar não muito bonito devido ao abandono tem então um poema."

Essas intervenções têm um viés de prática social por possibilitar formas de transmissão de informações como manifestações culturais percebidas e desenvolvidas a partir de trabalhos artísticos em seus contextos de interação. É interessante a observação que Barja (2008) faz quanto à relação entre a intervenção urbana e o meio:

Entender a cidade, seus atores e seus equipamentos púbicos como um meio e suporte flexível e também um lugar predestinado a esse modelo de arte é pensar e querer dar conta de uma determinada sociedade e de seus possíveis. Intervir é interagir, causar reações diretas ou indiretas, em síntese, é tornar uma obra interrelacional com o seu meio, por mais complexo que seja considerando-se o seu contexto histórico, sociopolítico e cultural (BARJA, 2008, p.214).

Quanto ao segundo lambe-lambe, a aluna assim relata:

"É de um livro de poemas fantástico escrito por uma mulher migrante da Índia. Esse poema fala sobre a relação abusiva em minha opinião, pois mostra que ela poderia ser tudo que quisesse, mas abriu mão parar ser ‘dele’; em minha visão, se não podemos ser mais de uma coisa por estar ao lado de alguém, então aquele não é o nosso lugar.""

Sobre o espaço escolhido assim se manifesta:

"colei em um poste em frente de casa, meu bairro é muito movimentado pois tudo é perto, então, as pessoas vão a pé; esse poste é bem alto e de madeira que chama bastante atenção, o que é bom e favorece o poema que faz com que as pessoas leiam e se comovam."

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Consideramos que as imagens geradas a partir de lambe-lambes desenvolvidos pelos alunos constituem leituras do mundo e representações simbólicas que estimulam as relações com as demais pessoas e com o mundo que nos rodeia. Tais leitura e compreensão do mundo são múltiplas, visto que cada um tem uma análise do seu contexto imediato. A observação de Schultz (2010) é importante para podermos perceber a relação entre arte urbana e o espaço público.

A ordenação das manifestações da arte urbana não permite que se extraia uma significação singular, mas possibilita pensar o mundo, com múltiplas possibilidades de vida. Pensar a vida como possibilidade múltipla e viver a diferença como multiplicidade não reduzida a uma alteridade. Desta forma, uma filosofia na perspectiva da diferença e do múltiplo abre um frágil espaço para respostas possíveis a problemas possíveis num determinado mundo vivido, num horizonte de eventos que vai das ruas para as escolas, das escolas para exposições, das exposições para as ruas (SCHULTZ, 2010, p. 2568).


Rafael Teixeira, 1°B.

Figura 15: “Por mais beijos ao vivo e menos beijos escritos. Plante amor no coração de alguém. Diga mais ‘eu te amo’, e menos ‘eu também’ (Zé Neto e Cristiano) / “Deixe para trás o que não e leva para frente”. Foto do aluno.

A utilização do lambe-lambe nesta pesquisa foi pensada como possiblidade de expressão artística dentro das linguagens da arte urbana. Buscaram-se formas de ressignificar uma parte do espaço urbano onde cada aluno mora. Essa ação foi desenvolvida como forma de expressão para que o aluno tenha condições técnicas e possa viabilizar possibilidades de dialogar com o seu espaço urbano de forma segura e simples.

As relações estabelecidas por meio do lambe-lambe nos espaços urbanos e nas redes sociais são formas de manter relaçãos sociais pela via da arte em plena pandemia. Construíram-se relações de dialógos que implicam a ação e a reflexão dos alunos sobre determinado espaço. O lambe-lambe é, portanto, utilizado como ferramenta artística de expressão, diálogo e reflexão sobre a realidade ao seu redor.

Cabe ao professor, em diálogo com os alunos, trazer algumas experiências deles para ampliar os processos educativos de forma participativa. O repertório dos alunos é fundamental para que, juntos - professor e aluno - possam organizar outros discursos e a construção do processo artístico. Se o docente evidencia possiblidades e provoca o aluno a refletir sobre formas de olhar, percebendo e ressignificando os espaços urbanos que fazem parte do seu cotidiano, ele pode conseguir que os alunos, por meio de suas próprias experiências, criem diálogos com a realidade ao seu redor.

Como professor curador no processo da exposição dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos, foi importante orientar o olhar do educando para questões do seu próprio cotidiano. Desse modo, facultar a eles uma forma de refletir acerca de questões atuais, bem como a representação de uma forma artística. O processo de criação e elaboração das intervenções urbanas desenvolvidas pelos alunos teve como objetivo principal desenvolver suas potencialidades reflexivas e criativas. O processo de ensino-aprendizagem viabilizou uma proposta educativa artística, por meio da qual o aluno pôde reconhecer e conhecer o espaço urbano; dessa foram criar um diálogo e levantar questões a todos que frequentam os ambientes por eles escolhidos.

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Considerações finais

Nesta pesquisa, podemos afirmar que os recados urbanos desenvolvidos pelos alunos em plena pandemia retratam os percursos deles no espaço urbano, bem como experiências pessoais. Esses percursos são espaços públicos entendidos pelos alunos como espaços possíveis de construção de trabalhos artísticos e reflexivos em momento de pandemia. A atuação dos estudantes nos seus contextos urbanos teve papel importante na construção de uma formação crítica ao olhar, possibilitando modificação em sua realidade social.

Os lambe-lambes desenvolvidos pelos alunos representam uma tentativa de se expressar artisticamente. Essa forma de comunição tem valor tanto para o aluno que precisa pensar no lugar que pretender colar o seu lambe-lambe e qual mensagem vai expressar, quanto para o público que pode ler essa mensagem. A arte, pois, é um processo de ação e recepção e possibilita reflexões.

A forma de se expressar ganha sentido para o aluno. Ao mesmo tempo em que desenvolve um senso crítico da realidade ao seu redor, ele se torna uma pessoa ativa no processo de aprendizagem. Isto ocorre porque a prática de arte desenvolvida está diretamente ligada às experiências e aos conhecimentos do aluno. Esse movimento desperta a percepção e a reflexão críticas por parte dos alunos em sua relação com a sociedade em que estão inseridos.

Por meio desta pesquisa, foi possível perceber a importância de uma ação educativa que consiga trabalhar a necessidade de perceber as imagens que nos rodeiam, como também refletir sobre elas, apontando-se a possibilidade de desenvolver trabalhos artístios em espaços públicos. Estes, por sua vez, abrem espaços à construção de saberes e experiências dos discentes, bem como a reflexões na sociedade em que vivem. Trata-se, pois, de trabalhos que sejam representativos e façam sentido, a partir da reflexão e da prática dos alunos.

Entendemos essa experiência como potencializadora de transformação e enriquecida de sentido para os alunos, isto é, uma ação que valoriza e ilumina opiniões e culturas diferentes. Esta proposta apresenta uma forma aberta e flexível de ensino. Assim, pode ser desenvolvida e aplicada em diferentes contextos, mesmo que tenha sido realizada no contexto de uma pandemia.

Referências

BARJA, Wagner. Intervenção/terinvenção: a arte de inventar e intervir diretamente sobre o urbano, suas categorias e o impacto no cotidiano. Revista Ibero-americana de Ciência da Informação (RICI), v.1, n.1, p.213-218, jul/dez. 2008.

HERNÁNDEZ, Fernando. Catadores da cultura visual: transformando fragmentos em nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2007.

MAZETTI, Henrique Moreira. Intervenção urbana: representação e subjetivação na cidade.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 29., 2006, Brasília. Anais... Brasília: UNB, 2006.

SCHULTZ, Valdemar. Intervenções urbanas, arte e escola: experimentações e afectos no meio urbano e escolar. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS “ENTRE TERRITÓRIOS”, 19., 2010, Cachoeira, BA. Anais... Salvador: EDUFBA, 2010.