Língua, cidadania e autoria na educação básica

1. Considerações iniciais

Este produto educacional configura-se como parte da dissertação intitulada Ensino de língua portuguesa e formação para o exercício da cidadania: uma proposta de ação pedagógica, que tem como objetivo refletir sobre a relação entre o ensino de língua portuguesa na Educação Básica do Brasil e a formação dos estudantes desse mesmo contexto de ensino para o exercício da cidadania. Com a finalidade de desenvolver parte da reflexão mencionada, uma proposta de ação pedagógica foi construída, aplicada e analisada. Tal proposta, estruturada de acordo com o gênero sequência didática, foi realizada em uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Goiânia, junto a alunos da 3ª série do ensino médio, em uma disciplina eletiva intitulada E agora, José? Preciso escrever uma redação!

O objetivo da ação pedagógica realizada foi o de contribuir com o desenvolvimento da autoria dos estudantes que participaram da disciplina eletiva, uma vez considerado o exercício da cidadania um ato responsável passível de ser arquitetado e realizado de modo autoral mediante usos estratégicos que os sujeitos fazem da linguagem verbal. Esse objetivo foi alcançado, principalmente, a partir do trabalho em sala de aula com os gêneros debate e redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio, este último gênero uma solicitação da escola em que se desenvolveu a ação. Por consequência, a sequência didática que será aqui apresentada como produto educacional apresenta o mesmo objetivo da ação, pois se trata do gênero base das intervenções que compõem a ação pedagógica.

Outro elemento, além da sequência didática, caracteriza este produto educacional. O site https://alexiamariacardoso.wixsite.com/eagorajose foi criado em consequência da realização das atividades da ação pedagógica e passou a ser também um espaço de divulgação deste produto educacional e da dissertação mencionada, bem como um espaço de diálogo com profissionais da área da educação e do ensino interessados nos temas ensino de língua portuguesa e formação para o exercício da cidadania. Seguem, abaixo, algumas imagens do site e a sequência didática que poderá servir a outros professores como fonte de informação para a composição de suas próprias ações.

As ações que foram se materializando em um produto educacional estão intrinsecamente relacionadas à pesquisa que desenvolvemos, posto que partiram das perguntas: para que ensinamos o que ensinamos? Qual o objetivo do ensino ao pensarmos a relação desse ensino com a educação e a relação da educação com a sociedade? Definitivamente, essas perguntas têm sido recorrentemente feitas ao longo da história da educação e, sem dúvida, são múltiplas as respostas possíveis a esse questionamento.

As respostas são múltiplas não só porque foram diversamente arquitetadas por diferentes filósofos, teóricos, pensadores da educação, do ensino, dentre outros, mas também porque múltiplos foram os momentos históricos, os contextos sociais e culturais, as ideologias circulantes que influenciaram tanto o entendimento da pergunta quanto a arquitetônica das respostas.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira número 9.394/1996, bem como em outros documentos que regem a educação no Brasil, como nas Orientações Curriculares Nacionais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, estabelece-se que a educação tem por finalidade, ou objetivos, o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

O preparo do educando para o exercício da cidadania, como um dos objetivos da educação brasileira, chama especial atenção dentre os outros dois objetivos materializados na Lei de Diretrizes e Bases, afinal: o que significa exercer a cidadania e, antes disso, ser cidadão no Brasil? Em seguida: qual a relação entre o ensino e o uso da língua portuguesa como exercício da cidadania? Por fim: como ensinar língua portuguesa de modo a contribuir com a formação do educando para o exercício da cidadania?

São essas as questões que derivamos da primeira grande pergunta e que nortearam a construção deste trabalho, nortearam a arquitetônica de uma resposta, que não pretendemos de forma alguma que seja definitiva. Encaramos mais como uma resposta que suscita outras questões e outras respostas mais, que suscita o diálogo constante, a construção de novos caminhos e a realização de novos atos, tão necessários a um ensino dinâmico.

Como metodologia, selecionamos a pesquisa-ação, uma vez que esse modo de pesquisar melhor se relaciona aos objetos e objetivos deste trabalho, bem como a outros elementos que se conectam ao ato de pesquisar sobre língua, ensino e educação. Assim, estabelecemos para esta pesquisa-ação um objetivo de pesquisa e um objetivo de ação que se conectam especialmente pelo conceito de autoria.

O objetivo de pesquisa do nosso trabalho foi o de refletir sobre a relação entre o ensino de língua portuguesa na Educação Básica brasileira hoje e a formação para o exercício da cidadania dos educandos desse mesmo sistema e nível educacionais. Por se tratar de uma pesquisa-ação, esse objetivo foi alcançado mediante atividades teóricas e práticas, uma vez estabelecido e realizado um segundo objetivo, o objetivo de ação. Dessa maneira, aumentamos as possibilidades de oferecer resultados mais compatíveis com a realidade educacional brasileira de hoje e aumentamos também, por consequência, as possibilidades de oferecer resultados capazes que melhor contribuem com a transformação dessa realidade.

O objetivo de ação deste trabalho foi o de desenvolver a autoria de alunos da Educação Básica com a finalidade de contribuir com a formação desses educandos para o exercício da cidadania. Objetivamos com essa ação pedagógica, organizada na forma de sequências didáticas, refletir sobre a relação acima mencionada a partir de um desenvolvimento, mesmo que mínimo, das competências de leitura, de produção e de análise de textos, orais e escritos, de diferentes gêneros, uma vez percebida a relação dessas competências com o conceito de autoria.

Para a realização da pesquisa, consideramos especialmente as reflexões teóricas de Thomas Marshall (1967) sobre cidadania, de José Murilo de Carvalho (2017) sobre cidadania no Brasil e de Mikhail Bakhtin (1993; 2011; 2016) sobre ato responsável, sobre autoria e gênero do discurso. Consideramos ainda os estudos de Paulo Freire (2014), Philippe Perrenoud (2008), Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz (2004), Severino (2017) sobre pesquisa-ação, bem como consideramos as orientações de Stella Maris Bortini-Ricardo (2011) sobre pesquisa qualitativa e sobre a postura do professor pesquisador.

2. Sequência didática: os traços da experiência

2.1 Produção inicial

Gênero em foco: redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio.
Tema do gênero em foco: “Caminhos para combater o racismo no Brasil”.
Objetivo: avaliar a produção textual escrita dos alunos; identificar alguns dos principais conteúdos, habilidades, atitudes e valores que necessitam serem trabalhados ao longo da sequência didática.
Metodologia: apresentar a proposta de redação aos alunos; ler e discutir brevemente os textos motivadores da proposta; solicitar a produção de um texto do gênero redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio.
Material de leitura e de análise: textos motivadores da proposta de redação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio de 2016.
Recurso: fotocópias da proposta de redação mencionada;
fotocópias da folha de redação para a escrita do texto.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: a redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio foi focalizada por solicitação da coordenadoria da escola campo, pois os alunos da disciplina eletiva participariam do Exame Nacional do Ensino Médio em breve.

2.2 Módulo 1

Gênero em foco: debate oral
Tema do gênero em foco: “A criminalização do funk no Brasil”
Objetivo: apresentar conteúdo relacionado especialmente à composição do gênero em foco; desenvolver habilidades argumentativas dos alunos.
Metodologia: apresentar a dinâmica do gênero em foco; ler e discutir brevemente os textos da coletânea; dividir os alunos em três grupos; reservar um momento para organização dos grupos e para o planejamento das falas; iniciar o debate dos pontos de vista apresentados por cada grupo.
Material de leitura e de análise: coletânea de textos de diferentes gêneros que se relacionam com a temática do gênero em foco.
Recurso: fotocópias da coletânea de textos mencionada.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: O debate oral foi focalizado especialmente porque possibilita uma interlocução imediata entre os sujeitos da situação comunicativa. Assim, os alunos retomam textos anteriores e antecipam textos respostas para a produção de seus próprios textos com mais facilidade e de forma mais produtiva, uma vez que a figura e as respostas imediatas do interlocutor a sua frente contribuem para a realização dessas ações e para a avaliação, por parte dos próprios alunos, de suas produções. Desse modo, o debate oral contribui significativamente para o desenvolvimento de habilidades argumentativas dos alunos.

2.3 Módulo 2

Gênero em foco: debate oral
Tema do gênero em foco: “A criminalização do funk no Brasil”
Objetivo: apresentar conteúdo relacionado especialmente à composição do gênero em foco; desenvolver habilidades argumentativas dos alunos.
Metodologia: analisar trechos do debate realizado na aula anterior; retomar brevemente a leitura e a discussão dos textos da coletânea; dividir os alunos em três grupos; reservar um momento para a organização dos grupos e para o planejamento das falas; iniciar o debate dos pontos de vista apresentados por cada grupo.
Material de leitura e de análise: coletânea de textos de diferentes gêneros que se relacionam com a temática do gênero em foco; trechos da primeira etapa do debate.
Recurso: fotocópias da coletânea de textos mencionada; quadro branco e marcador para o registro e análise dos trechos da primeira etapa do debate.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: após a realização do debate, foi solicitado aos alunos escreverem, para um colega específico da disciplina e em casa, um texto do gênero redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio sobre “A criminalização do funk no Brasil”. Assim, por meio dessa atividade, os alunos conectariam os gêneros debate e redação a partir especialmente das semelhanças composicionais e conteudísticas que esses gêneros compartilham entre si para, em seguida, construírem com mais facilidade e de forma mais produtiva suas redações.

2.4 Módulo 3

Gênero em foco: dissertativo-argumentativo do Exame Nacional do Ensino Médio
Tema do gênero em foco: “A criminalização do funk no Brasil”
Objetivo: avaliar habilidades dos alunos de leitura e de análise de textos; apresentar conteúdo relacionado especialmente à composição do gênero em foco; desenvolver habilidades dos alunos de construção e de realização de projeto de texto.
Metodologia: solicitar que os alunos coloquem em ordem um texto do gênero redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio de autoria da professora responsável pela disciplina sobre “A criminalização do funk no Brasil”; analisar o texto a partir especialmente de aspectos composicionais e conteudísticos do gênero em foco; solicitar a reunião dos alunos com o colega para quem escreveram seu próprio texto; solicitar a leitura do texto do colega; solicitar a análise do texto do colega; solicitar o preenchimento da ficha de leitura e de análise para a realização da atividade de reescrita.
Material de leitura e de análise: texto do gênero dissertativo-argumentativo de autoria da professora responsável pela disciplina; textos produzidos pelos próprios alunos; ficha de leitura e de análise. Recurso: fotocópias em fragmentos do texto de autoria da professora responsável pela disciplina; fotocópia em tamanho A1 do texto de autoria da professora responsável pela disciplina; fotocópias da ficha de leitura e de análise.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: após a leitura e a análise dos textos produzidos, foi solicitado aos alunos reescreverem suas redações, em casa, agora considerando as observações feitas pelos colegas e pela professora sobre aspectos composicionais e conteudísticos do texto do gênero em foco. Além disso, foi solicitado aos alunos considerarem um grupo de interlocutores durante a reescrita de seus textos, quais sejam, todas as pessoas que participariam da culminância das disciplinas eletivas e que provavelmente leriam seus textos quando esses fossem disponibilizados em site.

2.5 Módulo 4

Gênero em foco: filme
Tema do gênero em foco: a relação entre presente, passado e futuro na construção dos sujeitos e da sociedade brasileira.
Objetivo: conectar os temas e os textos trabalhados em sala de aula; desenvolver habilidades dos alunos de leitura e de análise de textos.
Metodologia: assistir ao filme brasileiro intitulado Uma história de amor e fúria.
Material de leitura e de análise: filme Uma história de amor e fúria.
Recurso: computador notebook; datashow; caixa de som.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: o filme foi focalizado especialmente porque é um gênero multimodal que possibilita a visualização animada de temas abstratos que compuseram a sequência didática em andamento e que os alunos apresentaram dificuldades em assimilar e se apropriar para a construção de seus próprios textos. Desse modo, com os cenários, as experiências e os relatos das personagens do filme, por exemplo, os alunos puderam com mais facilidade e de forma mais produtiva assimilar e se apropriar dos temas e dos textos trabalhados em sala de aula.

2.6 Módulo 5

Gêneros em foco: filme; funk; redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio.
Tema dos gêneros em foco: a relação entre presente, passado e futuro na construção dos sujeitos e da sociedade brasileira; a realidade do povo brasileiro residente nas favelas do Brasil; “Caminhos para combater o racismo no Brasil”.
Objetivo: conectar os temas e os textos trabalhados em sala de aula; desenvolver habilidades dos alunos de leitura e de análise de textos.
Metodologia: socializar leitura e análise do filme Uma história de amor e fúria; ouvir o funk “Eu só quero é ser feliz”; socializar leitura e análise do funk “Eu só quero é ser feliz”; solicitar que os alunos coloquem em ordem um texto do gênero redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio de autoria da professora responsável pela disciplina sobre “Caminhos para combater o racismo no Brasil”; analisar o texto a partir de aspectos conteudísticos, composicionais e estilístico do gênero do qual participa.
Material de leitura e de análise: filme Uma história de amor e fúria; funk “Eu só quero é ser feliz”; texto do gênero redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio de autoria da professora responsável pela disciplina.
Recurso: celular; caixa de som; fotocópias em fragmentos do texto de autoria da professora responsável pela disciplina.
Observação: gêneros do discurso tão diferentes em termos de composição e de estilo foram focalizados em virtude da relação que estabelecem entre si pelos conteúdos que tematizam. A partir da aproximação desses gêneros, os alunos puderam interagir com formas mais ou menos difíceis de ler e de analisar, o que contribuiu para a concretização dos objetivos da aula.

2.7 Módulo 6

Gênero em foco: documentário
Tema do gênero em foco: as realidades das juventudes brasileiras dentro (e fora) das escolas públicas da Educação Básica do Brasil.
Objetivo: conectar os temas e os textos trabalhados em sala de aula; desenvolver habilidades dos alunos de leitura e de análise de textos; promover uma identificação dos alunos com os jovens que participaram, direta e indiretamente, da composição do documentário.
Metodologia: assistir ao documentário brasileiro intitulado Nunca me sonharam; socializar leitura e análise do documentário Nunca me sonharam.
Material de leitura e de análise: documentário Nunca me sonharam.
Recurso: computador notebook; datashow; caixa de som.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: o documentário foi focalizado especialmente porque, assim como o filme, é um gênero multimodal que possibilita a visualização animada de temas abstratos, o que auxilia os alunos nos processos de assimilação e de apropriação dos temas e dos textos trabalhados em sala de aula. Além disso, em virtude dessa particularidade, o documentário contribuiu com o processo de identificação dos alunos com os sujeitos que participaram da composição do documentário Nunca me sonharam, um dos objetivos da aula.

3. Produção final

Gênero em foco: redação dissertativo-argumentativa
Tema do gênero em foco: “A importância de poder e de conseguir se expressar argumentativamente no Brasil de hoje”
Objetivo: conectar os temas e os textos trabalhados em sala de aula; produzir textos do gênero redação dissertativo-argumentativa sobre o tema em foco.
Metodologia: retomar brevemente todas as atividades, textos e gêneros trabalhados em sala de aula ao longo da disciplina eletiva; solicitar a produção escrita de um texto do gênero redação dissertativo-argumentativa sobre o tema em foco.
Material de leitura e de análise: todos os anteriores.
Recurso: quadro branco e marcador para o registro de títulos e de fragmentos de textos e para a formulação de esquemas.
Tempo: 1 hora e 30 minutos.
Observação: os textos do gênero em foco produzidos pelos alunos foram expostos para leitura na culminância das eletivas, evento que se realizou na semana seguinte à semana de produção dos textos. Desse modo, os alunos não revisaram e reescreveram seus textos antes da exposição, atividade que possibilitaria uma comunicação mais eficaz e uma interação mais produtiva com os interlocutores.

4. Culminância

Gênero em foco: cartaz; história em quadrinhos; redação dissertativo-argumentativa.
Tema do gênero em foco: “A importância de poder e de conseguir se expressar argumentativamente no Brasil de hoje”; “A criminalização do funk no Brasil”; “Caminhos para combater o racismo no Brasil”.
Objetivo: comunicar por meio de dissertações e de argumentações sobre o tema em foco; interagir com alunos, demais membros da escola e comunidade visitante.
Metodologia: organizar a sala para a recepção dos visitantes; recepcionar os visitantes; estimular os visitantes a interagirem com os textos dos diferentes gêneros disponíveis em sala; solucionar possíveis dúvidas dos visitantes sobre as atividades que se realizaram ao longo da disciplina E agora, José? Preciso escrever uma redação!
Material de leitura e de análise: cartazes do filme Uma história de amor e fúria e do documentário Nunca me sonharam; história em quadrinhos sobre a criminalização do funk no Brasil; textos do gênero redação dissertativo-argumentativa do Exame Nacional do Ensino Médio de autoria da professora responsável pela disciplina sobre “A criminalização do funk no Brasil” e sobre “Caminhos para combater o racismo no Brasil”; textos do gênero redação dissertativo-argumentativa de autoria dos alunos da disciplina sobre “A importância de poder e de conseguir se expressar argumentativamente no Brasil de hoje”. Recurso: quadro branco e marcador para o registro de títulos e de fragmentos de textos; fotocópias dos cartazes; fotocópias da história em quadrinhos; fotocópias dos textos de autoria da professora e de autoria dos alunos.
Tempo: 3 horas.
Observação: durante a culminância, os alunos da disciplina E agora, José? Preciso escrever uma redação? ficaram responsáveis pela recepção dos visitantes dentro da sala e também pelas interações que ali se realizaram. Desse modo, os alunos instigaram as leituras, auxiliaram nas atividades de colocação de textos em ordem e responderam a dúvidas que surgiram sobre a disciplina, os textos e as temáticas ali dispostas.

A pesquisa realizada, resultando na materialização de produtos educacionais, contribui não só com o desenvolvimento da autoria dos alunos sujeitos da pesquisa, como também colabora com reflexões que contribuem para a reconstrução de significados do ensino na educação básica. Com essas reflexões, um site foi criado para potencializar o acesso às produções textuais dos alunos e às sequências didáticas construídas, aplicadas e analisadas.

O site foi inicialmente construído para divulgar as produções textuais dos alunos para que esses fossem lidos por outras pessoas além da professora responsável pela disciplina e dos colegas de sala. Posteriormente, em acordo com os estudantes, o site passou a funcionar também como um espaço em que professores pudessem acessar as sequências didáticas desenvolvidas em aula e as análises das ações pedagógicas aplicadas. Por fim, esse mesmo site assumiu também a função de espaço para o compartilhamento de experiências, em que professores pudessem divulgar, comentar e analisar a realização de suas próprias atividades, com o objetivo de demonstrar principalmente que o desenvolvimento de competências, como as relacionadas à autoria, é um processo contínuo, que exige tempo, pesquisa e trabalho.

Assim, esse espaço tornou-se um meio de contribuir com atos de cooperação de professores da Educação Básica, não só de língua portuguesa, especialmente no que se refere à formação do educando para o exercício da cidadania. Essa formação, como foi possível perceber, não ocorre de um dia para o outro, nem de um semestre para o outro, nem de um ano para o outro. É um processo que, com destaque, não se finaliza enquanto os sujeitos existirem, pois a formação dos sujeitos está diretamente atrelada aos atos cotidianos que respondem ao mundo da vida e ao mundo da cultura. Por essa complexidade e por esse caráter contínuo da formação dos sujeitos é que se faz tão importante a existência de pequenos e grandes espaços para a interlocução.

Referências

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

BAKHTIN, Mikhail. Gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.

BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Austin: University of Texas, Press, 1993. (Tradução de Carlos Alberto Faraco e Cristovão Tezza)

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: um longo caminho. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2017

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editoria, 2008.

MARSHALL, Thomas H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.

PERRENOUD, Philippe. Escola e cidadania: o papel da escola na formação para a democracia. Artmed, 2004.

SHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.