VOLTAR À COLEÇÃO ISBN: 978-65-86422-79-5
Volume 2

Ações e reflexões pedagógicas:

Produtos educacionais para o ensino na educação básica

Sequência didática e a construção da argumentação discente

AUTORES
Renata Herwig de Moraes Souza
Luzia Rodrigues da Silva
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1. Considerações Iniciais

Este trabalho consiste na apresentação de um produto educacional, uma Sequência Didática (SD), com ênfase na sua aplicação e nos seus desdobramentos, desenvolvida durante o período de formação no Mestrado Profissional em Ensino na Educação Básica, do Centro de Estudo e Pesquisa à Educação Básica/ Cepae/UFG, nos anos de 2017 e 2018. A linha de pesquisa em que tal trabalho se insere é Concepções teórico-metodológicas e práticas docentes.

O trabalho, elaborado com base na concepção interacionista da linguagem, foi desenvolvido em salas de aulas de ensino médio e ancorado na reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa guiado pela produção de textos sob a perspectiva dos estudos de gêneros discursivos. Dessa forma, instauramos momentos em sala de aula que reafirmaram uma visão da linguagem como interação social, desenvolvemos ações que favoreceram, por parte dos estudantes, a percepção de marcas linguísticas e discursivas nas produções textuais.

Para tanto, revisitamos as teorias de Mikhail Bakhtin/Volochinov ([1929] 2006) para servirem de suporte para planejar as ações com o gênero Artigo de opinião. Adotamos a metodologia de sequência didática proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), que tem por finalidade ajudar os alunos a ampliarem sua escrita em diferentes situações de comunicação, tomando como base a inserção desses sujeitos no processo de construção do trabalho desenvolvido.

Destacamos como fundamental, na elaboração da Sequência Didática, a opção por desenvolver uma investigação que considera a linguagem como prática social, o que está em consonância com a base sociodiscursiva de Bakhtin ([1950] 2011, [1929, 2006).

Sabemos que as intervenções didáticas planejadas e executadas têm como intuito colocar os alunos em situações reais de comunicação, fazendo-os perceber que a aprendizagem não ocorre de forma isolada, mas que é nas interações que trocamos saberes e construímos outros.

O produto tem como base o estudo ancorado na pesquisa-ação, com o intuito de verificar como os discentes das turmas da 1ª série do ensino médio agenciam em seus textos os recursos linguísticos e discursivos. Para atingir esse objetivo, produzimos uma Sequência Didática com intervenções pedagógicas que consideraram a perspectiva dos estudos dos gêneros discursivos em sala de aula.

Salientamos que o produto educacional é feito a partir da verificação da aplicação e dos efeitos da Sequência Didática desenvolvida na escola campo. Além disso, criamos também uma revista que sistematiza os textos produzidos pelos alunos a partir do desenvolvimento da sequência didática, pois essa é uma forma de valorizar a escrita discente, tendo como base um destinatário previsto, os leitores da página do Facebook da escola, que é mostrada no decorrer do texto.

Na pesquisa, percebemos a necessidade de trabalhar com os discentes a noção de destinatário. Por isso, criamos a revista para circulação dos textos produzidos na sala de aula. A decisão de publicação da revista deu-se juntamente com os discentes, como uma forma de valorizar sua escrita e representar a escrita na sua dimensão leitor, ou seja, os textos são escritos para serem lidos e circulados em práticas sociais.

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Quanto às intervenções com o gênero Artigo de opinião, na sala de aula, percebemos fundamental trazer os olhares de outros interlocutores para análise das produções textuais, sobre o assunto em debate. Com essa ação, nosso intuito foi mostrar a necessidade de estimular e desenvolver práticas de reescrita nas escolas, com contribuições de diferentes vozes, tanto dos próprios colegas estudantes como de autores renomados. Essa ação colaborou também com a ampliação do nível de informatividade, o senso crítico, os pontos de vista dos estudantes. Para efetivação desse aspecto, o contato inicial no primeiro semestre de 2017 foi essencial para o planejamento da sequência didática, por favorecer o reconhecimento do ambiente em que seriam realizadas as intervenções, os materiais que a escola poderia oferecer, bem como a delimitação das atividades de linguagem desenvolvidas pela escola.

Nesse sentido, a escolha do gênero Artigo de opinião partiu da necessidade do contexto escolar em despertar nos educandos ainda mais o senso crítico e valorizar suas vivências pessoais, escolares e familiares. Para contribuir com tal necessidade, produzimos e desenvolvemos uma sequência didática como um instrumento relevante para as práticas de ensino de Língua Portuguesa, em especial as produções textuais.

Dessa forma, a ação didática aplicada promoveu inúmeras reflexões e outras ações didáticas, reconhecendo o texto do aluno como objeto de ensino e aprendizagem, ponto esse destacado na elaboração da intervenção pedagógica desenvolvida.

2. O percurso metodológico

Optamos por embasar nosso estudo na pesquisa de cunho qualitativo, por acreditarmos que atenderia aos objetivos delineados por nós, como pesquisadoras e docentes da educação básica e superior de ensino. Esclarecemos também que, para compreender o contexto de desenvolvimento da pesquisa, foi necessário ir a campo para verificar os eventos comunicativos já realizados no lócus de pesquisa, percebendo-os em seu pleno desenvolvimento, pela ótica das pessoas envolvidas e pesquisadas.

Segundo Bortoni-Ricardo (2008, p. 49), o objetivo da pesquisa qualitativa é desvendar o que está dentro da “caixa preta”, identificando os significados e os motivos da escolha de um tema. Para Bogdan e Biklen (1994), na investigação qualitativa, a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo-se o pesquisador como mediador das intervenções pedagógicas.

De acordo com o pensamento de Oliveira (2008), a pesquisa qualitativa permite a coleta de dados de várias maneiras, desde a pesquisa etnográfica e a pesquisa-ação. Optamos pela pesquisa-ação por ser uma categoria que pode ser usada na pesquisa qualitativa, como uma forma de atender aos objetivos do estudo. Então, a definição dessa categoria somou ao trabalho de campo, envolvendo as situações de desenvolvimento dos atos de linguagem na escola campo.

Segundo Severino (2007), a pesquisa-ação é aquela na qual o pesquisador ou pesquisadora passa a interagir com seus sujeitos em todas as ações de linguagem desenvolvidas em sala de aula. O desenvolvimento da pesquisa-ação leva em consideração a voz dos seus sujeitos, os quais fazem parte de nosso contexto de investigação. Esse momento é registrado em notas de campo, com considerações acerca da proposta aplicada.

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Para articular a relação entre teoria e prática na construção do conhecimento, nos apoiamos nos estudos de Miranda e Resende (2006). Para as autoras, a pesquisa-ação promove a interação social da pesquisadora com o campo de pesquisa, possibilitando-lhe uma atuação de forma efetiva e reflexiva. O estudo promove a percepção dos princípios básicos que compõem a pesquisa qualitativa, percebendo como se dão suas variáveis na instituição investigada. Essas variações são estabelecidas por meio da definição do lócus e dos sujeitos.

Os dados desta pesquisa foram coletados, durante o ano de 2017, em uma instituição da rede estadual de ensino, localizada no sudoeste goiano, na cidade de Jussara/GO. Atuaram como colaboradores de pesquisa alunos das turmas da 1ª série do ensino médio.

No desenvolvimento da sequência didática, tivemos a ajuda da instituição e dos professores em todos os aspectos, desde os físicos, estruturais, pedagógicos até os pessoais. A escola não mediu esforços para que a pesquisa fosse realizada na instituição.

A seguir, apresentamos o modo como agenciamos a intervenção nas duas turmas da 1ª série do ensino médio, destacando os textos explorados, os objetivos traçados, o passo a passo das ações exploradas, a proposta de produção textual, as fichas de planejamento da escrita, dentre outros aspectos. Além disso, apresentamos a revista produzida com os estudantes, publicada na página do Facebook da escola.

3. Atos de interlocução desenvolvidos na proposta de sequência didática – gênero artigo de opinião

Para descrever como foi planejada a sequência didática, tendo como base a intervenção pedagógica desenvolvida, tomamos a liberdade de articular nossas ideias às situações de escrita já realizadas na escola. Decidimos apresentar aos alunos a proposta planejada, informando-os de que a escolha dos gêneros se deu a partir das ações já desenvolvidas pela escola nas aulas de Língua Portuguesa, conforme o Projeto Político Pedagógico (2018) da escola campo investigada e observações de aulas.

E para dinamizar nossa ação de interlocução, trazemos prints do produto educacional como uma forma de evidenciar cenas de nossos atos de linguagem desenvolvidos no lócus de estudo. Rememoramos aqui um pouco do que foi explorado na escola, a fim de motivar nossos interlocutores a desenvolver propostas pedagógicas que valorizem as experiências de linguagem dos estudantes.

Uma das primeiras ações se voltou para a sensibilização dos estudantes em relação ao tema abordado, A escolha da profissão. Para elaboração desta atividade, tomamos como reflexão a necessidade da percepção dos argumentos presentes nos artigos escolhidos, evidenciando que eles são distintos de acordo com a tese defendida, que eles marcam diferentes perspectivas. Ademais, refletimos também sobre discursos que demonstram casos em que jovens do ensino médio se sentem pressionados em escolher profissões devido à influência de seus pais. Como se pode observar, nossa proposta foi desenvolver esse conhecimento basilar em relação à escolha da carreira profissional, já que os sujeitos de nossa pesquisa estão no período de escolha acadêmica.

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A Figura 1 mostra a ação desenvolvida com os estudantes, tendo como base a problemática discutida em relação às posições, visões e ideologias construídas no que tange à formação acadêmica dos estudantes. Depois do primeiro contato com o tema, os estudantes, na segunda atividade de interlocução, perceberam os movimentos da argumentação. Nesta atividade foram explorados dois textos que serviram como objetos de ensino e aprendizagem discente.

Figura 1. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte:Elaborado pelas autoras.

A ideia foi que os alunos reconhecessem o veículo de circulação do gênero, a noção de destinatário e locutor. Nesse sentido, a Figura 2 destaca as práticas pedagógicas criadas na segunda atividade que serviram para que os discentes observassem as marcas de textualidade presentes no gênero.

Figura 2. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte:Elaborado pelas autoras.

As próximas aulas representadas na Figura 3 serviram para verificar como os estudantes agenciam em seus textos os aspectos linguísticos e discursivos na primeira produção textual, levando em consideração as atividades de linguagem vivenciadas na sequência didática.

As possíveis questões norteadoras contidas na referida ação tinham como foco recuperar algumas das dificuldades percebidas nos textos dos alunos durante o período de observação de aulas. Aspecto esse trazido por nós na pesquisa devido à proposta de elaboração de sequência didática de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004).

Figura 3. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte:Elaborado pelas autoras.

A referida ação permitiu ampliar o olhar dos alunos para com a escrita textual dos colegas de sala de aula. Nesse sentido, concebemos nessa ação de linguagem o uso do texto como objeto de ensino e aprendizagem discente. Após a realização desta atividade, desenvolvemos a terceira ação, nela trouxemos outros textos para sistematizar o olhar discente em relação à produção escrita. Ressaltamos que os textos usados são frutos de uma entrevista realizada com o docente de Língua Portuguesa da série pesquisada na qual relata aos estudantes sua trajetória profissional.

Figura 4. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Na atividade 4, trazemos situações reais de uso da linguagem, dando ao aluno subsídios para a produção escrita, ou seja, essa é uma maneira encontrada por nós de recuperar os enunciados ditos e vividos no momento da entrevista com o professor. As produções usadas em sala de aula podem ser vistas na dissertação disponível no site (https://repositorio.bc.ufg.br/tede/). Elas são um exemplo de como o professor pode agenciar ações que entrelaçam o universo linguístico ao discursivo.

No caso da Figura 5, objetivamos ampliar o nível de informatividade textual discente, tendo como suporte o uso de diferentes gêneros textuais. No decorrer da pesquisa aplicada na escola campo, vimos a necessidade de usar figuras, charges, capas de revistas, artigos, dentre outros gêneros como forma de somar para a argumentação textual, não as usamos neste texto por questões de autoria. Nessa experiência de linguagem, tentamos recuperar as vozes presentes nos textos e suas posições ideológicas e enunciativas.

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Figura 5. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Na Figura 6, apresentamos outra ação que somou para ampliar o nível de informatividade textual, na qual os estudantes em grupos foram levados ao laboratório de informática para pesquisar sobre o tema. Nessas aulas, os discentes tiveram acesso a outros gêneros como tabelas, gráficos, dados estatísticos, dentre outros. As informações trazidas pelos grupos favoreceram a troca de conhecimento, assim como para Bakthin ([1929] 2006) e para nós, a interação é o cerne das práticas comunicativas.

Figura 6. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte: Elaborado pelas autoras.

As ações da sequência didática (SD) preveem a produção textual discente, bem como sua publicação em página eletrônica da escola. Para tanto, a ideia foi resgatar ainda mais o nível de informatividade textual de modo a favorecer a progressão do tema. Assim, pontuamos que os atos interlocutivos são retomados na Figura 7, em que trazemos momentos de planejamento da escrita, aspecto esse destacado na Base Nacional Comum Curricular (2017) e por nós, no decorrer do estudo realizado na escola campo.

A ficha foi apresentada aos alunos para que pudessem perceber o caminho a ser percorrido em relação à produção escrita. Nela, os estudantes podiam planejar as situações de linguagem escolhidas e selecionar os possíveis argumentos para defender sua tese.

Com a produção da ficha, notamos que os argumentos selecionados foram recuperados das ações interlocutivas desenvolvidas no decorrer da SD, havendo um atravessamento dos aspectos discursivos em relação ao linguístico.

Figura 7. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte: Elaborado pelas autoras.

O ato de planejamento da produção escrita favoreceu a escrita da segunda atividade de produção textual. Na Figura 8, trazemos a ação traçada e aplicada na escola campo, reforçando a necessidade de elaboração de enunciados específicos para cada atividade de escrita.

Figura 8. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte: Elaborado pelas autoras.

A definição do enunciado da produção escrita influenciou no modo como os discentes escreveram o texto, ou seja, eles sabiam qual/quais seria(m) o(s) interlocutor(es) previsto(s). Assinalamos que a proposta ampliou o nível de comunicação entre locutor e locutores.

Como os Artigos de Opinião foram publicados em revista, a próxima ação apresentada da Figura 9 contém o passo a passo de como foi delineado o planejamento para revisar os textos dos alunos.

Figura 9. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião Fonte: Elaborado pelas autoras.

Nela, trazemos novamente outra ficha de reflexão da escrita, contendo questões que envolvem desde o título, o assunto, os tipos de argumentos e as posições assumidas no texto. É relevante ressaltar que, desde o início da pesquisa, os discentes foram informados de que os textos produzidos na sequência didática serviram em vários momentos como suporte de ensino e aprendizagem e que, para tal, seria necessária a contribuição de suas vozes em relação aos textos lidos.

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Figura 10. Captura de tela da sequência didática produzida na pesquisa – Gênero Artigo de Opinião. Fonte: Elaborado pelas autoras.

A perspectiva por meio das fichas de leitura foi que os locutores conseguissem perceber a necessidade de estabelecer diálogo com seus interlocutores, demonstrando que as escolhas e as posições assumidas não são feitas de forma aleatória, mas sim dialógica e interacional. Vejamos como ocorre esse planejamento da Figura 10.

Na figura, observamos que, por meio de ações definidas e planejadas, os estudantes compreendem o modo como interagir com os colegas de sala de aula de forma reflexiva, pois, no desenvolvimento da sequência didática, exploramos a ideia de que um novo discurso é produzido a partir da relação de confronto ou de consonância entre os interlocutores.

4. o que dizer sobre o já dito? as formas de divulgação, de acesso e de alcance do produto educacional

Motivamos possibilidades de trabalhar o gênero discursivo Artigo de opinião na escola. A circulação e divulgação da proposta se efetivou com a publicação da revista educacional na página do Facebook da escola campo.

Figura 11. Captura de tela da publicação da revista contendo os textos em página do Facebook da escola campo. Fonte: Elaborado pelas autoras.

Nos processos de escrita vivenciados, vimos que a prática docente ancorada na perspectiva interacionista da linguagem é um dos caminhos para ampliar a competência linguística e discursiva dos estudantes. Além disso, tentamos fugir do plano de atividades cujo foco centra-se no reconhecimento das características estruturais e composicionais do gênero.

Partimos da visão de que os estudantes já possuem esse conhecimento e de que o texto é o lugar no qual os alunos partem do vivido para outras experiências. A ideia da circulação e divulgação dos textos produzidos surgiu da necessidade de expandir os textos produzidos para além da sala de aula, o que pressupõe uma variedade de interlocutores, além do professor.

Para além deste universo de comunicação, verificamos que também poderíamos buscar outras fontes de divulgação do produto educacional, bem como da pesquisa realizada. Para tal, criamos um site interativo (escolaemrede.com) para ampliar ainda mais a noção de destinatário previsto e a divulgação da pesquisa realizada no Programa de Mestrado do Cepae/UFG. No site, os nossos interlocutores têm acesso ao produto educacional na aba Dissertação. Vejamos o alcance do produto desenvolvido em nível local, nacional e internacional.

Figura 12. Captura da tela do site https://www.escolaemrede.com/ Fonte: Elaborado pelas autoras.

No caso das Figuras 13, 14 e 15 é visível que a dissertação de mestrado contendo o produto educacional tem um número de acessos expressivos (143), justamente por cumprir sua função social da escrita para além da sala de aula. Para tanto, a dissertação tem acessos de ordem local, nacional e internacional, dando credibilidade à sequência didática produzida, totalizando 4820 até o momento.

Figura 13. Captura da tela do site https://www.escolaemrede.com/. Fonte: Elaborado pelas autoras.

No caso da Figura 14, temos a noção de em quais países ocorre a visualização do produto educacional que é a dissertação produzida no Cepae/UFG.

Figura 14. Captura da tela do site https://www.escolaemrede.com/. Fonte: Elaborado pelas autoras.
Figura 15. Captura da tela do site https://www.escolaemrede.com/. Fonte: Elaborado pelas autoras.
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5. Considerações finais

Ressaltamos que, ao configurar essa ação na sequência didática, partimos do pensamento de Geraldi (1996) que concebe a Aula como acontecimento e valoriza o conhecimento do educando. Então, a partir desse diálogo teórico com o linguista, colocamos em prática esse aspecto nos atos de linguagem vivenciados em sala de aula.

Não poderíamos deixar de mencionar as contribuições do pensamento bakhtiniano para com as práticas de linguagem planejadas, pois reconhecemos no outro/aluno sua força ilocucionária, permeada de vozes que emanam do conhecimento linguístico que já possui. Nesse sentido, trabalhar com linguagem em sala de aula é pensar no aluno como sujeito, que escreve e interage nas diversas situações de comunicação. Ao pensar no sujeito/aluno, vimos que, durante o desenvolvimento da SD em sala de aula, os discursos atravessam o plano textual, pois o dialogismo proposto por Bakhtin/Volochínov ([1929], 2006) integra os sujeitos aos discursos produzidos, o que é oportunizado pela criação real de comunicação.

O trabalho consiste em verificar as marcas linguísticas e discursivas presentes nos textos dos alunos. Podemos observar a gradação dessas marcas nos textos analisados, pois a primeira produção, exposta a título de exemplificação, sintetiza os nossos anseios como pesquisadora, já descritos no ato introdutório.

Nessa perspectiva, salientamos que as situações de linguagem criadas são fundamentadas no diálogo, provocando interação e estabelecendo comunicação entre os interlocutores, mostrando aos alunos a necessidade de incorporar em seus discursos outras vozes que emergem de suas vivências comunicativas e sociais.

Nesse caso, os discursos usados para explorar a escolha da formação acadêmica rompem com a mera escolha profissional e dão ao estudante possibilidades de reconhecimento das práticas sociais que envolvem as atuações profissionais. A partir dos textos, debatemos com os estudantes sobre vários problemas sociais, psicológicos, governamentais, dentre outros. Assim, foi-se construindo a ideia de que escolher uma formação acadêmica implica ter consciência dos desafios e obstáculos.

No trabalho com o gênero Artigo de opinião, foi reveladora a força das questões discursivas reconstruídas nos textos dos alunos, pois, com essa ação pedagógica, foi mobilizada nos estudantes a consciência da dimensão com que os discursos são construídos e revisitados, possibilitando a construção de novos discursos, de novas práticas sociais.

Esperamos que nossa ação pedagógica possa contribuir com práticas de linguagem que ampliem a capacidade linguística e discursiva dos educandos, possibilitando, assim, novas posições interativas e sociais com o mundo e o outro. E, por último, vale ressaltar que temos consciência de que não existe uma fórmula, mas sim experiências planejadas e vivenciadas que somam com nossa atuação docente.

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Referências

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SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

CONTATOS
Renata Herwig de Moraes Souza •
Mestre em Ensino na Educação Básica pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do CEPAE/UFG •
renataherwig@hotmail.com
Luzia Rodrigues da Silva •
Doutora em Linguística pela UnB •
luz@ufg.br