Capítulo 5: Pirenópolis e Goiás: Cultura e Tradição
17SOBRE O AUTOR
Tiago Miguel Jacomo é nascido e criado em Goiânia. Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás, está terminando o mestrado em Antropologia Social pela UFG, além disso trabalha paralelamente com fotografia documental. Suas áreas de interesse tem sido cultura, alimentação e consumo. No mestrado, trabalha com esses temas, além de ajudar em pesquisas junto ao GECCA.
Introdução
Olá, caro estudante! Nessas aulas do curso de Sistemas agroflorestais tradicionais iremos conhecer um pouco da história e tradição da cultura goiana através de duas cidades consideradas símbolo, Pirenópolis e Goiás. As duas são cidades históricas que surgiram no ciclo do ouro goiano, e carregam em si muito da cultura do Estado goiano. A seguir teremos uma breve apresentação das duas. O material complementar inclui vídeos disponíveis no youtube.
Cidade de Goiás: Breve História

Fundado em 1726, o Arraial de Sant’Anna foi mais um aglomerado minerador colonizado por bandeirantes paulistas durante o início do século XVIII, que depois seria chamado Vila Boa e, mais tarde, cidade de Goiás, sendo durante 200 anos a capital do território. O povoamento determinado pela mineração do ouro era muito irregular e instável, sem planejamento ou ordem. Onde aparecia o meal precioso, surgia um povoado, mas quando ele se esgotava, os mineradores mudavam-se e o mesmo se extinguia. Goiás foi o segundo produtor de ouro do Brasil, inferior a Minas Gerais e superior ao Mato Grosso, mas pode-se perceber que a época do ouro não foi tão rica nem tão grande como se pensava.
Após o fim do curto período de mineração, iniciou-se um processo de ruralização da sociedade e extinção de arraiais e vilas. Inicialmente Bartolomeu Bueno foi o responsável pela administração local das minas, mas houve a decisão da corte portuguesa em tornar Goiás independente de São Paulo, elevando-o à categoria de Capitania. Em 1749 chegou a Vila Boa o primeiro Governador e Capitão General, D. Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos. O território goiano passou então a ser denominado Capitania de Goiás, título que conservou até se tornar província. Como em todo o país, o processo de independência em Goiás se deu gradativamente. O primeiro presidente de Goiás, nomeado por D. Pedro, foi Dr. Caetano Maria Lopes Gama, que assumiu o cargo em 14 de setembro de 1824. A política até o final do século XIX foi dirigida por presidentes impostos pelo poder central.
A Cidade de Goiás está localizada em um terreno acidentado às margens do Rio Vermelho. De traçado inteiramente irregular, teve formação espontânea sem nenhuma norma ou orientação na organização espacial. Suas ruas são estreitas e tortuosas, suas praças são como um alargamento das vias, criando largos assim como o modelo medieval cristão das cidades portuguesas. As casas são construídas em alvenaria, de taipa, adobe ou tijolo rebocado e caiado de branco, tendo portas e janelas em madeira pintada com cores fortes semelhantes à arquitetura popular portuguesa encontrada no interior de Portugal. Patrimônio Histórico da Humanidade, a Cidade de Goiás está localizada ao pé da Serra Dourada, cercada de belos morros verdes e cortada por rios. Com vegetação bastante variada, é dividida em regiões de floresta, cerrados e campos.
18Goiás conserva mais de 90% de sua arquitetura barroco-colonial original, graça ao tombamento, desde os anos 50, desse patrimônio arquitetônico do século XVIII. A Cidade de Goiás é um magnífico mostruário do Brasil oitocentista. E além disso, situa-se dentro de um cenário topográfico, singularmente bonito, dentro de um vale envolvido pelos morros verdes e ao sopé da lendária Serra Dourada. Goiás chamou-se originalmente Vila Boa. Os turistas encontram riquíssima arte sacra nas seculares igrejas e nos museus. O município tornou-se um centro turístico e permite praticamente uma viagem no tempo do Brasil colonial. Em 2001, o Centro Histórico de Goiás foi declarado Patrimônio Mundial.
Na cidade, todos os anos ocorria o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental que tem a participação de países da África, Europa, América e Ásia. O Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) foi um festival realizado anualmente na Cidade de Goiás de 1999 a 2018. Até sua última edição, era o maior festival cinematográfico sobre o meio ambiente. Em 2019, devido à falta de recursos e ao não-pagamento das despesas da edição de 2018, o Governo Estadual optou por não realizar o festival, pondo fim aos seus 20 anos de história. Frente a essa decisão, a comunidade vilaboense mobilizou-se e inaugurou de forma independente o Festival Goyaz, mantendo a mesma premissa do antigo FICA.
Uma das manifestações religiosas mais belas que acontecem na Cidade de Goiás anualmente é a Procissão do Fogaréu, que começa à meia-noite da quarta-feira da Semana Santa. Neste dia, as encenações sobre a Paixão de Cristo movimentam a localidade, que acompanha tudo com devoção e certa curiosidade. A celebração, que dá continuidade a uma tradição de pouco mais de 200 anos, consiste em encenar as principais passagens bíblicas que antecedem à crucificação de Jesus pelas ruas de Goiás, da qual a Procissão do Fogaréu faz parte. Nela, os farricocos, homens encapuzados com vestes coloridas, carregam tochas acesas entre as ruas escuras, representando o caminho dos romanos até o momento da prisão de Cristo. Na quinta e na sexta-feira, são representados o Lava-Pés e a Paixão de Cristo, respectivamente.
A Cidade de Goiás tem em sua história e formação uma relação muito ligada as culturas africanas e indígenas. Essa relação fica ainda hoje explícita em diversas manifestações culturais por toda a cidade. Um exemplo são duas escolas "Espaço Cultural Vila Esperança" e "Quilombinho". Além desses exemplos, temos também o Grupo de Capoeira Angola Meninos de Angola.
A Cidade de Pirenópolis, uma Breve História
Pirenópolis é um município histórico, sendo um dos primeiros do estado de Goiás. Foi fundado com o nome de Minas de Nossa Senhora do Rosário Meia Ponte pelo minerador português Manoel Rodrigues Tomar (alguns historiadores denominaram-no como Manoel Rodrigues Tomás). As minas da região foram descobertas pelo bandeirante Amaro Leite, porém foram entregues aos portugueses por Urbano do Couto Menezes, companheiro de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera Filho, na primeira metade do século XVIII. Segundo a tradição local, o arraial foi fundado em 7 de outubro de 1727, porém não há documentos comprobatórios e muitos historiadores e cronistas antigos afirmam ser a fundação em 1731.
19Foi importante centro urbano do século XVIII e XIX, com mineração de ouro, comércio e agricultura, em especial a produção de algodão para exportação no século XIX. Ainda no século XIX, com o nome de cidade de Meia Ponte, destacou-se como o berço da música goiana, e como berço da imprensa em Goiás, já que ali nasceu o primeiro jornal do Centro Oeste, denominado Matutina Meiapontense.
Em 1890, a cidade teve seu nome mudado para Pirenópolis (isso pela semelhança com as montanhas dos Pirineus na Espanha). A cidade ficou sem reconhecimento durante grande parte do século XX e houve uma “redescoberta” pelo turismo na década de 1970, com a construção da nova capital do país, Brasília. Hoje, o turismo a deixa famosa assim como a produção do quartzito, a Pedra de Pirenópolis.
Cozinha brasileira e cozinha goiana
A cozinha brasileira nasceu com grandes misturas e integrou, neste turbilhão contínuo, não somente ingredientes e técnicas portuguesas e indígenas, mas também africanos e asiáticos. Sendo assim, desenvolveu-se muito cedo como uma das culinárias mais diversas. Se a culinária brasileira tem um tempero grande e diverso, isto decorre da associação dos elementos territoriais e a disponibilidade de certos produtos.
Como se sabe, em cada cozinha regional, há um modo próprio de preparar os alimentos, sendo que o processo histórico se incumbe de articular um conjunto de elementos referenciados na sua tradição, no sentido de criar algo único, particular e reconhecível, mas sujeitas às constantes transformações e a uma contínua recriação. Os pratos regionais expressam sua identidade que é específico de cada localização e, muito além de misturar ingredientes, nos conta o processo histórico que os originaram, sendo que o reconhecimento dessa historicidade possibilita a compreensão da diversidade brasileira e, portanto, goiana. Percebemos que a tradição culinária dos portugueses e africanos na cozinha brasileira é a mistura com ingredientes e técnicas indígenas. Embora os hábitos alimentares em Goiás sigam uma receita mais ou menos parecida com a culinária mineira e paulista, com as quais compartilha vários pratos, a cozinha goiana se destaca por misturar no mesmo caldeirão suas origens indígenas adicionando assim produtos nativos, com técnicas dos povos vindos de outros continentes.
Como praticamente todo cardápio brasileiro, a lista de pratos típicos de Goiás foi influenciada pelas cozinhas indígena e europeia. Tropeiros vindos de Minas Gerais e São Paulo também deram uma rica contribuição ao caderno de receitas local, que costuma incluir tutu de feijão, paçoca de carne-seca e, para a sobremesa, ambrosia e doces em compota. Há uma característica, no entanto, que diferencia a culinária goiana daquela existente em qualquer outra parte do país: a farta presença de ingredientes nativos do Cerrado. Em Goiás você terá a chance de provar, por exemplo, mil e uma receitas com pequi (típico frutinho amarelo) e guariroba (um palmito amargo). Os sucos e sorvetes também revelam sabores regionais: cajá-manga, murici e araticum são alguns deles. Na despensa do estado, um ingrediente tem atraído a atenção de chefs de cozinha de todo o Brasil: o baru. Tanto a castanha quanto a polpa do fruto do baruzeiro, árvore comum no Cerrado, são usadas na cozinha goiana. Torrada, a castanha entra no preparo de pães e biscoitos e também é vendida em saquinhos, como se fosse amendoim.
20Abaixo temos alguns pratos típicos goianos:
- Arroz com pequi: não há como falar das comidas típicas goianas sem citar o pequi. Amado por uns e odiado por outros, ele pode ser preparado sozinho ou com frango. Porém, a preparação com arroz é o verdadeiro clássico. O prato leva, além do arroz, açafrão, pequi e temperos, mas pode contar com adicionais, como milho, guariroba e frango. O sucesso é tanto que a iguaria ganhou releituras gourmet e ficou conhecida em todo o Brasil.
- Pamonha: Em Goiás, a massa tradicional que leva milho verde ralado, banha de porco e temperos é incrementada com queijo, linguiça, frango, carne desfiada e pimenta. O prato sustenta uma das tradições mais antigas do estado. Na época da colheita do milho, famílias inteiras, inclusive as crianças, se reúnem nas famosas “pamonhadas”.
- Empadão: O empadão goiano, apesar de ser conhecido em todo o estado, é típico da Cidade de Goiás. A massa, com a proporção perfeita para o recheio, é leve e derrete na boca. O recheio leva frango desfiado, linguiça caseira, carne de porco, pequi e guariroba.
- Galinhada goiana: Há uma eterna disputa entre o estado criador do prato. Independente disso, o sabor da galinhada goiana é indiscutível. Arroz, frango, açafrão são acrescidos de pequi, guariroba e muito cheiro verde. Um verdadeiro ícone entre os pratos típicos de Goiás.
- Doces e compotas: Elas são feitas artesanalmente por doceiras, e geralmente são preparados a base de frutas ou leite e cozidos em tachos de cobre. É uma verdadeira arte, passada de geração a geração.



















Referências
ALMEIDA, Aluísio de. Vida e morte do tropeiro. São Paulo: Martins/Edusp. 1981.
CASCUDO, Luís da Câmara. Civilização e Cultura. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1973.
_____. Antologia da Alimentação no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos,1977.
ORTENCIO, Waldomiro Bariani. Cozinha Goiana. Rio de Janeiro: 1ª Edição, Ed. Brasilart, 1967.
sem autor: Goiás - Patrimônio da Humanidade, 2020. Disponível em: http://www.cidadedegoias.com.br/ Acesso em 28/02/2020
sem autor: História da cidade de Goiás – Go 2020 Disponível em: http://www.goiasgo.com.br/historia_de_goias.html#.XhyBcchKjIV Acesso em: 28/02/2020
sem autor: História de Pirenópolis, 2020 Disponível em: https://pirenopolis.tur.br/cultura/historiaAcesso em: 28/02/2020