PARTE II – Fique fã: mostra de fanfics de contos de machado de assis e clarice lispector

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Apresentação

Cara leitora, caro leitor!

Machado de Assis e Clarice Lispector são grandes autores da literatura brasileira que deixaram uma vasta obra literária para ser lida e apreciada. Entre outros gêneros, há os contos que trazem personagens mimetizadas da realidade, em uma perspectiva ora mais realista, ora mais existencial, ora mais psicológica, posto que, como os humanos, têm sentimentos, desejos e atitudes muito parecidas com as das pessoas.

Em um processo de leitura literária realizada com os alunos dos 9ºs anos do Colégio Estadual Parque dos Buritis, escola pertencente a Região Oeste da cidade de Goiânia, no final do ano letivo de 2022, esses alunos puderam ler alguns contos desses autores.

Por meio de uma leitura guiada por movimentos pedagógicos que permitiram a eles conhecerem o novo e experienciarem o conhecido – Prática situada –; analisarem de forma sistemática e crítica o texto, o contexto, a forma e o conteúdo dos contos – Enquadramento crítico –; receberem uma instrução aberta sobre os elementos constitutivos dos contos e sobre a forma e intencionalidade comunicativa das fanfics – Instrução aberta –, esses alunos produziram seus próprios textos, em um processo que chamamos de redesign, ou seja, o redesenho, a reescrita criativa do que mais lhes chamou a atenção nos contos, sejam os vazios provocados pelo enredo (o que teria acontecido se...) ou particularidades das personagens que lhes chamaram a atenção, produzindo assim suas fanfics – Prática transformada. Todos esses passos fazem parte de uma proposta metodológica denominada Pedagogia dos Multiletramentos, apresentada na primeira parte deste e-book.

Vamos, então, aos resultados! As fanfics produzidas pelos alunos serão aqui transcritas para que todos possam usufruir desses textos espontâneos, criativos e férteis de imaginação.

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Mas o que é uma fanfic? De forma bem simples, é um texto escrito pelo fã de uma determinada obra – que pode ser livro, filme, série, mangá, anime ou qualquer outro gênero literário – em que esse fã dá continuidade a uma história; cria um enredo que poderia ter acontecido antes para explicar os fatos ocorridos; dá detalhes do que aconteceu depois, enfim, utiliza-se das personagens e das minúcias do texto original para produzir a sua ‘ficção de fã’ – fanfic. Não é, porém, mera reescrita do texto original. É preciso ser um leitor bastante atento aos detalhes para captar algo que possa chamar a atenção dos futuros leitores também!

Assim, na primeira parte, como os contos de Machado de Assis estão presentes gratuitamente no site governamental Domínio Público, que disponibiliza, de forma legal e gratuita, clássicos da literatura brasileira e mundial, é possível acessar, por meio dos links, os contos originais. Em relação aos de Clarice Lispector, serão deixadas no documento a capa e a referência do livro que utilizamos. Aqueles que se interessarem em encontrá-lo, poderão fazê-lo em uma biblioteca mais próxima ou por qualquer outro meio.

É válido ressaltar também que alguns alunos, mais tímidos, não quiseram ter seus nomes expostos, assim, vamos deixar somente as iniciais desses nossos escritores misteriosos. Há também textos que serão acompanhados pelas ilustrações, algumas capas, outros não.

Fica a dica: leia o conto original primeiro, depois leia as fanfics e veja a que você mais gostou! Em seguida, faça a sua também! Certeza que você irá se apaixonar por esse universo da leitura e do redesenho!

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4. MACHADO REDESENHADO: releituras de contos clássicos

4.1 Fanfics de ‘Missa do galo’, Machado de Assis

Neste link você poderá encontrar o conto na íntegra:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000223.pdf

Ilustração: Noite da missa do galo. João Paulo Cardoso dos Santos.

Um relato

Ana Clara Silva Pimentel

Eu, Conceição, esposa do escrivão Menezes só por dinheiro, pois meu verdadeiro amor é o Sr. Nogueira, que veio para minha casa para poder assistir à missa do galo, vou contar o que aconteceu naquela noite.

Meu marido, como sempre, foi ao teatro, mas eu sei que ele vai é se encontrar com a amante. Eu já sabia disso há algum tempo, mas não me importo, porque naquela noite era a minha chance de fazer o Sr. Nogueira se apaixonar por mim.

Então, eu fui conversar com ele, enquanto ele aguardava o horário da missa. Fiquei tentando seduzi-lo, mas oh menino devagar!

Depois de um tempo, meu marido morreu e deixou uma grande fortuna. Assim, eu consegui me casar com meu grande amor.

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A descoberta

Anna Carolina Pereira de Almeida

Um ano após aquele acontecimento inconveniente, eu resolvi escrever para o Sr. Nogueira. Confesso que fiz vários rascunhos, mas os escondi em uma tábua que estava meio solta em meu quarto. Depois de enviar a carta, estava aguardando ansiosa com esperança que o Sr. Nogueira me respondesse. Aliás, me declarei para ele. Sei que ele também sentiu algo naquela noite.

Passaram-se semanas e eu estava fora de casa, junto com o meu marido. Assim que cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi subir no meu quarto. A tábua estava meio fora do lugar. Quando fui conferir se meus rascunhos estavam lá, meu marido abriu a porta e perguntou:

– O que está procurando no chão?

Logo me levantei e respondi:

– Estava apenas procurando meu brinco, mas já achei.

Ele acreditou e me chamou para descer para a sala.

Uffa! Essa foi por pouco! Logo desci. Nos despedimos, pois ele iria para o trabalho.

Perguntei para mamãe se alguém tinha subido no meu quarto e ela disse que as escravas tinham ido organizar. Logo fui atrás delas. Foi quando uma delas, Maria, com meus papeis na mão, disse:

– É isso que está procurando?

Mandei que ela me devolvesse. Ela propôs um acordo. Se eu desse dinheiro a ela, ela não contaria nada para o meu marido ou à mamãe. Não tive outra opção e concordei, senão, o que seria de mim?

O tempo foi passando e elas só aumentavam o valor. Foi quando meu marido começou a desconfiar com o que eu gastava tanto dinheiro. Disse-lhe que estava comprando roupas novas.

Certo dia, elas me disseram que me devolveriam meus rascunhos se à noite eu abrisse a porta e as deixasse fugir. Pedi um tempo para pensar. Foi quando elas começaram a deixar bilhetes ameaçando contar para a mamãe. Não tive outra escolha a não ser deixá-las fugir!

Eram três da manhã. Elas me acordaram e logo fui, silenciosamente, pegar a chave da porta. Mas mamãe tinha um sono muito leve!

Quando eu estava descendo as escadas, ouvi um barulho vindo do quarto, porém continuei. Quando abri a porta, ela fez um barulho, mas as escravas saíram correndo e deixaram os rascunhos das cartas todos esparramados no chão. Foi quando mamãe desceu do quarto e me pegou no ato. Logo tomou tudo das minhas mãos e leu o que estava escrito.

Na manhã seguinte, ela disse que não contaria nada para o meu marido. Ele era muito rico.

Enquanto ela brigava comigo, adivinhem! Recebi uma carta! Era do Sr. Nogueira.

A saudade

Ana Luiza Ferreira da Silva

Carta de D. Conceição para o Sr. Nogueira

Caro Sr. Nogueira, como vai? Eu vou bem!

Estou escrevendo esta carta para você sem o meu marido saber. Sabe como ele é ciumento! Eu sei que ele tem muitas mulheres, mesmo casado comigo, mas eu não posso conversar com ninguém que ele fica com ciúmes. Eu finjo que nem estou sabendo, porque sou uma mulher fiel ao meu marido.

Mas quando você esteve aqui na minha sala, conversando comigo, eu senti alguma coisa diferente, me senti leve... Eu sei que você é bem mais novo que eu, porém senti uma certa conexão entre nós.

Na nossa conversa, os nossos assuntos bateram um com o outro e eu vi uma coisa diferente em seus olhos quando estávamos conversando. Quando tivemos aquela pausa, eu fechei os olhos, mas eu não estava com sono, eu estava pensando como aquela conversa estava boa e não queria que acabasse. Eu sabia que você iria à missa, mas eu queria te prender ali, porque eu senti uma conexão, por algum motivo.

Mas, eu só escrevi essa carta para saber como você está e para dizer como me senti. Se você sentiu alguma coisa parecida, eu sou leal ao meu marido, mas só queria dizer que foi um sentimento que não sei explicar.

Pode ser que é porque eu não converso com uma pessoa assim, que gosta dos mesmos assuntos que eu. Meu marido também fica em casa direto e eu não vejo muita gente.

Quando tiver um tempo, me responda. Queria saber se foi só eu que senti isso.

Saudades da nossa conversa. Abraços,

D. Conceição.

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Uma noite

Arthur Rodrigo C. Rodrigues

Naquela noite, Sr. Nogueira estava esperando dar meia-noite para acordar seu vizinho e irem para a missa do galo. A casa onde ele estava hospedado era a do Escrivão Meneses, marido de sua prima que havia morrido tempos atrás. Depois do ocorrido, ele se casou com D. Conceição. Na casa estavam o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas.

Sr. Nogueira, esperando o horário, estava lendo um livro, até que apareceu D. Conceição. Ela perguntou:

– Ainda não foi?

– Não fui. Parece que ainda não é meia-noite.

– Que paciência!

– Mil desculpas por fazer barulho e acordá-la.

– Não, não! Acordei por acordar.

Eles ficaram conversando por um tempo e com o passar dos minutos D. Conceição começou a seduzi-lo, até que, de repente, ele beijou-a. Ela disse:

– O que está fazendo? Mamãe pode acordar e nos ver!

– Mas não era isso que você queria?

– Mas não era isso que você queria?

No mesmo momento apareceu uma escrava falando:

– Sr. Nogueira, já está quase dando meia-noite. O senhor vai se atrasar para a missa do galo.

Então, Sr. Nogueira disse:

– Muito obrigada. Já estou indo!

E falou para D. Conceição:

– Podemos continuar nossa “conversa” amanhã?

– Nunca mais faça isso, senão eu vou falar com o escrivão!

Tomado pela raiva, Sr. Nogueira não falou nada, apenas saiu para acordar o vizinho, mas, para sua surpresa, o vizinho já o estava esperando. Os dois foram para a igreja.

Durante a missa, Sr. Nogueira viu a figura de D. Conceição ao lado do padre. Que delírio!

De manhã, D. Conceição estava conversando de forma natural com o Sr. Nogueira, como se nada tivesse acontecido.

No ano bom ele foi para Mangaratiba, sua cidade natal. Quando retornou para o Rio de Janeiro, descobriu que o escrivão havia morrido e D. Conceição se casara com o escrevente juramentado do marido.

Ele não a encontrou, mas isso já não mais importava.

A missa do galo

Carlos Eduardo de Oliveira Silva

Em um dia normal, eu lendo um jornal do dia a dia, me surpreendi com uma prática religiosa chamada missa do galo. Gostei muito do que li e fiquei sabendo que, por ocasião do natal, essa missa aconteceria no Rio de Janeiro. Então viajei para essa cidade. Fiquei hospedado na casa de um primo, chamado Meneses, que morava em bairro muito pequeno, mas muito legal. Esse meu primo tinha uma mulher chamada Conceição. Meneses era um homem bom, porém bebia muito e eu tinha medo dele arrumar briga durante a noite.

Quando cheguei, entrei na casa que era muito grande, tinha dois andares. Me abriguei em um grande quarto, para onde uma das escravas me levou. Confesso que fiquei espantado de como a casa era grande!

Após eu me ajeitar, meu primo disse que iria sair, iria ao teatro. Então perguntei se poderia ir junto. Meneses riu muito, a escrava também. Não entendi nada. Ele se foi e eu fiquei aguardando o horário da missa.

Como tenho um amigo que mora nessa mesma região, combinei com ele de irmos juntos à igreja. Aguardando o horário combinado, fiquei em meu quarto lendo um livro. Passado um tempo, olho e veja a esposa do meu primo, parada, na porta do quarto. Levei um susto, mas perguntei se ela queria algo e ela disse que só queria conversar.

Fomos para a sala e sentamos bem distantes um do outro. Foi passando o tempo, ela começou a falar mordendo os lábios. Eu me sentei em um banco mais próximo para ver se eu não estava enxergando mal. Ela foi e se sentou mais perto de mim também.

Conversamos e conversamos. Até que ela chegou muito próximo de mim. Ela começou a alisar a minha mão. Então, levantei assustado do banco. Ela me puxou de volta e me deu um beijo.

Já era hora. Meu amigo bateu na janela me chamando para irmos. Ela soltou minha mão e disse para eu ir, que já era tempo. Fui feliz. A igreja estava repleta. Foi tudo muito bom. E até hoje me lembro desse beijo.

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A revelação de um verdadeiro amor

Brenda Martins Barbosa

Mangaratiba, 16 de março de 1862.

Olá, querida Conceição,

Fiquei sabendo da repentina morte de Meneses. Como você se sente com tudo isso?

Espero que você já tenha renovado suas energias, pois sei que sabia do mau caráter de seu marido. Eu mesmo tinha consciência que ele levava amores com uma viúva senhora.

Em minha humilde opinião, não deveria passar por isso, pois sempre foi uma senhora de bom coração e com uma personalidade incrível. Passei a lhe observar através dos bons elogios de D. Inácia, não só os elogios dela, como também por meio de sua simpatia e atenção durante nossa conversa.

Por falar nisso, através dela comecei a te admirar de uma forma diferente... um diferente bom, claro! Pois eu não pensaria nada de ruim vindo de você.

Seus mínimos detalhes me deixaram estonteado, sua voz suave com um leve toque de rouquidão e seus olhos castanhos, quase pretos, me deixaram maravilhado. Meneses realmente não te merecia.

Em menos de um mês após o enterro, tentei encontrá-la novamente, mas no final, minha única descoberta foi de que você já estava casada com outro homem. Espero que não se sinta mal ou chateada por eu te visitar através desta carta, mas, Conceição, eu realmente a amava.

Para meu antigo amor, Conceição.

Sr. Nogueira.

Meu salvador

Damaris Silva Gama

Eu, D. Conceição, irei contar o meu ponto de vista sobre meu marido, Escrivão Meneses e sobre o caso do Sr. Nogueira.

Casada com o escrivão, porém triste com esta escolha, pois Meneses vivia saindo à noite para se divertir com outras mulheres, como se não tivesse uma esposa. No começo, quando descobri, fiquei incrédula e com rancor do meu marido, mas com o passar do tempo, tolerei esse fato deveras absurdo.

Sr. Nogueira é um garoto admirável, cortês e completamente diferente do meu marido. Pela primeira vez ao longo de muitos anos, consegui vivenciar algo diferente, uma calma em meu coração, proceder de forma passiva, sendo apenas eu mesma.

Após três dias se passarem, depois da missa do galo, resolvi pronunciar ao lamentável do meu marido que eu gostaria de desunir-me a ele. Não tolero mais essa infelicidade de ambos os lados, acordar todos os dias angustiada com as ações deste homem está me deixando loucamente infeliz. Confesso que desejaria viver um atual romance com um homem que realmente me respeite, me aprecie e me preze como o Sr. Nogueira.

Hoje, por fim, manifestei sobre meus sentimentos ao meu marido, porém há um problema de sua parte. Pronunciou que não gostaria de abrir mão do nosso relacionamento, por mais que estivéssemos naquela situação. Disse a ele que teria que aceitar, afinal, santo o Escrivão Meneses não era! Sabia sobre os rumores das pessoas relacionado a nós e mesmo assim permanecia a me trair.

Ele ficou francamente furioso com a situação. Disse-me palavras impróprias e resolveu trancar-me em meu quarto. Tantos clamores pedindo ajuda e nada de alguém me socorrer para eu escapar das mãos deste homem sem coração, até que finalmente vejo a porta se abrir e logo vislumbro o Sr. Nogueira.

– Xiu! Vamos retirar-nos daqui em silêncio.

Concordei som sua fala e logo saímos daquela casa.

Sr. Nogueira anunciou por meio de belas palavras que estava apaixonado por mim. Logo em seguida, efetivamente, disse o mesmo para ele.

Resolvemos sair para construirmos nosso romance longe de todos e de tudo! Fomos para Mangaratiba, para onde o Sr. Nogueira já estava indo.

No final de tudo, não informei para minha mãe, D. Inácia. Simplesmente saí para voltar a ser feliz comigo e com meu novo amor, meu caro Sr. Nogueira.

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Depois da missa

David Luan Neves Nunes

Ao som da voz de quem me chamava... Estava prestes a pegar meu fabuloso chapéu, quando fui acordado daquela alucinação com o som do galo que cantou, revelando a verdadeira voz de quem me chamava.

Sinceramente, não soube definir se aquilo era um sonho ou um pesadelo. Ainda não sei se já eram seis da manhã, mas também não voltei a dormir. Imediatamente comecei a anotar tudo o que havia sonhado, nos mais minuciosos detalhes.

Às seis e meia me levantei. A D. Conceição mantinha suas expressões tênues e serenas.

Dia de Reis fui embora, e ela continuava com o mesmo olhar imprevisto, como se nada houvera. Porém, levei na minha memória seu mais belo olhar.

Justamente aquela noite

Enny Vitória M. Santos

Em uma noite, por volta das 22h, o Sr. Nogueira, rapaz de 17 anos, que se hospedava na casa da D. Conceição, esposa do Escrivão Meneses, seu primo, estava a ler um livro esperando dar meia-noite para ir à missa do galo, quando a dona da casa chega e começa uma conversação.

Começaram a falar sobre livros já lidos e outros assuntos inconstantes. A mãe da D. Conceição estava dormindo, porém tinha sono leve e estava escutando toda a conversa. D. Inácia estava achando aquilo tudo muito estranho, pois estava escutando só as vozes dos dois, o que queria dizer que estavam a sós. A senhora achou muito inconveniente o fato de os dois estarem sozinhos, mas resolveu deixar quieto e voltou a dormir.

No dia seguinte, ela resolveu falar com sua filha e explicou toda a situação: “Minha filha, ontem quando eu tentava dormir, escutei a sua conversa com o Sr. Nogueira. Ora, eu não sou estúpida, vocês estavam sozinhos! Pode até ser que não tenha acontecido algo a mais, mas tenho certeza que não fui só eu que ouviu aquela conversa constante”.

Logo Conceição respondeu: “Mamãe, vou ser sincera com a senhora. Aconteceram sim coisas que agora me arrependo amargamente, porém eu não voltaria atrás. A senhora acha que o Meneses não faz nada de errado comigo? Só eu sei o que passo no dia a dia. Nosso casamento é um verdadeiro casamento de aparências. Não é certo o que eu fiz, mas estou cansada. Mereço mais, então, não me arrependo”.

A mãe dela ficou surpresa com a resposta da filha, mas ameaçou contar tudo para o marido, pois para ela, o genro era perfeito para sua filha. Mas não era.

Conceição teve que fazer várias coisas para sua mãe em troca do seu silêncio, incluindo tarefas de casa, dentre outras tantas coisas. Isso se passou durante alguns meses, até que Conceição se cansou e disse que não iria mais ceder às chantagens. Assim, sua mãe disse que contaria tudo a Meneses e assim o fez.

Foi assim que o casamento de Conceição e Meneses acabou. Eles se divorciaram. Mas não vá achando que a história acabou por aqui!

Logo após a separação, Sr. Meneses apareceu casado com a sogra, D. Inácia. Conceição, com raiva do acontecido, mandou um jovem matar o escrivão e assim foi feito. O ex-marido morreu com uma pedrada na cabeça.

Depois de um tempo, descobriram que havia sido Conceição a mandante. Ela seria condenada, porém, se matou primeiro antes de encontrarem-na.

Paixão de período

Evellyn Praciano Costa

Eu, um rapaz tranquilo, sem relações e vínculos com ninguém, só com meus livros. Ela, uma santa, simpática, era o perdão em pessoa, ainda mais por aceitar traições por parte do seu marido, o Escrivão Meneses. Eu, dezessete, e ela, trinta anos de idade.

Na noite em que eu esperava a hora de assistir à missa do galo, me despertou todo esse pensamento, essa descrição de nós dois. Eu estava lendo, quando me deparei com Conceição, ao pé da porta da sala, naqueles trajes tão privativos, digo, que só os mais próximos poderiam vê-la. Ela perguntou se eu ainda estava a esperar para ir ao compromisso. Respondi que sim e ao mesmo tempo perguntei se queria me fazer companhia, já que parecia não estar acordando de seu sono. Ela ficou surpresa com o convite e fez cara de espanto. Eu fiquei envergonhado, talvez tenha faltado com respeito.

Mas, para minha surpresa, aceitou. Sentou-se à minha frente e começamos a conversar sobre livros e autores de seu gosto e eu dos meus. Uma conversa um tanto quanto interessante e, apesar de parecer apenas amigável, olhei para ela e me veio o pensamento inicial que descrevi no início. Talvez eu estivesse louco. Eu tentava parar de pensar naquilo, enquanto ela falava comigo, mas por nada me saída da mente. Na minha cabeça, ela tinha me olhado diferente, um olhar confuso, porque tinha hora que estava entretida e feliz, mas depois era como se tivesse lembrado de algo e não queria estar ali, porém também tinha um olhar misterioso.

Em momentos da nossa conversa, pedia para falarmos mais baixo, tinha medo de sua mãe ouvir, porque na minha cabeça acontecia algo ali, a mais. Enfim, deu a hora de ir à igreja e me despedi de Conceição. Caminhei até a igreja pensando naquele momento.

Dias se passaram e conversamos quase todos os dias. Quando me dei conta, aquela pergunta “será que estou louco?” já não fazia mais sentido. A gente nunca conversou sobre como e quando começou, ou o que faríamos. Foi algo natural e eu nem me lembro o momento em que nos tornamos isto, amantes.

Mas “amantes” não era mais uma palavra que significava segunda opção, traição, escondido. Representava o carinho e a paixão que tínhamos um pelo outro. Apesar de parecer desrespeitoso, foi a história da minha primeira paixão depois dos livros.

Eu e ela ficamos bastante tempo assim, mas tive que voltar para Mangaratiba, minha cidade natal. E da mesma forma que nossa relação começou, natural e invisível, acabou.

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A mãe dos meus filhos

Gabriell Henrique Lopes e Silva

Hoje, eu estava sentado lendo um dos meus livros, quando um dos meus filhos, o Estácio, veio me perguntar como eu havia conhecido sua mãe, minha esposa, D. Conceição. Logo me lembrei daquela noite...

Era noite de natal. Eu estava hospedado na casa do Escrivão Meneses, viúvo de uma das minhas primas, e eu estava esperando a hora de ir para a missa do galo.

Como Meneses havia saído, D. Conceição – como eu a chamava naquele tempo – veio até meu quarto falar comigo e me lembrar que naquela noite tinha um evento que eu havia combinado com meus amigos de ir, mas me atrasei, porque acabamos começando a conversar e me esqueci do tempo. Como fiquei encantado com aquela mulher! Foi quando um dos meus amigos bateu na janela falando “missa do galo, missa do galo” e eu tive que me despedir.

Depois daquele dia, não me encontrei mais com ela. Precisei voltar para minha cidade. Muito tempo depois, recebi uma carta de D. Conceição me avisando sobre o velório do Escrivão Meneses. Confesso que não fiquei triste com a notícia.

Chegando ao velório, avistei D. Conceição. Ela estava muito triste e logo fui falar com ela, consolá-la. Depois de muita conversa, ela me convidou para dormir em sua casa, mas naquele dia, disse a ela que tinha que ir cuidar da minha mãe.

Tempos depois, recebi uma carta, em que ela dizia estar solitária, muito triste e me convidava para irmos – eu e minha mãe – morar em sua casa no Rio de Janeiro. Sem pensar duas vezes, aceitei e logo fui avisar minha mãe que iríamos nos mudar para um lugar melhor.

Com a convivência, nos apaixonamos e estamos juntos até hoje. Foi assim que vocês nasceram!

No silêncio da noite

Gabrielly José Valadares

Era noite de natal, a casa já havia se recolhido. Bom, ao menos era o que eu achava. Eu já estava quase conseguindo dormir, quando escutei alguns passos pelos corredores. Levantei-me e fui até a porta do meu quarto. Era Conceição, saindo da sala onde o Sr. Nogueira estava.

Desconfiei, claro. O que estavam fazendo sozinhos naquela sala? No outro dia, a chamei em um canto e perguntei:

– O que você fazia na sala com o Sr. Nogueira uma hora daquela?

Logo me respondeu:

– Que pergunta, mamãe! Por acaso a senhora está me espionando?

A senti um pouco nervosa ao me responder:

– Você acha que engana, Conceição?

Passados alguns dias depois, o jovem foi embora. Até hoje eu penso sobre o que será que Conceição, sozinha, fazia com aquele rapaz.

Acho que Meneses desconfiava de algo, mas por algum motivo nunca comentou sobre isso.

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Ass: Sr. Nogueira

Geovana Yasmin da Silva Lima

Depois que me mudei para Mangaratiba em busca de me tornar escritor, eu não parava de pensar em D. Conceição. Ela era uma mulher difícil de lidar. Um dia poderia ser dócil como o sol da manhã, no outro, como espinhos de uma rosa. Aquilo me deixava confuso, mas ela conseguia me ter na palma da mão dela.

Passou-se o tempo, e com isso eu tinha me focado na vida de escritor, minha maior paixão. Fiz mais de 15 livros, publiquei e ganhei dinheiro. A vida dos meus sonhos, como eu tinha imaginado, porém faltava algo... me sentia vazio, sozinho, sem ninguém. E no fundo, eu sabia que era tamanha a saudade de Conceição, minha amada. Mas o fato de que Conceição era casada com um cafajeste, me doía o peito. Ela merecia alguém de verdade, talvez alguém como eu.

Cansado de apenas ficar reprimindo aquela paixão, tomei coragem e escrevi uma carta que continha todo o meu amor. Passei a noite fazendo e no outro dia pedi para que enviassem a carta. Estava ansioso com a resposta de Conceição ou talvez com medo do jeito que ela reagiria.

Passaram-se dias, meses... Eu não tive sequer uma resposta de Conceição. Eu estava anárquico com aquela situação. Uma tamanha fúria tomou conta de mim. No meu ponto de vista, não passava de uma enganação, uma mulher sem vigor algum.

Eu queria dizer certas verdades a ela, palavras de ódio, sem compaixão. Ela merecia aquilo. Ela era mesmo igual ao marido dela, os dois se mereciam. Ela devia dar em cima de outros homens. Eu não era o único.

Quando tornei ao Rio de Janeiro, em abril, o marido de Conceição havia morrido, mas eu nem queria visitá-la. Ouvi mais tarde que iria se casar com o escrevente juramentado do marido. Ela continuava sendo uma mulher sem valor, como sempre.

Depois de um tempo, uma carta tinha sido encontrada por uma vizinha de D. Conceição. Ela havia me encontrado. Estranhei isso. Ela disse que havia meu nome e que era uma carta divina.

Um tanto confuso, peguei a carta e li, e pelo incrível que pareça, era a carta que eu tinha escrito para Conceição. A carta estava em estado de decadência, papel rasgado, amassado, queimado, sujo... Eu não sabia que Conceição era capaz daquilo, pensava eu...

Fui embora da cidade sem deixar rastros, nem mensagens. Apenas fui embora, com tristeza em meu coração. “Conceição era capaz disso?” Pensava constantemente.

A carta:

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A nova missa

Helena Fuzaro D’Alexandre

Há muito tempo, quando eu tinha meus 17 anos, tive uma conversa com uma senhora de 30, mas mesmo depois de tantos anos, nunca compreendi essa conversa.

Neste período, eu estava hospedado na casa do Escrivão Meneses, que fora casado com uma de minhas primas. Mas cá entre nós, o Escrivão Meneses sempre foi muito estranho. A segunda mulher dele se chamava Conceição. Ela e a mãe dela acolheram-me quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses atrás, a estudar preparatórios. Embora elas fossem muito queridas, eu não gostava de ficar lá, não me sentia muito bem, então ficava no meu quarto com os meus livros a maior parte do tempo.

A família era bem pequena, havendo só o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas, nada fora do normal. Às dez era o horário de dormir, mas duvido muito que alguém durma nesse horário, pois é quando, normalmente, uma carroça, em específico, passa na frente da casa.

Eu nunca havia ido a um teatro, pois dizem que teatros eram mal-assombrados. Vi que Meneses iria. Achei curioso, mas não me surpreendi. Ele realmente tem cara de quem já está possuído. Então, quis ver se era realmente o que disseram e pedi a ele para que pudesse acompanhá-lo, mas ele não falou nada. A carroça, a mesma carroça esquisita veio buscá-lo. A sogra virava a cabeça para baixo e as duas escravas viravam de costa. Achei estranho, mas decidi imitá-las e fiquei olhando para o lado esquerdo. Resolvi que tentaria descobrir o que era aquela carroça estranha, mas rapidamente desisti quando uma das escravas me pediu perdão por eu ter visto a carroça, com uma cara meio angustiada, eu diria.

Conceição era uma “mulher santa” e realmente fazia jus a este título. Mas eu achei muito estranho. Como pode existir uma pessoa tão santa? Ou como alguém pode ser tão boa ao ponto de ser considerada santa? Mas, tudo bem.

Decidi com meu amigo, que também era meu vizinho, que eu o acordaria à meia-noite para irmos a tão famosa missa do galo. Mas ele me questionou, como eu poderia ter certeza que acordaria na hora certa para irmos? Então, eu resolvi não dormir.

A família recolheu-se no horário de costume. Eu meti-me na sala da frente. Eu já estava arrumado. Dali eu passaria ao corredor, pegaria uma das duas chaves restantes e iria. Eis que Conceição chega perto de mim e fala:

– O que o senhor está fazendo acordado esse horário?

Eu não esperava que ela estivesse acordada, muito menos que viesse falar comigo. Então, dei uma resposta que, embora embaraçada, tentava ser natural:

– Não sei. Talvez eu vá ler ou então ficar aqui olhando a decoração.

– Que desculpinha mais esfarrapada, Sr. Nogueira. Conte-me, por que você está acordado até essas horas?

– Então, só me deu vontade de sair à rua, ver a noite. Ela está linda. E esse ar fresco me dá um certo conforto para ler. Aliás, que horas são?

– Entendo... Ainda são dez e quarenta e cinco.

Eu estava completamente aflito. Eu teria que sair onze e meia, mas pela feição de D. Conceição, ela certamente não iria sair tão cedo de lá.

– E a senhora, D. Conceição, o que a leva a estar acordada esse horário?

– Nada em específico. Apenas não consigo dormir muito bem nesse horário. Estranho, né?!

– Um pouco, talvez...

Ficamos parados, sem dizer nada, apenas virados um para o outro com um clima um pouco tenso. Então lembrei-me da missa. Foi aí que eu resolvi usar o fato para sair dessa situação constrangedora. Mas logo fui interrompido por ela, antes de sequer abrir a boca.

– Sr. Nogueira, o senhor também acha estranho o meu marido? Tipo, o senhor não acha muito suspeito o fato dele quase sempre sair com aquele homem da carroça, com a desculpa de ir ao teatro?

– Como assim, D. Conceição? Ele não vai ao teatro? Quem é aquele homem da carroça? Por que ninguém olha para ele? Está tudo tão mais confuso agora.

Tudo ficou em um repleto silêncio. Conceição olhou para o teto e ficou calada com os dedos cruzados sobre as pernas. Lembrei-me mais uma vez da missa. Olhei o relógio que marcava onze e trinta e dois. Passou o horário da ida, mas eu não sabia se eu deveria sair ou ficar. Preferi a segunda opção. Conceição tomou consciência e me respondeu:

– Eu já o segui escondido até determinado ponto, mas em uma certa hora, ele começou a ir na direção contrária. Lá fica uma casa que é frequentada apenas pelos dois, mas também não é a casa do homem da carroça. Aquele homem... bem eu sei ao certo quem ele é, só não gosto de olhar para ele, assim como as escravas e minha mãe.

– Entendi.

Fui para o lado de fora com Conceição, novamente calados, até que o relógio marcou meia-noite. Já estava ciente de que meu amigo ficaria furioso comigo por eu não tê-lo acordado no horário. Passaram-se cinco minutos e eu o vi correndo e gritando:

– Missa do galo! Missa do galo!

Conceição logo me apressou para ir, enquanto falava:

– Ande, está atrasado, senão vai ter que ir só na outra missa, mas não é igual.

Depois disso, eu voltei para Mangaratiba e nunca mais falei com ela. Mas há rumores de que o marido dela, o escrivão, mantinha um caso com o homem da carroça.

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O amor proibido

Júlia Cíntia Rodrigues da Silva

A mãe de D. Conceição fingiu que estava dormindo e viu a filha dando em cima do Sr. Nogueira. Ao amanhecer, ela foi correndo contar para as amigas a fofoca. Mas, passados alguns dias a notícia chegou aos ouvidos do Escrivão Meneses, que foi correndo saber, da boca de Conceição, se isso era verdade.

Então, ele chegou e perguntou:

– Você queria mesmo fazer isto comigo?

A D. Conceição ficou assustada com a pergunta e respondeu:

– Do que você está falando?

– De você e o Sr. Nogueira. – Respondeu o marido.

– Eu não fiz nada, mas realmente estava pensando em fazer, porque você fica me traindo e eu nem falo nada. – Retrucou Conceição.

Depois disso, o Escrivão Meneses passou mal. Ele sentiu uma dor no peito e caiu no chão. Ele parou no hospital e no momento em que estava lá, D. Conceição escreveu um bilhete para o Sr. Nogueira:

Sr. Nogueira,

O que tivemos foi uma paixão momentânea e isso foi errado, pois fugi do meu papel de esposa. Se pudesse mudar o passado, nada disso teria acontecido. Devemos, agora, cada um seguir o seu caminho e deixar no passado o que aconteceu.

O arrependimento

Lavínia Gabrielly Martins Ribeiro

Querida Conceição,

Através desta carta, venho te pedir perdão por aquela noite. Eu confesso que queria muito ter vivido aquele momento com você, mas eu estava meio sem jeito.

No momento em que você estava se aproximando de mim, passou um filme pela minha cabeça. Estava me sentindo muito bem ao seu lado, mesmo sabendo que você era casada e bem mais velha que eu. Eu me arrependo de não ter aproveitado aquela chance.

Só queria voltar no tempo e fazer tudo diferente. Confesso que às vezes me pego imaginando nós dois juntos, vivendo uma vida tranquila e fico indignado comigo por ter jogado fora a chance de viver o resto da minha vida com você.

Infelizmente agora você se casou novamente e não terei mais chances com você...

[...]

Depois de várias tentativas de escrever uma carta, no final, não tive coragem de mandar nenhuma.

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Declaração para meu grande amor

Laura Yasmim dos Santos Oliveira

Querida Conceição,

Como vai, minha amada? Espero que esteja bem. Quero te contar uma coisa que você irá ficar bastante surpresa.

Bom, desde quando te vi pela primeira vez, foi paixão à primeira vista. Fiquei fascinado em sua beleza. Nunca vira mulher tão bela assim.

Só que tem um porém. Você é a esposa do meu grande amigo Meneses. Creio que se vivêssemos um romance, seriamos bastante julgados por eu ser muito amigo de seu marido. Só que eu não me importaria, logo iria passar.

Para te falar a verdade, eu considero as atitudes de Meneses como as de um cafajeste. Ele não te respeita, sai todas as noites para se encontrar com outras. Como você aguenta isso, minha querida? Deveria dar o troco nele. Uma mulher tão bela assim não merece passar por isso.

E aqui, chegando ao fim, já nem sei muito o que te falar. Queria poder te dizer tantas coisas, mas eu ainda prefiro falar um eu te amo. A única coisa que eu peço todos os dias é para que possamos ficar juntos e eu sei que um dia iremos ficar.

Vou encerrar aqui, já nem sei muito o que te falar. Prometo que na próxima te faço uma carta melhor.

Eu te amo, Conceição. Nos falamos em breve.

Com carinho,

Sr Meneses.

Missa do galo: o que aconteceu naquela noite

Letícia Gabriele Pestana Maciel

Sr. Nogueira, um jovem de dezessete anos, que se hospedou na casa de um de seus parentes, horas antes da missa do galo, estava se preparando, com seu amigo, para irem à missa. Foi quando a D. Conceição passou pelo corredor do quarto do Sr. Nogueira, conversando com sua mãe, D. Inácia, sobre ficar em casa esperando o Escrivão Meneses chegar para tratarem de assuntos particulares, mas a mãe aconselhou a não fazer aquilo naquele dia. Então, D. Inácia esperou que sua filha fosse dormir cedo como havia lhe recomendado. Assim, ambas foram para os seus quartos.

Horas depois, a mãe de D. Conceição escutou barulhos de conversação na sala. Ela ficou com medo, mas foi dar uma olhadinha. Chegando lá viu que o Sr. Nogueira não tinha ido à missa do galo, nem sua filha tinha ido dormir como havia falado. Os dois estavam trocando flertes, olhares e toques. Eles pensavam que ela estaria dormindo. Mal sabiam que ela estava xeretando a conversa dos dois.

Horas se passaram e os dois continuaram conversando, trocando olhares e pensamentos com segundas intenções. Mas, depois foram, cada um, para seus quartos, porque o Escrivão Meneses poderia chegar.

Ao se despedirem, D. Conceição deu um beijo na bochecha do Sr. Nogueira, um pouco perto da boca do rapaz. D. Inácia viu tudo, mas também guardou tudo para ela. Assim, todos foram dormir.

Pouco tempo depois, Sr. Nogueira voltou para onde morava e nunca mais teve notícias de nenhum de seus familiares. O Escrivão Meneses morreu e D. Conceição se casou de novo.

História do meu casamento

Luiz Felliphe Alves de Matos

Depois de alguns dias da missa do galo, voltei para minha cidade no interior do Rio de Janeiro e lá encontrei meu irmão, o Sr. Kleber. Contei para ele sobre aquela noite e pedi a opinião dele a respeito. Ele me falou que D. Conceição claramente tinha interesse em mim e que fui bobo de não ter aproveitado aquela oportunidade.

Eu não conseguia tirar D. Conceição da minha cabeça. Uma semana depois de eu estar em Mangaratiba, chegou a notícia que o Escrivão Meneses havia falecido. Então resolvi voltar para a cidade do Rio de Janeiro para ir ao enterro. Mas eu só pensava em ver D. Conceição.

Quanto a vi lá no enterro, ela estava tão bela, com um vestido bem longo, preto. Eu sei que pensar nela naquele momento era muito errado, mas logo consegui falar com ela e lhe dei um abraço, desejei meus pêsames e conversamos um pouco. Comentei com ela que eu pretendia me mudar de vez para o Rio.

Deste dia em diante, nos tornamos mais próximos e acabamos tendo um relacionamento. Um ano depois nos casamos e vivemos muito felizes. E essa é a história minha e de sua avó, meu neto.

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D. Conceição

Lukas de Magalhães Araújo

Chegou um lindo jovem de Mangaratiba, que eu e minha mãe recebemos e acolhemos na casa de meu marido, o Escrivão Meneses. Ele era calmo, tinha poucas relações e vivia lendo livros.

Meu marido saía uma vez por semana para ir ao teatro. Em uma dessas noites solitárias, estava andando pelo corredor, quando vi o Sr. Nogueira lendo um de seus livros na biblioteca. Surpresa por ele ainda estar acordado, perguntei:

– Ainda não foi?

– Não fui... Parece que ainda não é meia-noite.

Me aproximei mais dele.

– Que paciência!

Não tinha conseguido dormir aquela noite e fiquei aliviada por não estar sozinha. Sentei do outro lado da mesa e começamos a conversar. Apoiei minha cabeça em uma mão, a outra coloquei sobre o joelho. Estava muito cansada.

Depois de um tempo conversando, percebi o Sr. Nogueira com um olhar nervoso, que me encarava de cima a baixo. Por um momento achei que tinha algo errado comigo, mas, engano meu. Senti-me apreensiva e confusa, então mudei a postura e o rumo da nossa conversa.

Sentei-me em uma cadeira que estava ao lado da mesa e, assim, continuou fluindo a conversa, sempre perguntando mais coisas para conhecê-lo um pouco mais. Estava muito exausta, mas seria falta de educação ir dormir.

Levantei-me, ele teve a mesma intenção, mas o impedi. Iria lhe dizer algo, mas estremeci e me sentei de novo. Falamos sobre os quadros que tinha lá em volta, sobre a situação deles e onde ficaria melhor colocá-los.

Depois de um certo tempo conversando, ficamos calados. Ficamos encarando um ao outro, quando, de repente, escutamos pancadas na janela. Era o companheiro de Sr. Nogueira gritando: “Missa do galo! Missa do galo!”.

Assim, me despedi dele e voltei para o meu quarto.

A noite inesperada

Maisa dos Santos Lima

Era noite na velha casa do Escrivão Meneses. Vivíamos eu e minha amiga como escravas. Os donos da casa eram D. Conceição, a mãe dela e o Escrivão, mas eles resolveram hospedar o primo da falecida primeira esposa do escrivão, o Sr. Nogueira. Ele estava de passagem e soube por um amigo que teria, naquela noite, a missa do galo e resolveu ficar para ir assistir. O rapaz combinou de ir com o amigo à igreja, naquela noite.

Eu sou Nara, uma das escravas desta casa. Gosto muito dos meus senhores. Já a outra, não muito. Bom, nessa noite eu fiquei lá fora à espera do meu amado, o amigo do Sr. Nogueira, mas ele demorou muito. Quando entrei, me surpreendi. Sr. Nogueira e D. Conceição estavam conversando à sós na sala. Fiquei chocada pelo que escutei. Estavam conversando sobre romances de livros.

Durante a noite, notei que D. Conceição queria alguma coisa com o Sr. Nogueira, mas ele não percebeu, pois é muito lerdo. Sinceramente, não entendi a fala da D. Conceição “Mamãe está longe, mas o sono é leve”. Ou ele não percebeu as intenções dela, ou fingiu, pois não sei o que se passou na cabeça dele, mas poderia ter acontecido alguma coisa, afinal, entendo D. Conceição.

O escrivão não dá atenção para ela e quase nunca está em casa. Ela quase não sai. Também notei que o Sr. Nogueira gostava muito de passar o tempo com D. Conceição. Ele admirava seu jeito, seu modo de falar, como ela falava de sua vida.

A esse ponto, a conversa já estava tomando outro rumo, foi aí que meu amado chegou gritando “Missa do galo! Missa do galo!”. O Sr. Nogueira percebeu que já era hora de ir. Se despediram como se não fossem se ver de novo. Ele partiu e ela foi descansar.

No outro dia, D. Conceição me perguntou sobre ele e eu disse que não o tinha visto. Ela se recolheu e achou um livro de Machado de Assis, deixado pelo Sr. Nogueira, com uma carta dentro dizendo que esperava encontrá-la outra vez.

Alguns meses se passaram, o escrivão morreu e D. Conceição ficou sozinha, mas toda noite ela ia à sala na esperança de encontrar novamente aquele rapaz, para que tivessem mais uma noite inesperada, com uma longa e carinhosa conversa.

O que ela nunca soube é que eu estava lá, escutei tudo e apoio essa história para que tenha um lindo final feliz!

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A missa do galo: o segredo

Maria Eduarda Alves da Silva

Naquela hora, enquanto acontecia um romance entre Sr. Nogueira e D. Conceição, uma das empregadas, apaixonada pelo marido da patroa, o Escrivão Meneses, ouviu certos barulhos e sussurros e foi ver o que era.

Ao espiar pela porta, se deparou com os dois trocando olhares e rindo. Achou estranho e continuou a espiar os dois, por isso percebeu que sua senhora estava muito interessada no rapaz. Então, mal esperou amanhecer para contar ao seu senhor o que deveras havia acontecido.

Logo de manhã, levantou-se muito mais cedo que de costume. Estava ansiosa para contar o que havia visto pela porta. Ao ver o Escrivão Meneses já acordado, o chamou para conversar em outro canto da casa.

– O senhor nem acredita no que vi ontem à noite!

– Pois então me conte.

– Vi sua esposa e o Sr. Nogueira ontem até tarde da noite a conversarem e rirem juntos.

– Impossível, dormi com ela a noite toda.

Ao sair pensando que era mentira, ele se depara com Nogueira a admirar sua esposa com um profundo olhar e um sorriso meio escondido.

Então, furioso, se vê traído pela sua esposa. Por mais que ele tivesse outras mulheres, ele morria de ciúmes de sua esposa, por ela ser uma mulher formosa. Mas ele nunca disse a ela que sabia daquela noite, que ela havia tido um romance com o Sr. Nogueira.

Esse havia sido seu maior segredo. A fofoca da empregada não deu em nada. Passados alguns anos, o escrivão acabou falecendo e o segredo se foi com ele.

Tudo não era real

Maria Eduarda Brito

Os dias não eram mais tão normais, desde que o Sr. Nogueira foi embora e o Escrivão Meneses acabou morrendo. D. Conceição ficou muito doente, pois seu marido havia falecido e seu segundo amor já não estava mais ali, havia ido embora para outra cidade. Sua mãe também quase não parava em casa. Sempre tinha viagens para uma cidadezinha. Ninguém sabia o porquê, até que um dia ela voltou ao Rio de surpresa e ninguém imaginava quem ela estava trazendo. D. Inácia havia se casado com o Sr. Nogueira.

Quando Conceição viu isso, ela não aceitou, pois ela dizia que o Sr. Nogueira era seu. Então ela agiu na cautela. Por mais que ela quisesse se vingar da mãe, ela teria que ser calma nas suas ações, para que ninguém pudesse imaginar que ela faria algo, senão a culpa cairia imediatamente nela.

Assim fez. Ela bolou todo um plano. Durante esse tempo, sua mãe e o Sr. Nogueira nem desconfiavam de nada. Estava indo bem até que tudo começou a acontecer.

Sua mãe nunca mais teve paz. Ela sempre se sentia acompanhada, por mais que estivesse sozinha e ela nunca se sentia bem nesses momentos. A vida do Sr. Nogueira se tornou pior, pois ela estava sempre destruindo suas coisas. Deixava bilhetes dizendo que ele sofreria muito ainda. Mas claro, ela nunca deixou evidente que era ela que estava fazendo aquelas coisas. Fazia tudo sorrateiramente.

Eles já não estavam aguentando mais. Então Sr. Nogueira respondeu ao bilhete, dizendo que a pessoa poderia fazer o que quisesse, pois eles já não aguentavam mais.

E ela fez.

No dia 29 de setembro, eles estavam dormindo. D. Conceição, fria, e sem nenhum arrependimento, ceifou a vida de sua mãe e de Nogueira. Depois de cometer o crime, ela deixou a casa e nunca mais foi vista.

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À espera da missa

Marcus Vinícius de Sousa Saraiva

Deus me perdoe se eu fiz mal! Eu me casei com meu esposo, o Escrivão Meneses, mas eu não o amo. Eu me casei com ele pela fortuna que o seu pai deixou de herança. Ele sempre me traía, dizendo que ia para o teatro. Até que um dia, enquanto um jovem que estava hospedado na nossa casa, o Sr. Nogueira, estava esperando para ir à missa do galo, eu vi o momento certo para tentar buscar um verdadeiro amor.

O rapaz estava sozinho, na sala, lendo um livro. Minha mãe estava dormindo, as empregadas não, então fiquei com receio de que elas vissem, mas não me importei. Apesar de minhas insinuações, o rapaz parecia não ter atitude, até que eu o beijei!

Ainda bem que ninguém nos pegou no flagra! O Sr. Nogueira riu-se e eu lhe disse:

– Isso precisa ser um segredo nosso.

– Verdade. Prometo que não vou contar para ninguém. – Respondeu o rapaz já saindo para ir à missa, já que seu amigo lhe chamava pela janela.

No outro dia, eu o tratei como se nada tivesse acontecido, mas só para disfarçar. Porém, ele teve que voltar para sua cidade.

Não se passou muito tempo, meu marido morreu. Assim, eu e o Sr. Nogueira nos casamos e vivemos felizes para sempre!

O contrabando brasileiro

Nicollas Oliveira Santos

A família toda pensava que Escrivão Meneses inventava desculpas para sair com outras mulheres, porém a história era totalmente diferente.

Na verdade, o Escrivão Meneses não saía à noite para sair com outras mulheres, ele saía à noite para se encontrar com seu chefe de contrabando, pois trabalhava para a máfia brasileira. Assim, se encontravam quase todas as noites em um bordel para planejarem os trabalhos e para receber seu pagamento.

– Pronto, aqui estão as anotações que havia me pedido. – Disse Meneses.

– Magnífico! Aqui está seu pagamento. – Disse o chefe.

E foi assim por muito tempo. Mas um dia, uma de suas escravas descobriu a verdade e contou para sua mulher, D. Conceição, que ficou indignada e notificou a polícia. Assim, a polícia fez uma emboscada para prender os bandidos. No entanto, o plano da polícia acaba falhando e o Escrivão Meneses consegue fugir.

Foragido durante muitos dias, Meneses vê que começam a aparecer cartazes com sua foto como procurado pela polícia, o que acabou complicando ainda mais sua vida e o deixando irado, pois também descobriu que sua mulher era quem o tinha denunciado.

Um dia, bolou um plano para invadir sua antiga mansão e se vingar de sua esposa. Não foi difícil entrar, render D. Conceição com uma arma e tentar matá-la. Mas antes lhe disse aos gritos:

– Isso é por ter ferrado com minha vida, sua MALDITA!

– Socorro! – Gritou sua esposa.

Quando ele foi puxar o gatilho, uma das escravas apareceu e quebrou um jarro em sua cabeça, salvando D. Conceição. Porém, a pancada foi certeira e ele acabou morrendo.

A polícia logo chegou e o caso se encerrou por ali mesmo, do pior jeito possível.

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Missa do galo: a resposta

Pedro Coelho de Souza Neto

Naquela noite, o Sr. Nogueira decidiu ficar acordado para não perder a hora de chamar o amigo para irem à missa do galo. Enquanto estava acordado, ele decidiu ler um poema de amor.

De repente, a mulher do escrivão entrou na sala onde ele estava. Ele se assustou na hora, mas depois começaram a conversar. Ela começou a chegar mais perto dele. Ele começou a achar a esposa do escrivão cada vez mais atraente. Quando deram por si, já estavam se beijando. Mas aí, amigo de Nogueira bateu na porta o chamando. Imediatamente, os dois pararam de se beijar e Nogueira foi para a missa do galo.

Depois do ocorrido, ele quis ficar mais tempo no Rio de Janeiro, mas não pôde. Ele teve que voltar para casa.

Após um tempo, ele recebeu uma carta do Rio de Janeiro. Foi a esposa do escrivão que tinha enviado para Nogueira. Na carta, ela avisava que o marido dela, o escrivão, havia falecido de uma infecção sexualmente transmissível.

Assim, Nogueira foi correndo para o Rio de Janeiro. A viúva o esperava. Não estava muito abalada, porque ela sabia que ele a traía com outras mulheres.

Depois do luto, que durou dois meses, Nogueira estava ainda mais apaixonado por aquela mulher. Então, ele decidiu pedir a mão dela em casamento, já que ambos se amavam. Ela aceitou!

Eles se casaram e tiveram uma lua de mel em outro estado, onde decidiram morar e formar sua própria família.

Noite de prosa

Rafael Victor Caetano

Em uma madrugada fria e silenciosa, um jovem que se chamava Sr. Nogueira, lia um livro, sentado em uma das várias poltronas da casa de um famoso escrivão chamado Meneses. No entanto, essa fama que levava era injusta, pois não tinha respeito pela sua sogra, que morava com eles. A sua esposa se chamava Conceição. Ela aceitou abrigar o jovem Nogueira em sua casa por alguns dias, até que ele viajasse de volta a seu destino.

Durante o tempo em que Nogueira se hospedou na casa do infiel Escrivão Meneses, ele via sua esposa de uma forma dócil, calma e atenciosa, sempre de olho em tudo. Mas, na maioria das vezes, seu olhar se fixava em Nogueira, que se sentia levemente atraído pela silhueta da dama.

Por vezes, o jovem tentava tocá-la, mas ela o reprimia e sempre se afastava, mas era um tipo de provocação. Assim, o rapaz passou a evitá-la e se afastou repentinamente dela. Mal sabia o rapaz que ela tinha sentimentos por ele, e isso tudo ocorreu porque ela se sentia sozinha e traída pelo seu marido. Desse modo, passou a procurar carinho e atenção no Sr. Nogueira, porque era o único que a entendia e lhe dava a atenção devida.

Em uma noite de prosa entre os dois, ela admitiu a ele o que sentia e disse que também esperava que ele sentisse o mesmo, pois desejava ser amada. Após ouvir isso, o Sr. Nogueira abriu um sorriso no rosto, disse que sentia o mesmo e ali mesmo a pediu em namoro. Só que o mais novo casal tinha problemas para resolver, pois Conceição era casada. Porém não se intimidaram.

Na manhã do dia seguinte, enquanto o Escrivão Meneses chegava, eles o surpreenderam com a notícia. Claro, o homem ficou enfurecido e ali mesmo queria dar um fim na vida do Sr. Nogueira. As empregadas ali presente impediram o fato. Enquanto isso, D. Conceição pegou suas coisas depressa, desceu as escadas, agarrou-se ao braço de seu amado e saíram daquela casa, onde passara por tanto sofrimento.

O escrivão, distraído com tanta raiva do que a mulher lhe fizera, não percebeu que D. Conceição havia pegado uma bela quantia em dinheiro dele. Com esse dinheiro, o novo casal viajou pelo mundo, conhecendo suas belezas, se casaram e ainda tiveram um casal de filhos. Terminaram suas vidas em um chalé longe de tudo e de todos.

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Um dia...

Rebeka Alves Martins

Estou me lembrando de um dia que me acontecera aos 30 anos. Já que hoje já estou com 40, vou contar esta história.

Eu tinha me casado com 27 anos e meu marido era viúvo. Algum tempo depois, um menino veio de Mangaratiba, interior do Rio de Janeiro, para completar seus estudos. Ele era muito solitário para um jovem de 17 anos. Era também muito observador. Olhava tudo ao seu redor, em silêncio.

Meu marido saía com outras mulheres à noite. Nunca fiquei com ciúmes, já que meu casamento fora arranjado por minha mãe e meu pai.

Em um dia que ele simplesmente desaparecera, estava a dormir e acordei de um sono leve, pois tinha ouvido alguns ruídos. Fui ver se era minha mãe, pois também tinha sono leve, mas não era ela. Fui ver o que era. Vi o Sr. Nogueira lendo. Fiquei perplexa, pois era noite de natal e já passava da hora de dormir, mas lembrei-me que ele estava à espera da missa do galo.

Entrei na sala e fui falar com ele. Parecera-me muito estranho seu rosto, sua fala, seus gestos e seu jeito de me fazer rir. Me lembrei de um amor que tive quando mais jovem, mas fiquei ainda mais assustada, quando ele começou a me seguir. Para qualquer lado que eu fosse na sala, ele ia para perto de mim.

Continuei a falar, agora sobre sonhos e pesadelos. Pedia-lhe para falar mais baixo com medo de que minha mãe acordasse e não dormisse mais. Falei sobre os quadros que não eram adequados para uma casa de família. Por fim, falei do passado e de como eu gostava da minha vida antes de casada, da liberdade e de como era chata e ocupada a minha vida.

Depois, veio um silêncio absoluto. Não queria falar nada. Já estava cansada e queria dormir, mas não podia deixá-lo, não era conveniente.

De pouco a pouco, a conversa foi morrendo. Fiquei cansada. Até que o vizinho o chamou: “Missa do galo! Missa do galo”, e ele foi.

Fui dormir. Graças a Deus! Não aguentava mais.

No outro dia, na hora do almoço, ele contou-me sobre a missa. Depois do ano bom, voltou para sua terra natal. Logo depois disso, meu marido morreu de apoplexia. Me casei com o escrevente juramentado dele. Não ouvi mais falar do Sr. Nogueira, mas acho que ele deve estar casado agora.

A escrava

Vitor Emanuel Resende de Oliveira

Naquele dia do acontecimento, a escrava estava limpando certa região perto do cômodo que o Sr. Nogueira e D. Conceição estavam. A escrava estava curiosa. Decidiu ouvir a conversa dos dois e ficou surpresa porque nunca imaginaria isto da D. Conceição.

Passaram-se alguns dias e a escrava não estava dando conta de carregar aquele peso de ficar segurando o segredo. Só que não podia contar isso para ninguém, pois ela não queria prejudicar D. Conceição. Ela sabia que o marido dela não ia gostar nada disso.

A escrava sabia que o marido dela tinha várias amantes e a traía todo santo dia. Então, não tinha razão dele ficar bravo, porque o mundo não gira ao redor dele e isso seria muito machista da parte dele. Mas como ela queria muito sua liberdade, resolveu fazer algo para conseguir ser uma pessoa digna e livre.

No dia seguinte, a escrava, que se chamava Elisabeth, decidiu contar esse ocorrido para a mãe de D. Conceição, D. Inácia, com a qual ela não se dava bem. Então, será que a D. Inácia acreditaria nela?

Sim. Por incrível que pareça, a mãe de D. Conceição acabou acreditando. Mas tinha outro motivo que a fez acreditar. Ela já sabia desse encontro dos dois, pois naquele dia, quando Elisabeth saiu de onde estava, D. Inácia acabou indo lá ver e ouvir o que estava acontecendo.

D. Inácia ofereceu uma quantia grande em dinheiro para Elisabeth, mas ela disse que a única coisa que ela queria era sua liberdade. Então, D. Inácia aceitou conseguir uma carta de alforria para ela, o que a deixou muito feliz.

D. Inácia fez isso tudo, porque guardava um segredo dela e do marido de sua filha. Eles estavam tendo encontros também. E desses encontros acabaram criando um sentimento um pelo outro. Mas não queria que sua filha ficasse sabendo, pois ficaria muito magoada com a mãe.

Elisabeth, por fim, conseguiu a sua liberdade, mas também quis ajudar D. Conceição a saber de toda aquela história para que pudesse ficar livre e viver seu amor com o Sr. Nogueira. Assim o fez.

Ao final, D. Inácia acabou se casando com o Escrivão Meneses. Nem todas as pessoas aceitaram esse relacionamento, mas ela jura que ele tinha se tornado um homem fiel e melhorado como pessoa. Sua filha a perdoou, porque guardar rancor da mãe não seria bom. Ela e o Sr. Nogueira se casaram, logo depois que ele voltou de viagem.

Já Elisabeth, como uma pessoa livre, conseguiu um bom emprego com um salário altíssimo. Seu maior sonho agora era encontrar alguém que a amasse e ela logo encontrou o amor de sua vida.

Por fim, deu tudo certo e todos viveram felizes para sempre.

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Uma carta para o Sr. Nogueira

Wytorya Ketlen Silva Lopes

Querido Sr. Nogueira,

Não sei por onde começar e nem sei se esta carta irá chegar até você.

Naquela noite, na noite da missa do galo, eu não estava dormindo como eu havia falado, mas sim esperando a mamãe dormir. Queria conversar com você, por isso inventei a desculpa de ter acordado de repente. Desde o início, reparei muito em você e resolvi tomar uma atitude naquela noite.

Poderíamos ter aproveitado ainda mais se você não fosse tão acanhado. Sei que pode parecer estranho eu ter esse interesse por você, por conta da nossa diferença de idade e, aliás, eu sou casada. Sei também que minha mudança pela manhã foi estranha, mas ninguém poderia saber disso.

Sentia-me traída pelo meu marido, porque ele passava algumas noites fora de casa e me deixava só. Confesso que quando conversei com você, esse sentimento, essa falta que ele fazia, passou por alguns instantes.

Algum tempo depois que você se foi, eu me casei com o escrevente juramentado do Meneses, já que ele morreu. Eu não queria me casar com ele. Esse casamento para mim foi por obrigação, por ordens de minha mãe.

Todos pensam que eu estou feliz, mas não estou.

Carinhosamente,

D. Conceição.

Confusões de D. Conceição

Yasmin Melo Carvalho

O Sr. Nogueira estava esperando ansiosamente pela missa do galo, tendo consigo um clássico, ‘Os três mosqueteiros’. Estava adentrando, intensamente fixado na história, lendo de forma profunda, que se esqueceu totalmente do tempo.

De repente, ouve o bater do relógio, mostrando que eram onze horas. Quando desvia o olhar do relógio, para sua surpresa, vê D. Conceição perto da porta.

– Como pode passar tanto tempo lendo? Você parece ser um rapaz interessado. – Diz D. Conceição.

Ela também parecia interessada, não na leitura, mas em quem estava lendo naquele momento.

– Estou lendo para que o tempo passe e chegue a hora de ir à missa do galo. – Responde Sr. Nogueira.

O rapaz não entendeu porque D. Conceição estava acordada às onze horas da noite, pois ela era uma mulher ocupada e devia estar cansada. Ele estava muito mais interessado em ler, do que em dar asas àquela conversa ‘sublime’.

Em um determinado momento, D. Conceição se aproxima do jovem, expressando um certo interesse em sua feição. Nas não era qualquer interesse. Era algo abominável para uma mulher casada.

– A senhora está bem? – Pergunta ele.

Ela não parecia nada bem pelas suas ações.

– Estou me sentindo um pouco enjoada. Poderia me levar para o meu quarto? – Sussurra D. Conceição nos ouvidos do Sr. Nogueira.

O badalar do relógio simboliza a chegada da meia-noite.

– Não posso me atrasar. Desculpe-me. Se realmente está a passar mal, chame uma escrava para lhe ajudar.

Quando o Sr. Nogueira vira-se para sair, de repente, não mais que de repente, escuta D. Conceição gritar:

– Alguém ajude-me! Este homem está tentando me molestar.

As primeiras a aparecer para socorrê-la foram as escravas. Mas, discretamente, perceberam que não era aquilo que estava acontecendo. O rapaz ficou sem reação e chocado com o que estava ocorrendo. Ele pensou em correr, se esconder, negar... Mas estava totalmente sem reação.

D. Inácia acorda imediatamente, corre para a sala e flagra o Sr. Nogueira virado de costas para D. Conceição. Ela pensou em contar para o genro, mas ela sabia que o escrivão não faria nada, pois ele a traía da mesma forma e também não se importaria. Indecisa, D. Inácia põe o Sr. Nogueira para fora de casa.

Enquanto ele estava nas ruas, pensava que estava muito arrependido de ter dado asas àquela conversação com D. Conceição. Após dois dias, D. Inácia o encontra e o leva de volta.

– Umas das escravas contara a mim o ocorrido. Sendo minha escrava de confiança, eu acreditei. Também, tem o fato de as vestimentas de minha filha estarem intactas e ela parecia sem ferimentos ou arranhões. Espero que vosmecê me perdoe pelo ocorrido e espero que sua viagem não seja interrompida pela ocasião. – Diz D. Inácia.

Após o ocorrido, Sr. Nogueira viaja para Mangaratiba. Ao retornar, o escrivão Meneses havia morrido. Soube, então, que D. Conceição casara-se com o escrevente juramentado dele e havia se mudado para São Paulo.

– Espero que ela esteja bem, mesmo com o mal que me causou. Estou bem, graças à D. Inácia. Voltarei à Mangaratiba no mês seguinte. – Sussurra para si mesmo, Sr. Nogueira.

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4.2 Fanfics do ‘Conto de escola’, Machado de Assis

Neste link você poderá encontrar o conto na íntegra: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000268.pdf

Ilustração: A pratinha. Júlia Martins Barros.

O pequeno furto

Alexandre Fernandes Cardoso

Era mais um dia normal como outro. Acordei para mais um dia de trabalho. Perante meu estresse, tive que trabalhar mesmo assim, pois não recebia muito e passava por dificuldades em casa.

Assim que cheguei ao meu trabalho, todos os alunos se levantaram de suas mesas. Os mandei ler um livro e dar continuidade à história.

Assim, meti a cara no jornal. A partir daí um silêncio constante tomara a sala, até que ouvi sussurros, mas achei que eram coisa da minha cabeça. Por isso, passei a ignorar. Até que, de repente, um aluno se levantou de sua carteira e me disse sobre o suborno. Chamei o Sr. Pilar até a minha mesa. Ele veio devagar, cabisbaixo e então lhe disse:

– Deixe-me ver este objeto que está em suas mãos. Com medo, ele me entregou. Me surpreendi ao ver aquela moeda de prata. Então, joguei a moeda pela janela para depois pegar e vender por um bom preço. Em seguida, dei várias palmatórias ao subornador e ao subornado e gritei com eles para não desconfiarem dos meus atos.

Assim que todos saíram da sala de aula, me retirei rapidamente da escola para encontrar a moeda. Assim que eu a achei, eu tentei tirá-la da boca de um cavalo, mas ele a engoliu.

Depois de dias visitando o curral do cavalo para ver se a moeda estava entre as fezes do animal, nada de moeda e o animal ainda sumiu de lá. O seu dono mudara de cidade.

Assim, a fortuna que poderia ser minha, foi perdida e voltei a ser o professor de sempre, estressado e falido.

Dura realidade

Ana Clara R. Gomes

Estava no tédio, na escola, apenas imaginando o quanto seria melhor se eu estivesse brincando com os meninos lá fora.

Ao meu lado estava Raimundo, filho do Professor Policarpo. Estava meio inquieto. Atrás de nós estava Curvelo, um menino um ano mais velho que nós. Ele tinha 13 anos e eu não ia muito com a cara dele.

Curvelo estava nos observando como se fôssemos uma presa que está prestes a atacar, mas distraiu-se. Foi nesse momento que Raimundo virou para mim e me mostrou uma moeda, do tempo do rei, eu acho. Queria que eu o ajudasse com a lição. Em troca, eu ganharia a belíssima e brilhante moeda. Era uma oferta bem chamativa, podemos dizer! Mas, Curvelo voltou a nos observar, porém disfarçamos.

Discretamente, aceitei a oferta de Raimundo. Um tempo depois, o professor nos chamou. Ele havia descoberto ou alguém contou. Foi aí que vi o Curvelo com um sorriso no rosto. Foi ele!

Após doze bolos nas mãos (palmatória, meus caros), Policarpo pegou a moedinha e a jogou pela janela. Logo após, nos dispensou.

Curvelo correu e pegou a moeda. Fui atrás, na intenção de acertar as contas. Claro!

O segui até uma periferia. Ele entrou em uma casa de madeira, bem simples. Da janela, vi Curvelo entregando a moeda à mãe. Era tão pouco, mas a deixou feliz.

Então, parti para casa.

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Conto de escola: a vingança

Cauã Gabriel de Sousa Barbosa

Depois de voltar da Praia da Gamboa, encontrei Curvelo e Raimundo aos arredores da escola. Resolvi espiá-los e me deparei com Raimundo entregando um saco com algo dentro para Curvelo.

Indignado, logo pensei que Raimundo havia planejado tudo aquilo para me afetar. Voltei para casa pensativo.

No dia seguinte, fui para a escola com o diabo no corpo. Iria fazer de tudo para fazê-los levar mais de 20 bolos do Sr. Policarpo.

Durante o dia inteiro, os observei só esperando um deslize para dedurá-los. Horas, minutos, segundos se passaram e nada de eu conseguir minha vingança contra os dois.

No outro dia, durante o intervalo, fui-me às pressas à cadeira do Sr. Policarpo e deixei várias tachinhas pontudas lá e na mochila de Raimundo e Curvelo.

Quando o mestre se sentou em sua cadeira, soltou um grito de dor. Foi a minha deixa. Disse ao mestre que seu filho e Curvelo haviam feito aquela travessura. Mostrei a mochila dos dois. Sem pensar, o professor Policarpo catou-lhes e deu-lhes 32 bolos em cada mão.

Sim, minha vingança havia funcionado.

Conto de lição

Emanuel Souza Galvão

Então eu fui para a escola e lá estava o mestre dando aula. Me sentei no meu lugar e do meu lado estava Raimundo, filho do mestre. Nós estávamos fazendo uma atividade que o professor havia passado, quando percebi alguém me chamando. Era Raimundo me pedindo ajuda, em troca de uma moeda. Como eu estava precisando, não resisti e sem o mestre saber, passei a resposta para ele.

Um tempo depois, ouvi o mestre me chamar. Do seu lado já estava seu filho. Ele havia descoberto tudo, por causa do Curvelo que nos havia dedurado. Com isso, o mestre nos advertiu dando uma palmatória em cada um de nós e, ainda, pegou minha moeda e jogou fora.

Quando a aula acabou, nós fomos embora. Lá do lado de fora, avistei Curvelo e decidi lhe dar uma lição, mas ele me viu antes e começou a correr. Eu também corri atrás dele. Passamos por um beco, onde eu o peguei. Então, logo começou a me pedir desculpas, mas eu nem queria dar-lhe ouvido, só queria descontar minha raiva. Assim foi. Bati muito nele.

No outro dia, eu estava indo para a escola e encontrei a moedinha que o mestre havia jogado pela janela. Fiquei muito feliz. Mas eu tinha que entrar na escola. Quando entrei, não avistei o Curvelo. Logo pensei que ele não tinha ido por medo. Mas não dei moral, assisti à aula e fui embora.

Chegando em casa, vi a mãe do Curvelo conversando com minha mãe. Elas estavam sérias, sem nenhum sorriso. Com medo, entrei para casa. Ouvi a porta bater e ouvi minha mãe me chamando. Ela estava muito brava e perguntou para mim por que eu havia batido em Curvelo. Como não sabia mentir, falei a verdade. Depois que terminei de contar, ela me disse que eu não podia ter feito aquilo, me deu o maior sermão e, no final, ainda me bateu.

No outro dia fiquei pensando no que eu havia feito naquele dia e percebi que eu tinha sido muito errado. Me arrependi muito.

Quando cheguei na escola, já fui correndo pedir perdão para o Curvelo. Ele me perdoou. Assim, voltei para casa e continuei minha vida normalmente.

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Conto de escola: o troco

Guilherme Vieira Aires

Após serem liberados, Sr. Pilar chamou Raimundo para uma conversa. Os dois estavam com muita raiva de Curvelo. Raimundo, que era considerado um menino magrelo, sem força alguma, se juntou ao Sr. Pilar para darem um troco em Curvelo.

Assim fizeram. Começaram a seguir Curvelo na rua, esperando que ele entrasse em alguma rua deserta. Curvelo que não era nem bobo, percebeu que estava sendo seguido e começou a correr.

Sr. Pilar e Raimundo se separaram para cercar Curvelo. Para a infelicidade do colega, ele trombou de frente com o Sr. Pilar que lhe dera um golpe certeiro. Raimundo chegou em seguida e viu Curvelo caído no chão com os olhos arregalados, mas, consumido pelo calor da emoção, o chutou, mesmo ele já estando em desespero.

Para se livrar dos agressores, Curvelo gritou dizendo que havia achado a moeda que o professor jogara na rua e que a daria a eles se não lhe batessem mais. Sr. Pilar que era esperto, pegou a moeda da mão de Curvelo e a guardou, mas também pegou todo o dinheiro que ele guardava em seu outro bolso e entregou para Raimundo.

Os dois fizeram Curvelo prometer que não contaria para ninguém o que aconteceu ali e inventasse uma história de que teria sido assaltado.

Sr. Pilar e Raimundo saíram rindo da cara do miserável Curvelo, que ficou chorando, caído no chão.

A moeda do mal

Hyan Lucas Almeida Moreira

Logo após Curvelo ver que seus colegas haviam levado doze bolos na mão, um atrás do outro, o garoto ficou arrependido, sentindo muito culpa, porque não havia necessidade do professor fazer aquilo. O sinal bateu e Curvelo correu para tentar achar a moeda, porém a moeda não estava mais lá. Sem saber o que fazer, foi para casa, no entanto, queria recompensar seus colegas.

Durante o jantar na casa de Curvelo, seu pai comentou que teria que ir à cidade vizinha visitar sua mãe. Curvelo logo viu uma oportunidade de se redimir com Pilar, pois na cidade de sua avó havia uma loja de antiguidades que tinha de tudo. Após o jantar, pediu ao seu pai para levá-lo, pois queria ver sua avó. O pai concordou. E assim, logo pela manhã do outro dia, partiram.

Quando chegaram, Curvelo foi direto para a loja de antiguidades. A loja estava aberta. Curvelo entrou e perguntou ao vendedor se lá havia algumas moedas antigas. O vendedor disse que havia várias e levou o garoto até elas. Ele achou uma igual a que Raimundo dera ao Sr. Pilar. Então disse que iria levar a moeda branca, porém o vendedor disse que não venderia aquela moeda, pois o garoto não iria cuidar direito dela.

Assim que o vendedor saiu de perto, Curvelo, discretamente, pegou a moeda, saiu da loja e foi para a casa de sua avó. Ao chegar, seu pai disse que iriam dormir por lá e Curvelo disse que estava tudo bem. Dessa forma, o garoto dormiu no quarto antigo de seu pai.

Durante a noite, Curvelo acordou, pois estava ouvindo passos pesados na cozinha inteira. No primeiro momento, não deu muita atenção, pois pensava ser seu pai. Não demorou muito, os passos pesados pararam. Porém, Curvelo não conseguia dormir mais. Acendeu uma vela e pegou um livro para ler, mas os passos voltaram. Ele achou que fosse seu pai que teria ido apagar a vela. Só que não era seu pai. Era uma criatura horrenda que apareceu na frente da porta do seu quarto. O garoto percebeu que aquela criatura não tinha pernas humanas, eram cascos de bode.

Cheio de medo, o menino se escondeu debaixo das cobertas e ouviu a criatura se afastando do seu quarto. Assim, encheu-se de coragem e foi espiar na cozinha, pensando que a criatura havia sumido. Que nada! Aquele ser maligno estava no corredor, em frente ao quarto de sua avó. Com passos leves, Curvelo voltou para o seu quarto, fechou a porta e se cobriu, achando que estava tudo bem. Mas, de repente, olhou pela janela e viu dois pares de olhos vermelhos, brilhantes. O garoto tentou fugir daquela criatura que estava em frente ao seu quarto.

No outro dia, Curvelo não fora encontrado. Apenas a moeda branca.

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A inveja de Curvelo

J. G. V. P.

Era mais um dia normal. Me arrumei e fui para a escola. Como sempre, eu via o Sr. Pilar indo para a escola também. Em alguns minutos de caminhada, chegamos à escola e como de costume, chegamos primeiro. Logo, o restante dos alunos chegou também.

A aula começou e o filho do professor Policarpo, Raimundo, entregou uma moeda para o Sr. Pilar em troca de ajuda com os deveres. Era uma moeda brilhante, branca como a neve e reluzente.

Eu os dedurei, pois senti inveja e queria aquela moeda para mim. Como castigo, o professor Policarpo jogou a moeda fora.

Quando o sinal bateu, eu saí correndo, pois vi o Sr. Pilar me encarando e tinha certeza que ele iria atrás de mim. Me escondi atrás de um beco, mas mesmo assim, ele me encontrou.

Nós dois acabamos discutindo:

– Porque nos dedurou para o Sr. Policarpo?

– Por quê?! Porque eu senti inveja! Aquela moeda brilhante e reluzente... A queria para mim!

– Se você não nos tivesse dedurado, eu te daria a moeda. Mas agora você me ferrou e ferrou o pobre Raimundo.

– Você está de brincadeira comigo! Nem levando mil bolos do Sr. Policarpo, você me daria essa moeda. E não estou nem aí para o Raimundo. É o que ele merece!

Ficamos discutindo ali por um bom tempo, até que o Sr. Pilar tomou uma decisão.

– Curvelo, vamos procurar a moeda juntos. Quando acharmos, você fica com ela.

Felizmente a moeda ainda estava lá e, como prometido, Sr. Pilar me deu a moeda. Logo após, tivemos uma conversa bem calma e fomos embora. Penso que fizemos as pazes.

A pratinha

Júlia Martins Barros

O dia estava lindo e eu me arrumei para ir à escola, como faria em qualquer outro. Mas logo no começo da aula, notei algo cintilante no bolso esquerdo de Raimundo e vi que ele tentava dizer algo para o Sr. Pilar.

Eu e Raimundo costumávamos ser muito amigos quando mais novos. Mas, no último ano, nos afastamos e ele se aproximou do Sr. Pilar. Antes, era eu quem o ajudava quando não entendia a matéria. Acho que acabei achando injusto ele oferecer a pratinha para o Sr. Pilar, em vez de oferecê-la para mim, seu amigo de infância, mesmo que não fossemos mais próximos.

Vi, então, uma oportunidade. Por isso, decidi denunciá-los ao professor Policarpo, com a esperança de que, pelo meu ato, ele me desse a pratinha como recompensa. No entanto, para o meu espanto, ele lhes deu um sermão, incluindo doze bolos de palmatória e jogou a pratinha janela afora!

Confesso que me arrependi de tê-los dedurado. Além de eu não ter ganhado nada com isso, prejudiquei os dois que não fizeram nada de ruim para mim. Pela expressão do Sr. Pilar, temi apanhar na saída e saí correndo ao sinal. Esperava também encontrar a pratinha na rua. E, finalmente, algo bom aconteceu! Lá estava ela, reluzente ao brilho do sol.

Fui correndo para casa, já pensando no que faria. No caminho, passei por diversas lojas de doces, de brinquedos, livrarias, de tudo. Mas nada parecia valer a pena para gastá-la.

Não voltei à escola na parte da tarde, pois estava com a cabeça cheia. Fiquei de consciência pesada por ter “roubado” a pratinha. Pensei muito e acabei decidindo guardá-la, afinal, o professor a havia jogado fora.

Tive medo de ir à escola no dia seguinte, mas fui mesmo assim. Chegando lá, vi que o Sr. Pilar havia faltado (o que honestamente foi um alívio), mas Raimundo estava lá. Claramente ele estava chateado e um pouco enfurecido, certamente, comigo. Tentei criar coragem para me desculpar, mas pensei que poderia piorar as coisas.

De repente, tive uma ideia de como me redimir! Discretamente, coloquei a pratinha no mesmo bolso que a tinha visto pela primeira vez. Após alguns minutos, ele percebeu um peso diferente em seu bolso. Ao tocá-la, olhou para trás e deu um leve sorriso.

Acho que vale a pena perder uma pratinha se for para reconquistar uma amizade.

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O preço da dignidade

Kalebe Fernandes Silva

Um dia se passou e eu não estava conseguindo livrar-me das memórias do ocorrido, desde o sorriso maldoso de Curvelo, ao castigo, fruto da minha inocência.

Chegando à escola, todos os olhares se voltaram para mim. O professor Policarpo não conseguia esconder seu olhar de reprovação. Quis olhar para trás, afim de advertir Curvelo através de um breve, mas duro olhar. No primeiro momento, não tive coragem. A situação é mais assustadora quando é você que está sob os olhares. Porém, um sentimento de coragem me impulsionava a levantar a cabeça por qualquer motivo. Provavelmente, pela sensação de medo sentida no outro dia, não queria sentir aquilo nunca mais.

Finalmente, olhei para Raimundo, que estava com uma expressão ligeiramente amedrontada, mal disfarçada por um livro que ele colocava na altura do rosto – talvez estivesse tentando se esconder da minha fúria. No entanto não importava o quanto se esquivasse dos meus olhares, uma discussão era inevitável.

Ao final da tarde, terminei tudo rapidamente e com a despensa do professor, esperei no único corredor que levava à saída da escola. No momento que Raimundo passava, peguei-o pela camisa e o empurrei-o forte contra a parede, quase sussurrando para que ninguém percebesse a discussão:

– Desculpe-me, não era e não é minha intenção ter sido para você o causador de tanta hostilidade. Descul...

Interrompendo-o, disse-lhe:

– IMPRUDENTE! Você sabia o que estava fazendo, apenas não queria admitir para si mesmo, e mesmo agora não quer. Fica se escondendo por aí. Deixe de ser um covarde ou jamais sairá deste nível!

Depois de ter dito para ele tudo o que eu queria naquele dia, antes que todos fossem embora, precisava falar com o outro indivíduo envolvido naquela situação. Alguém que não seria tão compreensível: Curvelo.

Parado na saída da escola, ele acariciava carinhosamente uma moeda reluzente como a luz. Imediatamente reconheci o brilho metálico. Sei que ele não aceitaria conversar tranquilamente, entretanto àquela altura eu não me importava com o que o Curvelo acharia da minha conversa.

Meu furor cresceu. Ataquei Curvelo com um gancho de direita tão forte para derrubá-lo e imobilizá-lo. Era o que bastava para fazê-lo me escutar:

– Pensei que Raimundo fosse covarde, mas você consegue ser muito pior. Se você tem problemas comigo, fale comigo. Quer ser o GRANDÃO? Faça seu trabalho como um homem.

Assim, honrei minha dignidade.

Que moeda?

Kaue Martins de Bastos

Eu sempre tirei boas notas, sempre fui muito querido pelos professores, o que gerou uma certa repulsa por parte de meus colegas de classe. Nunca entendi bem o porquê.

Sempre gostei de fazer amizades, criar novos amigos. Isso gerou uma certa antipatia de meus companheiros de classe, e, por isso, um sentimento de raiva tomava-me conta por completo. Aquela repulsa por parte deles fazia-me mal, porque sempre fui espontâneo e como já disse, adoro fazer amizades.

Na classe, não converso com ninguém, só com o mestre, que, diferentemente dos meus companheiros, me dá atenção sempre que peço, seja para fazer perguntas, elogios, broncas ou até para lhe levar coisas de sua necessidade, como livros, etc.

Com o passar do tempo, o ódio de meus colegas e a repulsa por parte deles já não me incomodava tanto quanto antes. Mas, certo dia, algo me chamou a atenção. Dois dos meus colegas estavam sussurrando, mas dava para escutar. Eles conversavam sobre a atividade que o mestre acabara de escrever na lousa. O filho dele, o Raimundo, pedia ajuda ao Sr. Pilar e eu não entendi o porquê, pois o Sr. Pilar era um mau aluno. As minhas notas comparadas com as dele eram muito melhores. Então fazia mais sentido ele pedir ajuda para mim.

Enchi-me de raiva, mas fiquei quieto, pois sabia que seria impossível aquele plano dar certo. Quando olhei para o mestre tão distraído com o jornal, percebi que ele mal se dava conta do que estava se passando na sala de aula.

Eu iria deixar quieto, mesmo que muito contrariado. Mas quando vi a moeda... Ah, a moeda... Aquela moeda tão amarela que chega enchia os olhos. Não aguentei. Eu queria aquela moeda a todo custo. Esperei o momento certo para delatar os dois.

Dito e feito. O mestre bufava enquanto eu contava, porque sabia que seu filho estava entre os errados. Assim, levantou-se e gritou. Eu, segurando o riso, só observava. Quando eu o vi batendo com a palmatória neles, o riso estampado em meu rosto, se transformou em arrependimento.

Não fazia sentido eu os delatar só pelo meu desejo de possuir a moeda. A cada palmada que eles levavam, – e o barulho era estridente –, eu sabia que isso não iria ficar barato. O Sr. Pilar era menino de rua e certeza que ele iria querer se vingar.

Quando eu vi a moeda caindo pela janela, ali eu tive certeza que o Sr. Pilar iria querer se vingar. Comecei, portanto, a bolar um plano de fuga.

Sentei-me no fundo, perto da porta, porque quando o mestre liberasse, eu seria um dos primeiros a sair. Novamente, dito e feito. Saí primeiro e corri, mas eu ainda queria a maldita moeda. Tentei ignorar meu sentimento, mas não aguentei. Eu sabia que ele também estaria vindo. Então, mais ágil que um águia caçando, peguei a moeda e corri para a minha casa.

Não fui para a escola pelos dois dias seguintes por medo e também não vi o Sr. Pilar. Com uma bronca por parte da minha mãe, fui obrigado a ir ao colégio. Fui tremendo, com medo de ser pego de surpresa. Mas chegando lá, não vi o Sr. Pilar. Achei estranho, mas continuei meu caminho.

Quando cheguei na sala de aula, um susto me acordou. Lá estava ele sentado, me encarando. Calado estava, calado fiquei, mas sabia que meu fim estava próximo.

Na saída, o medo me consumia, mas sabia que era merecido. Dito e feito. Ele veio até mim. Eu imaginando que o soco viria da mão direita, mas nada disso aconteceu. Diferentemente, recebi um aperto de mão e poucas palavras:

– Estávamos te procurando. Por onde passou? Estava fugindo?

Não sabia o que responder. Com uma resposta vaga, tentei livrar-me da situação:

– Me procurando? Estava aqui há horas. Faltei dois dias, porque passei mal. Medo?

Eu iria mentir, mas já não aguentava mais aquela sensação:

– Oh, sim. Me desculpe pelo que eu fiz a vocês, mas eu queria muito a moeda. E também vocês nem conversam comigo – disse eu esperando uma broca que não veio.

– Primeiramente, a gente não fala com você, porque você próprio não deixa. Eu te chamei para me ajudar a fazer uma lição e você nem me deu atenção. Igualmente o Raimundo. Ele te chamou para ajudá-lo e você? Nem deu atenção para ele também. Então, se a gente não te dá atenção, é porque você não quer. E sim, eu pensei em me vingar, mas não quis, não valia a pena.

Essa resposta me quebrou. A partir daquele dia, mudei meu jeito de ser e hoje, Sr. Pilar e Raimundo passaram a ser meus melhores amigos. Passei até a dar respostas para eles quando precisam. Fui até chamado para brincar com eles na rua, um dos melhores dias da minha vida.

As palavras do Sr. Pilar me incomodaram muito. E pensar que vieram de um menino que eu pensei que iria me bater! Obrigada, Sr. Pilar!

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Conto de escola: lembranças

Lucas de Paula dos Santos

A escola era na Rua do Costa e o ano era o de 1840. Eu, Pilar, sou um garoto muito sapeca, que não gostava muito de ir para a escola, assim como muitos meninos e meninas. Hoje em dia ainda não gosto, mas sou um garoto muito inteligente, que tira notas boas, respeita muito os outros, mas nem tudo é perfeito, porque realmente não gosto de ir à escola.

Certa vez, tive a chance de fugir da escola, escondido de todos. Foi no tempo que mencionei. Estava eu indo para a escola, quando vi um grupo de meninos jogando futebol na rua. Parei e fiquei muito pensativo: ir ou não ir para a escola? Mas, sem querer desobedecer meus pais, achei melhor ir.

Nesse dia, eu não estava me sentindo feliz. Estava achando que alguma coisa de errado iria acontecer e aconteceu. Acabei levando uns bolos do mestre, por causa do filho dele. Deveria ter seguido minha vontade, mas depois, tudo voltou ao normal.

Em casa, eu gostava muito de brincar com meus amigos. Meus pais sabiam que eu não gostava de ir para a escola, e isso os deixava muito tristes. Porém não parei, pois meu sonho de virar um detetive, dependia dos meus estudos.

A escola e o ódio

Maria Vitória Rubens Ferreira

Naquele dia, eu acordei com muita raiva de Curvelo. Estava decidido a ir atrás daquele garoto, até que no caminho, encontrei um batalhão de fuzileiros. Achei tão interessante e animado vê-los tocar. Eles vinham batendo os pés rápido. Direita, esquerda, acompanhando o som.

Quando comecei a segui-los, admirando tudo aquilo, minha cabeça, aos poucos, esfriou. Já não estava mais com aquele ódio que dava para ver no fundo dos meus olhos. Assim, respirei fundo, me acalmei e fui para a escola me sentindo muito mais leve por dentro.

Eu havia perdoado o Curvelo. Entrei e sentei na minha carteira. Estava decidido que aquilo não iria me abalar, até os outros alunos chegarem. Alguns me olhavam com cara de pena e outros com cara de satisfação. Até aí, tudo bem.

Quando foi no meio da aula, Curvelo, novamente, tentou me sabotar no momento em que eu deixei o lápis cair perto da carteira de Raimundo. Quando me levantei para pegar, Curvelo, por algum motivo, gritou para a sala toda que eu estava colando de Raimundo. Mas dessa vez, eu não estava errado. Mesmo assim, o mestre Policarpo me puniu novamente.

Naquele momento, todo aquele ódio que havia passado algumas horas atrás foi voltando para o meu corpo, me consumindo. Só que agora sim, eu estava decidido a me vingar.

No dia seguinte, assim que amanheceu, fui até a escola. Se no dia anterior estava com raiva, nem queria imaginar depois. Chegando lá, até mudei a expressão do meu rosto. Fingi estar muito bem. Estava sorridente. Curvelo mal sabia o que o esperava.

Com uma cara de deboche, como se estivesse esperando por aquele momento, ele estava se achando o centro das atenções, enquanto eu estava disfarçando minha vontade e desejo de vingança.

Passei o dia a observá-lo. Então, na hora de ir embora, percebi Curvelo conversando com o seu pai na porta da escola. O homem tinha uma cara assustadora, brava, um semblante estressado. Durante a conversa, Curvelo estava com uma expressão de medo de seu pai. Mas Curvelo não temia nenhuma outra pessoa, apenas ao pai.

Fui embora. Chegando em casa, eu já estava melhor, porque havia descoberto algo perfeito para a minha vingança.

Curvelo disfarçava muito bem. Ele era um menino cruel, no entanto, até aquele momento, ninguém sabia da realidade dele com seu pai. Ele dizia que o pai era bom para ele. Por conta daquela atitude, passei a investigar mais.

Descobri que Curvelo morava só com o pai, pois a mãe morava na cidade vizinha. O homem bebia muito e cobrava todas as obrigações de casa do filho, enquanto que, quando estava em casa, passava o dia todo deitado no sofá.

Outro dia que passei por lá, o vi muito bêbado, batendo muito no seu filho. E batia por qualquer coisa. Ele batia nele com uma corrente de ferro. Pensei que eu poderia usar o fato para me vingar, mas ao passar do tempo fui ficando pensativo: “será que vale a pena mesmo eu me vingar?” Eu já não estava mais com tanta raiva de Curvelo, e sim com dó. Talvez ele tenha motivo para ser assim, dessa forma. Nunca foi educado ou criado com amor. Foi rejeitado desde o útero de sua mãe.

Um dia criei coragem e falei para Curvelo que eu sabia de tudo. O garoto mudou de expressão na hora. Ele ficou surpreso e assustado. Então, eu lhe disse:

– Ninguém merece sofrer assim.

Por isso, Curvelo começou a desabafar comigo e a chorar.

– Como você descobriu? Você queria se vingar, né?

Foi quando eu expliquei que sim.

– Você iria acabar de destruir o que já está destruído.

Meu plano era sabotar Curvelo e fazer as pessoas descobrirem quem realmente ele era.

– Sinto muito você passar por tudo isso.

– Não precisa ter pena de mim, afinal, eu nunca tive pena de você.

O ódio que eu tinha dele não estava mais em mim. Estava me sentindo leve e normal. Então eu o aconselhei:

– Por que você não vai morar com sua mãe na cidade vizinha? Não dá para viver assim, ainda mais quando é o próprio pai.

– Eu amo esse lugar. Mas como você sabe, eu sou fraco.

Curvelo não era fraco, e sim forte. O único defeito dele era disfarçar sua dor usando o ódio em outras pessoas.

Fiquei um bom tempo conversando com ele e confesso que nunca imaginaria eu e Curvelo tendo uma conversa. Então, ele me pediu desculpas pelo que fez. Achava que eu o odiava como todo mundo. Por fim, aceitei suas desculpas e ele me disse:

– Você é realmente uma pessoa incrível. Nunca pensei que o conselho de alguém me faria pensar melhor.

Desse modo, Curvelo acabou se mudando para a casa de sua mãe, na cidade vizinha. Seu pai foi preso por atos de violência e roubo. E a lição que fica é que não se cura a dor com o ódio.

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Em algum lugar do universo

Marielly Rodrigues Gama da Silva

Em algum lugar do universo deve existir alguém compatível comigo. Mas, quem será?

Bom, deixe-me me apresentar! O meu nome é Pilar, conhecido como Sr. Pilar. Tenho 9 anos e faço aniversário dia 30 de março. Faltam apenas 9 dias. Agora vou contar um pouco da minha vida para vocês.

Moro como meu pai, desde os meus 6 anos, pois minha mãe nos deixou. Ela sofreu um acidente grave e não resistiu. A partir do ocorrido com minha mãe, meu pai esfriou completamente. Para falar a verdade, nem lembro da última vez que vi um sorriso em seu rosto.

Ele é um homem bom, um bom pai, mas ele me sufoca tanto em relação à escola que às vezes me esqueço que sou uma criança e que tenho que aproveitar esta fase.

O que eu mais gosto é de brincar no morro e no campo com meus amigos, ver aqueles papagaios voando me deixa alegre e, sinceramente, não consigo expressar em palavras a sensação de alívio e paz que isso me traz.

Mas tenho que acordar para a realidade, porque a vida não é fácil assim. Até confesso que não é tão ruim ir para a escola igual antes. Depois que o novato chegou, tudo ficou diferente. Tive umas sensações estranhas. Senti meu coração bater mais rápido que o normal. Nunca havia sentido algo assim. Só conseguia reparar na cor dos seus olhos, azuis da cor do mar. Espero que possamos ser amigos.

Mas, naquele mesmo dia em que estava me sentindo feliz na escola, um colega de classe, o Raimundo, me pediu ajuda para completar o exercício, como fazia por diversas vezes. Só que desta vez, como forma de recompensa (eu acho), me ofereceu uma pratinha. Isso mesmo, uma pratinha de verdade!

Sem mais delongas, peguei a pratinha e o ajudei com a atividade. O que a gente não esperava é que o Curvelo, outro garoto da nossa sala, estava observando tudo. Ele estava prestes a nos dedurar para o mestre, o mais temido de todos. Ele estava quase se levantando quando o novato o impediu, ameaçando que, se contasse, iria dizer que o vira no recreio fazendo coisas erradas. Assim, ele se sentou e desistiu.

Passados alguns minutos, o sinal tocou. Quando o novato estava prestes a ir embora, o convidei para ir ao parque. Assim, aquele dia se tornou o melhor dia da minha vida, com a pratinha que eu queria e a companhia do menino dos olhos mais lindos que eu já vi.

Devemos ser melhores

Pedro Lucas Tavares Ramos de Souza

Naquele dia, voltei meio triste para casa, porque além de perder a minha pratinha, voltei com a mão inchada.

Decidi dar um tempo da escola, para pensar e repensar nas coisas que eu fiz e poderia fazer melhor.

“Às vezes, não é em tudo que eu tenho que ser bonzinho. Também não posso ser mau, mas tenho que aprender a dizer não. É sempre bom dizer não para as coisas que nos prejudicam.

Posso até ter ficado bravo no primeiro momento, mas eu não sei a situação dele, vai que ele precisava da moeda.

É sempre bom pensar como o outro está se sentindo, não ser egoísta.

Preciso desse tempo para pensar melhor nas coisas. É a vida. Não tem nada que eu possa fazer. Que o destino e Deus o julguem, não eu”.

Essa confusão de pensamentos me acompanhava...

O mistério do Sr. Policarpo

Priscila Santos da Costa

Em uma noite chuvosa e sombria, andava pela rua um professor que a cidade temia. Com um andar manso e sorrateiro, estava em busca de novas vítimas na sua escola. Mas havia um jovem corajoso e ousado que não temia o Sr. Policarpo. Esse jovem tinha uma estatura alta e forte. Era o único que tinha coragem de se dirigir a ele.

Entrando em sua sala de aula, Sr. Policarpo chegou para fazer a chamada, quando percebeu que o garoto chamado Sr. Pilar não estava presente naquele momento. Assim, o professor, repleto de raiva, foi com um andar apressado em busco do jovem Pilar que, por azar, estava nos corredores em vez de estar na sala de aula.

Então, com muita fúria, andou a escola inteira atrás do aluno, quando, de repente, o encontrou. Não houve conversa nenhuma. Só gritos de desespero e angústia por parte do jovem Pilar.

Nesse momento, passava uma zeladora. Como ela presenciou a violência com que o professor tratava o aluno, ele a ameaçou. Que ficasse calada e não contasse a ninguém o ocorrido. Assim, o Sr. Policarpo jogou o Pilar em uma espécie de lixeira, o asfixiando e o torturando.

Logo em seguida, o levou para seu esconderijo secreto, onde estava aprisionando outros jovens que o ousaram enfrentar.

Quando acordou, Pilar estava amarrado, cheio de ferimentos pelo corpo, acorrentado e enjaulado. Ele estava tão machucado, que não conseguia falar ou se mexer. Os outros jovens que ali estavam na mesma condição, gritaram bem alto pedindo socorro. Porém, o Sr. Policarpo, rindo sarcasticamente, disse:

– Estão loucos? Ninguém poderá ouvi-los e socorrê-los.

Os jovens estavam cada vez mais desesperados. Pilar estava desmaiado. Foi quando ouviram uma grande explosão.

Sr. Policarpo, espantado, correu para verificar se nenhum de seus prisioneiros havia escapado, mas já era tarde. O Sr. Pilar não estava mais lá. Sua estratégia de entrar e salvar a todos deu certo. Fingindo estar desmaiado, recuperou suas forças, jogou uma granada que escondia e depois conseguiu abrir todos os cadeados.

Os jovens aprisionados, foram todos para cima do Sr. Policarpo. Conseguiram derrotá-lo e aprisioná-lo para que ficasse apodrecendo para todo o sempre.

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Motivos de Curvelo

Rayssa Sofia Montalvão de Abreu

Injusto, muito injusto. Por quê?

Pode não parecer, mas tenho minha inteligência. Raimundo não deveria ter oferecido aquela tão linda pratinha para o Pilar. Creio que ele nem precise. Por isso, fiz o que fiz e não me arrependo, mas também não nego que minhas ações não foram muito justas. No entanto, minhas necessidades falaram mais alto.

Contei sim ao professor Policarpo sobre a moeda que seu filho dera a Pilar e, ao sair, peguei-a rapidamente, pois precisarei dela.

O senhor que me pusera no mundo, fugiu de casa após descobrir a doença de meu irmão e nos deixara sozinhos: eu, minha mãe e meu pequeno irmão.

Pelo menos agora, poderei ajudar um pouco no tratamento da doença do pequenino, ou até mesmo na parte da alimentação, já que o que restava, não tem mais.

Agora tenho que despistar Pilar, que provavelmente está a minha procura e não quero dar mais problemas à mamãe.

4.3 Fanfics de ‘Umas férias’, Machado de Assis

Neste link você poderá encontrar o conto na íntegra: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000250.pdf

Ilustração: A passos largos para casa. Ana Vitória dos Santos.

O dia que mudou minha vida

Ana Beatriz Soares Silva

Estava na escola, quando alguém bateu na porta da sala de aula e por isso, logo reconheci, era tio Zeca. Fiquei animado, pois sabia que havia ido me buscar! E sempre que tio Zeca aparecia era algo bom, festas grandes.

– Sr. José Martins, pode sair – disse o professor.

Corri para buscar meu chapéu, meti meu livro de leitura no bolso e desci as escadas da escola, um sobradinho na Rua do Senado.

Na rua, fui andando ao pé dele. Ele não me dizia nada e eu não me atrevia a nenhuma pergunta. Logo depois, chegamos ao colégio da minha irmã Felícia e fomos caminhando, os três, para casa.

A minha alegria era cada vez maior. Certamente haveria festa em casa, pois íamos na frente, trocando as nossas dúvidas e conjecturas. Uma ou outra vez, parávamos. Ela para admirar as bonecas e eu para ver alguns papagaios. Tio Zeca é que nos tirava do espetáculo industrial ou natural.

– Andem logo!

Entretanto, o assunto principal era a festa que nos esperava em casa.

– Não creio que sejam anos de tio Zeca.

– Por quê?

– Parece meio triste.

Na verdade, triste não, parecia carrancudo.

– Quem faz anos tem cara de alegre.

– Então serão anos de meu padrinho ou de minha madrinha.

E assim continuamos nossas especulações.

Passamos por um senhor e logo depois por um casal, e os vimos marcarem algo com tio Zeca às nove horas.

Enfim, chegamos em casa. Mas não havia nem sinal de festa. Pelo contrário, estava tudo calmo e silencioso demais.

Dentro, ao pé da cama, estava minha mãe. Sabendo da nossa chegada, veio abraçar-nos entre lágrimas.

– Meus filhos, vosso pai morreu.

Naquele momento, eu e Felícia ficamos sem chão, pois éramos muito apegados ao papai. Lágrimas tomaram conta de mim. Tentei me conter, ser forte, o homem da casa, como prometi ao papai que seria quando ele se fosse. Mas falhei. Nas primeiras duas semanas, não conseguia acreditar que isto estava realmente acontecendo.

[...]

Quatro anos depois...

Hoje, exatamente hoje, faz quatro anos que papai se foi e ainda não sei como exatamente ele faleceu. Mas acho que ele ficaria orgulhoso do homem que estou me tornando. Estou quase me formando e vou fazer uma viagem amanhã.

Tio Zeca acabou ficando conosco depois da morte de papai. Ele e mamãe estão bem próximos. É de se estranhar, mas prefiro pensar que é porque ambos perderam alguém que amavam muito e se entendiam, assim como eu e Felícia.

[...]

No dia seguinte...

É hoje. Estou tão entusiasmado! Eu e minha turma da escola vamos viajar. É tipo uma viagem de despedida.

Chegamos na cidade e já exploramos bastante, inclusive, vi um senhor que mexeu muito comigo. O achei muito parecido com papai. Mas, deixei para lá. Até que escutei alguém me chamando e estranhei, porque ali ninguém me conhecia e meu grupo todo estava comigo.

Quando me virei, era... Não podia ser. Olhei mais de perto e me assustei. Fiquei em choque, sem me mover um centímetro. Tentei falar algo, mas não saía uma palavra da minha boca.

Era ele, papai, bem na minha frente.

Umas férias 2

Ana Vitória dos Santos

Um homem de cabelos compridos e roupas amarrotadas foi até a escola conversar com o professor. Depois de um tempo, o mestre chamou o Sr. José Martins e o mandou sair. O homem era o tio José, que era chamado pelo nome de tio Zeca. Além de José, o tio também pegou Felícia, a irmã de 11 anos do garoto.

Os meninos estranharam, mas não perguntaram nada ao tio. No caminho para casa, os dois caminharam curiosos, pensando no que poderia acontecer. Pensavam que seria uma festa na família.

José Martins estava encantado com o que via na rua, mas tio Zeca acabava com sua alegria, ao tirá-lo das vitrines das lojas. Tio Zeca estava com a feição de que tinha feio algo, mas ao mesmo tempo tranquilo e feliz, conversava com todos os conhecidos pelo trajeto. No momento em que terminava de conversar, José via as pessoas sorrindo, como se tudo estivesse normal por ali.

Não conseguia ouvir muito bem o que os adultos falavam, talvez fosse uma festa surpresa. Se lembrou naquele instante, que o aniversário de seu pai seria no dia seguinte, mas como ele teria que fazer uma viagem, o menino pensou que fariam a festa naquele dia.

A felicidade era imensa, principalmente para José, que além de imaginar o festão, tinha saído mais cedo da escola. Ele não gostava de estudar. A alegria dele se tornou espanto quando chegou em casa e se deparou com sua mãe, segurando um saco de veneno nas mãos e sorridente.

Com a aparência feliz, a casa tinha um armarinho na frente. Os garotos entraram, foram até a sala de jantar e depois seguiram para o quarto. Ao lado, ao pé da cama, estava a tia Lucinda, que abraçou-lhes chorando e disse que o pai deles havia morrido.

Na mesma hora, José começou a chorar. Todos, a sua volta, começaram a rir. Até mesmo tia Lucinda que a pouco estava chorando. Estavam todos felizes como se nada tivesse acontecido.

José ficou surpreso ao descobrir toda a verdade: sua mãe e tio Zeca tinham um caso. Eles haviam planejado isso a tempo, tudo por causa da herança.

Foi a semana mais triste da vida de José Martins. Ele não via a hora de voltar à escola.

Na segunda-feira, voltou ao colégio. Foi também a volta da alegria. José queria esquecer essas férias por tudo, mas não conseguia.

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Umas férias tristes

Arthur Henrique Alves Carvalho

Certo dia, as tão esperadas férias chegaram. Como tio Zeca não é besta, tratou logo de curtir suas férias e chamou a família de seus sobrinhos, José Martins e Felícia, que são crianças muito lindas. Um tem 10 e a outra tem 11 anos de idade. Assim, todos foram para o sítio.

Enquanto Felícia e José brincavam naquele sítio imenso de grande, o tio e os pais conversavam coisas de adulto.

Em uma noite, ao anoitecer, a mãe gritou para que seus filhos fossem se preparar para o jantar, senão, se demorassem, a janta esfriaria. E enquanto as crianças se aprontavam, a senhora e o tio Zeca foram arrumar a mesa. O pai das crianças não gostou nada daquela cena, de ver os dois juntos de “papinho”, mas deixou quieto.

Após o jantar, todos foram dormir, menos os pais das crianças, que começaram uma grande discussão. Inesperadamente, José Martins ouviu toda a confusão e essa não foi a única. Todos os dias eles brigavam.

Mesmo tendo só 10 anos de idade, o menino tinha muita maturidade e não gostou nadinha do que presenciou.

As férias, de felizes passaram a muito tristes. Ele preferia voltar para a escola.

Férias adiantadas

David Lima Silva Mendes

Eu estava na escola, quando meu tio chegou e começou a falar com meu professor. Eles estavam falando baixo e eu não conseguia ouvi-los, mas o professor balançava a cabeça, confirmando algo.

– Sr. José Martins, pode sair – ordenou o mestre.

Eu fiquei feliz por achar que estava de férias. Férias adiantadas!

Eu e tio Zeca fomos também à escola em que minha irmã estudava. Ela ficou feliz, mas o tio Zeca estava estranho. Ele dizia pouca coisa e sempre “andem” ou “mais rápido”.

Eu comecei a ficar bem confuso, mas continuei andando. Àquele ponto, eu já estava preocupado.

Assim que chegamos em casa, me deparo com muitas pessoas chorando. Foi quando me falaram para eu ir até o quarto dos meus pais. Lá estava ele deitado. Achei que meu pai estivesse dormindo. Eu tentei acordá-lo. Depois percebi que havia falecido. Fiquei em choque.

Comecei a chorar e fui para a sala. Foi quando eu vi o tio Zeca com um homem vestido todo de preto. Meu tio deu-lhe uma quantia em dinheiro, o homem se despediu, mas, ao sair, deixou cair um frasco no chão. Eles não perceberam.

Esperei que saíssem da sala e quando peguei o frasco, estava escrito VENENO. O frasco estava vazio.

Tempos difíceis

Gabriel Pinheiro do Nascimento

Nossa família começou a passar por tempos difíceis após o falecimento do meu pai. As contas começaram a se acumular e minha mãe sem conseguir pagar as dívidas, estava ficando desesperada. Então eu tentei arrumar um emprego para ajudar a pagar as contas.

A primeira ideia que tive foi como engraxate. Então, comecei a anunciar meus serviços e a gritar “engraxate, engraxate”. De repente, veio um homem de terno e cartola preta. Ele me disse para eu fazer o meu melhor e eu confirmei que o faria.

Assim, comecei o serviço. Tudo estava indo muito bem, até que no momento em que eu estava quase terminando, passou uma carriola de algodão doce. Me distraí e acabei passando graxa na calça do freguês.

Como logo percebeu, segurou meu braço e ordenou que eu devolvesse o dinheiro. Fiquei com tanto medo, que consegui me soltar do homem e comecei a correr. O homem gritava “pega o ladrãozinho”.

Eu corri o mais rápido possível e me escondi em um beco com o dinheiro. Esperei um tempo para sair do beco e voltei para casa. Lá chegando, minha mãe quis logo saber onde eu estava e eu respondi que estava no parque com um amigo. Ela desconfiou, mas deixou passar.

No dia seguinte, acordei cedo, me arrumei e cheguei na escola. Me sentei e fiquei esperando o mestre chegar para começar a aula, mas estava demorando demais. Então, veio o diretor da escola e disse que o professor havia torcido o pé e não poderia ir naquele dia.

Para meu maior espanto, vi na porta da sala o homem de terno preto e cartola. Era o mesmo homem de quem que havia pegado o dinheiro no dia anterior. Rapidamente, peguei um livro, abri e fingi que estava lendo para esconder a minha cara.

Aquele homem seria o professor substituto.

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Umas férias: o plano

Giully Anne Rosa Fernandes

Vieram dizer ao diretor da escola que alguém queria falar com ele. Era o tio Zeca, tio de José Martins, que teve autorização para, sua felicidade, sair mais cedo da aula. O tio andava perto dele, mas não lhe dissera nada, só pegaram Felícia na escola e continuaram caminhando.

Certamente haveria festa em casa, pensavam as crianças. Felícia olhava as bonecas. José Martins, os papagaios. Mas o principal seria a festa que os esperava em casa. O garoto já imaginava mil coisas: bandas de música, palmas, muita risada! Um teatro de bailarinas, depois gritos do público e muitas palmas! Como ele imaginava coisas!

Até aí tudo bem. Mas no meio do caminho, o tio Zeca recebera uma notícia. Foram correndo até em casa. Então, a mãe das crianças confirmou que o pai delas havia morrido.

Os dois ficaram muito tristes, mas o garoto mais ainda. Porém, havia um segredo na família que ninguém poderia saber. O pai não estava morto, estava era fingindo sua morte, porque não aguentava mais viver naquela casa.

A única pessoa que sabia daquele segredo era Felícia. Ela até ajudou o pai com o disfarce e depois com a fuga. A menina armou o plano direitinho com o pai, que foi para a estação, pegou um trem e sumiu no mundo.

Muito tempo depois, o filho mais novo resolveu viajar, sair do país. E não é que o destino os uniu? Ele acabou encontrando o seu pai e descobriu que tudo foi um plano. No final das contas, o filho ficou muito feliz porque o pai não havia morrido.

Nada é o que parece

Isabella Coelho de Oliveira

Era um dia comum para o Sr. José Martins e sua irmã Felícia. Tudo ocorria bem na escola de cada um, até que sua tia Maria chegou na escola de ambos para buscá-los e levá-los para a casa deles.

Nenhum dos dois irmãos fazia ideia do que realmente estava acontecendo, já que a tia não dizia uma única palavra durante todo o caminho. Eles começaram a se perguntar o que poderia ser. José palpitou dizendo que seria uma festa. Felícia achava que seria um casamento. Mas, mal sabiam eles o que realmente os esperava.

Chegando na rua de casa, os vizinhos começaram a olhar para os irmãos com um olhar de pena. Os dois, acanhados, continuaram caminhando sem entender nada. Até que, chegando em casa, entenderam tudo.

O pai deles tinha acabado de falecer. Seu corpo estava estirado no chão da sala. Todos à sua volta choravam e lamentavam, principalmente a mãe das crianças, a mulher do falecido. Mas os irmãos notaram uma coisa. A única pessoa que parecia bem tranquila era tia Maria, irmã da recente viúva. Ela sempre fora muito próxima do cunhado, por que agora ela parecia tão tranquila assim? Os dois ficaram se perguntando e então decidiram investigar o que havia acontecido.

No outro dia bem cedo, os dois irmãos foram à casa da tia Maria. Ela estava bem tranquila, tomando um café. Não parecia estar sozinha. Ela conversava com alguém, mas não sabiam quem era, pois estavam observando pela grade da janela.

Resolveram, então, se aproximar mais e aí viram quem era. Era o pai deles! Eles estavam falando o quanto poderiam ser felizes agora em um lugar bem longe e dizendo que finalmente havia chegado o dia dos dois fugirem juntos.

Os irmãos, chocados com o que viram, não conseguiram mover um dedo sequer. Ninguém sabia desse caso dos dois. Ninguém imaginava. Por isso, resolveram forjar a morte dele para que pudessem ficar juntos sem julgamentos.

José e Felícia decidiram não contar nada a ninguém, para evitar mais sofrimento. Afinal, ele iria abandoná-los de qualquer forma.

Triste fim

Letícia Santana Teles

Eu sou o Sr. José Martins e vou lhes contar um pouco das minhas férias.

Cheguei da escola e recebi a notícia de que meu pai havia morrido. Fiquei muito triste, chorei muito, mas percebi que o tio Zeca não estava triste ou chorando como os demais. Fiquei desconfiado, afinal, ele era irmão do meu pai.

No dia seguinte, uma manhã triste, fomos enterrar papai. Me surpreendi ao ver tio Zeca falando com alguém que estava todo de preto, mas com o rosto coberto. Fui falar com mamãe e também fiquei surpreso, porque ela não estava triste. Enfim, o enterro acabou.

Quando saímos do cemitério, passamos por uma rua diferente. Felícia também estava achando aquilo tudo muito estranho. Foi quando parou uma carruagem atrás de uma grande pedra. Minha mãe pegou a mim e Felícia pelo braço e entrou na carruagem.

Não acreditei no que eu vi. Meu pai estava lá! Ele tinha fingido sua morte, porque estava devendo muito dinheiro para o banco.

Fugimos para outra cidade.

Meses escondidos. Que férias! Só que essa felicidade não durou por muito tempo. Descobriram que ele havia fingido a morte e logo foram prendê-lo por ter fugido da cidade com outro nome.

Fiquei muito triste, porque meu pai foi preso e as férias acabaram.

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Umas férias: a descoberta

Letícia Xermenes de Sousa

Naquela tarde, eu estava na escola. De repente, meu tio veio e me levara embora. Muito curioso, fiquei o caminho todo pensando no que poderia ser: uma festa ou umas férias adiantadas. Não podia imaginar o que era. Por incrível que pareça, no caminho encontramos várias pessoas que pararam para conversar como nosso tio.

Quando chegamos em casa, mamãe estava chorando muito. Por isso, no momento, fiquei preocupado e perguntei porque ela estava chorando. Foi quando ela disse que nosso pai havia falecido.

Fiquei muito triste e sem ir à escola, o que não era tão ruim assim.

Minha mãe estava passando por dificuldades financeiras, mas eu não sabia como ajudar.

Certo dia, fui brincar de enterrar coisas no jardim e de repente bati a pá em algo muito duro. Quando eu vi com meus próprios olhos, mal pude acreditar: achei um baú com muitas moedas de ouro. Fui correndo dizer à mamãe.

Ela relatou que sabia da existência daquelas moedas, mas que já havia procurado por todos os lugares possíveis, mas não encontrara.

Depois disso, minha mãe conseguiu pagar as dívidas e ainda sobrou. Ela me deu um pouquinho!

Eu fiquei muito feliz por ter achado. Encontrar o baú do papai me trouxe um pouco de lembrança de quanto eu o amava.

Uma história invertida a choros

Lucas Rafael Rios

Era um dia qualquer. Ainda estava naquela escola que mais parecia uma prisão. Mas, apesar de parecer ser muito ruim, às vezes era bem legal, por causa dos colegas e amigos que faziam bagunça quando não podia.

Só que naquele dia teve algo totalmente fora do comum. Meu tio apareceu na porta da sala de aula. Saí andando em direção ao meu professor. Eu, como não era um dos melhores alunos, comecei a suar frio. Achei que fosse algum problema.

Meu tio e o professor estavam cochichando no canto da sala. Por um breve momento, meu tio abaixou a cabeça e meu professor colocou sua mão nas costas dele. Após isso, o mestre olhou para mim e disse:

– Senhor José Martins, por hoje está liberado.

Assim que eu ouvi essa frase, me enchi de alegria, pois teria o resto do dia livre para mim. Ao sair, passamos na porta do colégio de minha irmã, pois iríamos buscá-la também. Meu coração se encheu de alegria de novo, porque eu não sabia o que estava por vir.

Depois de caminharmos bastante, meu tio nos deu dinheiro para que pudéssemos comprar algodão doce e brincar nos brinquedos, enquanto ele iria numa igrejinha ali perto da pracinha.

Passou um tempo, meu tio veio nos buscar para irmos embora. Sem dúvidas, eu estava feliz pelo belo dia que eu tive.

Mas quando cheguei em casa, minha mãe estava na porta nos esperando. No momento em que fui abraçá-la, ela me interrompeu chorando e disse para eu me arrumar e me preparar para nos encontrarmos todos na sala.

Assim eu fiz.

Ao chegar na sala, vi uma caixa grande, com meu pai dentro. Corri para abraçá-lo, gritando:

– Pai! Pai! Pai! Hoje o dia foi tão legal!

Como esperado, ele não respondeu nada. Minha mãe veio me abraçar e disse:

– Querido, ele não está mais aqui.

Logo entendi a situação. Desabei a chorar, pois eu podia até não ter uma relação boa com ele, mas ele era o meu pai.

Depois daquele dia, há 30 anos, resolvi melhorar em tudo que ele queria para mim.

Hoje estou aqui, com dois filhos, vivendo cada momento como o último.

No final, ficamos só nós dois

Rafael Dourado dos Santos

Oi! Me chamo Sr. José Martins.

Em um dia bem ensolarado, fui à escola, fiquei algumas horas na sala de aula, até que, em certo momento, falaram que um familiar havia ido me buscar. Era o tio Zeca, irmão do meu pai.

Fomos buscar minha irmã Felícia na escola dela também. No caminho, meu tio não falou sequer uma palavra. Pegamos Felícia e fomos para casa.

Chegando em casa, notei que mamãe estava chorando. Perguntei o que era e veio à tona a notícia de que meu pai havia falecido.

Fui para o meu quarto e lá fiquei o resto do dia. Chorei a noite toda, pensando nos momentos bons que vivenciamos.

Logo ao amanhecer, naquela manhã triste, com um tempo chuvoso, fomos enterrar nosso pai.

Chegamos ao cemitério e ficamos de cerimônia, em respeito ao nosso pai. Assim, percebi que mamãe e tio Zeca estavam próximos um do outro. Novamente olhei para ele. Continuava com o semblante sério, mas não parecia nada triste em perder o irmão.

Olhei novamente para mamãe e tio Zeca, mas os dois já não estavam mais lá. Olhei ao redor e não os encontrei. Fui para fora do cemitério procurá-los. Avistei os dois correndo em direção a uma carruagem.

Os dois fugiram com a herança de meu pai...

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Um papel premiado

Richard Gabriel Rodrigues da Silva

A total alegria foi na segunda-feira, na escola. Estava cheio de curiosidade para saber dos meus condiscípulos na bagunça, o que acontecera de bom, enquanto tirei aquelas férias. Pela primeira vez na vida, fiquei feliz em voltar à escola e ainda cheio de novidades.

Reuni a turma para contar-lhes o ocorrido.

Passaram-se longos dias e a falta do meu pai aumentava. Lembrava dos momentos que passamos juntos. Mas as lembranças se uniam às dificuldades, as economias diminuindo...

Até que em um certo dia, eu e minha irmã Felícia estávamos andando pela rua, passeando e achamos um bilhete de loteria no chão, um papel molhado e quase caindo no bueiro. Eu o apontei para Felícia. Ela o pegou depressa e levamos para casa.

No outro dia, fomos à casa de apostas conferir os números. Tal foi nossa surpresa quando faltava só um número e... Ganhamos! Ficamos tão felizes que corremos, pulamos, gritamos e voltamos para nossa casa, para contar para nossa mãe.

Ela ficou tão contente. Retornamos lá com ela para pegar o nosso dinheiro.

O prêmio nos ajudou muito. Ajudou a nossa família a se reerguer e assim fomos nos conformando com o falecimento do nosso pai.

Meus condiscípulos foram à loucura, com tanta aventura!

O menino sem pai

Roni Cleito Aquino Soares

O menino sem pai era eu. Mas tudo aconteceu assim:

Um dia, fui para a escola com a alegria de que no dia seguinte começariam as férias do meio do ano. Como eu aproveitava as férias!

Daquela vez, não viajei. Resolvi passar as férias com os amigos mesmo. Eles me levaram em uma festa, disseram que seria boa. Fomos eu e minha irmã. Mas quando chegamos lá e vimos, parecia uma festa da terceira idade.

Na minha mente, veio uma imaginação de que a festa teria brinquedos, bailarinas, palhaço, bolo, mas não tinha nada disso. Achei até que eles estavam pregando uma peça na gente.

Quando a festa acabou, meu tio Zeca estava lá na porta nos esperando, montado à cavalo e vestido de preto. Fomos depressa para casa.

Chegando lá, sem saber o que tinha acontecido, vimos nossa mãe chorando e ela nos contou sobre a morte do nosso pai.

Só fiquei triste naquela hora que ela falou. Fiquei preocupado mesmo era que minhas férias divertidas iriam acabar...

No entanto, ainda estávamos sem saber por qual motivo ele havia morrido, até que descobrimos que um empregado da fazenda o havia envenenado.

Todos queriam vingança, mas minha preocupação era que fiquei sem pai e sem férias. Mamãe não me deixava sair.

O mistério

Sérgio Henrique Soares Araújo

Não é de ver que descobriram que meu pai tinha uma pequena fortuna escondida em um cofre subterrâneo e decidiram matá-lo para roubá-lo?

O mais surpreendente da história é que os assassinos eram quem menos se imaginava... Eles estavam sempre em nossa casa, brincavam comigo e minha irmã. Quando descobri, fiquei muito assustado.

Decidi fugir para bem longe com minha pequena irmãzinha. Fomos para bem longe de casa em uma tremenda corrida. No meio do caminho, encontrei tio Zeca, que perguntou o que estava acontecendo.

A minha irmã estava horrorizada com tudo que estava acontecendo, estávamos sem palavras para dizer a ele o que tinha acontecido lá dentro do enorme casarão.

Nós falamos que nunca tínhamos imaginado que nossa mãe e meu padrinho iriam fazer isso com o nosso pai.

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Verdade oculta

Y. C. dos S. A.

Se passaram cinco anos desde que meu pai faleceu. Agora, estou com 15 anos de idade e minha irmã, Felícia, com 16. Mamãe está muito diferente depois de tudo. Ela está mais triste, mais desanimada, mais apagada. Ela até fechou a lojinha de tecidos. Nosso padrinho é quem nos sustenta, praticamente. É ele quem nos traz comida quando acaba, compra roupas novas, essas coisas.

Continuo indo normalmente para a escola. Minhas notas caíram um pouco, mas nada para ficar preocupado. Felícia continua do mesmo jeito. Notas excelentes.

Na escola, fico quieto, na minha, não converso muito. Meus amigos até tentam me animar, mas são tentativas falhas.

Meu padrinho também continua o mesmo: discreto, reservado, calado. Mas esses dias ele anda muito dentro de nossa casa, principalmente no antigo escritório do papai.

Como acabamos de chegar em casa, Felícia avisou:

– Mamãe, chegamos!

Mas não escutamos nenhuma resposta. Felícia não ligou e subiu para o seu quarto. Já eu, fui até a cozinha, quando escutei a porta batendo, vindo do escritório do papai. Fui correndo e vi o padrinho saindo de lá tentando não fazer barulho.

– O que o senhor está fazendo?

– Ham... É... Eu... Hum...

– O quê? – Disse eu tentando entender o que ele estava dizendo.

– Nada – retrucou ele e depois foi embora.

Eu, curioso, fui ver porque o padrinho ficava tanto lá. Assim que dei um passo, ouvi Felícia me chamando. Saí do escritório correndo e fechei a porta.

– O que foi? – Me perguntou após ver a minha expressão de susto.

– É... nada.

– Sei. Estou de olho em você, José – disse minha irmã.

Subi para o meu quarto e fui tomar um banho gelado. Passaram-se algumas horas, desci e vi minha irmã comendo.

– Mamãe ainda não chegou? – Falei olhando ao redor.

– Não. Você sabe onde ela foi?

– Não. Isto está estranho, né? Ela sair sem avisar, ficar fora o dia todo...

– Sim – disse Felícia colocando o último pedaço de bolo na boca.

Mamãe e padrinho estariam escondendo alguma coisa? É isso que preciso descobrir.

No outro dia, mamãe chegou tarde em casa. Eu e Felícia já estávamos dormindo, mas eu acordei, me escondi atrás de uma carretinha velha e fiquei ouvindo a conversa.

– Não acredito que você fez isso com seu próprio irmão, pai dos seus sobrinhos – mamãe disse chorando.

– Eu não fiz nada. Ele que fez consigo mesmo. Ele tinha várias dívidas comigo, eu só o fiz pagá-las – disse meu padrinho sem nenhuma expressão no rosto.

Jesus! Mas o quê? Padrinho matou o papai por dívidas? Eu não estava conseguindo acreditar.

– Não! Não! Não! – Disse mamãe batendo nele e logo caiu chorando.

Voltei para casa. Entrei pelo fundo e fui para o meu quarto correndo. Chorei muito. Mas, levantei, limpei minhas lágrimas, fui até o escritório do papai e comecei a ler os papeis.

Entrei em choque com o que vi e pelo que vi lá fora, mamãe descobriu há pouco tempo.

Meu padrinho mandou matar papai. A história de que ele havia morrido de apoplexia era mentira. Ele morreu envenenado por causa dessa tal dívida. Não achei nada sobre essa dívida, mas para ele ter pagado com a vida, deveria ser muito grande.

Não sei o que vou fazer agora. Não sei se conto para Felícia. Agora vai ser difícil olhar para o padrinho. Estou com raiva e magoado ao mesmo tempo. O jeito agora é esquecer. Papai já está no céu mesmo. Infelizmente.

4.4 Fanfics de ‘O espelho’, Machado de Assis

Neste link você poderá encontrar o conto na íntegra: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000240.pdf

Através do espelho

Ana Carolina Barbosa da Silva

“O espelho pode ser muito cruel para quem busca ver nele somente o que os outros esperam”.
- Alessandro Teodoro

“Existe um mundo por trás do espelho?” – Perguntei olhando para o majestoso objeto refletor.

Naquele tempo, eu tinha vinte e cinco anos. Era pobre e acabara de ser nomeado alferes na Guarda Nacional.

Minha mãe ficou tão orgulhosa, tão contente! Minha tia quando ficou sabendo pediu para me ver e me disse que era para eu ficar no sítio dela por um mês, pelo menos. Lá fui tratado “bem”, digamos.

No meu quarto tinha um espelho grande. Estava todo sujo de poeira. O limpei e me deitei na minha cama, quando, do nada, cochilei e acordei em outro lugar.

Assim que eu me levantei, procurei por alguém, mas não tinha ninguém. Que estranho! Eu ainda estava na casa da minha tia, no sítio, mas já não tinha mais ninguém, só eu, dois burros e na casa, o espelho.

Quando eu olhei para o espelho novamente, me vi deitado, dormindo do outro lado e fiquei sem entender, mas saí caminhando pelo sítio.

No momento em que voltei para o quarto, fiquei ali de frente para o espelho e comecei a escutar passos e bum! Voltei para o meu mundo.

Terá sido um sonho? Eu, hein. Aqui é que não fico mais.

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O reflexo

M. F. de S.

Quando retornei para casa, deparei-me com algo estranho. Havia uma carta no chão. Eu a peguei e a abri, quando li a notícia de que minha tia e minha prima haviam falecido e haviam perdido a fazenda.

Depois de ter me arrumado para o funeral que aconteceria de madrugada, percebi que uns olhos me espiavam. No exato momento em que meus olhos tocam o espelho, me deparo com alguma coisa horrenda atrás de mim. Não sei descrever o que era, mas era algo negro e de olhos vermelhos.

Quando a criatura estranha notou que eu já havia percebido, meu corpo ficou pesado e não conseguia correr. Eu tive forças apenas para mover a cabeça, mas, ainda assim, com dificuldade. Assim, depois de um certo tempo, eu comecei a perder a consciência e desmaiei.

Com isso, tive sonhos “estranhos”, se é assim que se diz. Eu sonhei com aquela criatura me observando, apenas isso e mais nada...

Eu só acordei quando ouvi a voz da minha tia Marcolina e levantei assustado. Só aí que percebi que nada do que acontecera era real, tinha sido apenas um pesadelo!!!

Eu nunca mais vi aquela criatura, mas sinto que ela ainda me vê...

Notas

9. Texto mantido no formato desenhado pela aluna-autora.

10. O aluno escreveu o texto em um papel envelhecido por ele, como se fosse um manuscrito antigo contendo o relato.