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Eu te amo
Ana Clara Barbosa da Silva
Querido diário,
Hoje foi um dia de despedida. Minha mãe foi embora e como sempre, achei que ela iria sem se despedir de mim, mas desta vez, fui junto com ela.
Ainda no táxi, chegando na estação, ela continuava a repetir as mesmas coisas “será que não esqueci nada?” Na verdade, nenhuma de nós duas tinha atitude para ter uma conversa de mãe e filha. Somos assim desde sempre. Cresci, fiquei mais velha, me casei, tive um filho e nada mudou entre nós.
“Não esqueci de nada?” Novamente essa pergunta vazia.
Tocou o alerta para os passageiros se organizarem e entrarem no trem.
“Dê lembranças à titia”, falei, quebrando aquele silêncio mortal. O alerta tocou outra vez e minha mãe seguiu para entrar no trem.
Chegando lá, no seu vagão, olhei para ela com uma imensa vontade de abraçá-la. Ela me olhava, parecendo que estava se esquecendo de algo.
“Tchau, Catarina”, ela disse quase entrando no trem. Mas eu criei coragem e disse “mamãe”. Ela olhou para trás. Corri e a abracei, já com lágrimas escorrendo dos meus olhos. “Eu te amo”. Chorando também, ela me abraçou de volta. “Eu te amo, minha filha”.
Foram várias emoções com apenas um abraço e um simples eu te amo que nos fez chorar.
Ela se foi. Vi seu rosto sumindo diante dos meus olhos, enquanto o trem partia.
No caminho de volta para casa, chorei. É claro que nós estávamos nos esquecendo de algo, do amor de mãe e filha.
Querido diário, não quero nunca mais me esquecer daquele abraço.
Catarina
Amor com dependência
Damaris Silva Gama
Catarina é a minha mãe: doce, bonita e com apenas 32 anos, naquela época.
Se pudesse, minha mãe moraria só comigo. Porém, tem meu pai, Antônio. Ele exerce um controle muito grande sobre ela, que tem por ele uma espécie de dependência emocional.
Por não ter muito contato com a minha avó, ela nunca quis ir passar um tempo com ela. Acha que seria uma estranha junto à sua mãe. Por isso, continuava naquela casa, junto ao meu pai, um homem um tanto manipulador.
Eu penso que minha mãe não queria isso para sua vida, porém não dava para mudar muita coisa. Além da dependência emocional, tinha a dependência financeira.
Certa vez, a vovó veio passar um tempo aqui em casa, e, como esperado, foi um desastre! Eu, apenas uma criança franzina, via três adultos que não sabiam lidar uns com os outros.
Papai e vovó nunca se deram bem. Mamãe e sua mãe também tinham uma relação distante.
Minha mãe me contou que, no dia que vovó fora embora e ela a acompanhara até a estação de trem, teve vontade de dizer que gostava da mãe. Ela também percebeu que minha avó parecia querer dizer algo, mas não conseguiu.
Era triste saber que as duas poderiam ser mais próximas, caso alguém tomasse a iniciativa de conversar abertamente.
Hoje, seguimos assim com as nossas vidas, tentando manter o ambiente calmo, às vezes com leves insultos e a relação entre os três continua a mesma.
No final, alguém precisará dar o primeiro passo para sair desse amor com dependência que permeia nossa relação.
Mãe e filha
Evellyn Praciano Costa
– Me despedi da minha mãe, mas é como se não existíssemos como mãe e filha. Foi distante e rápido. Por mais que eu procurasse formas de fazer isto, fui incapaz de me despedir e de dizer a frase “eu te amo” – pensava Catarina no caminho de casa, depois de ter levado sua mãe à estação. Apesar de nunca ter se importado com tal relação, a partir daquele momento ela se tornou mais pensativa.
Em casa, Catarina viu o filho. Naquele momento não conseguia dizer nada, é como se estivesse entrando em transe. Sentia, aos poucos, uma depressão tomando conta dela. Ninguém poderia imaginar o que se passava na sua cabeça. O filho falava com ela, mas ela não o ouvia. O marido queria sair, mas ela nem ligava.
Pensando bem, ela não ficou assim do nada, de uma hora para outra. Em que momento ela ficara assim? Havia sido após a despedida de sua mãe que ela começou a pensar demais, pensar mais do que sua cabeça suportava.
– Eu tenho medo de me tornar a minha mãe, egoísta e bloqueada de sentimentos. Não queria ser isto para o meu filho – pensava Catarina no seu mais profundo íntimo. Porém não era só isto. Ela começou a lembrar de quanto tempo perderam.
Nunca havia se importado para o fato, como começara a se importar a partir daquela visita da mãe. Recordava que não dava a mínima para aquela relação desviada, mas chegou o sentimento de culpa e falta. Por isso, resolveu correr atrás do tempo perdido e fazer o que achava mais difícil: expressar o que sentia.
Então, ligou para a mãe.
– Oi, mãe.
– Oi, filha.
O silêncio durou sete segundos.
– Eu te amo – disse Catarina e outro silêncio veio.
– Eu... eu também te amo, Catarina.
O amor entre mãe e filha não era fácil e nunca vai ser, mas Catarina mudou seu jeito de pensar e sentiu que a partir daquele dia precisava dizer a mãe que a amava, afinal, também era mãe e não queria passar pela mesma situação com o seu filho.
Minhas férias
Gabriell Henrique Lopes
Eu sou Henrique e eu vou contar um pouco das minhas férias com minha família.
Eu e meus pais não nos damos muito bem. Na verdade, eu sou muito próximo da minha mãe Catarina e muito distante do meu pai Antônio, pois eles se separaram e essa separação me machucou muito.
Este ano, eu passei as férias na casa do meu pai, apesar de não nos darmos muito bem. Eu tinha muita mágoa dele por ele ter se separado da minha mãe, mas ele sempre tentava me agradar. No entanto, o que eu mais queria é que ele voltasse com minha mãe e me contasse o real motivo da separação.
Como aqueles dias não estavam sendo fáceis para nós, ele resolveu me contar que não sentia mais nada pela minha mãe e que, vivendo juntos, ele só iria magoá-la. Ele me confessou que era muito egoísta e que preferia viver a vida dele sozinho, pois seria melhor, já que não se dava bem com relacionamentos.
Foi assim que eu entendi o real motivo da separação e o perdoei por não ter me falado antes. Agora, eu aceitei, pois vi que era o melhor para o meu pai e para todos nós. Minha mãe não merecia ser tratada com indiferença.
Depois que compreendi toda a situação, fiquei mais próximo dele e o resto das minhas férias foi tranquilo, legal, divertido e percebi que, para mim, meu pai era uma boa pessoa.
Estou partindo
Gabrielly José Valadares
Caro Antônio,
Eu deveria me sentir feliz e realizada por estar casada e ter uma família, mas, de alguma forma, eu não me sinto completa como eu gostaria de estar. Eu acho que ainda me falta algo.
Você é o homem com quem decidi me casar esperando que fosse me fazer feliz, mas só me traz tristezas.
Houve uma época que você costumava ser mais presente como pai e marido. De um tempo para cá, você só se distanciou de nós. Está sempre em todo lugar, menos aqui.
Quando nos casamos, eu esperava que teria um companheiro. Em vez disso, é como se eu estivesse sempre sozinha.
Eu me cansei, Antônio. Estou partindo. Junto estou levando nosso filho, já que você não se importa com ele também.
Espero nunca mais vê-lo.
Adeus,
Catarina.
Em busca de um final feliz
Guilherme Fernando de Sousa Silva
Querido diário,
Descobri que meu amor não é verdadeiro. Meu marido não me ama de verdade, tampouco gosta de Severina, minha mãe. Nós vivemos de aparência.
Hoje, quando minha mãe ia embora, pensei que iríamos morrer. O motorista precisou dar uma freada muito brusca e teria sido uma tragédia se o carro não tivesse parado a tempo. Eu e minha mãe nos abraçamos inesperadamente, pois nossa relação sempre foi muito fria.
Quando eu contei do acontecido ao meu marido, ele lamentou o motorista ter evitado o acidente. Foi aí que eu vi que não dava mais para ficar naquela casa.
Peguei meu filho e fomos para a casa do meu pai, que eu amo muito. Ele parece estar gostando daqui, pois passa a maior parte do tempo sorrindo e brincando, diferente de antes.
Vou tentar me reaproximar da minha mãe e buscar reescrever minha história para que ela tenha um final feliz.
Intriga de família
Isabella Coelho de Oliveira
Mãe e filha não tinham uma boa relação. As duas não eram de se falar muito. Até que um dia, a mãe, cansada daquela briga toda, decidiu, com seu marido, ir para a casa da filha, onde ela morava com o marido e o filho.
Chegando lá, o clima não foi tão agradável, mas logo conseguiram ter uma conversa legal. Tomaram um café tranquilamente, até que a avó começou a reparar no neto:
– O que vocês estão dando para este menino? Ele está engordando muito.
O pai dele não gostou nadinha, mas se segurou.
O menino, então, quis tramar contra a avó, para que ela fosse embora logo. Ele faz várias armadilhas, mas nenhuma estava dando certo. Porém, a senhora percebeu toda aquela intriga que estava causando e resolveu ir embora.
Prometeu que nunca mais voltaria lá.
Novos laços de família
Kayck Silva Batista
Mãe e filha partiram para a estação de trem. Quase chegando lá, Severina se lembrou de uma cena muito cômica entre ela e o marido, o Sr. João, pai de Catarina, coisa rara de acontecer. Seu semblante mudou e Catarina, vendo isto, perguntou à mãe:
– O que foi mãe? Está tudo bem com a senhora?
Severina disse que sim, disfarçadamente enxugando uma lágrima.
Severina e o Sr. João não viviam muito bem. Ele era muito estressado e ignorante. Raramente ela podia sair de casa e ir visitar a própria filha, com quem tinha uma relação distante. Ela já havia tentado a separação, mas com o tempo, os dois se perdoaram e voltaram novamente, jurando que iriam viver bem. Porém, não foi isso que aconteceu.
Mas, ela resolveu contar tudo para Catarina, naquele instante. Assim, a filha decidiu que iria levar os dois para um passeio na praia, que é um lugar calmo e no fim acabou dando bastante certo!
Na última luz da tarde, todos ficaram parados, contemplando o mar e passando os pés pela areia seca. Sentaram-se um ao lado do outro, em um círculo e cada um disse para o outro o que gostaria de dizer. Houve lágrimas, mas também risadas e muita felicidade.
Todos se perdoaram. Assim, criaram laços de família novamente.
Tudo terminou como deveria ser, felizes para sempre até a morte dos pais de Catarina um ano depois.
Falsos laços de família
Letícia Gabriele Pestana Maciel
Filha e mãe não sabiam o que conversar no táxi que as levaria até a estação. As duas não tinham ideia do que falar uma para a outra para parecerem mais próximas, como mãe e filha.
Mas aquilo não era recente. Catarina e sua mãe nunca souberam demonstrar amor ou carinho quando estavam próximas. Permaneciam sempre caladas, sem muita conversa ou interação.
Catarina já era casada, mas sua mãe não gostava muito do genro. Os sentimentos forçados entre genro e sogra eram recíprocos na frente de Catarina. No entanto, Antônio não disfarçou sua felicidade quando Severina resolveu ir embora. Ele pegou suas malas, colocou no táxi com um sorriso no rosto. De sua boca, só saíam meias verdades e mentiras. Ele estava contando as horas para que sua casa voltasse a ser frequentada só por ele, seu filho e Catarina.
Catarina também não via a hora da mãe ir embora, mas quando se tratou da despedida, seu coração amoleceu. Ela sempre havia escondido seu amor pela mãe. Ambas não sabiam demonstrar o amor que sentiam. A relação delas sempre foi fria e curta quando o assunto era amor, carinho ou qualquer outro tipo de afeto.
O trem estava para partir enquanto elas permaneciam em um silêncio constrangedor. Porém, logo que Catarina viu a mãe entrando no trem, a puxou pelo braço e lhe falou, olhando profundamente em seus olhos, que ela faria muita falta. Apenas isso. O trem partiu.
Catarina não teve coragem de dizer que a amava e todos os outros sentimentos entalados todos esses anos.
Chegando em sua casa, Catarina sentiu um clima leve, de paz.
Continuou ali, sua vida como mãe e dona de casa. Antônio voltou à rotina na área da engenharia e sua mãe vivendo bem longe.
O silêncio era meu melhor amigo
Letícia Santana Teles
Eu, Catarina, vou contar-lhes um pouco da minha história.
Casei-me aos 18 anos com Antônio, bem mais velho que eu. Ao passar do tempo, percebi que eu estava muito dependente emocionalmente. Mas ele me fazia sentir assim também. A cada ameaça de separação, falava que eu não ia arrumar mais ninguém, ainda mais depois que tive nosso filho.
Minha mãe sempre disse que ele não era para mim, mas eu não queria saber, não queria ouvi-la, e por isso, nos afastamos.
Eu já dava traços de que não poderia viver sem ele, apesar daquele casamento sem amor, desgastado. Eu achava que não poderia ser feliz distante dele. Assim, fui me afastando de todos os amigos, da família.
Mas ele não se importava comigo. Saía e me deixava sozinha. Falava que eu estava feia, gorda... Isso me destruía psicologicamente, mas eu estava ali com ele, por ele. Até que me deixou para ficar com outra.
Fiquei arrasada, entrei em depressão tão profunda que não consegui nem lutar pela guarda do meu filho.
Eu sei que tenho que sair dessa, mas no momento, não consigo. Tenho que sair deste profundo poço de lágrimas de tristeza.
Por enquanto, estou sozinha nesse apartamento, só ouvindo o zumbido daquele elevador...
Não quero ver ou ouvir ninguém, só você, Antônio...
Hoje, o silêncio é o meu melhor amigo dentro desta escuridão.
O segredo
Lukas de Magalhães Araújo
Catarina pegou seu filho pela mão, saiu pelo elevador afora e o levou para dar um passeio no parque, mas ficou pensando se seu marido havia escutado a sua saída.
Chegando a parque, sentou-se em um banco e ficou olhando seu filho a brincar. Estava a pensar no que tinha esquecido de dizer à sua mãe antes dela partir. Atordoada, estava se lembrando daquele incidente dentro do táxi e imaginava como seria se entre ambas houvesse uma relação mais forte a não ser compartilhar o mesmo sangue.
Chegou o momento de voltar. Segurou firme a mão de seu filho e retornaram ao apartamento.
O lugar estava escuro. Chamou pelo seu marido, mas ninguém respondeu. Preocupada, pensou: “Aonde ele foi? Será que foi atrás de mim?”. Resolveu esperar.
Enquanto isso, entrou no banheiro para tomar banho. Na hora do enxágue, sentiu que alguém a observava. Assustada, perguntou quem era, mas ninguém respondia. Ao terminar o banho, quando foi pegar a toalha, deu de cara com o marido.
– Onde você estava? Você sabe que eu odeio que me olhe tomando banho” – falou ela.
Silêncio profundo.
Retornaram os dois para o quarto. Ele a encarava com um olhar sombrio, de raiva. Então, decidiu perguntar:
– Eu que te pergunto. Onde você foi aquela hora, com tanta pressa?
– Levei nosso filho ao parque. Precisava ficar sozinha por um tempo.
Ele não acreditou em sua história. A observou a noite toda, pensando no que ela escondia. Pensamentos de insegurança o atormentavam. Um sentimento de injustiça estava impregnado em sua mente. Até que, com pressa, saiu no meio da noite.
Na manhã seguinte, seu marido não se encontrava ao seu lado. Ela o procurou por todo o apartamento, mas não o achou. Pela vizinhança também não estava. Porém, na geladeira havia um bilhete: “a verdade será revelada”.
Maisa dos Santos Lima
Eu sou o Mário. Vou contar a vocês as minhas férias em família, com meus pais e minha avó materna.
Nós viajamos para a Bahia. Fomos de carro. A viagem foi muito longa e chata, no início. Mamãe e vovó estavam no maior “climão”. Elas não se davam muito bem.
As duas eram muito diferentes. Mamãe Catarina era muito brava, gostava de tudo certinho, do jeitinho dela. Já vovó Severina era doce, meiga, meio doida e fazia tudo de crochê.
Papai Antônio só observava. Não falava nada, com medo das duas se estranharem. Até certo ponto estava dando tudo certo, mas à noite, na hora de decidir o que iríamos comer, a briga começou.
Mamãe me mandou escolher algo para comer, mas tinha que ser salgado, pois doce fazia mal. Vovó entrou na conversa e disse que doce não fazia mal coisa nenhuma, só se comesse demais. Aí a discussão pegou fogo.
Mamãe jogou na cara dela que ela não sabia de nada, que ela nunca havia cuidado dela e de sua irmã, tia Luísa. Falou que as duas sempre se viraram sozinhas.
A mágoa de mamãe era porque ela sentia falta da vovó na infância. Por algum motivo, vovó deixava muito as filhas sozinhas. Vovó também sentia falta dela, mas tinha medo de falar. Contudo, naquela noite, ela falou.
Vovó disse a mamãe que a amava e que amava titia também, e pediu perdão por tê-las magoado. Naquele momento, ela só queria se redimir e fazer aquela viagem tranquila, em família, mesmo que titia não estivesse com a gente.
Mamãe ficou emocionada, pois nunca tinha ouvido essa frase da vovó. Elas se abraçaram e choraram muito.
Assim, seguimos a viagem tranquilamente.
Eu e papai conversamos a viagem toda e eu fiquei muito feliz, pois minha família estava unida de novo.
A minha vida
Marielly Rodrigues Gama da Silva
Olá! Eu sou Catarina. Hoje irei contar um pouco da minha história para vocês.
Eu nasci em Portugal e meu irmão João também, um ano mais novo que eu. A partir dos meus 15 anos, fomos para o Brasil e fomos criados pela nossa avó Severina, pois nossa mãe descobriu um câncer no cérebro. Depois que ela morreu, meu pai entrou em depressão profunda, o que resultou em seu suicídio.
Enfim, depois de tudo isso que passei, foquei em meus estudos. Assim que terminei, fui procurar trabalho e encontrei em uma padaria próxima à casa da minha avó.
Estava indo tudo bem nos primeiros dias, até que um cliente que ia lá sempre, pediu meu telefone. Eu dei. Dias se passaram e nos aproximávamos cada vez mais. Foi ali que eu percebi que estava apaixonada por ele e ele por mim.
Passado algum tempo, nos casamos. Eu tinha 20 e ele 27 anos.
No início, ele era um fofo, gentil, cavalheiro... Eu achava que ele era o amor da minha vida. Mas, me enganei. Os tempos foram passando e ele ficava cada vez mais arrogante e mais machista. Então, percebi que já era tarde demais para voltar atrás, pois já tínhamos nossa filha de 10 anos e eu estava grávida do nosso segundo filho.
A minha vida não ia ser com aquele marido perfeito que eu imaginava. Meu destino era ser mãe, dona de casa, infeliz e sufocada.
Devaneios de Antônio
Rayssa Sofia Montalvão de Abreu
Indignado ao ver sua mulher e seu filho saírem e irem “viver a felicidade deles” sozinhos, Antônio se sentou no sofá e esperou eles chegarem, o que não demorou muito.
Entrando no local, sorridentes e alegres – até um pouco estranho, porque não tinham muito o costume de ficarem sorridentes – decidiu que os levaria ao cinema, posto que não poderia deixar que o controle de sua família fugisse de si.
Após aquele dia, tudo voltou ao normal. Bom, quase tudo. Sua mulher e seu filho faziam tudo o que ele queria. Seu filho havia falado suas primeiras palavras, engordado um pouco e seu nervosismo havia sumido, o que deixava Antônio muito tranquilo, pois sua sogra não o irritaria com tanta frequência como antes.
Um certo dia, entediado, o homem, por diversão, resolveu ofender sua esposa entrando no quarto em que dormiam e a observando enquanto trocava de roupa. Mas o que ele queria que acontecesse, não aconteceu. Ao olhá-la, ela não apresentou vergonha ou raiva, como antes, e sim serenidade e tranquilidade, como se seus olhares de julgamento não a afetassem mais.
Aquela reação não o agradou e, então, Antônio tentou uma... duas... três vezes mais, instigando-a a ter uma reação. Porém não veio nenhuma sequer, o que o deixou irritado, descontando sobre a mesa seu ódio e raiva, estapeando-a em seu rosto e quebrando tudo pela frente.
No dia seguinte, enquanto conversava com Catarina e seu filho brincava no chão, ouviu a campainha tocar. Levantou-se e foi até a porta, abrindo-a e se deparando com dois policiais.
– Houve denúncia de gritos aqui ontem à noite. Podemos entrar?
– Foi uma discussão entre casal, não se preocupem.
– Onde está sua esposa?
– Logo ali, sentada no sofá.
Os policiais olharam para o sofá, confusos e concordaram um com o outro, pedindo desculpas e indo embora.
Pouco tempo depois, a campainha tocava novamente. Já irritado, Antônio atendeu a porta raivosamente. Assim, viu uma mulher de roupa branca e mais dois homens nos mesmos trajes.
– Sim.
– Senhor...
– Antônio. O que deseja?
– Senhor Antônio, podemos conversar com o senhor?
– Não acho que seria um bom momento, senhorita, mas, o que seria?
– Só uma conversa, prometo ser rápida.
Entraram olhando ao redor do lugar. Tudo se encontrava bagunçado e quebrado. Sentaram-se no sofá e logo a mulher começou a fazer várias perguntas, algumas sem nenhuma conexão. Antônio não sabia onde aquilo os levaria, mas queria que acabasse logo.
– E o senhor, tem algum parente? Esposa, filhos?
– Minha esposa está sentada ao seu lado e meu filho logo ali. Não os viu?
A mulher olhou assustada para os dois homens.
– Sim, os vi. Mas o senhor poderia nos acompanhar
– Não. Por que eu iria?
– Por favor, senhor. Prometo não tomar muito o seu tempo. Só nos acompanhe.
– Não irei, já disse. Para que toda esta insistência? E por que minha mulher e meu filho não poderão ir junto?
Antônio teve mais um surto de raiva, começando a gritar e a ameaçar querer bater na mulher, que fez sinal para que os homens o segurassem, aplicando-lhe uma injeção no braço, a qual o fez desmaiar. Ele foi levado para o carro que os transportou até um local e ele acordou em uma sala branca.
Mais uma vez, os devaneios de Antônio chegavam ao fim.
Nada era real. Catarina, seu filho e até mesmo sua sogra eram frutos da sua mente. Ele nunca nem mesmo havia saído do manicômio em que se encontrava. Sentiu-se traído por si próprio e, pela primeira vez, teve um sentimento de solidão, pois agora, nem mesmo a sua mente estava consigo, já que se encontrava calada e vazia.
A esperança
Cauã Gabriel de Souza Barbosa
Sentado na chapada, o homem olhou para o falso cão, tirou os óculos, respirou fundo, botou-os novamente pensando em como conseguir o perdão do cão abandonado.
Com sua cabeça matemática, resolveu ir atrás do cão. Abaixou-se calmamente com um olhar de esperança, pegou a pá, terminou de enterrar o falso cão. Ao mesmo tempo jurava que encontraria José, seu verdadeiro cão. Com um suspiro profundo, desceu a chapada.
Chegando em casa, montou em sua bicicleta em busca de encontrar seu cão. Pedalou por horas. Cansado, chegou em sua antiga cidade, mas continuou determinado.
Em ruas onde fazia tempo que não andava, avistou uma igrejinha e perto dela o seu cão sendo cuidado pelas irmãs da igreja. Assim, correu até o seu José, mas percebeu que seu amigo não o reconhecia, seu cheiro parecia ser outro. Talvez o cheiro do outro cão atrapalhasse. Até que o homem gritou seu nome. O cachorro levantou-se com os olhos cristalinos e correu até o seu antigo dono.
José o havia perdoado e os dois voltaram para casa.
O homem havia cumprido, enfim, a sua promessa.
Espírito
Y. C. dos S. A.
Meses se passaram e o professor começou a ter uns sonhos com o cachorro desconhecido. O sonho era como se o cachorro o chamasse. Quando ele chegava perto, o cão ia para mais longe. O homem não entendia muito. Era muito racional. Mas, também, não deixava aquele incômodo de lado.
Certo dia, o professor decidiu voltar ao local onde ele havia enterrado o cachorro. Então, subiu a colina e viu a mesma vista de meses atrás: os tetos irregulares das casas, o sino da igreja que badalava na cidade lá embaixo. Mas, ao desviar o olhar viu o lugar do sepultamento do cão.
Não aguentando, o professor começou a chorar. Toda culpa que ele carregava por ter deixado seu cachorro para trás e atropelado aquele outro veio à tona.
Chorou como se não fosse um homem racional. Até que começou a ouvir um barulho, como se fossem passos. Olhou rapidamente para trás, mas não viu nada. Pensou ter sido um animal qualquer, então nem ligou.
Ele ficou ali por muito tempo. Mas, já era tarde. O relógio dizia ser 23h quando ele decidiu ir embora. Assim, o professor se despediu do cachorro morto. Porém, ao observar melhor, com a luz de uma lanterna, ele viu que havia uma pegada em cima do “túmulo”. Era uma pegada de animal.
O professor resolveu seguir essas pegadas. Elas iam até atrás de uma árvore e depois desapareciam. Ele achou estranho. Olhou ao redor, mas como não havia nada, começou a rir e a pensar que estaria imaginando coisas.
Quando ia retornar, escutou um latido. Olhou para trás e viu a silhueta de um cachorro. Como estava escuro, não enxergou muito bem. Fechou os olhos, apertando-os, para ver se estava tendo alucinações. Mas quando os abriu novamente, não tinha nada. No entanto, escutou os latidos novamente, que, agora, vinham de todos os lados.
Ele saiu correndo em direção ao carro. Ao tentar abri-lo, as chaves caíram. Quando finalmente conseguiu pegá-las embaixo do carro, viu as patas. “Uma onça talvez”, pensou o homem. O animal deu a volta no carro. De medo, fechou os olhos, mas quando os abriu viu que era o cachorro que ele havia atropelado. Mas como? Ele estava morto! Ah não ser que fosse um...
– Espírito, assim como eu – disse uma voz.
Assustado, o professor olhou para trás e viu um garoto pálido, com manchas de sangue na roupa.
– Oi, eu sou o Lian, Lian Smitt. Morri no mesmo lugar em que você enterrou o Bob. Espero que não se incomode por eu ter colocado um nome no seu cachorro. É que não tinha nenhum nome na coleira, então escolhi esse – disse o espírito.
– Não, tudo bem. Ele não era meu cachorro – disse o professor devagar.
Um espírito! Como seria possível?
– Certo. Bom, nós já vamos indo, é melhor o senhor ir também. Vem, Bob! – Disse o espírito do garoto desaparecendo junto ao espírito do cachorro.
Assustado, ele pegou as chaves do carro, entrou, respirou fundo e foi embora em direção à sua casa. Aquilo tudo havia sido muito estranho para aquele professor de matemática, sempre tão racional.
Paixão?
Rebeka Alves Martins
No ponto estava João, marido de Ana, que a amava muito. Esperando o bonde para ir para a casa, pensava em sua esposa, pensava que quando ele chegasse a encontraria exausta, cansada e já com o jantar pronto.
Odiava vê-la desse jeito. Pensava como ela fazia tudo e não pedia ajuda. Ele queria ajudar, mesmo não sabendo, só para ficar com ela, pensava ele.
O bonde passou pelo Jardim Botânico. Lembrou de sua família linda e completa, do jeito que sonhara. Não era muito maduro para sua idade, mas gostava de brincar com as crianças e era responsável com o trabalho, com a casa e com a família.
Olhava aquelas árvores e pensava na delicadeza e brutalidade desse jardim. Como um jardim pode ter flores tão delicadas e árvores tão brutas? Normalmente não pensava nessas coisas, mas quando viu aquela linda paisagem, ficara encantado. Mesmo por um segundo, achava tudo lindo.
Enquanto pensava, o bonde parou. Todos ficaram revoltados com o motorista, que esquecera de consertar o motor. Por outro lado, ele ficara quieto, diferente de sua personalidade brigona.
Quando o bonde voltou a funcionar, ele lembrou:
– Meu Deus, eu tenho que ir para casa!
Ao chegar em casa, deu um beijo em sua mulher e foi se trocar, porque receberiam visitas naquela noite.
Antes da visita chegar, foi conversar com o filho. Ele contou que sua mãe estava meio estranha. Ficou assustado, mas deixou.
Depois que a visita foi embora, foi falar com ela. Realmente notou algo estranho. Ela estava muito alegre naquela noite. Era muito contato físico com as crianças. Ela não era assim. Ou seria só imaginação?
Algum tempo depois as crianças foram dormir. Ele também foi dormir sem saber de nada do que acontecera com sua esposa que amava tanto.
Uma galinha de domingo
Lara Monique P. Mendanha
Por aqui, até as 9h da manhã, galinhas ficavam vivas. Eu era uma galinha de domingo.
Tinha um olhar calmo, embora refletisse sobre o meu destino. Desde sábado eu estava encolhida em um canto da cozinha. Era recíproco, ninguém olhava pra mim e eu não olhava pra ninguém. Quando me escolheram, apalparam minha intimidade com indiferença, mas mesmo assim não conseguiram tirar conclusões concretas.
Não via a hora de sair do canto daquela cozinha. Causando surpresa em todos, abri as asas, enchi meu peito e, em dois ou três lances, alcancei o muro do terraço.
Um humano acabou subindo no telhado. Em pulos cautelosos, alcançou o telhado onde eu estava hesitante e trêmula, de modo que comecei a minha fuga. Por mais perigosos que fosse, aquilo foi a melhor coisa da minha vida. De lá de cima, pude ver o galinheiro inteiro com os olhos arregalados me vendo lutar com o humano.
Nossa batalha durou bastante, em torno de algumas horas. Vi dali de cima que aquele seria meu último minuto de vida. Lá vinha a cozinheira dando gargalhadas. Dei adeus àquela bela vista e me entreguei àquele humano persistente.
Por fim, virei a janta daquela humilde família.
Me orgulho deles não terem conseguido me pegar na bendita hora do almoço, pois a aventura foi magnífica!
Esse é o relato póstumo de uma galinha de domingo, orgulhosa de não ser apenas mais uma sem história para contar.
Nunca subestime uma galinha, e não menos importante, viva intensamente!
Noite de maio
Yasmin Melo Carvalho
Enquanto as três crianças dormiam profundamente, a mocinha Cordélia ia se recuperando do susto. Sua avó Tereza ainda estava atenta. O pai, Antônio, e a mãe, Rosária, estavam fatigados. Naquela fria e longa noite de maio todos pareciam atentos aos barulhos, mas, por um momento, se acalmaram.
Então, os três homens mascarados voltaram. Mesmo com o susto do vulto esbranquiçado, se fizeram corajosos para voltar e pegar o que queriam, sendo que o mais insistente era Galo, com sua imensa covardia. Para Touro, tanto fazia, estava muito pouco interessado, mas não deixaria seu companheiro sozinho. Os outros voltaram para a festa de rua sem hesitarem.
Assim, Galo e Touro adentraram o jardim. Cordélia estava sentada na beira da janela, já calma. Novamente, foi à cozinha pegar um copo de água. Os gatunos andavam pelo jardim com medo de olharem para a janela, mas continuaram, mesmo com medo.
Observaram que nada de precioso havia naquele jardim e resolveram entrar na casa, que parecia um castelo de jacintos assombrados.
Entraram primeiro no quarto onde estavam as crianças dormindo, mas não havia nada que lhes interessasse. Foram, então, mansamente em direção à cozinha e Cordélia estava lá. Ao escutar o barulho, ela se vira. Vendo-os, pega um objeto cortante para ameaçá-los. Logo ela, tão frágil.
Sem saber o que fazer, os covardes gatunos correram em direção à sala. Para surpresa deles, deram de cara com Tereza que gritou desesperadamente ao ver os homens mascarados. Para o desespero dos ladrões, Antônio pega sua arma de chumbinho e aponta para eles. Enquanto isso, Rosário já havia saído em busca de socorro, atrás de policiais.
Galo e Touro se arrependeram de terem sido levados pela ganância e pela curiosidade, e ficaram paralisados, com medo da arma apontada para eles.
Com a chegada da polícia, a verdadeira identidade dos dois é revelada. Eram dois irmãos chamados Ferdinando e Lucélio. Estavam em meio às festas de carnaval, mas se intrigaram com aquela casa, disseram eles. Após o ocorrido, Cordélia, Antônio, Rosário e Tereza se recordaram daquele dia como a noite de maio.
Memórias de uma flor
Kalebe Fernandes Silva
Ah, sim! Sim, um trem que partia, porque outrora suas rosas eram quem partiam, contra a água que corria entre seus dedos delicados. Seu coração também partia.
O vaso era a única coisa que ela tinha agora, vazio, vazio como seu coração. Aquelas flores eram as únicas coisinhas que a escutavam, mas que a escutavam com atenção, sem fingir escutar. Realmente, a escutavam. Eram suas únicas amigas que não a julgavam como um ser pouco inteligente, nem boa demais, porque todas as rosinhas sabiam que Laura tinha seus próprios sentimentos secretos. Laura sentia-se hipnotizada por aquelas rosinhas tão pequenas e delicadas, com espinhos tão delicados. Indagava-se “Oh, Deus, como pode uma coisa tão perfeita?! Como pode coisa tão perfeita ter ido embora?”
Elas tinham sido suas melhores amigas, amigas que não julgavam seu perfeccionismo ou mesmo seu comportamento tão metódico. Elas apenas a fitavam, com sua beleza pura e perfeita. Mais do que melhores amigas, eram sua paixão, paixão que não a traía, não como Armando. Ela sabia que Armando a traía, ela sabia. Ela fingia que não sabia, porque todos a olhavam e pensavam “Não é tão inteligente. É tão boa”. Mas ninguém dizia que era dona de seus sentimentos secretos. Isso ninguém dizia. Ela não julgava Armando, ela sabia que também traía Armando e o traía com aquelas rosinhas tão inocentes e perfeitas.
Como as rosinhas, Laura também agia inocentemente. No jantar, discretamente buscava as rosas, rosas que não encontrava em parte alguma da casa de Carlota. Como as rosas, hoje ela vestia um rosa, tão discreto que até parecia um branco, mas muito semelhante às rosinhas. Tão semelhante que ela estava começando a incorporar aquelas flores.
Talvez percebessem, talvez não. Agora, depois do adeus às rosinhas, Laura buscava, obstinada, incorporar aquelas flores. Em um lugar as rosas estavam vivas, dentro de si. O lugar mais importante, dentro de si.
Realmente não traía Armando com aquele pedaço de paixão. Realmente traía Armando consigo mesmo. Não tinha tornado-se amiga das flores tão perfeitas, mas tinha tornado-se amiga de si mesma. Ela era a única que se escutava, ela era a única que não se julgava.
Realmente tinha se tornado uma rosa.
O segredo
Ana Beatriz Soares da Silva
Estávamos na festa de aniversário da minha sogra. Toda a família estava ali, até mesmo pessoas que não eram da família. José havia trazido seu sócio Manoel, além de sua família.
A mulher havia de fazer 89 anos. Minha sogra, D. Anita, teve sete filhos, mas só dois netos até o momento. Rodrigo é o seu neto do coração, ou, dizendo claramente, é o seu neto preferido.
A minha sogra e minha cunhada Zilda suspeitavam que eu vinha escondendo algo da família há algum tempo.
– Cordélia, minha querida, você não tem nenhuma novidade para nós? – Perguntou minha sogra.
– Sim, minha cunhada querida, que tal você nos contar as novidades? – Acrescentou Zilda.
Eu e meu esposo acabamos entrando em um acordo. Iríamos contar nosso segredo para toda a família aquela noite.
– Boa noite a todos! Espero que estejam gostando da festa! Enfim, vamos direto ao ponto. Eu e minha esposa Cordélia temos uma grande notícia para todos.
D. Anita e Zilda sorriram de orelha a orelha. Seus olhos chegavam a brilhar!
Enfim, criei coragem para falar, mesmo sabendo que elas já suspeitavam.
– O nosso grande segredo é... Eu estou grávida! Sim, D. Anita. A senhora será avó novamente e Zilda será titia. Não falamos antes, pois queríamos aproveitar um pouquinho o momento só entre nós.
Todos ficaram muito felizes e agora não comemorávamos somente os anos de minha sogra, mas a chegada de um novo membro da família.
Descobertas inaceitáveis
Anna Carolina Pereira de Almeida
A mãe, sempre observadora, passou a festa inteira juntando informações. Sempre muito detalhista, apesar de ter 89 anos era bem custosa.
Naquele dia, caiu a ficha de que ela tinha formado uma família falsa. Ela sabia que todos estavam ali apenas por ganância. Mal viam a hora da mãe falecer para pegarem toda a herança.
No outro ano, fizeram a mesma festa e a mãe estava calada. Cada ano que se passava, a família mal se falava. Era um desastre!
As crianças estavam correndo por toda a casa. E chegou ela! A nora de Olaria, que ano passado veio com um vestido de paetês e um drapeado para disfarçar a barriga, que na verdade, era para disfarçar a gravidez. Chegou com seu filho de sete meses no colo.
José vinha com a mesma conversa de sempre: – Noventa anos!
Começou a hora dos parabéns. Todos sem graça, entediados. Não viam a hora de ir embora. José chamou um dos bisnetos para apagarem a vela junto à bisavó. Quando ele foi assoprar, virou para a aniversariante e disse:
– Bisa, vamos, faça um pedido antes de apagar as velas!
Ela, com olhar de desprezo, olhou para o rosto de cada um e disse:
– Eu desejo que cada um tenha o que merece. Ótima família a que eu criei. Falsos, hipócritas! Onde já se viu! Passam o ano inteiro sem se falar e vêm me ver apenas uma vês no ano, por puro interesse! Fiquem sabendo que eu deixei toda a minha herança para meu querido neto Rodrigo e não irei mudar de ideia.
Nesse momento, começaram a discutir, pois não aceitaram o fato. Ela mandou todos irem embora da casa dela.
Depois desse ocorrido, nunca mais voltaram para vê-la.
O último feliz aniversário
Ana Clara Silva Pimentel
No ano seguinte, no aniversário de 90 anos, D. Anita ainda estava viva, mas não tão bem como antes.
Como sempre, houve a festa de aniversário junto aos seus filhos e familiares. Porém, D. Anita estava cada vez mais cansada de ser vista pelos seus próprios filhos como um objeto velho. Ela só tinha um desejo, o de morrer logo, porque seu desprezo pelos seus descendentes era tão grande, capaz de sufocar até a morte, mas tinha que segurar aquela raiva para si.
“Ah, que saudades de você, Jonga, meu filho amado. Que saudades de você. Foi o único filho a quem puxou o meu marido. Que homem!” – pensava D. Anita, sozinha no seu canto.
Começou a lembrar do passado, quando era feliz com seu marido. Lembrou também do filho que morreu há um tempo atrás. D. Anita estava muito pensativa, olhando a todos ao seu redor, incrédula, pois nunca achara que chegaria a esse ponto.
De repente, sentiu uma dor no peito. Chegou a pedir socorro. Mas quando veio a ambulância, já era tarde demais. D. Anita morreu no colo de sua filha Zilda.
Decepções com a família
Ana Luiza Ferreira da Silva
A que ponto cheguei. Fiz esta carta para desabafar como eu me sinto com a minha família. Mas não tenho ninguém para enviá-la. Decerto, ficará esquecida em alguma gaveta.
É muito triste ter uma família desunida assim, mas esta é a nossa realidade. Eu sempre tentei o possível para meus filhos e meus netos ficarem juntos, mas parece que não deu certo. Eu não sei porque eles são assim. Talvez o defeito esteja em mim. Como vou julgá-los se também sou fechada?
Foi muito ruim a atitude que eu tive no meu último aniversário. Porém eu tive que fazer aquilo para ver se eles acordam. Eu estou morrendo, sou muito velha e com muitas doenças. Eles não me dão valor enquanto estou viva. Já tenho 89 anos e nem sei se no meu aniversário de 90 eu estarei aqui.
Queria tanto ter aproveitado aquela festa, porque não se faz 89 anos todo dia. Mas nem fizeram questão de me dar um pedaço do meu próprio bolo. Por isso me fechei, fiquei decepcionada. No meu próprio aniversário fiquei muito triste.
A verdade é que minha família é assim. Eu é que sou muito sentimental e queria uma família normal, unida, com meus filhos me amando e não querendo que eu morra logo para pegar a herança e não se verem nunca mais.
Isso foi um desabafo. Eu amo muito meus filhos e netos. Quem sabe um dia minha família se torne uma família normal?! Pena que quando – e se – isso acontecer, eu nem estarei mais aqui.
Anita.
Queria mais atenção
Arthur Henrique Alves Carvalho
Foi planejada uma grande festa na cada de D. Anita, com 200 convidados. Era aniversário de sua neta e ela resolveu festejar no grande sobrado da matriarca da família. Mas, por incrível que pareça, ela não convidou a própria avó. Mesmo assim, D. Anita fez questão de descer e ficar entre os convidados.
Os convidados foram chegando, todos muito chiques, em seus melhores trajes, se cumprimentando entre si, mas ignorando a presença de D. Anita, sentada em um canto em sua cadeira de rodas.
A diversão era total, menos para aquela avó, que estava triste porque ninguém falava com ela. Nem comida deram para ela, que, por suas dificuldades de mobilidade, não conseguia se servir sozinha.
Chegou a tão esperada hora dos parabéns. Todos se uniram e começaram a cantar. O bolo foi distribuído e mais uma vez, D. Anita ignorada.
Só quando acabou a festa e todos foram embora, a aniversariante percebeu que avó estava ali, estranha e quieta. Ainda teve a cara de pau de perguntar porque ela estava daquele jeito.
D. Anita olhou para ela e disse que só queria um pouco de atenção.
O falecimento de D. Anita
David Lima Silva Mendes
Tudo começou quando D. Anita tomou uma grande decisão.
Ao acordar, naquele dia, pediu a Zilda que a levasse para um asilo e a deixasse lá. Zilda recusou imediatamente, mas D. Anita foi mais firme com sua ordem e a filha disse, então, que falaria primeiro com seus irmãos.
No entanto, D. Anita não concordava, pois seus filhos não se importavam com ela, que só estavam esperando que ela morresse para pegarem a herança.
Zilda ficou pensativa, mas, mesmo assim, ligou para seus irmãos e falou para cada um deles o desejo da mãe. Para pouca surpresa de todos, eles simplesmente disseram um “está bom”. Assim, Zilda acabou por levar a mãe para o asilo.
Chegando ao asilo, D. Anita foi muito bem recebida. Zilda deu seu último abraço na mãe e foi embora.
E não é que D. Anita estava feliz naquele lugar! Ela encontrou um antigo amigo de infância, o Sr. Heitor. Ele tinha a mesma idade dela e também faziam aniversário no mesmo dia. Os dois com 89 anos e faltando um mês para completarem 90.
Nesse mês, D. Anita e Sr. Heitor se divertiram muito. Eles conversavam, jogavam xadrez, faziam exercícios com os fisioterapeutas.
Por curiosidade, D. Anita perguntou ao amigo por que ele havia ido para o asilo e ele disse que fora abandonado pelos filhos, que o deixaram lá. Mas que, apesar disso, estava feliz por estar naquele lugar.
Passaram-se alguns dias e chegou o dia do aniversário dos dois amigos. Todos estavam felizes. Receberam presentes, cantaram parabéns... D. Anita estava muito feliz, bem diferente do último aniversário em sua casa.
Quando tudo terminou, D. Anita foi para o seu quarto. Antes de dormir, escreveu algumas palavras em um pedaço de papel.
Hoje foi um dos melhores dias da minha vida. Estou grata a todos que foram verdadeiros comigo e que ficaram ao meu lado. Estou escrevendo estas palavras, pois sinto que minha vida está chegando ao fim. Quero que a minha herança fique para os meus filhos, porque mesmo eles sendo ingratos e falsos, eu ainda os considero como meus filhos.
No outro dia bem cedo, D. Anita faleceu. Por incrível que pareça, o Sr. Heitor também.
O segredo
Geovana Yasmin Silva Lima
Depois daquele aniversário trágico de D. Anita, cá estamos nós, novamente. A família toda reunida. Seria gracioso se todos ligassem para o aniversário dela e não apenas a deixassem ali, plantada em um canto.
Dessa vez, podia acontecer alguma situação diferente nesse aniversário, algo surpreendente para fazer com que todos dessem atenção a ela. É incrível como todo ano é igual. Começam a falar de negócios, minhas cunhadas com cara de nojinho e D. Anita sempre deixada de lado.
Desde sua última atitude que deixou todos de boca aberta, nada mudou. Mas D. Anita é esperta, a qualquer momento ela pode nos surpreender com alguma atitude.
Realmente, como uma mulher de tanta atitude pode ter tido uma família assim? Posso ver em seu rosto a cara de desgosto e repugnância, coisa de deixar qualquer um constrangido.
Estou a observá-la. Talvez ela diga algo que não deveria e venha acabar com minha vida e meu casamento.
Todos conversando, rindo, brincando... Mas estou sentindo que algo está por vir.
Brutalmente, D. Anita se levanta, olha para todos. Todos também a olham de volta, com surpresa. Naquele olhar havia maldade, como se estivesse fora de si. Os pedidos para se sentar sequer foram ouvidos. Assim, ela começa a gritar com todos:
– Vão embora, vão embora!
Começaram a ficar assustados. Seria ela uma ingrata, pensaram. Mas eu tinha certeza que não. As frases que saíam da boca dela pareciam estar presas em sua garganta por muito tempo. Ela falava verdades na cara de todos. Foi engraçado, até chegar a minha vez...
– Você não passa de uma traidora!
Senti os olhos dela e de todos em mim.
– Você é uma mulher sem vida, você só pensa em si mesma.
Eu pedia para ela se acalmar, mas ela continuava gritando para que todos ouvissem.
– Você só coloca chifre no meu filho, sua vagabunda!
Senti o silêncio absoluto e os olhares de nojo em mim. Fiquei normal. Olhava para meu “esposo” e D. Anita continuava a dizer coisas. Por um momento, tive uma espécie de despressurização com toda a situação. Tudo ficou em silêncio. Me recompus, fui até a D. Anita e disse em voz alta:
– Feliz aniversário, D. Anita!
Virei as costas e fui embora.
Conseguimos! Obrigada, D. Anita! No final, acabamos ajudando uma à outra e nos livramos daquilo que era um peso em nossas vidas.
Agora posso ser uma mulher feliz, sozinha, sem homem nenhum, sem nada, sem dores de cabeça.
D. Anita conseguiu se livrar de uma família em que havia apenas máscaras.
Realmente, foi um feliz aniversário.
Pingo de vela
Helena Fuzaro D’Alexandre
No ano seguinte, a família toda se reuniu na casa da aniversariante. Pela felicidade ou infelicidade dos convidados, D. Anita completava mais um ano de vida, seus 90 anos.
Como de costume, Zilda preparou a comida, arrumou a mesa e a aniversariante.
D. Anita parecia “alegre” com aquele sorriso. Um sorriso de quem acabava de planejar algo. Um sorriso “alegre”, de pura vingança.
Naquele ano, ela estava sentada em uma cadeira de rodas.
A nora de Olaria chegou primeiro e resolveu ajudar Zilda com os balões, para ela poupar seus ouvidos das reclamações de Zilda de que ninguém a ajudava e ainda ganhar mais moral na família e se parecer superior por estar “ajudando”. Uma pena mesmo foi o fato dela ter se esquecido de cumprimentar a aniversariante.
Depois de dez minutos, foi chegando o restante da família para, finalmente, comemorarem o aniversário.
Todos se reuniram ao redor de D. Anita para cumprimentá-la com um beijo com o qual quase nem tocavam os lábios nas bochechas dela e um falso tapinha no ombro. Até que chegou seu querido neto Rodrigo e deu um presente para a avó, em uma embalagem azul metálica e uma etiqueta escrita “feliz aniversário, vovó”.
Rodrigo foi o único a lhe presentear desta vez, pois todos já estavam fartos de gastarem dinheiro com uma velha prestes a morrer.
Passado um tempo, D. Anita saiu de perto da mesa enfeitada sem que ninguém a visse. Estavam todos distraídos, dançando e tomando refrigerante.
Quando D. Anita chegou à cozinha, chamou Zilda e pediu um copo d’água. Depois que Zilda saiu, ela abriu uma gaveta, pegou um pacote com um pó branco dentro e colocou o conteúdo na água.
Depois disso, ela voltou para a festa e deu a água para José tomar um pouco. Ele sentiu um gosto estranho, mas achou que, por ter comido muita coisa, poderia estar normal. Mesmo assim, ofereceu a Manoel que bebeu e realmente concordou que aquilo não era só água.
Assim, passados poucos minutos, José e Manoel caíram no sono.
Como ninguém se importava com D. Anita, ela repetiu o mesmo processo com todos os convidados, de um por um. Assim, foi para o seu quarto e começou a arrumar suas coisas (roupas, sapatos, joias e perfumes).
Quando tudo estava separado, ela colocou tudo em uma mala e deixou no canto de sua cama. Em seguida, pegou um pedaço de papel e deixou uma mensagem para quando eles acordassem.
“Queridos filhos, netos e todos os convidados, foi uma desonra passar meu nonagésimo aniversário com vocês. Não só este, mas todos os meus aniversários desde os meus 30 anos, é como se eu não existisse para vocês.
Vocês são todos forçados e falsos. Meus netos também estão se tornando uns estúpidos por culpa da ignorância de vocês que não conseguem sequer perguntar para mim se eu estou bem”.
Depois, ela pegou suas coisas e foi embora para um hotel que já havia reservado há algum tempo, escondido de Zilda. No dia seguinte, iria para a casa de uma amiga e ficaria por lá.
Quando todos acordaram, acharam que estava tudo normal e que apenas pegaram no sono. Mas Dorothy achou o bilhete. Foi aí que perceberam que ela havia fugido. Mas, só Dorothy e Rodrigo ficaram preocupados com a avó. O resto nem se importou.
Zilda só ficou brava porque um pingo de vela havia estragado o forro da mesa.
Infeliz aniversário
Hyan Lucas Almeida Moreia
No final do aniversário, D. Anita estava cheia de desgosto da família que construiu, que mais parecia um bando de abutres.
Depois da festa, ela estava decidida que iria se vingar de todos e rogou uma praga na família inteira. Mentalizou que todo o tempo de vitalidade que ela gastou criando aquela família, seria tirado deles e voltaria para ela. Assim o fez.
No outro dia, D. Anita chamou toda a família e disse que achava que não estaria no seu aniversário de 90 anos, mas que queria que todos tivessem algo para lembrar dela.
Assim, foi ao seu quarto e pegou um antigo baú em que havia joias e deu uma joia para cada um. Cada joia era uma mais especial que a outra. Tinha esmeralda, escarlate. Só ficou com ela um colar com uma pedra transparente, mas que não ficaria assim por muito tempo.
Um ano se passou e novamente mais um aniversário de D. Anita chegou. Como todos os anos, a família inteira estava lá. Porém, todos estavam exaustos, pois D. Anita, sem sentir nenhum remorso, sugou a energia vital de toda a família.
Assim, o colar estava reluzente com uma cor vermelho-sangue e D. Anita estava de novo, na flor da mocidade e assim pode começar uma nova família, que seria bem diferente daquela.
Mais um ano?
J. G. V. P.
E mais um grande dia chegou. O dia que “todos” estavam esperando. Exceto D. Anita, que, sentada na mesa, com uma cara fechada, esperava os convidados. Naquele dia, completava 100 anos e, para o seu azar, ainda estava de pé.
Os minutos iam se passando, os convidados iam chegando e mais uma vez, D. Anita, com pouca, ou nenhuma, expressão de felicidade, os encarava. Ela não via mais a hora daquele pesadelo acabar.
No momento dos parabéns, ela já estava com uma taça de vinho nas mãos, que Dorothy lhe havia entregado. Todos se levantaram e começaram a cantar os parabéns, coisa que ela não queria mais ouvir. “Estes vagabundos não devem ter o que fazer. Vagabundos, miseráveis. É o que eles são”, pensava D. Anita.
Rapidamente, a anfitriã olhou para Cordélia que estava sentada e parecia preocupada com o que estava acontecendo. Cordélia, somente Cordélia, sabia do segredo de D. Anita: assim que completasse os 100 anos de idade, seu coração pararia de bater.
Por isso, Cordélia logo foi ao encontro de D. Anita e a levou para o quarto. Apenas Rodrigo foi chamado. Deu um beijo na testa da avó e desceu para pegar mais uma taça de vinho.
Assim que Manoel e José viram a mãe subindo, se perguntaram o que estaria acontecendo. No entanto, continuaram com aquele discurso vazio de sentimentos: “Querida mãe, mais um ano ainda está por vir. Continue assim, firme e forte”.
O que eles nem imaginavam é aquele seria o último dia de D. Anita.
Laços de família – Parte 2
Jonatas Ferreira de Pádua Filho
A mãe de todos aqueles filhos se arrumava, mais uma vez, para o seu aniversário. Ela não estava muito contente, pois a festa do ano anterior não tinha sido muito boa. Ela não queria, mas estava lá, cheia de joias e roupas que a incomodavam.
Os filhos pouco se importavam com ela. Nem sabiam quantos anos ela faria. Por isso, ela condenava a todos. Não fazia questão nenhuma de se mostrar amável ou agradável para ninguém. Se alguém se dirigia a ela, já levava más respostas.
Mas era muito difícil notar a presença dela ali. Os netos mais novos só queriam brincar. Os mais velhos, já cogitavam a morte dela e os rumos da herança. Os filhos, mal se falavam e as noras só queriam se mostrar. Todos, um bando de hipócritas.
A hora dos parabéns era sempre lamentável. Todos cantando fraco, desanimados e desafinados. No discurso, José gaguejou, pois não se lembrava que a mãe estava completando 100 anos.
Neste momento, a matriarca pegou uma latinha de cerveja, abriu e começou a beber. Logo vieram as proibições:
– Largue isto, mamãe. A senhora não tem mais idade para beber.
– E quem te perguntou? Eu ainda sou sua mãe. Ninguém tem que me dizer o que tenho ou não tenho que fazer.
Muito brava, ela soltou a latinha no chão de uma vez. Os convidados se assustaram, pois ela estava tendo um infarto. Imediatamente, a levaram para o hospital, a deixaram lá e voltaram para a festa, para fortalecerem aqueles laços familiares tão profundos.
Meu aniversário
Lucas de Paula dos Santos
Olá! Eu sou mãe de vários filhos, avó de muitos netos e no próximo sábado será meu aniversário, momento em que a família se reúne e faz uma festa para mim. Mas, estou triste, porque todo ano na minha festa de aniversário acontece algum problema.
Meus filhos e meus netos não se importam comigo. Quando eu preciso de algo e peço ajuda, ninguém aparece, mas quando é para a festa, todos vêm.
Ano passado, eles pareciam nem ver que eu estava ali, sentada, ao lado da mesa. Fizeram um grande bolo, lindo! Parecia muito gostoso, mas, sequer me deram um pedaço.
Meu neto teve a falta de educação de me chamar de velha. Eu sei que eu sou velha e estou ficando mais velha ainda, mas não precisa ofender.
Eu fico muito chateada com a forma como a minha família me trata, por isso, eu nunca fico feliz pelo meu aniversário.
As cicatrizes
Maria Eduarda Alves da Silva
Há muitos anos, D. Anita teve um conflito com seus filhos, pois, primeiro, não aprovava a carreira profissional que eles escolheram seguir; segundo, não queria que seus filhos se casassem com aquelas moças. Isto trouxe discórdia para a família, pois ninguém fez o que a mãe queria.
Assim, a mãe foi deixada de lado. Ninguém a queria por perto, muito menos suas noras. Pelo fato dos pais não serem próximos, os netos também não se importavam com a avó.
Talvez ela deveria ter feito algo no passado para que aquela família não estivesse se estilhaçado daquela forma. Porém, era tarde.
Quando chegou o aniversário de D. Anita, 89 anos, um dos filhos não quis ir só para não ter que se encontrar com um dos irmãos. No entanto, suas noras de Olaria e Ipanema foram. Sempre muito bem vestidas e elegantes. Eram muito arrogantes, mas não deixavam de ir ao aniversário da sogra para mostrarem como estavam bem.
Era nesses momentos que D. Anita se lembrava do seu filho que lhe fazia tão bem, mas que infelizmente havia falecido. Era o Jonga. Depois da morte dele, ela ficou ainda mais amarga, sem demonstrar sentimentos por ninguém.
Ou melhor, havia alguém que ocupava um pedacinho de carne no seu coração. Era seu neto Rodrigo, seu preferido, talvez por ser muito educado ou pelo simples fato de ser filho de Jonga. Contudo, naquele dia, nem o sorriso do neto Rodrigo mudou a sua rigidez. Era seu aniversário, mas estava muito infeliz.
Teria sido muito bom que aquela festa tivesse trazido reconciliações, um final feliz para a história daquela senhora. Mas, sabendo que era impossível, preferiu guardar todas as esperanças e seguir em frente, apenas com as cicatrizes que ficaram.
Casos de família
Maria Vitória Rubens Ferreira
Quem nunca teve uma confusão em família?
Pois é! Família é uma coisa muito complicada e por isso cheia de confusões, como briga entre irmãos, disputa por herança, entre tantas outras coisas.
Com D. Anita não seria diferente. Seus filhos viviam em uma eterna disputa. Eles simplesmente não cansavam de brigar pela sua herança. Mas depois do ocorrido no aniversário de 89 anos dela, eles ficaram mais espertos, pois ela nunca havia se comportado daquela forma.
Porém, começaram a plantar a ideia de que a mãe estaria enlouquecendo. O filho de Ipanema chegou a pensar em uma internação para ela, que, na verdade, só estava cansada daquilo tudo.
Com razão. D. Anita estava amargurada por dentro, pois no fim da vida, deveria estar recebendo atenção, amor e carinho. No entanto, seus filhos pensavam apenas em seu dinheiro e na herança que havia de deixar.
Aquele desprezo a deixava triste. Não suportava olhar para eles. Uma raiva estava consumindo-a por dentro.
Por esse motivo, resolveu fazer uma viagem com sua cuidadora, já que Zilda havia abandonado o posto. Foram para São Paulo, para a casa de alguns parentes de D. Anita. Lá, recebeu todo o amor e carinho que ela desconhecia até então, enquanto seus filhos estavam surpresos e pensativos com sua atitude.
Será que a ficha caiu que, além do dinheiro, D. Anita ainda continuava sendo a mãe deles?
Enfim, D. Anita gostou tanto que estava até pensando em se mudar para São Paulo e viver perto de quem lhe fazia bem.
Um não feliz aniversário
Pedro Lucas Tavares Ramos de Souza
Depois que todos foram embora da festa de aniversário, sobramos apenas eu, Dorothy e um pedacinho de bolo, já que Zilda disse que já estava muito cansada por ter preparado tudo sozinha e se recolheu.
Dorothy ficou para me ajudar com toda aquela bagunça. A casa estava toda suja, cheia de rastros de lama, já que havia chovido mais cedo, e de migalhas de bolo pelo chão.
Inesperadamente, a campainha tocou. Dorothy atendeu para mim, já que eu estava com muitas dores nas costas. Acho que foi por causa daquela maldita cadeira desconfortável. Quando a porta se abriu, vi que era José, com o casaco na mão, pedindo desculpas por si e por seus irmãos, no caso, meus filhos, ingratos e egoístas. Infelizes filhos que criei.
Desta forma, José voltou para nos ajudar com a limpeza da casa.
Não sei se eu conseguiria perdoar aos outros, mas ele sim, pela sua gigantesca coragem. Vi em seus olhos que era sincero seu pedido de perdão. Até consegui sorrir neste momento, mesmo que tenha sido um singelo sorriso no canto do rosto.
Aquela parecia a primeira vez que eu recebia algo tão sincero de um dos meus filhos. Este foi um presente, o melhor de todos, pois passei a noite toda conversando com Dorothy e José sobre coisas da vida.
O dia do meu aniversário acabou não sendo tão feliz assim, mas com toda certeza, aquele fim de festa foi o meu maior presente.
O sonho virou realidade?
Rafael Dourado dos Santos
Oi, Letícia!
Estou escrevendo esta carta para falar sobre meu aniversário.
Foi um dia cheio de alegria, porque eu estava fazendo 89 anos. Meus 89 anos de vida! Mal podia esperar a noite chegar para receber os meus convidados. Até que chegou a hora tão esperada.
Todos os convidados chegaram, se acomodaram. Estava tudo lindo!
Cada um dos meus filhos ao lado de suas esposas e filhos. Todos muito elegantes. As mulheres com vestidos longos e coloridos. Tudo como eu queria. Era um dia perfeito. Até parecia cena de filme romântico.
Todos os meus filhos, netos e noras se levantaram e aplaudiram meus 89 anos. Todos contagiados com aquele momento tão alegre, até que chegou aquele imenso bolo açucarado. Eu estava ansiosa para comer um pedaço daquele imenso e delicioso bolo.
Zilda não queria me deixar comer, por causa da minha saúde. Mas, aquele era meu dia. Me aproximei e cortei uma generosa fatia e comi o melhor bolo da minha vida.
Passado algum tempo, me senti mal, com tontura e náuseas.
Nesse momento, acordei assustada e vi que tudo aquilo não se passou de um sonho estranho.
Voltei a dormir, porque logo amanheceria e no dia seguinte seria meu aniversário de 89 anos.
É isso, Letícia. Só queria te contar meu sonho. Será que vai virar realidade? Depois te conto.
Passe bem!
Abraços,
Anita.
Atos ingratos
Lucas Rafael Rios
Querido diário,
Eu, Anita Xavier, estou extremamente desapontada com meu aniversário este ano e queria muito dar uma lição nos meus filhos.
Eles são tolos. Acham que irão receber alguma coisa de mim. Apesar de serem meus filhos, sinto que eles perderam tudo que nos conectava como família. Nem eu sinto o mesmo afeto depois daquela festa.
O que eu sinto é somente uma espécie de ódio, pois todo amor, afeto e meu sangue que dei para criá-los, jamais recebi de volta, mas, longe de mim esperar algo deles.
Apesar de tudo, feliz aniversário para mim. Não é todo dia que alguém faz 89 anos!
Anita
Ano que vem?
Rafael Victor Caetano
Posta na cabeceira de uma mesa larga e comprida, com um cheiro de perfume borrifado pela sua filha para tirar seu cheiro envelhecido, estava a aniversariante que, de pura raiva, acabara de ofender a todos ali presentes em sua festa, circundados por um clima falso e tóxico vindo das expressões irônicas e falsas de seus filhos, menos de Zilda, que tinha por obrigação cuidar da mãe, já que era a caçula e solteira.
Prestes a sucumbir de raiva, D. Anita gritava para que lhe levassem uma taça de vinho. Quando seu pedido foi atendido, todos voltaram a atenção para ela, que logo bradou:
“Vocês realmente acham que eu queria pelo menos um de vocês aqui? Claro que não! Não preciso de ninguém para me tirar a paciência, a não ser da Zilda, que tem a obrigação de cuidar de mim. Além dela, não queria nenhum de vocês aqui”.
Os filhos e parentes ficaram devastados com a sinceridade da idosa, porque eles sabiam que o que ela disse realmente era verdade. Todos se desapegaram da mãe e, consequentemente, diminuíram o afeto por ela. Desse modo, ela se amargurou e disse que não queria nenhum deles ano que vem em sua casa.
Após ouvirem-na, os filhos ficaram profundamente decepcionados e entraram em um acordo que deixariam a mãe deles em paz e que somente se reencontrariam no funeral dela. Mas antes, cada um iria se despedir da maneira certa, já que seria a última vez que a veriam viva.
Assim fizeram. Um a um de despediu da matriarca.
Zilda, achando aquilo tudo uma loucura, gritou pela janela quando todos já estavam lá fora: “até ano que vem”. Mas, enfurecida, D. Anita tinha certeza que ano que vem não haveria festa.
Conforme combinado, eles só se encontraram, anos depois, no funeral da mãe.
Infeliz aniversário
Richard Gabriel Rodrigues da Silva
D. Anita não estava nada feliz com o seu aniversário, porque em vez de seus parentes lhe darem atenção, a tratavam como se nem existisse.
Logo depois daquela festa desastrosa, ela passou a se isolar ainda mais de todos, já que ninguém dava a atenção que ela precisava. Os filhos, noras e netos nem se lembravam dela e, pela idade, ela não conseguia ser tão livre como antes, ainda mais por se locomover em uma cadeira de rodas.
Maria, sua vizinha, vendo toda aquela situação, se mobilizou para ajudar Zilda com o que ela precisasse, já que Maria estava aposentada e poderia auxiliar. Assim, a vizinha tinha contato diariamente com ela e ficaram ainda mais amigas. Saíam juntas, iam à igreja. A alegria aos poucos voltava.
Contudo, infelizmente, D. Anita teve uma parada cardíaca e não resistiu.
Zilda e Maria ficaram muito tristes com o ocorrido e, como era de se esperar, os outros filhos e familiares também vieram chorar ao redor do seu caixão. Não deram valor em vida e foram dar valor quando ela se foi.
A surpresa
Roni Cleito Aquino Soares
A família toda foi convidada para a festa de 89 anos de D. Anita, mas, já passava da hora dos convidados chegarem e ninguém havia aparecido.
D. Anita sem entender nada, estava ficando com raiva daquela situação. Pelo menos por falsidade, sempre apareciam. Será que naquele ano nem isso iriam fazer?
Na verdade, os filhos, noras e netos resolveram fazer uma grande surpresa e chegarem todos de uma vez com o bolo e cantando os parabéns.
Até aquele momento, D. Anita já estava certa de quem ninguém gostava dela, até que a nora de Olaria abriu o portão e todos entraram conforme o combinado.
D. Anita sabia que todos ali só pensavam na herança dela, mas, mesmo assim, aquele momento a alegrou.
Não passou muito tempo, ela faleceu, mas pelo menos, deve ter levado consigo a lembrança daquela feliz surpresa.
Família brasileira
Sérgio Henrique Soares Araújo
Ela era uma senhora muito isolada pelos seus filhos e noras. As únicas pessoas que gostavam dela eram os netinhos e netinhas, apesar deles correrem e brincarem no meio da casa, quebrando os móveis e a decoração. Mas ela não os criticava. Os achava lindos e apreciava aquela inocência.
Com o amor daquelas crianças, o ódio e o rancor diminuíam. Ela sabia que sua família só se juntava no seu aniversário por aparências. As noras tinham imensa inveja de sua mansão, de suas joias e de toda a sua fortuna. Aquela velha franzina e fraca alimentava um ódio maior que ela mesma.
Até que, quieta em seu canto e absorta em seus pensamentos, percebeu que, no dia do seu aniversário, fizeram uma longa mesa, cheia de comidas que ela não podia comer, tamanha era a desconsideração de todos por ela.
Estava triste e pensativa sobre o que havia feito para estar naquela situação, até que Rodrigo, seu neto de sete anos, pulou em seu colo.
Nesse momento, ela acordou suada e desesperada. Quando deu por si, viu que todos estavam lá preparando o almoço.
A senhora de cem anos respirou aliviada por aquilo ter sido apenas um sonho.
A morte de D. Anita
Vitor Emanuel Resende de Oliveira
Depois de um ano, finalmente chegou o aniversário de D. Anita, os esperados 90 anos. Desta vez, ela estava super animada, pois achava que as coisas seriam diferentes, que seus filhos finalmente lhe dariam atenção.
Como sempre, a família foi chegando. Os de Olaria, sempre muito bem vestidos. Com um vestido violeta, com estampa de borboletas e decote marcante, a nora de Olaria chegava junto ao marido, que desta vez sentiu que precisava ir ver a mãe, mesmo odiando a todos que ali estariam.
Em seguida, veio a nora de Ipanema com os dois filhos e uma nova babá. O marido que sempre vinha depois, desta vez, chegou junto. E, para não fugir da regra, ela passava direto para nem encarar a concunhada de Olaria.
As crianças estavam bem felizes, brincando sem atrapalhar ninguém e sem brigarem. Tudo estava muito estranho, como se pressentissem que algo ruim estivesse por vir.
Chegou, enfim, a hora dos parabéns e D. Anita não precisou ficar esperando três horas por isso. Depois que todos deram os parabéns – alguns o happy birthday – foi possível ver que todos estavam felizes e se divertindo.
Quando foi cortar o bolo, D. Anita estava pálida, com os lábios ressecados e parecia que ia desmaiar, o que de fato aconteceu quando ela estava com a faca na mão. A queda inesperada fez com que ela batesse a cabeça no chão.
Todos ficaram desesperados. Um de seus filhos pegou a mãe nos braços, já chorando muito, enquanto todos ao redor iam às lágrimas também.
Até tentaram chamar a ambulância, mas era tarde demais. Todos os convidados entraram em choque, pois eles nunca imaginaram que poderia acontecer daquela forma.
No outro dia, no velório, nos seus melhores trajes, estavam todos de preto. Alguns não conseguiam segurar o choro, outros disfarçavam as lágrimas através dos seus óculos escuros.
Todos estavam arrependidos por nunca a terem tratado bem. Ela, que sempre fora desprezada por eles, recebeu carinho e seu devido valor somente no seu último momento de vida, ficando a lição. Muitos só dão valor às pessoas quando as perdem, sendo que poderiam ter aproveitado em vida.
=O diário de D. Anita
Wytorya Ketlen Silva Lopes
Querido diário,
Mais um ano de vida. Sempre o pior dia para mim. Não por estar completando aniversário, mas sim porque minha família se reúne em minha casa e fica de falsidade para o vínculo entre a família não acabar.
Além de me deixarem por horas sentada em uma cadeira completamente desconfortável, não me servem sequer um prato de comida. Não conversam comigo. Não que eu queira conversar com eles, mas é meu aniversário. Deveriam fazer isso por obrigação.
Uma de minhas noras tem um segredo que só eu sei. Eu poderia muito bem acabar com a festa toda. Ela nem imagina que eu sei, mas eu preciso ficar quieta no meu canto e não causar ainda mais intrigas entre a família, por enquanto...
D. Anita
Partiu, 90 anos!
Yure Sérgio Ferreira e Silva
D. Anita estava prestes a completar 90 anos e já estava desanimada, porque seus filhos e netos não lhe davam atenção. Só se encontravam no dia do aniversário dela e depois passavam o ano todo sem se verem. Menos Rodrigo e Dorothy, os únicos que tinham carinho e consideração pela avó.
Chegando próximo a mais um aniversário, como sempre a família se reuniria para a festa. Mas aquele ano, D. Anita quis fazer diferente, pois estava só o ódio de seus familiares. Na última festa a deixaram sozinha em um canto, como se ela nem existisse.
Assim, ela resolveu aproveitar seu aniversário de outra forma.
Quando a família chegou, todos se assustaram porque ela não estava em casa. Saíram para procurar pelos vizinhos e ninguém quis dizer o paradeiro dela. Desesperados, foram até a televisão pedir para que quem soubesse informações sobre ela, comunicasse à família.
Rodrigo e Dorothy disfarçaram muito bem. A avó estava feliz com sua filha Zilda em um resort, aproveitando a vida.
A mulher alucinada e o macaco
Alexandre Fernandes Cardoso
Parecia um dia como outro qualquer e eu estava comendo meu caqui, sofrendo pela minha avançada idade, sendo apenas um animal vivo esperando pela morte. Mas este dia foi diferente.
Consegui ouvir uma mulher bufando tanto, que até parecia um cavalo cansado. Simplesmente fiquei quieto e sentindo a presença dela. Até que ela caiu, parecia um desmaio, mas, ao mesmo tempo, parece que ela estava sendo atacada por um búfalo, já que gritava este nome.
Não pude fazer nada, pois sou um animal. Mas ver aquela mulher, naquela situação, parecendo que estava tendo alucinações, fez com que eu ficasse satisfeito por levar a vida do meu jeito.
A mulher do casaco marrom
Ana Clara Ribeiro Gomes
Era primavera. Eu costumava ir ao Jardim Zoológico simplesmente para observar os animais, as crianças correndo felizes, brincando no parquinho, os adultos sempre de olho em seus filhos. Mas, naquele dia, uma mulher me chamou a atenção.
Nunca antes havia acontecido algo semelhante. Eu parecia conhecer aquela mulher, uma mulher com um casaco marrom e com uma expressão vazia, triste, talvez com um pouco de ódio. Ali, parecia procurar alguma coisa, ao mesmo tempo que parecia perdida em si mesma.
A observava. Tinha semblante de alguém doente. Talvez estivesse. Pensei em ir falar com ela, mas desisti logo. Estava concentrada olhando os animais.
A perdi de vista durante um tempo, mas depois a vi junto à jaula do búfalo. Eles estavam se encarando profundamente. Achei um tanto estranho. Segundos depois, a vi desfalecendo, caindo no chão junto à grade da jaula.
Como estava pálida, imaginei que não estava se alimentando bem. A ajudei a se levantar e a levei à uma lanchonete próxima dali, dentro do Zoológico.
– Como você se chama? – Perguntei.
– Marcela – disse com uma voz fraca.
– Sou o Benjamim. Você está bem?
Ela afirmou com a cabeça.
Insisti um pouco e ela me contou que havia sido rejeitada pelo homem que ela amava. A consolei e tentei entendê-la.
Logo após, ela comeu um salgado e andamos pelo zoológico falando sobre várias coisas aleatórias. Então notei o lindo sorriso que Marcela tinha. Ela sorria a cada piada sem graça que eu contava. Isso me encantava.
O tempo passou. Começamos a namorar e eu continuo apaixonado por ela a cada dia mais. A mulher do casaco marrom. A mulher da minha vida.
O búfalo 2
Ana Vitória dos Santos
Uma mulher alta, loira, dos olhos claros e amargurados, resolveu ir ao zoológico. Ela passeava para lá e para cá analisando todos os animais e seus comportamentos. Parecia ter inveja e ao mesmo tempo ódio quando percebeu que estava na época do acasalamento.
O passeio seguia. A mulher viu girafas, hipopótamos, leões, elefantes, camelos, diversos animais. Mas o que ela queria mesmo era aprender com eles a odiar. A olhar para alguém como um predador olha para a sua caça.
“Eu te odeio”, disse ela para um senhor que passara por ela. Sem entender, o homem saiu de perto dela e continuou em frente.
No pequeno parque de diversões do zoológico, ela decidiu parar de caminhar e se sentar na montanha russa. Ali, obteve uma gama de emoções. Primeiro, espanto, depois uma fúria. Após a experiência no brinquedo, a mulher saiu desnorteada meio que caindo pelo parque.
Seguiu em frente encontrando mais bichos. Desta vez, achou um quati. Ela o olhou, assim como olhara para todos os animais, mas desviou os olhos com uma cara de aborrecimento. Foi quando ouviu um barulho bem alto e decidiu ir atrás ver o que era. Encontrou o búfalo.
Ela tentou chamar a atenção do bicho a todo custo. Fez barulho, jogou pedras, mas ele não reagiu a nada. Foi quando chegou um dos zeladores do animal, um homem alto, jovem, encantador. A mulher, ao vê-lo, ficou apaixonada, tão encantada com o rapaz que o chamou para uma conversa.
Os dois conversaram por bastante tempo. Logo o zelador foi cuidar do búfalo e a mulher foi atrás. Foi quando o animal se voltou para ela e a olhou fixamente. Aquele olhar a enfeitiçou e, inesperadamente, a mulher sentiu amor de novo em seu coração. Não sabia mais o que era ódio.
Passado um tempo, ela começou a trabalhar no zoológico. Engatou um relacionamento com aquele rapaz e seu ódio nunca mais voltou.
O pior dia da minha vida
Brenda Martins Barbosa
13 de julho de 1957.
Querido diário,
Tudo começou no dia 03 de julho de 1957, que foi nomeado por mim, o pior dia da minha vida. O dia em que eu, finalmente, percebi que o amor dele por mim não era mais o mesmo. Que a chama havia se apagado.
Uma noite antes da traição, havíamos discutido, mas, no dia seguinte, achei que estávamos bem. No entanto, veio à tona a tão inesperada traição.
Meu mundo desabou e o amor de anos se acabou em segundos.
Depois disso, senti que algo em mim mudou e... sim, foi meu amor por ele. Mesmo assim, não conseguia odiá-lo, pois não poderia negar que todos os momentos ao seu lado foram incríveis.
Ontem fui ao zoológico. Mesmo que minha saúde esteja debilitada, não comendo nem dormindo direito, fui até lá para me distrair e tentar me identificar através do sentimento dos animais, porque quando ele se foi, levou também um pedaço de mim que eu preciso resgatar de volta.
Caminhando pelo lugar, olhei profundamente nos olhos de cada animal à minha frente. Não me via em nenhum deles até encontrar o búfalo, aquele búfalo solitário que, depois de pequenas provocações, me olhara com um olhar de ódio, o sentimento que eu sempre quis sentir, mas não consigo.
O búfalo triste
Carlos Eduardo de Oliveira Silva
Lá estava ele sem nada para fazer e sem ter para onde ir, pois estava triste, deprimido, sem forças e sem ninguém. Pensou então em ir a um parque de diversões, ao menos veria pessoas felizes e se lembraria dos velhos tempos.
Mas, chegando lá, o que parecia alegria se tornou amargura. Como as pessoas podiam confiar umas nas outras?
Então, resolveu sair do parque e ir para um lugar mais calmo. Primeiro se sentou no banco de uma praça e começou a pensar para onde iria, até que se lembrou que estava perto do zoológico.
Ao ir caminhando até lá, sentiu uma tontura, pois não comia há dois dias. Ele não via motivos para viver, estava se definhando aos poucos.
Chegando, viu um casal de macacos e tornou a lembrar que não confiava mais em ninguém, pois a pessoa em quem ele mais confiava, virou as costas e o abandonou.
Continuou a andar e viu uma portinha aberta. Entrou. Por trás da cerca, viu um animal bem grande, com muito músculo e muito preto. Aquela área era muito bonita, porém o animal estava solitário, não tinha nenhum outro animal lá por perto.
Se aproximou, mas ele o ignorou completamente. Então, sentiu uma fraqueza e desmaiou.
Quando acordou, ao lado de sua esposa, viu que tudo aquilo tinha sido um sonho, ou melhor, um pesadelo. Mas aqueles olhos tristes do búfalo não saíam de sua memória.
O sonho estranho
Emanuel Souza Galvão
Quando o búfalo veio na minha direção, desmaiei de medo. Quando acordei, vi o focinho dele bem na minha frente. Com muito medo, não conseguia nem me mexer.
Depois de um tempo, ele saiu. Sem perceber que ele ainda estava ali, me levantei. Foi quando me deparei com o animal bufando para mim, com um olhar sanguinário.
Com muito medo, comecei a correr, a correr, a correr. Sem perceber para onde eu estava correndo, tropecei em um pedaço de galho que estava no chão. Ao cair, pedi a Deus que me salvasse da fúria daquele animal. Assim, o inesperado aconteceu.
O búfalo começou a me lamber, como se fosse um cachorro. Eu, sem entender nada, aceitei o carinho dele, pois era melhor que levar uma chifrada.
Com muita calma, me levantei e saí de perto dele. Mas, o perigo não havia acabado, tinha um leão vindo na minha direção. Desmaiei de novo.
Quando eu acordei, vi que estava a salvo, deitado na minha cama e foi aí que eu percebi que tudo tinha sido apenas um sonho!
A mulher e o búfalo
Enny Vitória M. Santos
Uma mulher carente e sensível, foi ao zoológico para dar vazão a uma frustração que estava sentindo, já que era vítima de um “crime” cometido por um homem. Ele não a amava.
Ali, naquele ambiente, na tentativa de aprender a alimentar o seu ódio, acabou conseguindo o oposto, pois todos os animais inspiravam amabilidade. Menos o búfalo, que foi o único a dar as costas para ela, momento no qual ela teve uma mistura de sentimentos.
O animal, passou a ser para ela um estranho familiar. Ela começou a desejá-lo, pois trazia uma simbologia masculina. No entanto, ele continuava a não ligar para ela. Foi quando ela resolveu chegar mais perto e levou um coice do búfalo. Por isso, ela caiu no chão e teve que ir para o hospital.
Desacordada, em situação de risco, os médicos não sabiam o que estava acontecendo. Mas, logo que despertou, contou o que havia ocorrido. Por conta disso, os médicos acharam que ela estava com alguma confusão mental, pois no zoológico onde ela fora encontrada desmaiada não havia nenhuma espécie de búfalo.
Ela continuou internada por meses.
Passado algum tempo, ela descobriu que seu ex-marido havia morrido um dia antes do estranho fato acontecer.
À procura do ódio, ao encontro do amor
Gabriel Pinheiro do Nascimento
Quando eu acordei, não me lembrava de muita coisa. Não sabia meu nome e nem o porquê de estar ali. Estava tonta, com a cabeça dolorida, quando olhei, procurando algo ao redor que me ajudasse a lembrar de alguma coisa. Só sabia que estava em busca do búfalo, do ódio que aquele animal me inspirava.
Resolvi voltar a procurá-lo.
Encontrei uma pessoa que o conhecia e ela me falou que ele morava depois das montanhas, atrás da floresta e do riacho.
Chegando na floresta, veio um velho bode na minha direção e me disse para tomar cuidado, que era melhor eu ir embora. Mas não fui.
Avistei o riacho e ao pé da montanha estava lá o búfalo. Com pressa, pulei na água e comecei a nadar. No entanto, a correnteza estava muito forte. Eu nem conseguia chegar ao outro lado, nem conseguia voltar para a margem. Eu estava quase me afogando. Nesse momento, o búfalo me puxou para fora da água.
Depois de ter me recuperado, perguntei a ele qual era o meu nome e por que eu buscava o ódio através dele.
Ele, docilmente me respondeu que meu nome era Bela e que, na verdade, o que eu estava procurando era o amor. Ali, eu acabava de o encontrar.
O búfalo enfeitiçado
Giully Anne Rosa Fernandes
Era primavera. Os leões estavam em suas jaulas. Rebeca andava pelo Zoológico olhando aqueles bichos bonitos. Mas ela estava com tanta raiva, naquele dia. Até de olhar para os macacos lhe deu raiva. Ela mirou bem no fundo dos olhos daqueles macacos que só estavam ali comendo e pensou “eu odeio vocês”.
Os macacos e nenhum dos outros animais a entendiam. Ela respirava ódio e rancor, mas o que precisava mesmo era só de um amor para esquecer a mágoa de quem simplesmente a abandonara sem deixar rastro.
Em seguida, ela resolveu ir ao parque de diversões que havia dentro do zoológico e andar na roda gigante. Vendo ali todos aqueles casais juntos e ela sozinha, parecendo que estava em uma igreja, piorou ainda mais a situação.
Mas, lá de cima, Rebeca avistou um animal que nunca tinha visto antes. Era um búfalo que lhe chamara muito a atenção. Contudo, o que ela jamais poderia imaginar é que aquele búfalo, na verdade, era o seu marido. Ele não a havia abandonado.
Rebeca desceu do brinquedo enjoada e tonta. Além da altura, ela também não se alimentava havia dias. No entanto, foi em direção ao animal. No momento em que ela estava quase chegando, fraquejou e por pouco não caiu. Mesmo assim, sem querer, o búfalo se chocou com ela que se desmoronou no chão.
O animal ficou muito preocupado se a havia matado com todo aquele peso. Mas ela não estava morta. Abriu os olhos, viu o céu lindo e o búfalo. Nessa hora, ela não sabia mais se era o búfalo ou o seu marido.
Com um beijo de amor, o feitiço se desfez. O búfalo voltou a ser humano e eles viveram felizes para sempre.
Ódio de amar
Guilherme Vieira Aires
Na intenção de matar algum animal, a mulher foi até o Jardim Zoológico. Caminhava com um corpo sem postura e sem nenhum brilho no olhar. Ela estava cega de ódio por conta de um amor não correspondido. Ali, só buscava um jeito de aliviar seu ódio e sua dor.
Desse modo, caminhava como se não tivesse rumo para ir, nem lugar para voltar. Olhava alguns animais, mas não conseguia matá-los. Como poderia matar animais com semblantes tão humildes e alegres?!
Mas, acabou se deparando com o território de um búfalo. Um búfalo negro, que não lhe dava a mínima atenção.
Ao se aproximar mais, devido a uma espécie de tontura, ela bateu com a cabeça na grade e apoiou-se para não cair. Foi quando o animal, escutando o barulho, começou a se aproximar.
A cada passo que ele dava, ficava aparentemente maior. Ao chegar bem perto da mulher, o búfalo a encarou com um olhar de ódio, o mesmo olhar que ela tinha.
Como seus planos eram ir até ali e matar algum animal, ao ser “correspondida” pelo búfalo, pegou a arma que estava na bolsa e mirou no búfalo, que não mexeu nenhum músculo. Mais alguém na vida a ignorava.
Em prantos, pegou a arma e mirou contra si mesma. Tentou dar fim a todo aquele sofrimento, mas a arma, felizmente, não disparou.
Eu perdoo
Gustavo Coutinho de Jesus
Querido diário,
Ontem recebi uma péssima notícia. Meu grande amor é só meu, ele não sente nada por mim. É um amor não correspondido. Isso me deixou muito triste. Eu gosto tanto dele e ele não dá a mínima para mim. Fora a traição que descobri...
Hoje mesmo, fui ao Zoológico para ver se eu me animava e ficava melhor depois dessa enorme decepção. Lá, eu me alegrei bastante. Vi vários animais, como leão, cobra, tigre e muito mais. Mas o que mais me deixou pensativa foi o búfalo.
Como posso me identificar tanto com aquele animal? Mesmo trancado ali, tinha um semblante dócil. Eu também. Mesmo com o coração machucado por uma traição não consigo ter ou sentir ódio.
O búfalo também não. Além de enjaulado e machucado por uma briga com outro animal da mesma espécie, ele não conseguia demonstrar ódio por ninguém.
Fiquei muito pensativa sobre tudo o que aconteceu comigo.
Espero que algum dia, ele me ame de volta. E sim, se ele quiser, eu o perdoo pela traição.
B.
Em busca do ódio
Júlia Martins Barros
Eles eram apenas crianças quando se conheceram e desde sempre ela nunca ficava brava ou se magoava com ele. Por isso, ele se aproveitava e fazia dela o que queria.
Na vida adulta, para continuar tendo esse “controle” sobre ela, passaram a ter uma relação amorosa. No entanto, da parte dele, de amorosa não tinha nada. Era um relacionamento abusivo e cheio de traições que ela sempre perdoava por não conseguir deixar de amá-lo.
– Por que não consigo odiá-lo? – Ela se perguntava.
Ele, por outro lado, parecia odiar tudo e todos, principalmente animais inocentes.
Após a terceira traição, ela decidiu que dessa vez seria diferente. Foi ao zoológico tentar aprender a odiar, pois segundo ele, os animais expressavam ódio pelos olhos.
Ela não queria perdoá-lo outra vez e pensava que só poderia fazer isso quando o odiasse, assim como ele odiava os animais.
No entanto, não se achava ódio em seu coração. Fraca, cansada e faminta por ódio e morte, ela andou por todas as jaulas. Apesar de estar livre, se sentia tão enjaulada quanto aqueles puros animais.
Ao encarar o búfalo, observava nele certa indiferença ao olhá-la de volta, assim como percebia aquela indiferença naquele a quem amava.
Quanto mais o fitava, mais podia sentir algo se espalhando dentro de si, algo que nunca havia sentido antes.
Antes de poder entender de verdade o que havia sentido, caiu no chão inconsciente.
– Está tudo bem? Moça?
Ainda inconsciente, foi leva à enfermaria do zoológico por um dos funcionários. Depois de meia hora (e um pouco de soro) ela acordou. Assim como a última coisa que tinha visto eram os olhos de um búfalo, a primeira coisa que viu quando acordou foram olhos. Mas não eram iguais aos do búfalo, não. Eram inocentes como o da girafa, bondosos como os do elefante e pacientes como os do camelo.
– A senhorita acordou?
– Onde estou? – Perguntou ainda um pouco tonta.
– Na enfermaria do Jardim Zoológico. Meu nome é Caio, muito prazer. Não se levante ainda, a senhorita desmaiou e bateu a cabeça com certa intensidade.
– Ah, é claro, meu nome é Mariana. Obrigada! – Respondeu pegando o copo de água da mão de Caio.
– Vi que a senhora observava muito atentamente o nosso búfalo. No que pensava?
– Estava tentando achar ódio em meu íntimo.
– Alcançou seu objetivo?
– Acho que quase. Desmaiei logo em seguida.
– E por que a senhorita iria querer ter ódio em seu coração? Me parece uma pessoa muito amorosa.
– Não posso mais perdoar quem me rejeita.
– Mas ódio não resolveria seus problemas.
– Como assim? – Ela não entendia como poderia haver outra solução.
– Ao que me parece, a senhorita gastou o seu amor tentando conquistar outra pessoa e esqueceu de deixar um pouco para si mesma. Assim, como poderia não perdoar quem lhe machuca?
Um pouco atordoada, percebeu que ele tinha razão. Havia passado a vida toda amando quem não a merecia. Após recuperar as forças, ela saiu dali um pouco mais decidida e passou a tentar controlar quanto amor se permitia dar aos outros.
Não foi fácil, mas conseguiu se livrar do búfalo que a enjaulava. Pôde encontrar amor em outros olhos e pôde entender como é ser amada de verdade.
Consequências
Kaue Martins de Bastos
Uma frase que vou levar para minha vida é “a vida cobra” ou “tudo o que se planta, se colhe”. Sentir isso na pele dói.
Na faculdade, nunca fui uma das melhores, mas também não fui uma das piores alunas. Contudo, até certo tempo, colhi boas notas na medida do possível. Já não posso dizer o mesmo da minha vida pessoal.
Tudo foi mudando quando conheci um garoto muito especial no início deste ano na faculdade. Foi um dos meus primeiros namorados desde o colegial, já que nesta fase a maturidade está mais acentuada na mente e que, por consequência, acabamos dando mais valor até nas ilusões.
A minha vida parecia estar perfeita: boas notas, vida estável, um amor. Contudo, essa “vida dos sonhos” pode acontecer apenas nos filmes de romance e ficção. A vida real mesmo machuca e é injusta.
Voltando ao caso. Esse meu namorado era perfeito, por isso me entreguei de corpo e alma e criei muitas ilusões. Mas, com o tempo, tudo foi mudando, chegando ao ponto dele me ignorar completamente até na frente de todo mundo no corredor.
A angústia e as perguntas frequentes sobre o nosso relacionamento me matavam aos poucos, até que o que já era esperado aconteceu.
Com desculpas e argumentos, algo que me fazia tão bem, simplesmente foi embora, deixando um rasgo em meu peito e uma ferida que não cicatrizava. A sua partida deixou uma angústia, que evoluiu para uma ansiedade. Eu estava destruída. Mas eu não desisti. Eu precisava sentir todo aquele amor de novo.
Já no meio do ano, eu, me cicatrizando ainda, conheci, por acaso, alguém que demonstrava algo que eu não tinha. Aquele jeito ingênuo dele me chamava a atenção e além de tudo, era fofo.
Em quatro dias, o primeiro beijo; em um mês, o pedido de namoro. Era perfeito. Finalmente eu estava feliz de novo, mas o que eu não percebi é que, mais uma vez, eu estava cega. Na verdade, eu não havia esquecido aquele que me abandonou.
Eu sentia falta de algo, quando eu tinha tudo. Tinha uma pessoa legal, boas notas. O que faltava?
Ver o meu ex com outra pessoa me incomodava, mesmo eu tentando negar com todas as forças. Eu não sabia o que estava acontecendo.
E o meu namorado? Me dava tudo, carinho, atenção e eu presa a um sentimento inútil. Mesmo sem dar o valor que ele merecia, ele continuava ao meu lado. Eu estava jogando no lixo o que era real.
Como eu não conseguia retribuir todo aquele amor, eu me afastei, sabendo que o machucaria também.
As consequências vieram como balas atiradas em um alvo frágil como o vidro. Porém, a realidade só me acordou quando já era tarde demais. A mesma história se repetia.
Louca, querendo consertar meus erros, fui tentando me reconciliar com meu namorado “atual”, mas ele tinha amor próprio (o que eu não tinha). Corri para o meu ex, pedindo que ele voltasse, que me perdoasse...
A dor de tudo que estava acontecendo era por culpa minha e isso me fazia soluçar entre tantas lágrimas. Eu não sabia amar.
Eu plantei, eu colhi da maneira mais dolorosa possível. Um único sentimento é capaz de nos levar a fazer coisas que nem percebemos.
Com esse turbilhão de sentimentos, eu não sabia mais sequer quem eu era. Minhas notas caíram, eu não comia mais.
Para tentar aliviar a cabeça, resolvi ir até o zoológico. De tantos animais, um me chamou tanto a atenção. Consegui até me distrair um pouco vendo aquele búfalo, mas logo meus pensamentos retornaram.
Ainda continuo perdida, sem rumo. Meu drama parece não ter solução.
É preciso superar
Laura Yasmim dos Santos Oliveira
Tudo começou dia 17 de outubro.
Quando descobri, fiquei em choque, por mais que isto já tivesse acontecido outras vezes. Errei. Errei quando confiei, mais uma vez nele. Falta de aviso das minhas amigas não foi. Mas eu, boba e apaixonada, insisti em acreditar.
Meu mundo desabou.
No dia seguinte, acordei disposta a sair para me distrair. Fui até o zoológico. Chegando lá, comecei a observar alguns animais, mas teve um que me chamou muito a atenção: o búfalo. Quando me deparei com aquele animal, era a mesma coisa de estar olhando no espelho.
Solitário, cabisbaixo, chifres enroscados... fiquei até com um certo ódio de ter me identificado tanto com aquele bicho. Mas, por um lado, fiquei até aliviada ao saber que eu não era a única a estar com aquela tristeza toda.
Eu torço para que eu possa me recuperar logo e superar tudo o que está acontecendo.
O diário
Lavínia Gabrielly Martins Ribeiro
Querido diário,
Hoje vou contar o que está acontecendo comigo.
Ontem eu descobri que a pessoa que achava que era o amor da minha vida, me traiu. Confesso que fiquei muito mal e não queria nem comer, só sabia chorar, tanto que dormi chorando.
Só que hoje acordei decidida a sair para esvaziar a mente. Fui ao zoológico, passei por vários animais, porém o que eu gostei de verdade foi o búfalo.
O animal ali, parado, todo solitário. Senti uma conexão tão forte com ele que comecei a desabafar. Dá para acreditar que isso me deu um alívio? Será que é normal? É tanta coisa que se passa pela minha cabeça...
Espero realmente que eu possa me recuperar o mais rápido possível para poder seguir minha vida normalmente.
Depois eu volto para falar como estou.
Beijos,
L. G. M. R.
A real verdade
Luiz Felliphe Alves de Matos
Eu sou Laís e estes dias foram muito tristes para mim, pois terminei um relacionamento de muitos anos. Na verdade, ele terminou comigo. Não consegui entender o motivo, pois erámos muito apaixonados desde a adolescência.
Será que ele se cansou se mim? Não, não pode ser. Ele sempre foi carinhoso, cuidadoso comigo. O que será que se passou pela sua cabeça para ter tomado tal decisão? Será que se apaixonou por outra? Será ela loira, morena ou ruiva? Pensando bem, ele não gosta de ruivas.
Ele tem muitas amigas morenas, mas todas elas namoram. Ele só pode é estar brincando comigo, querendo me fazer uma surpresa. Eu acho que ele quer é me pedir em casamento de novo, já que da primeira vez não deu certo. Mas, não seria muito “clichê”?
Não, ele não deixou de me amar. Depois de tantos anos ele deve é ter se cansado de mim, das minhas chatices, meus surtos, minha falta de paciência. Definitivamente, eu não consigo entender.
Nossa... Fixada no porta-retratos, olhando para nós dois, no dia em que tiramos uma foto tão engraçada perto de um enorme búfalo, minha cabeça quase fundiu de tantos pensamentos. Pensei tanto que até me cansei.
De repente, alguém bateu na porta. Por Deus, era ele! Ele havia voltado. Eu sabia que voltaria. No entanto, ele disse um “oi”, entrou sem sequer me tocar e pediu para pegar o resto de suas coisas.
Eu não aguentei, tive que perguntar, por que ele havia me deixado? Ele simplesmente disse que percebeu que era hora de seguir sozinho.
Se é verdade, eu até consigo aceitar, mas se tivesse outra, a coisa seria diferente. Essa verdade pode até ser confortável, mas eu ainda espero que ele volte.
O coma
M. F. de S.
Após sua morte, estes escritos foram encontrados em um papel velho, amarrotado e com uma letra trêmula, em meio aos seus pertences.
18/03/2019
Logo após eu acordar, percebi que estava em um hospital, cheia de fios e recebendo medicamento. Acordei com uma pessoa ao meu lado, chorando por mim, pois me deram como morta. Me disseram que eu tive uma “parada” cerebral e perdi quase todas minhas memórias.
09/04/2019
Ainda não consigo me lembrar de quase nada. Tenho só umas “faíscas” de memórias que vêm e desaparecem. Eu só consigo me lembrar do meu nome e do nome dos meus pais. Ah, me lembrei também que tenho um filho e um marido. Eles são incríveis, são minha família.
05/07/2020
Mais de um ano se passou. Continuo neste hospital. Minha memória agora vem e volta, não como flashes, mas se mantem um pouco mais. Isso parece bom, mas na verdade, é muito ruim. Estou me lembrando das atrocidades que fizeram comigo, do mal que me fizeram.
10/10/2020
Como pode? Descobri algo horrível... escrevo para tentar não esquecer. Meu filho não era meu filho, era filho do meu marido e eu o matei naquele acidente de carro, quando um búfalo entrou na frente do veículo. Foi naquele acidente que eu perdi a memória.
23/12/2020
Que ódio daquele homem. Aquele imundo nunca me mereceu. Estou aqui há três anos, e ele veio pouquíssimas vezes aqui no hospital. Ele mentiu que eu estava aqui há um mês... Enquanto isso, ele está tendo um relacionamento com minha irmã e com minha amiga. Que monstro! Ele mente. Sempre mentiu. Não só ele, todos mentiram...
30/12/2020
Juro que não quero mais viver. Não há felicidade possível para mim nesta vida. Nunca teve. O zoológico... foi lá que eu descobri o quanto eu odiava aquele homem. Peguei o carro com “nosso” filho e saí descontrolada. O meu filho morreu. Meu filho sim, de coração. E foi por minha culpa. Meu marido sempre foi um lixo, sempre me maltratou, nos espancava.
Na verdade, ele armou toda aquela emboscada porque queria nos matar. A mim ele não conseguiu, mas ao sabotar os freios do carro, o acidente aconteceu e nosso menino morreu.
Eu descobri tudo. Ele está preso. O desejo dele se cumprirá, eu morrerei como ele desejava, afinal, não existe felicidade para uma mulher traída, não existe felicidade para quem perdeu um filho, não existe mais possibilidade de vida para mim.
Uma mulher nunca merece ser traída.
[...]
No dia 1º de janeiro de 2021, a senhora Clarice Leonor Braga veio a óbito. O laudo médico acusou edema cerebral grave após uma queda que ela teve no Jardim Zoológico. A mulher fora encontrada próxima a área do búfalo, desacordada, mas sem sinais de violência. Ela ficara por três anos em coma, sem receber sequer uma visita. Sua única companhia, após o despertar, eram uns papeis em que ela escrevia algumas coisas quando conseguia.
Aceitação
Nicollas Oliveira Santos
Após ter desmaiado na área do búfalo, no zoológico, a mulher acordou já dentro da enfermaria do local. Confusa, avistou um médico chegando que lhe perguntou se ela estaria melhor e como se sentia.
– Me sinto bem, obrigada. Mas, onde estou? – Perguntou a mulher.
– Na enfermaria do zoológico. A senhora acabou desmaiando por fraqueza e um funcionário lhe trouxe para cá – respondeu o médico.
Depois de ter entendido o que havia acontecido, a mulher descansou um pouco e depois de um tempo foi liberada, podendo voltar para casa.
No caminho de volta, ela acabou se lembrando da raiva e do ódio que estava sentindo por causa do rompimento do seu relacionamento e percebeu que nunca havia sido verdadeiro. Então, não fazia sentido continuar com aquela raiva de alguém que nunca havia lhe dado o amor que merecia.
Assim, ela acabou por fazer um propósito consigo mesma, de começar uma nova vida e esquecer o passado e seu antigo namorado. Estava decidida a seguir uma vida normal dali pela frente e só se permitir amar de novo o dia que encontrar alguém que também a ame de verdade.
Tentativa de odiar
Pedro Coelho de Souza Neto
Era primavera. O leão estava ali a lamber a testa da leoa. Parada, olhando para aqueles animais, estava uma mulher na tentativa de sentir ódio, ação, a qual, se decepcionou por não conseguir.
Resolveu caminhar e observar aqueles animais todos. A girafa lhe chamou a atenção, mas era tão dócil, com aquele pescoço tão comprido. Procurou outros animais, até que encontrou o búfalo. Ele sim, parecia nem ligar para a existência de ninguém, prepotente ali no seu espaço.
Apesar de parecer absurdo, ela começou a conversar com o búfalo, mas ele nem sequer olhou para ela. Então, pegou uma pedra e jogou nele. Só aí ele se virou. Com aquele olhar penetrante, ela se assustou com o tamanho do bicho, com a intensidade da sua pele escura e seus grandes chifres enrolados. Assim, se sentou ali no chão mesmo e voltou a falar, como se o búfalo a entendesse.
Depois de um tempo, ela adormeceu escorada na grade. Acordou com o enorme búfalo, do outro lado, também escorado na grade a lambendo. Vendo toda aquela docilidade, ela parou para pensar que não deveria tentar odiar, mas sim amar as pessoas certas.
Desse modo, ela foi correndo para casa, decidida a levar uma nova vida, dando a si a oportunidade de não ficar presa a ninguém para se sentir feliz e de conhecer coisas novas no seu cotidiano.
Ela nunca se esqueceu daquele búfalo, que nada lhe disse (também, não poderia), mas que mudou completamente o seu jeito de viver a vida, aproveitando cada instante como se fosse o único.
9. Texto mantido no formato desenhado pela aluna-autora.
10. O aluno escreveu o texto em um papel envelhecido por ele, como se fosse um manuscrito antigo contendo o relato.