Ivanilde Duarte Alves
ivanildeduarte@discente.ufg.br

Luclécia Dias Nunes
luclecia_dias_nunes@ufg.br

EIXO
Ensino Superior

A Formação de Professores de Química no Estado De Goiás e as Questões Ambientais Relacionadas à Radioatividade

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Resumo: Vários foram os acidentes envolvendo fontes de origem radioativas, em diferentes partes do mundo. Dentre eles, destaca-se o acidente radiológico ocorrido em Goiânia com uma fonte de Césio-137, material radioativo que pode causar poluição ambiental de grande impacto. Logo, para compreender de que forma as questões ambientais relacionadas à radioatividade são abordadas nos cursos de licenciatura em Química no estado de Goiás, seus impactos na formação de professores e na formação dos alunos da educação básica, efetuou-se uma pesquisa qualitativa do tipo Análise Documental. Foram analisados 18 PPCs dos cursos de Licenciatura em Química das IES do Estado de Goiás, além de documentos balizadores: BNCC e PCN+ (2006). A análise dos 18 PPCs mostrou que 17 possuem disciplinas de Química Ambiental/Educação Ambiental, no entanto, apenas dois destes apresentam a temática radioatividade na ementa. Dessa forma, a maioria dos PPCs não estão alinhados com a BNCC e com os PCN+ (2006).

Palavras-chave: Educação Ambiental. Radioatividade. Formação de Professores.

1. Introdução

Em diferentes partes do mundo vários foram os acidentes envolvendo fontes de origem radioativas. Entre estes, o que ocorreu na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986; o acidente radiológico ocorrido em Goiânia em 1987; e o ocorrido em 2011, no Japão, acometendo a usina de Fukushima, foram os de maior impacto da história (OKUNO; 1988, 2007, 2018).

Destes, o acidente com Césio-137 em Goiânia, se sobressai, sendo considerado o maior desastre radiológico da história. Sobreveio em setembro de 1987, quando dois catadores de material reciclável encontraram um aparelho radioterápico abandonado em uma clínica desativada e o levaram para a casa de um deles, lá romperam o invólucro de chumbo e perfuraram a placa de lítio liberando partículas radioativas para o meio ambiente. Com o objetivo de conseguir dinheiro, venderam o material para o Devair, dono de um ferro velho. Certo dia, ele percebeu que a cápsula emitia luz azul, ficou deslumbrado com tamanha beleza, e a levou para casa, pouco tempo depois, distribuiu o pó a seus vizinhos e parentes (OKUNO, 2013; VIERA, 2013).

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Em questão de alguns dias a substância se transformou em uma terrível fonte de contaminação de tudo a sua volta, inclusive o meio ambiente (OKUNO, 2013; VIERA, 2013). Ao todo foram geradas 6.000 toneladas de rejeitos radioativos, que levarão aproximadamente 300 anos para que a atividade do radioisótopo Césio-137 reduza a nível considerado inócuo (SCHUMANN; BERWIG, 2019). Os possíveis impactos no meio ambiente decorrente de contaminação radioativa, contaminando solo, plantas e recursos hídricos, inserindo-se na cadeia alimentar e trazendo riscos à vida dos seres vivos, devem ser levados a sério, visto que, trata-se de materiais perigosos e, que são silenciosos. Dessa forma, trata-se de um assunto de suma importância na formação de docentes das áreas de ciências (OKUNO; 1988).

Segundo Silva e Rink (2021) os docentes serão os facilitadores e intermediadores da construção de conhecimento e releitura dos aspectos dos saberes cotidianos dos estudantes desafiando e estimulando-os a desenvolverem a forma de pensarem. Portanto, entender e saber trabalhar a relação entre seres humanos e o meio ambiente é algo de extrema relevância para os professores, assim, lhes possibilitarão realizar uma profunda contribuição enquanto formador de cidadãos. Para Ferreira, Deimlin e Deimlin (2019), é importante tratar os conceitos sociais, econômicos e políticos do assunto radioatividade, todavia, faz-se necessário a contextualização com o cotidiano do aluno e mostra-lhes o valor deste tema.

Portanto, fica evidente a importância de trabalhar o tema radioatividade dentro da temática ambiental. Logo, este estudo busca compreender se, e de que forma, as questões ambientais relacionadas à temática radioatividade está sendo abordada nos cursos de licenciatura em Química no estado de Goiás, assim como os impactos dessa abordagem na formação de professores e possíveis consequências à formação dos alunos da educação básica.

Para isso, buscou-se por meio da análise dos PPCs identificar se as disciplinas Química Ambiental e/ou Educação Ambiental dos cursos de Licenciatura em Química em Goiás abordam a contaminação do meio ambiente por radioisótopos, de que forma essa abordagem é feita e a sua importância para a formação de professores de Química.

2. Metodologia

O trabalho consiste de uma pesquisa qualitativa do tipo Análise Documental, que é uma técnica de análise de dados qualitativos importantes, contribui tanto com informações levantadas por outras técnicas quanto apresentando novas formas de um tema ou problema (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Os documentos analisados foram os 18 PPCs dos cursos de Licenciatura em Química das Instituições de Ensino Superior (IES) do Estado de Goiás além de documentos balizadores: Base Nacional Comum Curricular (BNCC), PCN+ (2006), os quais foram adquiridos em meio eletrônico. Esses materiais forneceram uma base de dados na tentativa de identificar a presença ou não das questões ambientais relacionadas ao Césio-137 e outros radioisótopos nas disciplinas de Educação Ambiental ou Química Ambiental destas IES que oferecem o curso de licenciatura em Química.

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3. Resultados e Discussão

A análise dos 18 PPCs das IES do estado de Goiás, mostrou que 17 possuem disciplinas de Química Ambiental/Educação Ambiental, no entanto apenas duas apresentam nas suas ementas a temática radioatividade, cuja abordagem se limita a resíduos radioativos, isso mostra que 88,9% dos PPCs não estão alinhados com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com os PCN+(2006). Esses documentos oficiais versam a importância dessa temática e de sua abordagem dentro das disciplinas de ambiental, no entanto, o que se observa ao analisar os PPCs é de um conteúdo sem muita relevância socioambiental, e isso mostra um cenário bastante preocupante.

Em razão de ser um dos temas balizadores nos PCN+, esperava-se que o ensino de radioatividade em nível de graduação fosse mais abordado e houvesse um número maior de contribuição científica, por exemplo, na publicação de artigos (SILVA; CAMPOS; ALMEIDA, 2013). Pois, documentos oficiais trazem a temática e seu valor para o ensino de ciência, contudo, na prática o conteúdo perdeu relevância social e ambiental, e quando abordado, não passa de uma mera disposição de conceitos e fórmulas.

Segundo Silva, Campos e Almeida (2013, pg. 56) “entende-se que os futuros professores, antes mesmo de ensinarem esse conteúdo, devem entrar em contato com diferentes possibilidades de abordar esse tema em sua formação inicial”. Para eles, a baixa produção científica em relação ao ensino de radioatividade na formação superior, principalmente nos periódicos nacionais é crítico, pois, o pouco interesse em pesquisa que se ocupe com a forma de trabalhar esse conteúdo para exercício profissional contribui com déficit de reflexão sobre a importância desse conteúdo. Adams, Rodrigues e Nunes (2021, p. 71) defendem que,

para que os professores possam trabalhar em sua prática pedagógica com a Educação Ambiental e a relação do ser humano com a natureza precisam de uma formação docente adequada, que permita/possibilite que vivenciem situações em que possam ser futuramente comprometidos com a discussão de problemas ambientais e possíveis enfrentamentos/ações para eles.
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Diante disso, observa-se a relevância de estabelecer relações que contemple, por exemplo o conhecimento de resíduos radioativos dentro da química, principalmente no contexto social local, engajar e suscitar os graduandos a desenvolverem a faculdade do conhecimento contextualizado versando pela práxis, assegurando assim, a formação profissional para o exercício da cidadania e profissional.

4. Considerações Finais

O cenário é preocupante, pois, ao não abordarem a temática radioatividade nas disciplinas de ambientais, cria-se uma lacuna formativa nos professores de química formados pelas IES do estado de Goiás, o que reverberará na sua atuação docente.

5. Referências

ADAMS, Fernando Welter; RODRIGUES, Hygor de Almeida; NUNES, Simara Maria Tavares. A Educação Ambiente na Formação de professores de Química: Uma Análise Documental da Inserção da Temática. Iluminart, São Paulo, v. 1, n. 19, p. 61-73, dez 2021.

BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). PCN + Ensino médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2006 Brasília: 2006.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Base Nacional Comum Curricular – Ensino Médio. Brasília, 2018.

FERREIRA, Rafael Rocha; DEIMLING, Natália Neves Macedo; DEIMLING, César Vanderlei. A RADIOATIVIDADE NO ENSINO MÉDIO NA PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: O ENSINO DE QUÍMICA EM FOCO.

2019. 99 f. Monografia (Especialização) - Curso de Licenciatura em Química, Química, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campo Mourão, 2019.

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LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Métodos de coleta de dados: observação, entrevista e análise documental. In: LÜDKE, Menga; ANDRE, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Epu, 1986. Cap. 3. p. 25-44.

OKUNO, Emico. Radiação: efeitos, riscos e benefícios. São Paulo: HARBRA, 1988. 81p.

OKUNO, Emico. Radiação: efeitos, riscos e benefícios. São Paulo: HARBRA, 2007. 69p.

OKUNO, Emico. Efeitos biológicos das radiações ionizantes: acidente radiológico de Goiânia. Estudos Avançados, São Paulo, v. 27, n. 77, p. 185-200, 2013.

OKUNO, Emico. Radiação: efeitos, riscos e benefícios. São Paulo: Oficina de Textos, 2018. 144 p.

SCHUMANN, Berta; BERWIG, Juliane Altmann. CÉSIO-137 O desastre radiológico do césio 137: lições após 30 anos da sua ocorrência. DES – Direito Estado e Sociedade, Rio de Janeiro, p. 62-86, 18 jul. 2019.

SILVA, Flávia Cristiane Vieira da; CAMPOS, Ângela Fernandes; ALMEIDA, Maria Ângela Vasconcelos de. Alguns aspectos do ensino e aprendizagem de radioatividade em periódicos nacionais e internacionais. Amazônia: Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, PARÁ, v. 10, n. 19, p. 46, 31 dez. 2013.

SILVA, Marcelo Bueno da; RINK, Juliana. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM QUÍMICA A PARTIR DE UM PROJETO INTERDISCIPLINAR SOBRE RESÍDUOS SÓLIDOS. 2021. 81 f. Dissertação

Notas

1. Graduando, Instituto de Química, Universidade Federal de Goiás

2. Doutora, Departamento de Química, Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação-CEPAE, Universidade Federal de Goiás