Residência no Centro de Ensino em Período Integral Carlos Alberto de Deus, Eletiva “Aprendendo a Viver na Cidade”: por uma perspectiva geográfica
95Resumo: Esta pesquisa foi realizada por residentes pedagógicos de Geografia da Universidade Federal de Goiás na escola-campo do Centro de Ensino em Tempo Integral Carlos Alberto de Deus (Goiânia, Goiás) que tem como objetivo analisar em uma perspectiva geográfica a Eletiva “Aprendendo a Viver na Cidade” ofertada no primeiro semestre do ano letivo de 2023. Para isso, foi analisado o material de apoio disponibilizado com a temática: Aprendendo a Viver na Cidade; assim como, foi feita uma entrevista com o professor que ministrou a eletiva. As eletivas compõem um dos itinerários formativos que integram a carga horária do Novo Ensino Médio, o seu objetivo é abordar os conteúdos ou temas de forma menos “engessada”. Para isso, é oferecido inúmeros cursos para determinados componentes curriculares, a exemplo da eletiva em questão foi ofertada a todos os professores da área de ciências humanas e sociais aplicadas. Não há qualquer auxílio que ajude o docente a se capacitar para criar novas metodologias para ensinar e muito menos um material de apoio que ajude na aprendizagem. A Eletiva Aprendendo a Viver na Cidade é um curso pensado para falar da história da urbanização da população mundial, criado pela BEI Educação, seu material didático/de apoio foi escrito por arquitetos urbanistas. Por causa da forte veia urbanista da obra e da pouca quantidade de livros disponíveis para os alunos, a sua utilização em sala de aula foi descartada. Ainda que seja um livro didático e tratado como tal, este não passou pelo crivo rigoroso do Programa Nacional do Livro Didático como os demais materiais didáticos escolares. Ainda que a cidade seja um tema identificado com a Geografia, sua abordagem geográfica é que o faz ser um conteúdo geográfico. Sendo assim, a Eletiva Aprendendo a Viver na Cidade não agrega ao imaginário da vivência goianiense dos alunos, tão pouco os instigam para um olhar urbano relativo algum conhecimento de alguma disciplina, visto que o curso não apresenta embasamento teórico-pedagógico para movimentar os temas rumo ao aprendizado de como vivenciar socialmente a cidade de Goiânia.
Palavras-chave: Eletiva. Cidade. Ensino de Geografia.
1. Introdução
O ponto inicial desta pesquisa nasce com algumas dúvidas: o que é eletiva? Como nascem as eletivas? Quais professores podem ministrá-la? Essas dúvidas se deram porque, nós como licenciandos, não a vimos na nossa formação, apenas enquanto residentes. Com isso, nos questionamos: nossos colegas de graduação/docência tiveram esse contato mesmo que inicial? Essas indagações nortearam nossas buscas para conhecer mais sobre esse novo elemento dentro da reforma do Novo Ensino Médio.
Como geógrafos treinados para sempre questionar a Geografia de um determinado conteúdo, ao nos depararmos com o material de apoio (livro didático) da eletiva de cidades, Centro de Ensino em Período Integral Carlos Alberto de Deus, as referências dos autores e a própria formação deles deixou claro a abordagem não-geográfica.
96A Eletiva “Aprendendo a Viver na Cidade” foi idealizada pelo arquiteto Vinicius Andrade e a arquiteta Beatriz Vanzolini, primeiramente como um curso e, posteriormente, adaptada como tal (CAU, 2019). Além do material didático, que será analisado posteriormente, fornecido para a sua realização, o curso ainda oferece dez raps de, no máximo, 2 minutos cada, intitulados: o que é a cidade; cidade informal; espaço público; densidade e uso misto; nós, eles e outros; planejamento; moradia e mobilidade; saneamento; cidade global e; o triunfo da cidade. Ainda que os autores sejam arquitetos e urbanistas e conheçam conceitualmente a relação urbana, o conhecimento pedagógico do conteúdo é fundamental para a relação de ensino e aprendizagem (Shulman, 2014). Assim sendo, embora a idealização das Eletivas seja de caráter interdisciplinar, o vazio de significação pedagógica do conteúdo prejudica as finalidades que os próprios autores querem que seja “a relação com o território e promovendo o espírito crítico para a atuação cidadã” disse Andrade em entrevista à página do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR). Apesar de a cidade ser uma temática intimamente ligada à Geografia, Cavalcanti (2019, p. 164) preconiza que
Ao se delimitar um tema de estudo, provavelmente na sequência do documento curricular da escola ou do livro didático, é necessário que o professor indague sobre o que há de geográfico no referido tema, pois essa é a razão de ele estar no rol de conteúdos da disciplina. Assim, muitos temas podem não ser considerados geográficas em si mesmo, pois se trata meramente de um fato, um fenômeno, da realidade; O que os faz geográfico são os determinantes salientados nesse fato ou fenômeno em relação à realidade
A análise da autora é, evidentemente, sobre os conteúdos programáticos da disciplina, porém não há como descolar o seu apontamento da formação do professor que leciona a eletiva e sua visão de como se vive na cidade. Portanto, a análise dessa eletiva deve ser de um prisma geográfico, pois apenas assim será possível pôr luz sob a criticidade e cidadania que os autores querem.
A pesquisa objetivou-se a analisar a eletiva “Aprendendo a viver na cidade”, ofertada no CEPI Carlos Alberto de Deus em uma perspectiva geográfica. Além disso, temos o objetivo de compreender qual a função e o objetivo da eletiva, analisar o material didático e identificar se há ensino de Geografia na eletiva.
962. Metodologia
Este estudo pretende empregar uma abordagem metodológica combinando o método dialético com uma perspectiva de metodologia qualitativa. Assim pretendemos realizar uma observação participante nas aulas da disciplina eletiva foco do estudo, lecionada pelo Professor Heitor, na escola-campo, que segundo HEIDRICH, 2016 nas práticas de observação participante, os pesquisadores são vistos como trabalhadores reflexivos em relação ao processo de construção da informação. Durante este processo pretendemos realizar observações e analisar o interesse demonstrado pelos alunos em relação ao conteúdo abordado nas aulas, além de registros com detalhamento de tudo acompanhado. Para que assim, consigamos avaliar a dinâmica das aulas e a receptividade dos alunos as abordagens pedagógicas.
Além disso, também pretende-se realizar entrevistas estruturadas com o Professor Heitor, responsável pelo ensino do conteúdo. Espera-se que essas entrevistas forneçam insights valiosos sobre sua perspectiva pedagógica, estratégias de ensino e percepção do progresso dos alunos.
O grupo também pretende efetuar uma revisão bibliográfica detalhada de textos acadêmicos e documentos relevantes, incluindo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Espera-se que essa revisão bibliográfica e documental enriqueça nossa compreensão do contexto educacional e das diretrizes curriculares em vigor.
Após a coleta de todos os dados, objetiva-se organizá-los, para que facilite a análise subsequente; buscando obter uma boa compreensão dessas dinâmicas educacionais, os fatores que influenciam o interesse dos alunos, e como uma disciplina multidisciplinar é abordada por um professor de geografia, levando em consideração que grande parte de sua bagagem é geográfica, devido a sua área de formação.
3. Resultados e Discussão
Para o melhor entendimento de como a Eletiva é ministrada no Centro de Ensino em Período Integral Carlos Alberto de Deus, a metodologia da pesquisa foi feita a partir de uma entrevista com o professor responsável pela sua aplicação. Nesta entrevista foram feitas nove perguntas.
A primeira pergunta está relacionada a como essa eletiva foi escolhida. Está Eletiva é uma proposta fechada e foi aplicada em todas as escolas tanto no Ensino Médio quanto no 9º ano. No Carlos Alberto de Deus ela chegou atrasada e foi aplicada para o 1º ano, era para ser pensada em ciclos e alguns professores receberam uma formação, porém o professor responsável por ela durante esta pesquisa não recebeu essa formação.
97A segunda pergunta é sabendo que a Eletiva tem cunho multidisciplinar como a Geografia foi trazida? Segundo o professor responsável, a Geografia foi trazida de maneira superficial e não conseguiu extrapolar além da temática. Isso se deu muito pelo fato de que ele acredita que a Eletiva estava desconectada do currículo do público alvo (1º ano do Ensino Médio), sendo assim não foi possível fazer uma ponte com o currículo. Algumas temáticas que foram trabalhadas com os estudantes foram: meio ambiente, poluição, fluxo populacional, densidade demográfica, tipos de cidades, área urbana.
A terceira pergunta é relacionada com o material de apoio que está eletiva apresenta. Este material de apoio é um livro didático, porém não foi utilizado por não ter um número de exemplares para todos os estudantes. Além disso, a linguagem não era acessível.
A quarta pergunta é relacionada a como a eletiva auxilia a entender a dinâmica da cidade. A eletiva auxilia a partir de um olhar técnico da cidade, trabalha conceitos e pontos problematizados como a desigualdade espacial, segregação espacial, problemas ambientais tipicamente urbanos, porém é muito superficial. A eletiva traz uma visão de que as cidades são um espaço pensado para uma produção econômica.
A quinta pergunta é se o professor considera que está eletiva tenha alcançado o que foi proposto. Para ele em termos de formação, para ter um olhar mais apurado para a cidade considera que não.
A sexta pergunta é sobre o que foi mais complicado de desenvolver durante a eletiva. Para ele foi a atenção dos estudantes, a eletiva é pensada para complementar o núcleo comum, entretanto não entra no currículo. Para trazer a atenção dos estudantes, o professor tentou trabalhar o cotidiano dos escolares e trabalhar em Goiânia.
A sétima pergunta é sobre o que o professor considera de positivo e negativo na eletiva. De positivo ele considera que a eletiva tem uma fundamentação teórica. E de negativo ele entende que a eletiva tirou fundamentação geográfica de dentro do espaço escolar.
A oitava pergunta é sobre qual é o cunho didático pedagógico da eletiva. Para o professor tem um cunho mais prático de localizar respostas dentro do texto e mobilizar operações mentais. Entretanto ainda é uma dúvida sobre o que está eletiva realmente deseja construir.
98A nona pergunta é relacionada a como essa eletiva agrega nos conhecimentos geográficos. Para o professor ela agrega a partir da contextualização da realidade deles, trazer o cotidiano e fazer com que os estudantes problematizem temáticas da cidade.
4. Considerações Finais
As disciplinas eletivas apresentam desafios substanciais na sua condução no contexto educacional, demandando uma abordagem cuidadosa e estratégica. A pesquisa proposta visa ampliar o conhecimento sobre suas características, impactos e eficácia, destacando questões críticas como a escassez de orientações específicas para os professores, a dificuldade em manter o interesse dos alunos e a necessidade de equilibrar teoria e prática no ensino. A carência de suporte aos educadores ressalta a urgência de programas de capacitação e recursos adequados, enquanto estratégias pedagógicas dinâmicas e materiais de qualidade se mostram fundamentais para um engajamento significativo dos estudantes. Diante desses desafios, é imperativo fornecer suporte contínuo aos professores, investir em diretrizes, estratégias inovadoras e materiais didáticos de excelência para fortalecer o impacto positivo das disciplinas eletivas no ambiente educacional, promovendo, assim, um ensino mais estimulante e enriquecedor para todos os envolvidos.
5. Referências
BRASIL. Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (2019). “APRENDENDO A VIVER NA CIDADE”: LIVRO PROPÕE DEBATE SOBRE URBANISMO NAS ESCOLAS. Disponível em: https://caubr.gov.br/aprendendo-a-viver-na-cidade-livro-propoe-debate-sobre-urbanismo-nas-escolas/.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
CAVALCANTI, Lana de Souza. O Desenvolvimento do Pensamento Geográfico: orientação metodológica para o ensino. In: Pensar pela Geografia: Ensino e Relevância Social. Goiânia: C & A Alfa, 2019, p. 139-180.
HEIDRICH, A. L. & PIRES, C. L. Z. (orgs.). Abordagens e práticas da pesquisa qualitativa em Geografia e saberes sobre espaço e cultura. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 15-33. DOI: 10.21826/9788563800220.
SHULMAN, Lee S. Conhecimento e ensino: fundamentos para nova reforma. Cadernos CENPEC, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 196-229, 2014.