Luana Matias Pereira Coelho

Leandro Jorge Coelho

Michel Mendes

EIXO
Programas e Projetos para formação de professores

Relato de Plano de Ação Pedagógica: desenvolvimento de composteira de resíduos sólidos orgânicos como ferramenta de educação ambiental

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Resumo: A compostagem é um método de reaproveitamento de resíduos orgânicos, transformando-o em adubo. Este processo representa uma forma alternativa de gerenciamento de resíduos orgânicos, oferecendo uma opção de baixo custo que pode ser aplicada em escolas através da educação ambiental. Esta, por sua vez, inclui a divulgação da consciência destinada à proteção ambiental. Pensando nisso, o projeto de intervenção do II Estágio do Ensino Fundamental propõe e implementa o método de compostagem doméstica dentro da escola-campo. Foi então realizada uma análise prévia de artigos com práticas bem sucedidas e posteriormente, uma palestra para os alunos sobre o tema. A partir disso, os alunos do 9º Ano do Colégio Estadual Virgílio do Vale, coletaram e montaram uma composteira doméstica. A escolha do ambiente escolar não foi apenas para apoiar as competências exigidas no currículo, mas objetivando promover benefícios ecológicos e boas práticas ambientais, e também, difundir essa ideia para a sociedade.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Compostagem. Lixo.

1. Introdução

A compostagem é uma técnica que envolve o reaproveitamento de resíduos sólidos orgânicos transformando-os em adubo orgânico, através das atividades de microrganismo. Esse método simples, que permite reduzir o desperdício, e reutilizar o lixo produzido, utilizando sobras de alimentos e podas de plantas, beneficia o meio ambiente (Costa; Silva, 2011).

A Educação Ambiental é um processo que teoricamente envolve proporcionar a compreensão crítica sobre o meio ambiente global, visando desenvolver atitudes conscientes e engajada em relação às questões relacionadas à conservação dos recursos naturais, a fim de melhorar a qualidade de vida à população (Brancallione, 2016).

A grande maioria das atividades de educação ambiental ocorre na educação básica. Os temas que geralmente predominam dentro das escolas são lixo, proteção das áreas verdes, recursos hídricos, entre outros (Jacobi, 2003). A temática do lixo configura problema permanente de saúde pública, o descarte inadequado dos resíduos sólidos urbanos gera problemas ambientais que podem prejudicar tanto a saúde humana e animal quanto o ecossistema de modo geral.

O processo de compostagem representa, portanto, uma opção para o descarte de resíduos orgânicos produzidos tanto nas instituições de ensino quanto nas residências dos estudantes. Com base na Habilidade da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) EF03GE08 descreve:

Relacionar a produção de lixo doméstico ou da escola aos problemas causados pelo consumo excessivo e construir propostas para o consumo consciente, considerando a ampliação de hábitos de redução, reúso e reciclagem/descarte de materiais consumidos em casa, na escola e/ou no entorno (Brasil, 2018, p. 375).

Desenvolver esse projeto com os alunos do 9º ano do ensino fundamental visa trabalhar o conhecimento quanto à sustentabilidade. A construção de uma composteira orgânica trata-se de um projeto interdisciplinar que aborda diversas áreas como biologia, física e química. Objetiva-se, portanto, apresentar a compostagem de resíduos orgânicos para ser utilizado como ferramenta de atividade voltada para a educação ambiental nas escolas da Educação Básica.

Além disso, procura-se inovar e praticar em ambiente escolar o que diz respeito à lei n.º 12.305 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) “XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa” cujo objetivo é gerenciar de forma correta os resíduos sólidos do Brasil (PLANALTO, 2010).

2. Referencial Teórico

A educação ambiental está inserida em todos os cidadãos e pode ser percebida em diversos espaços sociais, culturais, políticos e educacionais. Na perspectiva global da educação ambiental, ela é considerada crucial para a formação de cidadãos conscientes e capazes de compreender as realidades socioambientais. Portanto, a educação ambiental deve ocorrer em todos os aspectos e espaços que possam subsidiar a percepção dos alunos como cidadãos (Brancallione, 2016).

Para Jacobi (2003, p.198) “a educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária.”

A reintrodução da compostagem no cotidiano visa resgatar um método alternativo de descarte de resíduos sólidos orgânicos que seja ecologicamente correto, de baixo custo e de fácil acesso às pessoas. Além de promover a criação de composto orgânico de alta qualidade para fertilização de todos os tipos de hortas e jardins, que ajudam a expandir os espaços verdes, a aumentar a biodiversidade e a segurança alimentar e construir cidades mais saudáveis e resilientes (Ministério do Meio Ambiente, 2017).

Segundo Francelin e Cortez (2014), uma das técnicas mais conhecida de composteira é o sistema de caixas sobrepostas. O sistema torna-se mais utilizado principalmente por necessitar de equipamentos simples e de baixo custo e ser possível implementá-lo em ambientes pequenos como casa, apartamento e outros, precisando apenas de um pequeno espaço protegido e ventilado.

Henemann e Gonzales (2018), relataram sua experiência com a implantação de uma composteira de caixa que as práticas sustentáveis desenvolvidas no Colégio Estadual Presidente Abraham Lincoln ajudam os alunos a desenvolver uma consciência global sobre questões relacionadas ao meio ambiente e a adotar posições conscientes com valores relacionados à melhoria e proteção do meio ambiente.

Já para Buss e Moreto (2019) considera,

Tanto o levantamento bibliográfico, quanto o desenvolvimento prático da utilização da compostagem como um instrumento de ensino, apontam para uma alternativa viável e eficiente no que visa a uma práxis interdisciplinar do processo ensino-aprendizagem, na qual a Educação Ambiental Crítica está ou deveria estar inserida, para a construção de conhecimentos científicos e da consciência ambiental crítica e emancipada (Buss, Moreto, 2019, p. 08).

As composteiras são criadas seguindo alguns princípios básicos, e as matérias-primas utilizadas basicamente são compostas de areia, terra e restos de alimentos orgânicos como cascas de frutas e vegetais, borra de café, folhas secas, folhas de vegetais, cinzas, etc. Além dos muitos benefícios gerados ao meio ambiente pela compostagem, também pode servir como ferramenta no contexto da educação ambiental (EA) bem como na habilidade exigida pelo currículo. Questões envolvendo a destinação dos resíduos sólidos pode nortear múltiplas ações e essa técnica é uma forma lúdica de contextualizar essa problemática (Buss, Moreto, 2019).

3. Metodologia

Para a execução desse projeto foi abordado através de uma aula expositiva dialogada sobre o processo de compostagem e montada uma composteira orgânica. O projeto ocorreu no prédio da Universidade Estadual de Goiás - Campus Ceres (UEG), em que atualmente abriga o polo do Colégio Estadual Virgílio do Vale. O projeto contemplou como participantes ativos os alunos do nono ano do Ensino Fundamental II no turno matutino.

Para a realização do projeto, foi inicialmente realizado um questionário online simples para observar o conhecimento prévio dos alunos sobre compostagem, adubo, reciclagem e resíduos orgânicos. O questionário foi aplicado no dia 15 de setembro de 2022. Nesse dia responderam 23 alunos presentes na aula, sendo o questionário administrado através da plataforma “google forms” e 4 questionários impressos. Os alunos responderam o questionário utilizando os próprios celulares, os que não possuíam celulares utilizaram os celulares de colegas ou das estagiárias responsáveis, quatro alunos optaram por responder o questionário impresso.

Após o preenchimento do questionário foi realizada uma palestra em forma de seminário utilizando como recurso didático data show e computador. A palestra ocorreu na sala de aula abordando o tema ``O que é a compostagem? Quais os benefícios para o Meio Ambiente? O que não se pode colocar em uma composteira? Quais os materiais necessários para montar uma composteira? Como construir a composteira? Exemplos práticos baratos e sustentáveis de composteira”. No final da palestra de compostagem, foi solicitado aos alunos que coletassem e armazenassem compostos orgânicos produzidos em suas próprias casas para montar a composteira.

Para a construção da composteira doméstica foi necessário utilizar dois baldes de 20 litros, torneira, tinta em spray para pintar o balde, furadeira, cola instantânea, tecido tule 45 cm, tira de elásticos 60 cm, composto seco (serragem e folha seca), compostos orgânicos (casca de frutas, casca de verduras, borra de café, casca de ovo), terra e minhocas africanas.

A construção da composteira aconteceu fora do ambiente escolar, principalmente pelo fato de utilizar ferramentas como furadeira e cola instantânea. Para construir a composteira seguiu com a lavagem e secagem do balde, a pintura do balde com tinta spray, após a secagem da pintura furou-se o segundo balde para colocar a torneira que servirá para a retirada do chorume que formará no processo da compostagem. Para fixar a torneira usou-se cola instantânea, em seguida colou-se com a cola instantânea a tampa do segundo balde no fundo do primeiro balde e logo foram feitos furos no fundo do primeiro balde e tampa do segundo balde utilizando a furadeira, e ainda na borda do primeiro balde foi feito furos pequenos para passagem de ar no processo de compostagem. (Figura 1).

Figura 1: Processo de construção da composteira doméstica. Fonte: Autores, 2022.

Após a construção da composteira, dentro da sala de aula, os alunos assinaram o balde com seus nomes. Para empilhar os compostos orgânicos foi instalado na abertura do baldo o tule e fixado com a tira de elástico. Esse processo de colocar o tule na abertura do balde permite que as minhocas não ultrapassem para o segundo balde (figura 2).

Figura 2: Instalação do tecido para evitar que as minhocas passem do primeiro para o segundo balde. Fonte: Autores, 2022.

Em seguida foi encaixado o primeiro balde e iniciado o empilhamento dos compostos seguindo uma ordem de camada de compostos secos, camada de compostos orgânicos, camada de compostos secos, camada de compostos orgânicos, camada de terra, minhocas, essa ordem se repete até se aproximar dos furos de passagem de ar.

Figura 3: Processo de montagem da composteira. Fonte: Autores, 2022.

Ao finalizar todo o processo de desenvolvimento da composteira, o recipiente foi abrigado em local arejado e sem contato direto com a luz do sol. Para que o processo de compostagem dos resíduos sólidos orgânicos ocorra é necessário misturar os compostos depositados (figura 4).

Figura 4: Mistura dos compostos. Fonte: Autores, 2022.

4. Resultados e Discussão

Desenvolver essa ação no ambiente escolar teve o objetivo final de despertar o interesse do estudante para educação ambiental, uma melhor reflexão sobre os problemas ambientais, equilíbrio ecológico e a terem compreensão da autorresponsabilidade na gestão dos próprios resíduos. Visto que a montagem da compostagem é simples e sem muito custo, podendo ser reproduzido no ambiente familiar e na sociedade em geral.

A atividade atípica fora das abordagens metodológicas tradicionais proporciona aos alunos uma melhor compreensão do desenvolvimento sustentável. Outro ponto fundamental desta ação foi a aplicabilidade da práxis docente, adquira através do levantamento prévio que os alunos tinha em relação à temática trabalha, que em sua maioria desconhecia o que era compostagem, como funcionava, o que se usava na criação de uma composteira, quais os benefícios em ter uma composteira e sobre a aplicação na sociedade.

É marcante o empenho e interação dos alunos em desenvolver esta ação, pois os compostos orgânicos foram coletados, e a montagem da composteira foram executadas por eles mesmo. Após todo o processo de realização desta ação, voltamos a um momento de discussão com a turma a fim de mensurar o nível de aprendizado alcançado. E foi surpreendente como os alunos absorveram a ideia de sustentabilidade por meio da destinação do lixo orgânico.

A visão frente a esta ação compreende em como alcançar uma educação significativa por meio de atividades diversificadas, que instiga os alunos, e que os inspirem a reproduzir e aplicar na sociedade. A concretização da práxis docente foi refletida em um evento da escola-campo denominada “Mostra científica, cultura e tecnológica” (figura 5) em que os alunos expuseram a ação compostagem na escola, explicando a todos os visitantes, os conceitos e a importâncias em adotar hábitos sustentáveis.

Figura 5: Mostra científica cultural e tecnológica da escola campo. Fonte: Autores, 2022.

Segundo Pascoal et al., (2018, p. 113) afirma que do ponto de vista educacional, a escolha da educação ambiental através da compostagem é muito assertiva, proporcionando aos alunos uma exposição direta às questões ambientais que precisam ser incutidas na nova geração, atingindo assim o objetivo do trabalho.

A participação dos jovens em programas de educação ambiental dá voz aos públicos para desenvolver mudanças psicossociais e construir os seus próprios percursos de vida baseados em compromissos sociais (ou seja, o exercício da cidadania). Acredita-se que se os jovens forem motivados a comprometerem-se com o contexto em que vivem, esta prática se espalhará para outros contextos como a família, a comunidade, vizinhos, amigos e outros, transformando assim o seu mundo individual e coletivo (Silva; Higuchi e Farias, 2015).

Como diz Paulo Freire (1979, p. 84) “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Com isso despertar a consciência ambiental, para que os alunos possam assimilar e transmitir à sociedade que se pode dar outro destino ao lixo orgânico e sobre questões ambientais, assim, consequentemente ações serão desenvolvidas na comunidade interferindo na saúde ambiental global.

5. Considerações Finais

As interações dos alunos com a compostagem permite-lhes refletir melhor sobre os problemas ambientais, equilíbrio ecológico e compreender a autorresponsabilidade na gestão dos seus próprios resíduos.

No que diz respeito à necessidade de aumentar a conscientização ambiental da sociedade como um todo, a inserção da compostagem na rede de ensino regular, visa estimular os alunos a terem ações voltadas à preservação do meio ambiente e, além disso, que os próprios alunos sejam influenciadores dessa ideia, repassando os conhecimentos adquiridos para familiares, vizinhos e amigos.

6. Referências

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BUSS, A.; MORETO, C. A prática da compostagem como instrumento no ensino de conteúdos e na educação ambiental crítica, Revista Monografias Ambientais, v.18, n. 6, p. 01-10, Santa Maria: RS, 2019.

BRANCALIONE, L. Educação Ambiental: Refletindo sobre aspectos históricos, legais e sua importância no contexto social. Revista de Educação do Ideau, v. 11, n. 23, Rio Grande do Sul, 2016.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Manual Busca Popularizar Compostagem. 2017. disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/noticias/noticia-acom-2017-06-240 . Acesso em: 02 de setembro de 2023.

COSTA, A. P.; SILVA, W. C. M.; A compostagem como recurso metodológico para o ensino de ciências naturais e geografia no ensino fundamental. Revista Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, v.7, n. 12, Goiânia: Goiás, 2011.

FRANCELIN, L. P.; CORTEZ, A. T. C. Compostagem por uma escola mais sustentável. Revista Ciência Geográfica, v. XVIII, n.1, Bauru: São Paulo, 2014.

FREIRE. P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

HENEMANN, V. F.; GONZALEZ, C. E. F. Educação Ambiental e Compostagem: um caminho para a sustentabilidade, Relato de Experiência n. 61, 2018, Disponível em: https://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2916 . Acessado em: 02 de outubro de 2023.

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Revista Cadernos de Pesquisa. n. 118, p. 189-205, São Paulo, 2003.

PRADO, H. S. A.; SMOLE, K. C. S.; FILHO, R. P. R.; FREITAS, J. C. M.; BARONE, P. M. V. B.; OZORIO, M. S.; FINI, M. I. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Fundação Carlos Alberto Vanzolini; Gestão De Tecnologias Em Educação, p. 375. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 02 de outubro 2023.

PASCOAL, C. R.; JESUS, L. A.; OLIVEIRA, R. R. V.; BORGES, R. L.; SOBRINHO, M. F. Compostagem E Educação Ambiental: Implantação De Projeto Em Uma Escola Estadual De Marzagão (GO), Espaço em Revista, v. 20, n. 2, p. 98-116jul./dez, Goiás, 2018.

SILVA, W. G. S.; HIGUCHI, M. I. G.; FARIAS, M. S. M. Educação Ambiental Na Formação Psicossocial Dos Jovens. Revista Ciências Educação. v. 21, n 4, p. 1031-1047, Bauru: São Paulo, 2015.