João Gabriel Alves Rodrigues

Thalyson Morais Silva

EIXO
Programas e Projetos para formação de professores

Os Conteúdos de Geografia e a Escala Geográfica na Elaboração de um Percurso Didático

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Resumo: O presente trabalho em andamento tem como principal objetivo geral, elaborar uma proposta de percurso didático que seja capaz de possibilitar a compreensão e relação da Escala Geográfica no ensino de conteúdos de Geografia. A pesquisa está sendo analisado de forma qualitativa, envolvendo o levantamento e a análise de teses e dissertações desenvolvidas em Programas de Pós-Graduação na área de ensino e aprendizagem em Geografia que abordam a temática de Escalas Geográficas, buscando assim, a partir das investigações, propor um percurso didático junto as dinâmicas ativas de contação de história e confecção de um painel geográfico como pratica de ensino, a fim de promover a integração das Escalas Geográficas e os conteúdos de geografia. Com o resultado das apresentações das dinâmicas, podemos notar que ao término das apresentações mediante diálogo com os grupos, concluiu-se que os escolares foram capazes de expor e desenvolver suas próprias análises geográficas e escalares, dessa forma as dinâmicas tornaram-se uma ferramenta que possibilitou a potencialização e o entendimento do espaço geográfico correlacionando os fenômenos nas diferentes escalas. Portanto, compreende-se com essa pesquisa que pretendemos proporcionar aos escolares ferramentas que sejam capazes de auxiliá-los no desenvolvimento de um olhar mais aprofundado acerca da Escala Geográfica, dessa forma promover o pensamento geográfico em múltiplas escalaridades, criando assim um cidadão crítico para com o espaço e a sociedade que o cerca.

Palavras-chave: Ensino de Geografia. Escala Cartográfica. Dinâmicas de ensino.

1. Introdução

A Residência Pedagógica desempenha um papel crucial na formação inicial docente em Geografia, uma vez que proporciona o acompanhamento do ambiente da sala de aula, permitindo que os futuros professores experimentem e desenvolvam didáticas para abordar os vários conteúdos da disciplina.

Dessa forma, desenvolve-se, por exemplo, o ensino das escalas geográficas, concebida de maneira tangível e adaptada às necessidades dos alunos, dado que o ensino de Geografia se torna um aliado na construção da cidadania dos alunos por meio de um olhar crítico da realidade à instrução do pensamento geográfico.

Por meio do cotidiano da sala de aula, observou-se dificuldades em ministrar aulas mais significativas e que consigam alcançar os alunos, dessa forma percebemos que o uso das escalas geográficas pode potencializar os conteúdos geográficos a fim de permitir que os escolares se apropriarem dos conteúdos, articulando fatos, fenômenos e considerando os contextos, ainda segundo Callai, 2010, p.30, sobre a importância desses conteúdos:

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Portanto, trabalhar com uma dimensão escalar torna-se uma exigência, capaz de superar a interpretação localista e fechada que impede o encontro de explicações para o que vai acontecendo. E a escala social de análise precisa estar clara e referenciar todo e qualquer estudo, pois além do global/mundial e do local, temos também níveis intermediários que são o regional e o nacional [...] cada lugar está inserido numa rede que comporta essa escala de análise e, por isso, a articulação dos fatos, fenômenos e forças reais e/ou virtuais tem de ser reconhecida e considerada em seu contexto (CALLAI, 2010, p.30)

Identificar que, para além da assimilação de conteúdos abordados em sala de aula, os alunos possam fazer uma leitura de mundo com observação do que está posto ao seu redor e trazer possibilidade de aguçar sua criatividade de pensar geograficamente o globo.

Destaca-se que as noções sobre escalas geográficas são essenciais para ajudar na construção do pensamento geográfico, ampliando as noções espaciais de vivenciar o espaço da escola, da cidade, estado, o país e o mundo, juntando todas as interfaces locais e globais das escalas na construção do pensamento Geográfico.

Entretanto, como este aluno vai identificar que os conteúdos abordados em sala de aula possam explicar fatos acontecidos nas demais esferas da vida? A pergunta norteadora surgiu como base para a proposição de um percurso didático, objetivo desta pesquisa, para o ensino de escalas geográficas pautado nas reflexões apontadas anteriormente.

2. Metodologia

Portanto, as principais metodologias serão levantamento bibliográfico de teses e artigos, discussões em sala de aula com os escolares do Centro de Ensino em Período Integral Professor Genesco Ferreira Bretas, buscando construir um percurso didático mais significativo com a utilização das escalas geográficas, pois como dito por Farias (2020) “podemos desenvolver o trabalho pedagógico em sala de aula correlacionando as diferentes realidade espaciais, tanto para o cotidiano do lugar quanto com as dimensões regional e global”.

Busca-se desenvolver através de viés metodológico qualitativo esta pesquisa, sendo essa um auxílio na compreensão das relações e dos contextos em que os múltiplos sujeitos estão inseridos, sendo assim, uma pesquisa que objetiva levantar e abordar a criticidade dos indivíduos envolvidos nesse processo. Nesse sentido, Brandão 2001 afirma que:

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A pesquisa qualitativa (...) está relacionada aos significados que as pessoas atribuem às suas experiências do mundo social e a como as pessoas compreendem esse mundo. Tenta, portanto, interpretar os fenômenos sociais (interações, comportamentos, etc.), em termos de sentidos que as pessoas lhes dão; em função disso, é comumente referida como pesquisa interpretativa (BRANDÃO, 2001, p.13).

Portanto, optou-se por utilizar essa metodologia para conceituar e contemplar de maneira mais ampla o objetivo deste trabalho. Por conseguinte, buscou-se usar o estudo de caso, juntamente com a revisão bibliográfica e coletas de dados. O estudo de caso, que se caracteriza por uma pesquisa no qual o objeto é um elemento que se analisa profundamente, o qual pretende a apuração detalhada do ambiente de um simples sujeito ou de uma situação em particular, visando fazer uma investigação detalhada e contextualizada.

Deste modo, para mensuração da eficácia do percurso didático, realizar-se-á a criação de duas dinâmicas envolvendo primeiramente uma contação de história sobre os processos migratório e posteriormente um painel geográfico sobre as noções de escalas geográficas para análise, procurando medir o entendimento dos escolares quanto ao tema empregado em sala de aula.

3. Resultados e Discussão

É certo que, na prática pedagógica, as alternativas metodológicas são necessárias e auxiliam na internalização e compreensão dos conteúdos para a decodificação de sinais, símbolos e signos nos conceitos trabalhados, por exemplo as aulas de Geografia, dessa forma as ferramentas que utilizamos para demonstrar a potencialidade das Escalas Geográficas foram, a contação de história e em seguida a construção de um painel com revistas que levamos para a sala de aula, todas as nossas dinâmicas foram aplicadas e executadas utilizando um total de 3 aulas.

Aula 1 – Contação de História, que consiste em, dividir os alunos em grupos e apresentar um tema previamente explicado para que eles elaborem uma história em conjunto, para depois ser apresentada a turma, mas antes de começarmos a aplicar a 1° dinâmica, fizemos uma breve contextualização sobre os processos migratórios, pois era o conteúdo que o professor preceptor estava aplicando em sala de aula, primeiramente, contamos nossas próprias experiencias com migração e como ela influenciou nossa realidade, dialogando com as experiencias dos próprios escolares.

Em seguida dividimos a turma em 3 grupos cada um com um tipo diferente de migração: migração interna, migração externa, e migração pendular. Após a separação dos temas os alunos tiveram 15 minutos para criar sua história, a fim de ajudá-los, fizemos perguntas norteadoras para auxiliar na construção das suas histórias, sendo elas:

  1. Quem é o seu personagem? E qual o tipo de migração que ele fez? Faça a caracterização do personagem e explique qual o seu processo migratório.
  2. Onde ele mora? E qual o motivo da saída? Defina o lugar que ele mora e o que o levou ele a ir embora do seu lugar de origem.
  3. Como foi o percurso? Explique como foi feita a viagem do seu personagem.
  4. Em que lugar ele pretende chegar? Por que desse lugar? Explique os atrativos que levaram seu personagem a ir para esse lugar.
  5. Como foi a aceitação e a fixação do seu personagem nesse lugar? A população aceitou bem a chegada dele? Ele conseguiu algum emprego? Como está a sua situação?
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Após eles responderem essas perguntas, cada grupo fez a apresentação da sua história, explicando para os demais que tipo de migração os seus personagens fizeram, na migração internacional, o primeiro grupo representou um venezuelano que veio para Manaus por causa do contexto sociopolítico, o segundo grupo falou sobre a mobilidade pendular, retratando um trabalhador que mora em Goianira e vai para Goiânia a trabalho e o terceiro grupo apresentou a migração regional, contando a história de uma jovem que saiu do Nordeste para o Centro-Oeste, apontando as dificuldades dos processos migratórios. Após as apresentações, percebemos que metodologia ajudou os alunos a intender e interpretar o conteúdo, pois foram os próprios alunos que fizeram a apresentação do conteúdo e isso facilitou a compreensão dos demais.

Aula 2 – Ancorado em Farias (2020), foi elaborado a segunda dinâmica aplicada com o objetivo de casar as noções de escala junto ao conteúdo de migração trabalhado, buscando desenvolver nos alunos um raciocínio geográfico acerca das Escalas Geográficas, possibilitando que dessa maneira um dado fenômeno possa ser observado nos diversos contextos e espaços, com a intenção de “instigar os alunos a analisar e a compreender os fenômenos espaciais nas diversas escalas em que ocorrem”, além disso também é fundamental “mostrar a realidade local como referência para a compreensão de outras realidades”, como dito por Faria (2020). Para tal, propomos a criação de um painel geográfico onde os alunos a partir da observação de imagens e revistas dispostas, buscaram elementos que pudessem representar e explicitar os tipos de migrações e como suas respectivas representações se materializam na realidade e relacionando com seu cotidiano.

Inicialmente, a segunda dinâmica foi iniciada com a separação dos grupos conforme a primeira dinâmica. Para esse primeiro momento foi feita uma fala e uma análise junto aos alunos sobre as noções de Escalas Geográficas, suas representações, as identificações dos fenômenos e sua ocorrência nos diferentes níveis escalares através de algumas imagens dispostas. Discutindo os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. Partindo dos exemplos construídos na dinâmica 01, discutindo como fenômenos de diferentes escalas se reproduzem no cotidiano. Como exemplos tivemos a associação dos imigrantes venezuelanos presentes nos diversos espaços de Goiânia presente na realidade dos alunos, juntamente aos diversos exemplos de mobilidade pendular, um fenômeno muito vigente na cidade.

Aula 3 – Na terceira aula finalizamos a dinâmica do painel, onde os grupos apresentaram para o restante da turma os seus cartazes explicando as suas imagens e como ela se relacionam com os diferentes níveis escalares. Destacamos aqui um exemplo que nos chamou a atenção nas duas dinâmicas, que foi o caminhão apresentado primeiramente como meio de transporte no processo de migração regional e na segunda dinâmica uma associação da figura de um caminhão enquanto elemento que simboliza a escala regional.

Ao término das apresentações mediante diálogo com os grupos, concluiu-se que os escolares conseguiram expor e desenvolver suas próprias análises geográficas e escalares, dessa forma as dinâmicas foram capazes de potencializar o entendimento do espaço geográfico pois juntamente com as Escalas Geográficas são capazes de “aproximar lugares e tornar mais visíveis as múltiplas realidades espaciais e suas influências, relações e interações” Farias (2020).

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4. Considerações Finais

Compreende-se com essa pesquisa que pretendemos proporcionar aos escolares ferramentas que sejam capazes de auxiliá-los no desenvolvimento de um olhar mais aprofundado acerca da Escala Geográfica, dessa forma promover o pensamento geográfico em múltiplas escalaridades. Além disso, queremos ampliar a visão deles sobre o seu cotidiano, criando assim um cidadão crítico para com o espaço e a sociedade que o cerca, possibilitando que eles sejam capazes de realizar discussões sobre os problemas presentes no seu dia a dia por meio do desenvolvimento do pensamento geográfico.

5. Referências

ARAGÃO, W. A. A escala geográfica e o pensamento geográfico: experiências com jovens escolares do ensino médio. 2019. 265 f. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2019. Acesso em: 05 nov 2023. Disponível em: http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/9955.

ARAÚJO, B. G. O., & VIANA, A. K. B. (2022). A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O PENSAR GEOGRÁFICO: reflexões sobre o ensino de Geografia e o Novo Ensino Médio. Ensaios De Geografia, 8(16), 14-31. https://doi.org/10.22409/eg.v8i16.51370.

BRANDÃO, Z. A dialética macro/micro na sociologia da educação. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, SP, n. 113, p. 153-165, jul. 2001.

CALLAI, H. C. Escola, cotidiano e lugar. In: Geografia. Brasília: Ministério da Educação, secretaria de Educação Básica, 2010.

CAVALCANTI, L. S.; SANTOS, L. A.; FARIAS, R. T. S. As escalas geográficas nas práticas de ensino: uma forma de aproximar e compreender as diferentes realidades espaciais. In: Lana de Souza Cavalcanti; Leovan Alves dos Santos. (Org.). Escala e ensino de Geografia. 1ed.Goiânia: C&A Alfa Cominicações, 2020, v. 1, p. 69-80.

JÚNIOR, F. T. M.; MIRANDA, M. S.; CAVALCANTI, L. S. Percurso didático para mediação da aprendizagem em Geografia: experiências em torno de uma proposta. Revista Geografar: Curitiba, v.17, n.1, jan. a jun., 2022.

Notas

1.Estudante de graduação, Lic. Ciências Biológicas, ICB/UFG.

2.Estudante de graduação, Lic. Ciências Biológicas, ICB/UFG.

3.Estudante de graduação, Lic. Ciências Biológicas, ICB/UFG.

4.Mestre em Educação em Ciências/ CPMG Waldemar Mundim.

5.Doutora em Ciências, ICB/ UFG.