“Día de Muertos”, um Relato de Experiência do PIBID: espanhol
34Resumo: Para apresentar aos alunos do CEPAE - Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação - um pouco da rica cultura mexicana, decidimos levar o tema da celebração do ‘‘Día de Muertos’’ para uma de nossas ações pedagógicas. Trata-se de uma tradição profundamente enraizada na cultura mexicana que homenageia aqueles que já partiram. A atividade foi desenvolvida no âmbito do Subprojeto Interdisciplinar Linguagens: línguas adicionais do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). O propósito dessa atividade era ensinar sobre um pouco da cultura latino – americana, além de familiarizar os alunos com a língua espanhola. A aula foi planejada e ministrada por três alunas do curso de Letras: Espanhol, com uma aula expositiva-dialogada por meio de slides, e o emprego do lúdico o que proporcionou uma ótima experiência entre alunos e professoras. Contamos, ainda, com a presença de um aluno mexicano que está fazendo um intercâmbio estudantil na UFG. Após nossa intervenção, ele relatou sua experiência no país natal sobre a festividade. Essa atividade proporcionou às bolsistas pibidianas importantes experiências, uma vez que pudemos integrar em uma única intervenção elementos muito relevantes para a práxis educativa em línguas adicionais, a saber: conhecimento intercultural de países hispanofalantes, atividades lúdicas e um convidado nativo do país abordado.
Palavras-chave: PIBID. ELEB. Intercultural.
1. Introdução
O PIBID é um programa de bolsas de iniciação à docência voltado aos discentes dos cursos de Graduação que estão no início do curso, proporcionando-lhes um primeiro contato como docentes em formação dentro de sala de aula antes mesmo do Estágio Supervisionado ou até mesmo de outros programas como a Residência Pedagógica (RP). A escola para a qual fomos designadas foi o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE), unidade acadêmica especial da Universidade Federal de Goiás (UFG), localizada dentro do Câmpus Samambaia. Por ser um Centro de Ensino e de Pesquisa, tornou-se porta de entrada para programas de Estágio Supervisionado dos cursos de Licenciatura, Iniciação à Docência (PIBID e RP), Iniciação Científica, entre outros projetos que têm como público-alvo os estudantes da UFG e de outras Instituições de Ensino. Dentro do CEPAE<, os alunos têm acesso ao ensino de três línguas estrangeiras: espanhol, francês e inglês. No presente relato, nosso foco recai sobre a língua espanhola. No CEPAE, as alunas de graduação em Letras: Espanhol da UFG, orientadas pelas docentes Alexandra Almeida de Oliveira e Ma. Sirlene Terezinha de Oliveira, juntamente com outros bolsistas, desenvolvem atividades tanto na parte teórica quanto na prática junto aos alunos da Educação Básica.
As atividades realizadas com alunos do Ensino Fundamental do CEPAE acontecem no turno vespertino, contraturno dos discentes do CEPAE. Logo, eles não são obrigados a participar de nossas intervenções e comparecem voluntariamente. As atividades prezam por temas de interesse dos bolsistas e dos alunos. Os objetivos dessas atividades são ensinar o idioma por meio de aulas interculturais e lúdicas, de modo a despertar o interesse dos alunos pela língua espanhola e motivá-los a continuar estudando. Neste relato, será apresentada a aula com o tema “Día de Muertos”, uma festa tradicional do México e de alguns países da América Latina. Para este tema, criamos uma atividade utilizando slides, vídeo e um jogo final. Também tivemos a participação ilustre de um aluno intercambista mexicano, Hugo Roberto Morteo Fomperosa, que participa do Programa Universitário de Mobilidade Acadêmica - PUMA, feito entre Intercâmbio Veracruzana e a Universidade Federal de Goiás, que pôde expor seu relato sobre a festividade como um nativo da língua espanhola.
Uma das maiores motivações para a escolha do tema foi por estarmos no mês de outubro, e a data da aula seria coincidente com a data da festividade. A escolha se deu igualmente ao fato de a festa mais disseminada em outubro no Brasil ser a do “Halloween”, uma festa típica americana. Com isso, houve acordo entre as pibidianas de espanhol de dar visibilidade a outra festividade relevante que acontece no mesmo mês, porém sendo característica de países latinos. Preparamos para essa atividade pedagógica slides concisos e objetivos, a fim de facilitar o entendimento dos alunos. Tantos nos slides quanto na apresentação das pibidianas, houve o uso da língua espanhola, tendo em vista que consideramos de extrema importância que os discentes tenham contato com o idioma estrangeiro. As ações formativas interculturais são uma forte aliada para o contato dos aprendizes com a cultura, com a estrutura das línguas, com seu léxico, dentre outros benefícios.
352. Metodologia
A intervenção aqui relatada ocorreu de forma expositiva-dialogada sobre o tema “Día de Muertos”. Ela foi planejada e ministrada por três pibidianas do curso de Letras Espanhol: Yasmim, Camila e Evelyn, e supervisionada pela Professora Sirlene de Oliveira, com a participação de alunos do Ensino Fundamental entre o 6º e o 9º anos, de outros pibidianos que compõem o grupo e com a participação do intercambista mexicano Hugo Roberto Morteo Fomperosa. Ao planejarmos essa ação pedagógica, visávamos a dar visibilidade à festa mexicana aqui no Brasil e a apresentar seus elementos básicos: históricos, comidas tradicionais e a visão da morte no México. Finalizamos nossa participação com um jogo interativo por meio de slides. Por fim, houve o relato de nosso convidado, o estudante mexicano Hugo, que acrescentou à interação a perspectiva de um nativo hispanofalante.
A apresentação da aula foi feita de maneira alternada entre as pibidianas, que utilizaram slides. Dentre eles, havia conteúdos sobre a festividade “Día de Muertos”, que é predominante no México, com uma visão diferente a respeito da morte, na qual é representada de maneira divertida e alegre, diferentemente do Brasil. Os slides foram feitos obedecendo a seguinte ordem: primeiro uma apresentação das pibidianas e do período que estão na faculdade. Em seguida, algumas perguntas foram levantadas para gerar uma reflexão, tais como: qual a importância dessa festividade? Se eles conheciam sobre a festividade. O segundo slide trazia uma apresentação de um vídeo, que foi transmitido duas vezes com o uso de legendas para facilitar a compreensão auditiva e leitora, em que mostrava os elementos principais da festividade. Após o vídeo, com vistas a verificar a compreensão dos discentes, foram feitas algumas perguntas em relação aos elementos que eles consideravam como os mais peculiares e que lhes chamaram a atenção. Tratamos da história da festividade e de sua origem. Destacamos a personagem Catrina por ser um símbolo da morte e uma das figuras mais chamativas das celebrações. Abordamos igualmente um outro elemento bastante característico da cerimônia: os altares em homenagem àqueles que já se foram. Explicamos como são produzidos pelas famílias. Com o auxílio de uma imagem, apresentamos os elementos presentes no altar e discorremos sobre a importância da foto ali alocada e das oferendas feitas aos mortos. Outros símbolos explorados foram as flores Cempasúchil, típicas, coloridas e usadas por ocasião da festa mexicana, o Copal, sendo um incenso usado para atrair e guiar os entes até suas casas, a Afombra Arena, que consiste em um tapete de areia ou de flores, nas quais são retratadas imagens típicas da solenidade, como por exemplo a Catrina. Quase no fim da apresentação, foram entregues papéis com um desenho de caveira mexicana para os alunos colorirem e dedicarem a alguma pessoa querida já falecida. Durante as pinturas das caveiras, Hugo fez seu relato e proporcionou um momento de diversão e relaxamento para os alunos; eles, por sua vez, demonstraram interesse e levantaram questões sobre a festividade mexicana. Por fim, foi realizado um jogo interativo com os alunos. Nele continha caixinhas enumeradas, a fim de que os discentes escolhessem um número e juntos formassem uma resposta. A pibidiana Yasmim ficou responsável por ler as perguntas que estavam em espanhol, incitá-los e ajudá-los a responderem. Ao final da aula, os aprendizes puderam levar seus desenhos e houve um momento de confraternização com comidas e bebidas.
3. Resultados e Discussão
Obtivemos um retorno bastante significativo e participativo por parte dos discentes. Acordamos com eles que durante nossa explanação, eles poderiam intervir para tirar dúvidas sobre o tema, vocabulário, dentre outros. Durante o relato de Hugo, na qualidade de um nativo que conhece bem a festividade, foi o momento mais propício para o esclarecimento de dúvidas. Ele respondeu às questões de maneira clara e divertida, trazendo uma outra perspectiva sobre a morte e como que dentro de outras culturas ela é concebida e tratada. Houve momentos de comparação entre Brasil e México sobre a morte e a maneira que ela está relacionada dentro de perspectivas distintas. A inserção do jogo como uma forma de retomar o que os alunos aprenderam sobre o “Día de Muertos” foi positiva. Concordamos com Katia Campos (2003, p. 36) quando ela afirma que: “[...] brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas é uma atividade precisa como qualquer outra de aprendizagem. Brincar é um espaço de criação cultural que ultrapassa os limites do real”.
36Ademais, segundo Nacima Makloufi (2011, p. 100, tradução nossa), «[g]raças à motivação que essas últimas [as atividades lúdicas] suscitam, o aprendiz consegue superar seus bloqueios e sua timidez de medo de cometer erros”. Ela acrescenta que essas atividades favorecem a espontaneidade nas intervenções estudantis. Além de se afigurarem como uma importante contribuição à socialização e à cooperação discente, haja vista que as atividades são realizadas em equipes (MAKLOUFI, 2011). O jogo foi constituído de caixinhas enumeradas que continham uma pergunta sobre uma parte da exposição. Os alunos escolhiam um número e uma pibidiana lia a pergunta, feita também na língua espanhola, e todos os alunos tentavam formular uma resposta juntos, sendo incentivados a falarem em espanhol. Essa interação entre eles e a cultura mostrou-se extremamente salutar. Os discentes tiveram a oportunidade de aprender sobre a cultura de um país hispanofalante com a presença de um convidado nativo desse país de maneira presencial na aula, apresentando seu relato e suas vivências. Após a aula ministrada pelas pibidianas, ocorreu uma reunião com a professora Sirlene e todos os bolsistas com o intuito de avaliar a apresentação, trazendo sugestões, melhorias, apontamentos, etc. Essa reunião de discussão após execução de atividades afigura-se como um momento ímpar para nossa reflexão e aprendizagem na condição de docentes em formação. A proposta do PIBID coaduna-se ao que o professor António Nóvoa (2009) batizou de indução profissional assistida. No âmbito desse programa, temos a oportunidade de sermos introduzidas à práxis docente com a importante assistência de professoras mais experientes. Entretanto, elas não nos podam nos projetos que aspiramos a desenvolver. Temos liberdade de eleger os temas e as formas como vamos aplicá-los em sala. Nosso grupo se orienta por um trabalho intercultural sem renunciar a uma práxis investigadora, crítica e reflexiva. Optamos pela perspectiva intercultural, dentre outras razões, porque ela nos permite trabalhar múltiplas culturas, sempre pautadas pelo respeito ao Outro. Essa prática docente aspira a “[...] respeitar cada uma das culturas, das crenças, cada um dos modos de vida, a buscar uma mestiçagem possível sem o abandono de sua identidade” (PORCHER, 2004, p. 118, tradução nossa). Contamos com formação teórica, prática e reflexiva que nos possibilitava uma formação emancipadora, como prega nosso patrono da educação Paulo Freire (2002).
4. Considerações Finais
Em síntese, concluímos que o PIBID é bastante rico em proporcionar experiências dentro da sala de aula com uma liberdade de ensino supervisionadas por docentes da própria escola e orientada por docentes da UFG. Esse programa auxilia os estudantes em formação a terem contato com a sala de aula por um outro prisma. A assessoria de docentes experientes é capital para que a formação docente dos iniciantes se dê de forma mais segura e para que aos poucos eles ganhem confiança e autonomia em suas intervenções. Com o auxílio deles, sentimo-nos confiantes para alcançar voos mais altos e ajudarmos os discentes de escolas da rede pública a construírem seus repertórios culturais e linguísticos de maneira didática, lúdica e interativa. Essa assessoria das professoras mais experientes contribuiu enormemente para que nos sentíssemos mais maduras e confiantes ao mudar a perspectiva das intervenções. Dessa forma, pudemos em pouco tempo avaliar como nossa prática já evoluiu. Após algumas aulas ministradas, as pibidianas do espanhol decidiram adicionar às aulas o lúdico, por meio da inserção de jogos e brincadeiras que integram o brincar ao aprender. Essa prática gerou mais interações entre os alunos, tornando nossas propostas pedagógicas menos expositiva-dialogada. A recepção dos alunos em relação ao emprego do lúdico para a sala de aula foi muito positiva, mostrando-nos que estávamos no caminho certo.
375. Referências
CAMPOS, Katia de Oliveira. Brincar em sala de aula: e o aprendizado? Revista Solta a voz. Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação - UFG. v.14. n.1, jan/jun. 2003 – Goiânia: CEPAE-UFG. p. 36-52.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Ed Paz e Terra, 2002.
NÓVOA, António. Para uma formação de professores construída dentro da profissão. In: __. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009. p. 25-46.
MAKLOUFI, Nacima. Le ludique dans l’enseignement/apprentissage du FLE chez les 1ère A.S. Synérgie. Algérie. n. 12, 2011, p. 89-100. Disponível em: http://gerflint.fr/Base/Algerie12/nacima.pdf Acesso em 15 nov. 2023.
PORCHER, L. L’enseignement des langues étrangères. Paris : Hachette Éducation, 2004.