Kézia Cláudia da Cruz (UFG/ SEDUC/GO)
keziaclaudia60@gmail.com

Rosemara Perpetua Lopes (UFG/GO)
rosemaralopes@ufg.br

As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação no Percurso Formativo do Coordenador Pedagógico

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Resumo

A formação continuada de professores e a utilização pedagógica das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) são citadas pela literatura educacional como estratégias importantes para melhorar a qualidade da Educação Básica no Brasil.O coordenador pedagógico é apontado pelas diretrizes da Secretaria Estadual de Educação (Seduc/GO) como o principal articulador da formação continuada de professores na escola e responsável por promover os processos de ensino e aprendizagem dos estudantes.Nessa perspectiva, esse artigo apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo geral evidenciar o papel do coordenador pedagógico na formação continuada de professores dos anos finais do ensino fundamental para uso das TDICs. O estudo partiu do seguinte problema: o coordenador pedagógico promove a formação continuada dos professores dos anos finais do ensino fundamental para uso das TDICs? Que papel exerce ao promovê-la? Que papel poderia exercer? A metodologia abrangeu pesquisa de campo, de abordagem qualitativa, com aplicação de questionário a 57 coordenadores pedagógicos de 19 escolas de Goiânia, Estado de Goiás. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo, fundamentada em Franco (2012) e os mesmos deram conta de que quando os coordenadores pedagógicos se preparavam para o exercício de sua profissão, as TDICs e Educação ainda não fazia parte do currículo de sua formação. Desse modo, durante o seu percurso formativo, os coordenadores pedagógicos foram expostos somente a práticas de subutilização das TDICs evidenciando que não se tratou do uso do potencial das mesmas para a aprendizagem, em situações distintas da clássica aula expositiva. As práticas apontadas sugerem que as TDICs foram vivenciadas pelo coordenador pedagógico em seu percurso formativo de modo incipiente e com pouca expressividade.

Palavras-chave: Coordenador Pedagógico. Percurso Formativo. TDICs.

Introdução

No Estado de Goiás o Coordenador Pedagógico é apontado pelas Diretrizes Operacionais da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) como o principal articulador da formação continuada de professores e responsável por promover os processos de ensino e aprendizagem dos estudantes. Ele tem por atribuições “promover a formação continuada de professores em serviço” (GOIÁS, 2016, p. 180) e “propor/orientar e acompanhar práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis” (GOIÁS, 2016, p. 182).

A relevância em investigar o percurso formativo dos coordenadores pedagógicos se dá pelo fato de que, ao conhecer suas histórias a análise terá mais elementos para compreender as relações que envolvem o papel do coordenador pedagógico na formação continuada de professores para uso de TDICs, assim como a relação que estabelecem com as TDICs dentro e fora da escola. Nesta análise foram considerados os dados relativos a temas específicos, como as TDICs utilizadas nas aulas da graduação e pós-graduação, as disciplinas e as situações em que eram utilizadas e se os cursos de formação continuada para coordenadores pedagógicos disponibilizados pela Seduc preparam oscoordenadores pedagógicos com a intenção de que eles atuem na formação continuada de professores para o uso das TDICs. Essas e outras questões analisadas só foram possíveis com a investigação do percurso formativo do coordenador pedagógico com as TDICs.

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O Papel do CP

De acordo com Libâneo (2010), é papel do coordenador pedagógico, a quem o autor nomeia “pedagogo escolar”, realizar a formação continuada de professores na escola. Considera Libâneo (2010, p. 61-62) que a atuação do coordenador pedagógico “é imprescindível na ajuda aos professores e no aprimoramento do seu desempenho na sala de aula”.As Diretrizes da Seduc/GO destacam que as atribuições do coordenador pedagógico devem envolver desde a formação continuada de professores até a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP), assim como a realização da supervisão e da organização das ações pedagógicas cotidianas. Também está previsto que auxilie os professores no planejamento das avaliações; organize as reuniões de conselho de classe e trabalhos coletivos; conheça, estude e prepare professores e alunos para as avaliações externas; organize os materiais necessários para as aulas e outras reuniões pedagógicas; zele pelos resultados da aprendizagem dos alunos e, por conseguinte, pelos resultados gerais da escola (GOIÁS, 2016).

Formação Inicial

O curso de graduação dos profissionais que deverão ocupar as coordenações pedagógicas das escolas básicas, como foco nas públicas, não está apontado nas Diretrizes da Seduc. No entanto, os dados coletados nesta pesquisa, mostraram que 41% dos coordenadores pedagógicos têm formação inicial em Pedagogia. A respeito da formação inicial dos coordenadores pedagógicos, Vera (2017) aponta que as licenciaturas, até mesmo a de pedagogia, possuem poucas disciplinas que tratem especificamente da gestão escolar, da coordenação pedagógica, menos, ainda, da incorporaçãodas TDICs, o que limita o conhecimento do futuro docente sobre as questões da coordenação pedagógica.

Cunha (2015) aponta que nenhuma licenciatura é capaz de formar os docentes para atuarem na coordenação pedagógica, dada a complexidade e especificidade da função. Entretanto, Kailer e Tozetto (2016) chamam a atenção para o fato de que o curso de Pedagogia se constitui em um espaço privilegiado para que aconteça a formação do coordenador pedagógico, no sentido de que o curso “possibilita condições de problematizar a prática pedagógica e de constatar/discutir a lógica ideológica e política pedagógica que marca o trabalho” (KAILER; TOZETTO, 2016, p. 4). As autoras, ainda consideram que o trabalho do coordenador pedagógico é isento de neutralidade “considerando que há sempre um posicionamento presente na prática pedagógica que pode realizar tanto a transformação como a confirmação do status quo”.

Continuando a analise, os dados coletados mostraram que 58% dos coordenadores pedagógicos concluíram a graduação há mais de dez anos, entre os anos de 2001 e 2010. De acordo com Bonilla e Pretto (2000) o período que antecede a essa década, as tecnologias tinham pouca visualização e ainda não eram utilizadas para a educação. A partir de então, com o crescimento da demanda acadêmica por conexão a Internet, o Ministério da Ciência e Tecnologia criou a Rede Nacional de Pesquisa, com a finalidade de estruturar e manter uma espinha dorsal nacional que integrasse as redes estaduais e viabilizasse o acesso à Internet ao interior, com o provimento de serviços educacionais, com ofertas de cursos virtuais, webconferênciassobre temáticas educativas, seminários on-line e a educação à distância. Nesse contexto, várias instituições de ensino desenvolveram e ofereceram cursos de formação continuada de professores, cursos de longa duração e até mesmos cursos superiores com a utilização de tecnologias. Todavia, Lopes (2014) destaca que, mesmo depois de quase duas décadas de popularização da Internet, as TDICs ainda são vistas como uma novidade para o professor que ensina na escola contemporânea.

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Ainda sobre o percurso formativo dos coordenadores pedagógicos e suas vivências com TDICs na formação inicial, questionou-se se houve discussão e utilização das mesmas nas disciplinas obrigatórias e/ou optativas do curso superior, de graduação, que o coordenador pedagógico frequentou. A mesma pergunta objetivava saber se os usos e discussões das tecnologias durante as aulas da graduação foram significativos para a formação inicial do coordenador e qual o significado desse uso para a construção do conhecimento na graduação. Dessa forma, a questão solicitava ao coordenador pedagógico que descrevesse uma situação em que a tecnologia tinha sido utilizada na aula da graduação, e, caso houvesse mais de uma situação, que o mesmo optasse pela mais significativa. Segundo os coordenadores, as TDICs mais utilizadas nas aulas da graduação foram Datashow (39%), computador (27%) a televisão com (11%) e notebook (10%). As situações de uso e discussão dessas TDICs estão expostas no Gráfico 1.

Gráfico 1. Situação significativa de uso das TDICs nas aulas da graduação dos coordenadores pedagógicos. Fonte: Elaboração própria. Questionário aplicado em 2017

Ao analisar as respostas quanto aos usos e discussão das TDICs nas aulas da graduação, percebe-se que, durante a formação universitária, os coordenadores foram expostos somente a práticas de subutilização das TDICs, atribuindo ao termo “subutilização” o sentido conferido por Valente (1999), evidenciando que não vivenciaram o uso das mesmas para a aprendizagem, em situações distintas da aula expositiva.

A situação mais apontada, com 35% das respostas, foi “apresentação de seminários com slides no Datashow”. Com relação a essa prática pedagógica na aula universitária, em uma investigação sobre como o curso de licenciatura forma o futuro professor de Matemática para o uso das TDICs, Lopes (2014) afirma que “da licenciatura à sala de aula, os professores não se encontram preparados para ensinar com tecnologias” (LOPES, 2014, p. 28). De maneira geral, as pesquisas apontam que os cursos de licenciatura não potencializam a exploração de possibilidades dos recursos tecnológicos para serem incorporados ao processo de ensino e aprendizagem, comprometendo sua implantação no contexto escolar (LOPES, 2014). As práticas apontadas sugerem que nas aulas do curso de graduação as tecnologiasforam vivenciadas de modo incipiente pelos coordenadores pedagógicos, que, na ocasião, não exerciam essa função.

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Formação Continuada em Cursos de Pós-graduação

Investigou-se quantos coordenadores cursaram pós-graduação lato sensu, constatando-se que 93% são pós-graduados. As tecnologias mais presentes nos cursos de pós-graduação cursados pelos coordenadores foram Datashow (42%), computador (23%) e televisão (22%). Chamou a atenção o fato de a Internet ter sido citada apenas por 8% dos coordenadores ficando, a sua presença em quarto lugar na pontuação geral das tecnologias mais presentes nos cursos de pós-graduação. O celular também quase não foi apontado, apenas 2% dos coordenadores pedagógicos referiram a esse dispositivo móvel. O questionário aplicado na pesquisa solicitava ao coordenador que descrevesse uma situação de aprendizagem ocorrida na pós-graduação com a utilização das TDICs. No Gráfico 2 encontram-se as situações de aprendizagem indicadas.

Gráfico 2. Situação de aprendizagem com as TDICs na pós-graduação dos coordenadores pedagógicos. Fonte: Elaboração própria. Questionário aplicado em 2017

Quanto aos cursos de pós-graduação e sua relação com TDICs nas aulas, os dados apontam que apenas um coordenador pedagógico cursou pós-graduação em “Metodologias da educação à distância”. No entanto, ao analisar as respostas desse sujeito, como um todo, não se verificou elementos que indicassem que suas práticas juntas aos professores na escola fossem diferentes das apontadas pelos demais, que não cursaram pós-graduação relacionada às TDICs. Considerando que 93% dos sujeitos cursaram pós-graduação, alguns até três cursos, não parece ser por falta de conhecimento que não promovem a formação continuada dos professores para o uso das TDICs, mas falta de conhecimentos específicos sobre esse assunto e vivências que permitam enxergar as TDICs na prática pedagógica.

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Formação Continuada em Serviço

Constatou-se, por meio das diretrizes, que, desde 2012, a Seduc promove o curso de “Formação continuada para coordenadores pedagógicos e gestores das unidades educacionais da rede estadual de educação do estado de Goiás”. O objetivo geral desse curso é “implementar uma política de formação profissional para coordenadores pedagógicos e gestores, que atuam junto às escolas, atrelado à melhoria nos resultados de aprendizagem e desempenho dos estudantes” (GOIÁS, 2015, p. 6).

A metodologia do curso conta com o desenvolvimento de atividades de formação e resolução de situações-problema, durante os acompanhamentos pedagógicos, in loco, feitos pelos tutores educacionais nos momentos de estudos formativos na escola. Os tutores acompanham, semanalmente, as escolas, atuando como agentes de uma proposta de formação de gestores e coordenadores, vigente na rede estadual de Goiás desde 2011 (FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, 2014).

Os conteúdos presenciais do curso não fazem menção à presença das TDICs. No entanto, quando apontam os materiais de apoio pedagógico a serem utilizados pelos formadores, no caso os tutores, relacionam os “recursos audiovisuais, vídeo aula e tutoriais”, que pressupõem TDICs. Ao relacionar os conteúdos da formação de coordenadores e gestores, o curso destaca que, caso necessário, os conteúdos “serão ampliados e reformulados, considerando as avaliações realizadas no decorrer do curso” (GOIÁS, 2015, p. 6).

Nesse sentido, mesmo não evidenciando a presença das TDICs, diretamente, nos conteúdos da formação de coordenadores pedagógicos, procurou-se saber se a Seduc os capacita para o uso das TDICs nos momentos de formação continuada de professores. Essa pergunta foi elaborada valendo-se da proposta do curso de que os conteúdos presenciais poderiam ser ampliados e reformulados, mediante a avaliação dos participantes, formadores e equipe técnica da Seduc. Ainda porque as diretrizes que regulamentam o trabalho do coordenador pedagógico, relaciona a formação continuada de professores para uso das tecnologias como função desse sujeito, apontando que este deve propor, orientar e acompanhar “práticas inovadoras, incentivando o uso dos recursos tecnológicos disponíveis” (GOIÁS, 2016, p. 182).

Assim, apurou-se que 89% dos investigados informaram que a Seduc não os capacita para usar as TDICs na formação continuada de professores. Esse resultado corrobora o constatado por outras pesquisas, como a de Placco (2010), que revela que apenas dois por cento dos profissionais que atuam como coordenadores passaram por formações sobre/para o uso das TDICs.

Nesse contexto, Silva (2016) aponta a ausência de formação continuada que promova o desenvolvimento de habilidades específicas à função do coordenador pedagógico, pois os coordenadores, ao assumirem a função na escola, “não possuem formação suficiente em termos da prática pedagógica. Vera (2017) apresenta os resultados de uma pesquisa sobre a formação continuada do coordenador pedagógico. Para a autora, as formações direcionadas a esses profissionais raramente problematizam a função e não apresentam temáticas coerentes com as necessidades dos coordenadores.

Colaboram com esses indicadores os estudos de Vosgerau, Brito e Camas (2016), quando apontam que no Brasil as políticas voltadas para a formação continuada de professores com as tecnologias são centradas no investimento em instrumentos, em cursos aligeirados e não nos processos. Para as autoras, a formação desconsidera as necessidades reais dos professores e, em grande parte, dos cursos, ainda perdura a proposta de capacitar, partindo da ideia de que “o professor é descapacitado ou incapaz, e um curso propiciará a aquisição, pelo docente, de determinada capacidade” (BOENO, 2013, p. 38).

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Nessa perspectiva, é relevante pensar na formação continuada do coordenador pedagógico, para que este possa analisar e reconstruir o seu papel frente às responsabilidades que lhe cabem quanto à formação dos professores para o uso pedagógico e integrado das tecnologias, bem como para a criação de uma cultura na escola, que incorpore as TDICs em suas práticas coletivas.

O Gráfico 3 apresenta o resultado de uma questão elaborada para saber o que o coordenador pedagógico entende que deve ser implementado nas diretrizes relativas às suas atribuições e rotinas para que o uso das TDICs esteja presente na formação continuada de professores na escola. As respostas mostradas no gráfico são alternativas da pergunta do questionário, entretanto existia uma opção onde o sujeito tinha a oportunidade de formular uma resposta, caso optasse por não escolher nenhuma das alternativas propostas.

Gráfico 3. O que deve ser implementado nas diretrizes da Seduc para que o uso das TDICstorne-se realidade na escola estadual goiana. Fonte: Elaboração própria. Questionário aplicado em 2017

Nesse contexto, 34% dos coordenadores responderam que deveria ser implementada uma “oportunidade de formação oferecida pela Seduc aos professores, com atividades práticas a serem realizadas por estes em sala de aula, sob a supervisão do coordenador pedagógico” e ainda a “garantia, dentro da carga horária do coordenador, de espaço-tempo para a realização de oficinas como formação continuada na escola”.

A partir desses dados, entende-se que, para esses coordenadores, se essas duas possibilidades fossem inclusas em suas rotinas, poderiam contribuir para a presença das TDICs na referida formação. Em resposta a essa mesma pergunta: “o que o coordenador entende que deve ser implementado nas Diretrizes relativas às suas atribuições e rotinas para que o uso das TDICs esteja presente na formação continuada de professores na escola”, 22% assinalaram a “realização de encontros periódicos dos professores com alguém que entenda mais de tecnologias e educação do que o próprio coordenador”.

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Entretanto, para essa formação acontecer na escola, de acordo com as alternativas que os participantes assinalaram, seria necessária uma reorganização do trabalho pedagógico da Seduc, com a atualização permanente dos conteúdos de formação continuada do coordenador pedagógico e, ainda, com propostas que visassem a desenvolver a visão crítica do mesmo, para que ele pudesse compreender o contexto no qual está inserido e, a partir dessa compreensão, agir ativamente sobre ele, fazendo-se autor de sua própria história, pois, se o coordenador atua numa escola que tem tecnologias básicas para o ensino (computador, softwares, Internet), o que o impede de propor o uso delas aos professores, independentemente da formação que recebe?

Torna-se necessária, então, uma formação que permita ao coordenador pedagógico a lidar com os desafios vivenciados no exercício da função, garantindo a este profissional a oportunidade de repensar seu papel enquanto formador de professores e em como integrar as TDICs a esse processo, haja vista que o exerce no século XXI. Uma formação do coordenador para o uso pedagógico das TDICs pode fazer com que a escola e os professores, em especial aqueles sob a orientação do coordenador pedagógico, consigam “lidar com elas criticamente e utilizá-las pedagogicamente” (LOPES, 2014, p. 48) e, ainda, fazer com que sejam capazes de “diferenciar o uso pedagógico de uma tecnologia no processo de ensino e aprendizagem de um uso qualquer da mesma em contextos variados” (LOPES, 2014, p. 57). E, assim, possibilitaria o planejamento de atividades que visem maximizar e potencializar esse aprendizado. Além disso, os professores poderiam usar as TDICs como ferramenta de acesso, produção e democratização do conhecimento, e não apenas entretenimento.

Considera-se que o coordenador pedagógico poderia reivindicar essa formação, propor e argumentar em prol da formação que considera necessária ao desempenho de sua função junto aos professores, tendo em vista o que está previsto em suas atribuições nas diretrizes da Seduc. Acredita-se que o coordenador pedagógico precisa se fazer ouvir, ele precisa querer ser ouvido e buscar meios para isso, o que “implica em uma revisão dos paradigmas de formação docente, uma vez que as tradicionais práticas de formação contínua se caracterizam pela total ausência de participação dos professores na tomada de decisão e na definição de objetivos” (LEITE, 2010, p. 40-41). O posicionamento passivo leva o coordenador pedagógico a exercer um papel de executor/aplicador “de propostas concebidas longe das situações de trabalho para as quais se supõem que as ações formativas preparem” (LEITE, 2010, p. 40-41).

Considerações Finais

Ao longo do percurso formativo, que abrange graduação e pós-graduação e a formação continuada em serviço do coordenador pedagógico, os resultados obtidos evidenciam que as TDICs estiveram presentes nas aulas da graduação (formação inicial) de modo restrito, como parte da metodologia da aula universitária. Já nos cursos de pós-graduação lato sensu cursados pelos coordenadores pedagógicos as TDICs mais utilizadas foram Datashow, computador e televisão. As situações de uso destas foram, principalmente, para fazer leituras, pesquisas e exibir imagens e slides.

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A análise sugere que os coordenadores pedagógicos privilegiam a maneira como foram ensinados, reproduzindo-a, já que tanto as TDICs (Datashow e computador, essencialmente), como as situações de uso mediadas pelas mesmas, sugeridas aos professores pelos coordenadores (Datashow para exibir vídeos, slides, documentários, filmes etc.), são bastante parecidas com aquelas vivenciadas por eles na graduação e na pós-graduação, sendo necessários estudos mais aprofundados para confirmar essa inferência.

Ainda sobre a análise do percurso formativo dos coordenadores pedagógicos com as TDICs, os resultados apontam que eles não recebem formação que os preparem para usarem as TDICs nos momentos de formação continuada de professores. Dos participantes, 34% indicaram que seja implementada nas diretrizes da Seduc, em suas atribuições e rotinas, “oportunidade de formação continuada ofertada pela Seduc aos professores, sob sua supervisão”. Nessa mesma direção, 34% sugeriram “a garantia, dentro da sua carga horária, com espaço-tempo para a realização de oficinas como formação continuada na escola” e 22% recomendaram a “realização de encontros periódicos dos professores com alguém que entenda mais de TDICs e educação do que o próprio coordenador pedagógico”.

Assim, considera-se que o percurso formativo dos coordenadores pedagógicos com as TDICs na graduação, na pós-graduação e na escola não o favorece, tampouco aos professores, por conseguinte, no que tange à promoção de formação com TDICs e para o uso das mesmas, de modo crítico e autônomo.

Referências

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Notas

1. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Regional Jataí. Docente da rede pública estadual de Educação de Goiás e membro do grupo de pesquisa Tecnologias Digitais e Formação de Professores da UFG Campus Jataí.

2. Doutora em Educação (UNESP/FCT). Docente da Universidade Federal de Goiás (UFG). Professora permanente do Programa de Pós-graduação em Educação da UFG, Regional Jataí. Líder do Grupo de pesquisa Tecnologias Digitais e Formação de Professores.