Angelina Carlos Costa
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José Carlos Libâneo

Diversidade Sociocultural e Trabalho Docente: a Relação entre Conceitos Científicos e Conceitos Cotidianos Na Educação de Jovens e Adultos (EJA)

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Resumo

O processo de aprendizagem na modalidade de ensino de jovens e adultos é complexo e dinâmico, pois o aluno, ao chegar à escola, escolarizado ou não, traz consigo todo um percurso histórico de vivência social. Objetivo Geral: Compreender como a diversidade sociocultural dos alunos se insere no trabalho do professor na sala de aula de EJA fazendo a articulação entre conceitos científicos e conceitos cotidianos. Específicos: 1)Realizar levantamento bibliográfico (artigos, livros, capítulos de livros) visando agrupar estudos e pesquisas sobre a inter-relação entre diversidade sociocultural e processo de ensino-aprendizagem; 2) Buscar dados sobre como dirigentes escolares e professores compreendem, explicam e atuam em relação à questão da diversidade sociocultural na escola. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica e de campo, entrevistas com professores e coordenadores pedagógicos em instituições educacionais que atende a modalidade de ensino da EJA . As referências teóricas para este estudo foram: a) a teoria de Vigotsky sobre a influência do meio sociocultural no processo de ensino-aprendizagem, sobre os conceitos científicos e cotidianos e a Zona de Desenvolvimento Próximo; b) os estudos sobre o papel das práticas socioculturais vividas pelos alunos realizados por Seth Chaiklin e Marianne Hedegaard; c) os trabalhos sobre relação entre diversidade sociocultural e ensino produzidos no campo da didática, ressaltarmos as contribuições de José Carlos Libâneo. No percurso desta pesquisa foram constatadas questões importantes para pensarmos como contextualizar os conhecimentos científicos e cotidianos no processo de ensino-aprendizagem dos alunos da EJA, levando em conta a diversidade sociocultural dos sujeitos e qual papel do professor nesse processo. O presente estudo evidenciou as contribuições e o lugar de destaque do meio social no qual o sujeito está inserido para pensarmos a construção conhecimento pelo aluno dentro do âmbito escolar.

Palavras-chave: Processo de Aprendizagem. EJA. Diversidade Sociocultural.

Introdução

O processo de aprendizagem na modalidade de ensino de jovens e adultos é complexo e dinâmico, pois o aluno, ao chegar à escola, escolarizado ou não, traz consigo todo um percurso histórico de vivência social. Esse aluno, inclusive, para desempenhar e conviver nesse mundo letrado, se utiliza de vários recursos próprios de sobrevivência.

A aprendizagem dos adultos é repleta de limites entre eles: faltam políticas públicas que realmente atuem de forma efetiva para atender as demandas desse público; a aprendizagem em adultos é vista muitas vezes numa perspectiva assistencialista como uma forma de combate a exclusão social desses sujeitos; professores nem sempre têm formação sobre como se dá aprendizagem nos adultos e, frequentemente, não levam em consideração os contextos de vida e a cultura própria dos adultos; as condições físicas e estruturais da escola são desfavoráveis. Além do mais, não bastassem esses limites, a política educacional atual está voltada para atender as demandas do mercado de trabalho, sem preocupação com formação integral em todas as suas dimensões. Com isso, ficam em segundo plano a definição de concepções pedagógicas e metodológicas para orientar o processo de ensino aprendizagem, as especificidades do currículo destinado aos adultos.

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Esta pesquisa justifica-se pela busca da compreensão de como dentro do trabalho e da organização do ambiente escolar, podemos trabalhar essa relação de dualidade entre conhecimento cientifico e cotidiano. Pretende-se entende como influência sociocultural pode contribuir para agregar no trabalho do professor dentro e fora do âmbito escolar, como trabalha essa diversidade de conhecimento, valorizando de forma individual o que é único de cada sujeito e do seu grupo, buscando alcançar os mesmos objetivos propostos dentro do plano de aula para todos os alunos, e o foco dessa pesquisa é a modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos.

Neste trabalho elencamos os seguintes objetivos: Geral:Compreender como a diversidade sociocultural dos alunos se insere no trabalho do professor na sala de aula de EJA fazendo a articulação entre conceitos científicos e conceitos cotidianos. Específicos: 1) Realizar levantamento bibliográfico (artigos, livros, capítulos de livros) visando agrupar estudos e pesquisas sobre a inter-relação entre diversidade sociocultural e processo de ensino-aprendizagem; 2) Buscar dados sobre como dirigentes escolares e professores compreendem, explicam e atuam em relação à questão da diversidade sociocultural na escola.

As referências teóricas para este estudo foram: a) a teoria de Vigotsky sobre a influência do meio sociocultural no processo de ensino-aprendizagem, sobre os conceitos científicos e cotidianos e a Zona de Desenvolvimento Próximo; b) os estudos sobre o papel das práticas socioculturais vividas pelos alunos realizados por Seth Chaiklin e Marianne Hedegaard; c) os trabalhos sobre relação entre diversidade sociocultural e ensino produzidos no campo da didática, ressaltarmos as contribuições de José Carlos Libâneo.

Vigotsky compreende que o processo de desenvolvimento psíquico e a aprendizagem se dá numa relação de fora para dentro, que dizer que as relações sociais são primordiais para construção do pensamento do sujeito. Na sua origem, a Teoria Histórico-Cultural têm como base a natureza social do processo de aprendizagem, que é feito por intermédio das interações sociais do sujeito e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

Os estudos de Vygotsky apresentam conceitos importantes, entre eles: zona de desenvolvimento proximal, mediação, operação com signos (seja sua criação ou uso), funções psicológicas superiores, conhecimento cotidiano e conhecimento cientifico.

A pesquisa em torno das questões históricas e socioculturais, na constituição da personalidade e da consciência humana, contribuiu de forma significativa nas investigações em torno, das relações estabelecidas entre conhecimento teórico e o cotidiano que é produzido dentro âmbito social do sujeito.

Processo de Ensino-aprendizagem / Conhecimentos Científicos e Cotidianos

O ensino-aprendizagem precisa estabelecer relação com as práticas socioculturais dos alunos, posto que o conhecimento também é construído nas relações estabelecidas com seus pares na sociedade, e o processo educativo acontece dentro e fora do âmbito escolar. Hedegaard denomina essas relações estabelecidas entre conhecimento teórico científico e aquele produzido no seu meio social (cotidiano) de “duplo movimento” do processo de ensino:

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Na abordagem do duplo movimento, enfatizamos as relações entre conceitos cotidianos já adquiridos pelas crianças, conceitos da matéria e conhecimento local. O principal ponto duplo movimento no ensino é criar tarefas de aprendizagem que podem integrar o conhecimento local com relações conceituais nucleares de uma matéria, de modo que o aluno possa adquirir o conhecimento teórico a ser utilizado em suas práticas locais. (...) Na abordagem do duplo movimento, o plano de ensino do professor deve avançar de características abstratas e leis gerais de um conteúdo para realidade concreta, em toda a sua complexidade. Inversamente, a aprendizagem dos alunos deve ampliar-se de seu conhecimento pessoal cotidiano para leis gerais e conceitos abstratos de um conteúdo (HEDEGAARD E CHAIKLIN, 2005, p.69-70).

Por meio dos estudos de Hedegaard e Chaiklin é possível compreender com clareza como é estabelecida a ligação entre os conceitos científicos e os conceitos cotidianos, o que favorece ao aluno conhecimento mais significativo para compreender sua própria realidade social e cultural.  

Para que o aluno estabeleça essas relações, é necessário partir dos conhecimentos que ele traz do ambiente cotidiano para que, assim, possa submetê-los ao crivo dos conhecimentos científicos. Sendo assim, as práticas socioculturais devem ser inseridas no interior do processo de ensino- aprendizagem dos alunos. Para que essa ligação seja possível é necessário que o professor conheça a realidade social, local, familiar e cultural dos alunos, pois, por meio desse conhecimento, terá condições de fazer o chamado duplo movimento no ensino. De acordo com Libâneo:

[...] As práticas socioculturais vivenciadas pelos alunos são integrantes das práticas pedagógicas, inseparáveis delas. Com efeito, as práticas socioculturais e institucionais que crianças e jovens compartilham na família, na comunidade e nas várias instâncias da vida cotidiana são, também, determinantes na formação de capacidades e habilidades, na apropriação do conhecimento e na identidade pessoal. Dessa forma, as práticas socioculturais aparecem na escola tanto como contexto de aprendizagem como conteúdo, influenciando nas mudanças na aprendizagem e no desenvolvimento dos alunos. A integração entre práticas socioculturais entre as práticas socioculturais e práticas pedagógicas significa um movimento de ida e volta entre os conceitos cotidianos trazidos pelos alunos e conceitos científicos presentes na matéria, de modo que o professor, ao propor tarefas de aprendizagem aos alunos, faz integrar os conhecimentos científicos e as práticas socioculturais de que os alunos participam e vivenciam (2014, p. 18).

Nessa citação, Libâneo sugere como devem ser inseridas as práticas socioculturais no ensino-aprendizagem do aluno de modo que a integração entre conhecimentos científicos e conhecimentos cotidianos enriqueça a aprendizagem do sujeito e tornando-a mais significativa.

Pesquisa, Métodos e Materiais

A pesquisa bibliográfica consistiu no levantamento de artigos, livros e capítulos de livros sobre o tema. A pesquisa de campo consistiu no levantamento de dados e análise sobre a seguinte questão: como dirigentes escolares e professores compreendem, explicam e atuam em relação à diversidade sociocultural na escola. Foram realizadas seis entrevistas, sendo duas coordenadoras pedagógicas e quatro professores, em duas escolas da rede municipal de Educação de Goiânia.

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O critério estabelecido para escolha das escolas foi uma localizada numa região mais centralizada da cidade e outra numa região de periferia. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, atualmente a rede têm 63 instituições educacionais que atende a modalidade de ensino da EJA.

Em termos de metodologia, esclarecemos que a presente pesquisa utilizou a entrevista semi-estruturada com professores e coordenadores pedagógicos que atuam em instituições educacionais que têm a modalidade de ensino da EJA. Para a entrevista foi utilizado roteiro prévio. Depois dos dados coletados, os mesmos foram analisados a partir do referencial teórico que norteou essa pesquisa.

Resultados

Análise de entrevistas com professores e coordenadores pedagógicos que atuam na EJA na rede municipal de Goiânia

As respostas obtidas a partir do roteiro foram organizadas de acordo com categorias de análise, apresentadas a seguir. As respostas foram agrupadas conforme as categorias e subcategorias descritas, apresentadas no Quadro a seguir.

QUADRO: Categorias e Subcategorias e Respectivas Respostas
*As subcategorias foram dimensionadas a partir das respostas obtidas nas entrevistas realizadas
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS* EXEMPLOS DE RESPOSTAS
Motivação para atuar na EJA Influência de colegas “no meio acadêmico e profissional encontrei com pessoas envolvidas nessa modalidade”. 1
Escolha casual “foi uma escolha casual”. 3
Esforço e dedicação dos alunos. “Gosto de trabalhar nessa modalidade, principalmente, por causa do esforço e dedicação de alguns alunos que trabalham o dia todo e são frequentes nas aulas”. 4
Identificação com os educandos “Me identifico com os educandos, significativamente, trabalhadores, e com a necessidade deles de aprender”. 5
Vontade de aprender dos alunos “eles chegam com muita vontade de aprender”. 1
Preparo Profissional Formação insuficiente “A formação acadêmica não foi suficiente para essa modalidade”. 4
Especificidades da modalidade da EJA “Em qualquer modalidade de ensino apresenta diversidade sociocultural, mas na EJA é mais acentuado, por causa, principalmente, da diversidade de idade dos alunos”. 4
Formação continuada “acho que todos que finalizam o curso de graduação devem buscar cursos e práticas que vão ajudar na sua profissão”. 1
Planejamento das aulas “Planejamos nossas aulas e demais trabalhos individualmente e coletivamente”. 2
Percepção do lugar da diversidade cultural Contribuições da diversidade cultural “com a diversidade podemos enriquecer nosso conhecimento”. 1
Importância da diversidade cultural “Todas as escolas, em todas as modalidades, deveriam considerar as diversidades socioculturais”. 2
Realidade social do aluno “O professor precisa partir da realidade sociocultural do educando”. 3
Dificuldades e desafios Aprendizagem do aluno “um desafio é perceber em que momento da aprendizagem, conhecimento que ele se encontra e a partir daí, ajudá-lo a avançar”. 1
Inclusão “comunicação com cegos e surdos” 2
Conciliar o trabalho com o estudo “Não consegue cumprir a carga horária de três horas, devido à carga horária de trabalho”. 3
Terminalidade “temos só 6 meses para trabalhar os conteúdos, levando em conta as dificuldades cognitivas, é tempo restrito para efetivar esse trabalho.” 3
Conflitos geracionais “adolescentes e adultos num mesmo ambiente entram em confronto acerca dos objetivos a que cada grupo se propõe.” 5
Evasão escolar “evasão dos alunos”. 4
Uso de drogas no ambiente escolar “alunos usuários de drogas ilícitas.” 6
Tempo para dedicar aos estudos “não têm tempo para estudar fora da sala de aula.” 3
Relação entre conhecimentos científicos e cotidianos Relação dos conhecimentos em sala de aula “pois é do conhecimento que já trazem consigo, sua vivência, história de vida (conhecimento científico) que partimos para o conhecimento científico”.
Discernimento por parte do professor do que é conhecimento cotidiano “conhecimento cotidiano, que o educando trás da sua realidade para sala de aula”. 3
Discernimento por parte do professor do que é conhecimento científico “científicos é um pouco do conhecimento adquirido pela humanidade que precisamos cada qual em sua área passar para os educandos.” 5
Inter-relacionar conhecimentos cotidiano e científicos. “dificuldade em conciliar conhecimentos científicos e cotidianos.” 5
Apropriação do conhecimento cientifico. “Os alunos apresentar muita dificuldade na apropriação do conhecimento científico.” 6
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Análise das Respostas

Categoria 1 - Motivação para atuar na EJA

Esta categoria corresponde à questão n. 2 do roteiro de entrevista. Obtivemos seis respostas com relação à percepção dos professores sobre os com relação aos aspectos que os motivam a atuarem na modalidade EJA. Na análise das respostas predominaram as seguintes justificativas:

A partir das respostas, percebe-se que as motivações dos professores para atuar na EJA são diversas, e parte envolve diversificadas dimensões dentro do âmbito escolar. De acordo com Bzuneck (2000), a motivação ou o motivo é aquilo que move uma pessoa ou aquilo que a põe em ação ou a faz mudar de curso.

Na análise das respostas apresentadas, é possível verificar que na maioria delas a motivação dos professores está relacionada com a identificação com interesses dos educandos, sua vontade de aprender e seu esforço e dedicação ao estudo. Todas essas motivações que impulsionam o docente a se manter nesse lugar em que estão são importantes, más é preciso que o professor tenha o comprometimento no seu fazer docente, não colocando esses sujeitos numa condição de excluídos, mas de alunos que têm no conhecimento um meio de desenvolverem suas capacidades intelectuais e cidadãs, enquanto sujeitos sociais.

Portanto, o que esta pesquisa demonstra é que a motivação dos professores está relacionada a questões de caráter pessoal e subjetivo envolvendo os alunos. Devido à diversidade de motivações diferentes envolvendo a permanência dos professores na EJA, torna-se inviável dimensionar um aspecto único dessa motivação, que está entrelaçada a interesses tão diversos.

Categoria 2 - Preparo Profissional

As três questões relacionadas a essa categoria tinham o objetivo de explicitar se a formação inicial dos professores traziam contribuições para que eles pudessem atuar na modalidade de ensino da EJA.

Obtivemos um total de 17 respostas nessa categoria. Analisando as respostas, foi observado que a maioria dos professores ressaltou dificuldades em atuar na EJA, por considerar sua formação inicial insuficiente para lidar com as particularidades dessa modalidade de ensino. Na análise das respostas predominaram as seguintes com relação ao preparo profissional dos professores:

Ao analisar as respostas, é possível averiguar que os professores têm dificuldades no exercício da docência na EJA por relatarem deficiência na sua formação inicial para lidar com as especificidades dessa modalidade. Ressaltaram a importância da formação continuada e de que as aulas fossem planejadas levando em conta aspectos individuais e coletivos do grupo. De acordo com Libâneo (2015):

O professor é um profissional cuja atividade principal é o ensino. Sua formação inicial visa a propiciar os conhecimentos, as habilidades e atitudes requeridas para levar adiante o processo de ensino e aprendizagem nas escolas. Esse conjunto de requisitos profissionais que tornam alguém um professor, uma professora, é denominado profissionalismo. A conquista da profissionalidade supõe a profissionalização e o profissionalismo (p. 69).
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Libâneo ressaltar a importância da formação inicial do professor para o exercício da docência em sala de aula e no processo de ensino aprendizagem do aluno. Outro ponto relevante nesse processo é a formação continuada. De acordo com Libâneo (2015):

A formação continuada é uma maneira diferente de ver a capacitação profissional dos professores. Ela visa ao desenvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de envolvimento dos professores na organização da escola, na organização e articulação do currículo, nas atividades de assistência pedagógico-didáticas junto com a coordenação pedagógica, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classes etc (p. 71).

Tanto a formação inicial como a continuada é essencial para o professor, cada uma delas desempenha um papel significativo na sua prática docente. É preciso que as instituições (faculdades e universidades) de formação de professores se atende as lacunas no processo de formação, de forma específica com relação à modalidade de ensino da EJA. A resposta da professora com relação à pergunta que questiona sobre sua formação acadêmica, enfatiza que: “a formação acadêmica não foi suficiente para essa modalidade, o ritmo de aprendizagem dos alunos é um pouco diferente, porque na maioria das vezes os alunos da EJA ficaram um longo período sem frequentar a escola”.

Categoria 3 - Percepção do lugar da diversidade cultural

Com relação às questões submetidas à análise nesta categoria, obtivemos 11 respostas, sendo que na maioria delas ficou claro que os professores consideram o atendimento à diversidade sociocultural importante no processo de aprendizagem do aluno. Na analise das respostas predominaram as seguintes respostas com relação à percepção do lugar da diversidade sociocultural:

Conforme as respostas, percebemos que a diversidade cultural e o meio social do aluno é um fator predominante e relevante para professores no processo de ensino aprendizagem. Um exemplo foi a reposta de uma professora: “Todas as escolas, em todas as modalidades, deveriam considerar as diversidades socioculturais”. Escreve Libâneo:

Assume-se que as práticas socioculturais vividas pelos alunos em seu cotidiano devem emergir no processo de ensino-aprendizagem de modo a se estabelecer interconexões entre os conceitos científicos trabalhados pela escola e os conceitos cotidianos formados em âmbito comunitário e local. Presume-se, assim, que é possível pensar um tipo de ensino que assegure a todos os alunos aprenderem aquilo que é necessário aprender como condição da igualdade entre os seres humanos e, ao mesmo tempo, considerar, no processo de ensino-aprendizagem, a diversidade sociocultural desses alunos e suas diferentes experiências cotidianas (2016, p. 21).

O autor evidencia como é primordial no processo de ensino-aprendizagem a integração dos conhecimentos científicos e cotidianos que provém do contexto social no qual o sujeito está inserido.

4. Categoria 4 - Dificuldades e desafios

Foi submetida à análise nessa categoria a questão 5 do questionário. Obtivemos seis respostas, que mostram de forma bem clara e objetiva as dificuldades e desafios dimensionados pelos professores na sua atuação docente. Na análise das respostas predominaram as seguintes em relação a dificuldades e desafios:

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De acordo com as respostas e análise das mesmas percebe-se, que são muitos os desafios e dificuldades pontuadas pelos professores, são diversas, deste daquelas relacionadas à aprendizagem dos alunos até as questões sociais que influenciam o processo.

Categoria 5 – Relação entre conhecimentos científicos e cotidianos

Foi submetida a analise nessa categoria a questão sete do roteiro. Obtivemos cinco respostas, que evidenciaram o entendimento dos professores com relação ao conhecimento cientifico e cotidiano, e o estabelecimento de ligação entre eles no processo de ensino-aprendizagem do aluno. Nas respostas predominaram os seguintes posicionamentos em relação aos conhecimentos científicos e cotidianos:

Pela análise das respostas percebe-se a importância da articulação entre os conhecimentos científicos e cotidianos na sala de aula e também a dificuldade dos professores em conciliar esses conhecimentos no processo de ensino-aprendizagem.

O conceito cotidiano é construído por meio das práticas sociais vivenciadas pelos alunos na sociedade. Por isso, as práticas socioculturais e institucionais compartilhadas no âmbito familiar, comunidade e as diversas áreas do contexto cotidiano, todas contribuem de forma significativa na constituição das competências, internalização do conhecimento e no desenvolvimento dos aspectos relacionados à identidade pessoal do sujeito. Escreve Vigotsky:

Os conceitos científicos crescem para baixo por meio dos cotidianos. Os conceitos cotidianos crescem para cima por meio dos científicos (...). Podemos dizer que a força dos conceitos científicos se manifesta em uma esfera integralmente determinada pelas propriedades superiores dos conceitos: a compreensão consciente e a voluntariedade. Justamente nesta esfera é que os conceitos cotidianos das crianças mostram sua debilidade, pois são fortes na esfera da experiência e do empirismo. O desenvolvimento dos conceitos científicos começa na esfera da compreensão e da voluntariedade e continua mais além, crescendo para baixo, até à esfera da experiência pessoal e do concreto. O desenvolvimento dos conceitos espontâneos começa na esfera do concreto e empírico e se move em direção às propriedades superiores dos conceitos: a compreensão consciente e voluntariedade. A relação entre o desenvolvimento destas duas linhas opostas revela indubitavelmente sua natureza: trata-se da relação entre a zona de desenvolvimento próximo e o nível atual de desenvolvimento (2007, p. 377).

E evidente a inter-relação entre os conhecimentos científicos e cotidianos no ensino aprendizagem do aluno, e como um agrega o outro dentro do processo de ensino-aprendizagem.

Discussão

No percurso desta pesquisa foram constatadas questões importantes para pensarmos como contextualizar os conhecimentos científicos e cotidianos no processo de ensino-aprendizagem dos alunos da EJA, levando em conta a diversidade sociocultural dos sujeitos e qual papel do professor nesse processo.

Percebe-se pelo estudo feito e entrevistas realizadas, que os professores têm clareza da importância da ligação entre os conhecimentos científicos e cotidianos no planejamento do ensino, más é importante ressaltar as dificuldades enfrentadas pelos docentes em conciliar esses conhecimentos no âmbito da sala de aula.

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Um ponto relevante para se ressaltar, é que na formação inicial dos professores falta aprofundamento das especificidades presentes no processo de ensino-aprendizagem dos alunos da EJA, a maioria dos profissionais entrevistados relata dificuldades em trabalhar nessa modalidade, porque considera sua formação inicial insuficiente para lidar com todas as particularidades e desafios presentes na EJA.

Conclusão

O presente estudo evidencia as contribuições e o lugar de destaque do meio social no qual o sujeito está inserido para pensarmos a construção conhecimento pelo aluno dentro do âmbito escolar.

Por meio dessa pesquisa foi possível compreender as particularidades e desafios presentes na EJA e as dificuldades enfrentadas pelos docentes na sala de aula, dentre elas: a dificuldade em conciliar o conhecimento científico e cotidiano, principalmente porque a maioria considera sua formação inicial insuficiente para lidar com todas essas especificidades presentes nessa modalidade.

Todo percurso desta pesquisa e estudos realizados foram importantes para minha formação acadêmica e intelectual, pois por meio dela foi possível entender de forma mais ampla conceitos pertinentes na formação do professor.

Referências

BZUNECK, J.A. A motivação no aluno: aspectos introdutórios. In: BORUCHOVITCH, E e BZUNECK, J. A. A motivação do aluno. Petrópolis, Vozes: 2001.

HEDEGAARD, Mariane e CHAIKLIN, Seth. Radical-local teaching and learning: A cultural-historical approach. Aarhus: Aarhus University Press, 2005.

LIBÂNEO, José C. Didática e práticas de ensino e a abordagem da diversidade sociocultural na escola. Anais do XVII ENDIPE, Fortaleza (CE), 2014.

LIBÂNEO, José Carlos. A identidade profissional dos professores e o desenvolvimento de competências. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. 6.ed. São Paulo: Heccus Editora, 2015, p. 67-82.

LIBÂNEO, José Carlos. Bases e formas de organização do ensino para a diversidade sociocultural na escola e sala de aula. Projeto de pesquisa registrado na Pro-Reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da PUC Go, 2016.

VIGOTSKY, Lev S. Pensamiento y habla. Trad. De Alejandro Ariel González. Buenos Aires: Colihue clássica, 2007.

Notas

1. Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, participa do grupo de pesquisa Teorias da Educação e Processos Pedagógicos coordenado pelo professor Dr. José Carlos Libâneo.

2. Doutor em Educação, Professor Titular da Universidade Católica de Goiás do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação da PUC Goiás - PPGE.