Elzimar Nascimento Pereira Ferraz (UFG)

Formação Docente Pelas Escritas de Estagiários: Percurso Investigativo

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Resumo

Este texto explana, sucintamente, resultados de duas pesquisas concluídas e a proposição de duas novas sobre a formação inicial de professores do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação-UFG, via estágio. O estágio supervisionado obrigatório é um significativo componente curricular que aproxima o acadêmico do campo de atuação profissional por meio de uma experiência singular que lhe proporciona vivenciar algumas situações próprias do ofício, fundamentadas teoricamente. Durante este período são engendrados possíveis questionamentos sobre a formação inicial. Essa escrita aborda resultados de investigações que compõem uma pesquisa maior desenvolvida pelo Núcleo de Formação de Professores (NUFOP). Visa compreender o desenvolvimento do estágio obrigatório na perspectiva de acadêmicos, investigando concepções destes graduandos do curso Pedagogia acerca da relação entre campo de atuação e formação inicial, estabelecendo uma aproximação entre a formação universitária e atuação na escola pública. Intencionou, em duas pesquisas, descrever ações da prática docente e suas implicações para o processo de ensino e aprendizagem de crianças, e analisar o desenvolvimento do estágio como evento que agrega diálogos e tensões sobre a prática e a formação. As pesquisas, numa abordagem qualitativa, tiveram como principais referências teóricas sobre a formação inicial: Pimenta e Lima (2006), Calderano (2013), Rosa e Souza (2018). Neste sentido, a documentação analisada envolveu: produções escritas pelos estagiários nos anos de 2010 a 2014, publicadas e disponíveis no endereço: https://estagiodepedagogia.fe.ufg.br/. O estudo teve como foco de análise aspectos das ações decorrentes dos estágios, pela leitura destes materiais analisados, com duas categorias de análise: ação docente e ação discente. Dando continuidade a este processo investigativo, duas novas pesquisas, no âmbito da iniciação cientifica, abordarão análises destes mesmos resumos, sendo que num estudo serão utilizados os resumos dos estágios realizados somente na educação infantil dos anos de 2016 a 2018 e no outro estudo, serão utilizados somente os resumos sobre a experiência no ensino fundamental ocorrida entre 2010 a 2018. Estes estudos intencionam destacar a importância de se perceber os sentidos postos em ação quando o estagiário se insere no campo escolar.

Palavras-chave: Pedagogia. Escola-Campo. Educação Básica.

Introdução

O Estágio pode ser considerado um grande desafio da formação docente, pois carrega elementos basilares do processo formativo, tais como: relação teoria e prática, articulação entre universidade e escola, formação e trabalho docente, entre outros. Porém, inexiste um espaço privilegiado de discussão sobre esta disciplina curricular.

É raro encontrar pesquisas que abordam especificamente problemáticas assentadas no desenvolvimento do Estágio. Entretanto, cabe destacar que na Faculdade de Educação, o Núcleo de Formação de Professores (NUFOP) desenvolve um projeto de pesquisa intitulado: “Recortes da relação entre formação e atuação docente no estágio”. O mesmo é coordenado pela professora Dra. Valdeniza Maria Lopes da Barra. E dentre os resultados de investigações sobre a formação docente, este trabalho busca compreender o desenvolvimento do estágio na perspectiva dos sujeitos envolvidos, dando voz e visibilidade às ações de acadêmicos, com base no pressuposto de que o desenvolvimento da disciplina de estágio proporciona vínculos afetivos com diferentes interesses, agrega contradições, diálogos, conflitos, algumas tensões na intersecção escola-campo e universidade, numa perspectiva de construção histórica.

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De acordo com Piconez (2012, p. 23), o espaço do estágio é o eixo que “poderia articular a integração teoria-prática entre os conceitos da parte diversificada e do núcleo comum do curso de formação de professores e o conhecimento da realidade da sala de aula na escola pública”. Neste sentido, há muitos determinantes na relação entre campo de universidade, tais como: lidar com uma rotina, bem como a necessidade de improvisar; estabelecer bons relacionamentos; lidar com alguns “disfarces” acerca das características institucionais, pois muitas questões são veladas aos estagiários. Os estagiários vão aprendendo que “Independentemente do tempo que tenham de profissão, todos os dias eles serão submetidos a profissão um verdadeiro e frequente processo de aprender para ensinar e aprender a ensinar”. (DANIEL 2009, p.72). Estas questões são extremamente desafiadoras para a formação inicial dos acadêmicos nesta relação estabelecida com instituição escolar.

O estágio desenvolvido no curso de Pedagogia da Faculdade de Educação possui um projeto no qual propõe um estágio como uma construção investigativa, conforme aponta Pimenta e Lima (2011), numa perspectiva de problematizar a prática. De acordo com Rosa e Souza (2019, p. 36) o estágio “representa um espaço de compreensão e problematização da realidade observada, fundamentada nos estudos teóricos produzidos no campo educacional”. Nesta trilha teórica foram desenvolvidos dois estudos acerca das produções acadêmicas e os resultados decorrentes destes são aqui apresentados.

Num estudo com a participação da pesquisadora Nilma Fernandes do Amaral Santos, foram analisados todos os resumos das produções de 2010 a 2014, apresentadas no Seminário de Estágio anual para os discentes. Os resumos encontram-se disponíveis no site: https://estagiodepedagogia.fe.ufg.br/. Este seminário é um evento no qual os estudantes são orientados a sistematizar e expor experiências desenvolvidas nos campos de estágio do ano letivo vigente. É organizado pelos professores de Estágio do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da UFG, no qual acontece apresentações dos resumos das respectivas experiências. No outro estudo investigado, com a participação e colaboração de Mikaelly Ferraz de Oliveira, os resumos estudados foram somente da experiência de estágio na educação infantil.

Nos dois estudos, as categorias de análise foram as mesmas: ação docente e ação discente. Dando sequências a estes estudos, duas novas pesquisas estão em andamento. Assim, o texto está organizado em dois momentos. No primeiro momento são discorridos resultados sobre estas duas investigações, numa síntese de ambas. E no segundo são apresentadas expectativas futuras de duas novas investigações, tendo como objeto de estudo os resumos publicados.

Resultados Investigativos

Nas duas investigações buscamos compreender impressões e expectativas de estagiários em relação ao estágio supervisionado. Foram consideradas o modo como participam do estágio e administram suas atividades com conhecimentos adquiridos no decorrer do curso e sobre sua própria capacidade de atuar, com autonomia e propriedade, criando seus próprios modelos e não apenas copiando um modelo de regência, como alerta Pimenta e Lima (2006).

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Apresentamos duas categorias de análise utilizadas: ações docentes e ações discentes. A primeira categoria diz respeito às ações docentes desenvolvidas pelos estudantes de Pedagogia no decorrer do estágio. Na segunda categoria identificamos quais as ações realizadas pelos alunos, considerando todos os níveis e modalidades. Na citação das escritas de estagiários letra R representa a palavra resumo, seguida da numeração que aparece na ordem do site e o respectivo ano.

Nas duas investigações, consideramos a leitura de todos os resumos, sem distinguir ano ou modalidade de ensino. Portanto, foram analisados um total de 255 resumos de acordo com a organização do quadro abaixo:

Quadro 1 – Quantidade de trabalhos inscritos por estagiários em Educação Infantil e Anos iniciais do Ensino Fundamental da Faculdade de Educação - UFG. Fonte: Autoria das pesquisadoras-dados publicados no endereço: https://estagiodepedagogia.fe.ufg.br/
Ano< Trabalhos inscritos por estagiários em Educação Infantil/Ensino Fundamental (1º a 5º ano e EAJA)
2010 24
2011 27
2012 42
2013 63
2014 99
TOTAL 255
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Quanto a primeira categoria, ações docentes, foram identificadas por palavras significativas de ações. Nas ações docentes dos estagiários, os mesmos mencionaram com maior frequência: planejamento de aulas; elaboração de atividades, com destaque para aspectos como: prática docente em condições objetivas. O que implica pensar heterogeneidade da turma; a organização disciplinar, tempo da aula, as atividades, instrumentalizar quais recursos utilizar; instigar a imaginação, a criatividade e a curiosidade das crianças. Como destaca o relato:

No primeiro, dos cinco encontros, as crianças confeccionaram origamis de barquinho e brincaram com eles ao som da música a canoa virou, desenvolvendo, assim a coordenação motora, a imaginação e a criatividade. No segundo e no terceiro encontro a atividade foi baseada na brincadeira amarelinha. As crianças tiveram a percepção dos números em ordem crescente/decrescentes e aprenderam o nome das formas geométricas, além de desenvolver a coordenação motora e lateralidade. Nos dois últimos encontros as crianças fizeram a comparação das quantidades, com canudinhos coloridos, desenvolvendo a concentração e o raciocínio lógico matemático, ao final brincaram de pega vareta. E confeccionaram cata-ventos, atividade que proporcionou momentos de descontração e diversão no ambiente da educação infantil. (R-17, 2013)

Além destas práticas mencionadas, ainda foi citada a questão de estabelecer um ambiente de respeito e harmonia com as crianças; a realização de rodas de conversa; leitura e análise textual; promover momentos de brincadeiras; a observação do desenvolvimento e participação dos alunos; análises documentais e diálogos estabelecidos pelas estagiárias; participação das crianças ao planetário da UFG na última regência.

Os fragmentos retirados dos próprios resumos e citados aqui apontam para uma intencionalidade do trabalho docente, para a necessidade de planejamento e de tempo de estudo, isso pode ser considerado uma atividade intelectual.

Também foram trabalhadas diversas manifestações artísticas e culturais como: pinturas, observações, registros diários, fotografias, produções artísticas, técnicas de pintura, apreciação de obras e músicas. Além disso, houve ações docentes frequentemente citadas nas quais envolvia a promoção de brincadeiras, a contação de histórias, desenhos, vídeo e dança; recortes, teatro, fantoches, massinhas de modelar, jogo de quebra-cabeça; festa; corrida de saco, brincadeiras de roda; desenvolvimento de sentimentos de valorização da fauna de Goiás; desmistificação da ideia de lobo malvado das histórias infantis; o brincar com a imaginação, envolvendo os aspectos afetivos, o cognitivo e também o social; e noções de medidas matemáticas. Como mostra o relato retirado de um resumo:

[...] desenvolvido em cinco regências nas quais buscamos instigar a imaginação, a criatividade e a curiosidade das crianças por meio da leitura e do registro de histórias da literatura infantiL [...] realizando rodas de conversa, contação de história, apreciação musical acompanhada de danças, desenhos livres e dirigidos (R, 09-2016)

A formação docente engendrada pelo estágio é manifestada nas impressões e expectativas de estagiários com relação ao desenvolvimento do mesmo, como demonstra o seguinte relato:

Concluímos que o estágio é de extrema importância para a formação docente, pois nos possibilita reflexões críticas, experiências e vivências de aprendizagem significativas, contribuindo para a construção da nossa identidade profissional (R, 05-2014).
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De acordo com as autoras Daniel (2009), Pimenta e Lima (2006) e Calderano (2013), é necessário estabelecer a relação entre teoria e prática na disciplina de estágio. Somente esta articulação entre os conhecimentos científicos e os da prática na escola é que o docente poderá fazer o exercício da prática profissional. É importante e possível desenvolver o estágio curricular de modo significativo, no sentido de melhorar a qualidade da formação docente. Conforme o relato abaixo:

[...] o estágio proporcionou vivenciar muito do que aprendemos em sala de aula durante o Curso de Pedagogia, pois nos levou a refletir sobre as relações entre teoria e prática e a respeito das metodologias que podemos adotar no exercício futuro da docência, com crianças da educação infantil. Outra contribuição trazida pelo estágio consistiu na oportunidade de vivenciar os desafios do trabalho coletivo e de exercitar os princípios éticos necessários à convivência e às relações profissionais no ambiente educacional (R, 14-2012).

O estágio obrigatório do curso de Pedagogia é um exercício da profissão docente. Conforme a Lei n. 11.788, 25/09/2008 o mesmo deve acontecer sob a supervisão de professores orientadores (professores da disciplina de estágio da Instituição de Ensino Superior-IES) e professores supervisores (professores regentes das instituições concedentes). Neste sentido, Pimenta e Lima (2011, p.127) consideram que a função do professor orientador do estágio deve ser a de “[...] à luz da teoria, refletir com seus alunos sobre as experiências que já trazem e projetar um novo conhecimento que ressignifique suas práticas, considerando as condições objetivas, a história e as relações de trabalho vividas por esses professores-alunos”.​ Entende-se que o estágio, por exemplo, na educação infantil, amplia a formação recebida na graduação, como demonstra Drumond (2015):

[...] é no contato com o contexto da educação Infantil, com as crianças e os (as) professores (as), no dia a dia das creches e das pré-escolas, que os (as) estudantes têm sua atenção despertada para questões que passariam despercebidas, caso fossem abordadas apenas do ponto de vista da teoria, com leitura de textos, por exemplo. (DRUMOND, 2015, p. 9).

O estágio obrigatório é um elemento desafior da formação docente, pois a partir dele serão vivenciadas experiências que somam-se a futura prática pedagógica. Dentre as considerações escritas, algumas demonstram o exercício do diálogo durante o estágio, como aponta (CALDERANO, 2013, p. 13) “o diálogo entre os sujeitos envolvidos é um imperativo para melhor compreender e propor novas formas de acontecer o estágio supervisionado”. Pela escrita dos acadêmicos foram identificados diversos momentos de diálogo entre os pares no desenvolvimento das diversas ações docentes, principalmente na educação infantil.

A segunda categoria refere-se às ações discentes: casos em que os resumos referem-se a ações dos alunos. Quanto às ações mencionadas nos resumos, são expressas aqui a partir de verbos no infinitivo, como por exemplo: brincar; participar no movimento e nas interações; comer; desenvolver a oralidade/discurso; interagir e socializar; falar; explorar o próprio corpo; ouvir, desenhar; falar/ouvir/participar das rodas de conversas; experimentar contextos físicos e simbólicos; ampliar linguagens, dramatizar com fantoches; refletir sobre as operações matemáticas; produzir textos; perguntar; correr, pular, saltar; solucionar cálculos; pensar sobre suas ações; debater; refletir; degustar; montar tabelas e gráficos; apreender noções geométricas no cotidiano; pesquisar na sala de informática; confeccionar “lixeiras de reciclagem”; participar significativamente nos encaminhamentos do projeto ainda em processo de construção; participar da oficina de produção de brinquedos com materiais recicláveis; desenvolver conceitos relativos à temática e formação do senso crítico e de atitudes em relação ao meio ambiente.

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Ainda sobre estas ações, foi registrado que, durante as regências, os graduandos deveriam promover e /ou oportunizar às crianças o desenvolvimento de habilidades e atitudes voltadas ao desenvolvimento da coordenação motora, da percepção, da atenção, da capacidade de expressar emoções e desenvolver a organização do espaço e do tempo; ler e escrever de forma reflexiva; envolver-se nas produções e nas atividades propostas de interação entre grupos; ver imagens; fazer mapas conceituais, cantar músicas, jogar e produzir cartazes; criar poesias, memorizar poemas, transcrever poemas; jogar e produzir textos; ter voz e vez. Além disso, as crianças deveriam apresentar liberdade de agir a partir de princípios de cooperação; responsabilizar-se pelos pertences individuais e coletivos; participar nos diálogos e nas atividades de leitura e escrita.

Pelo exposto, as ações desenvolvidas pelos discentes pressupõem o estudante como sujeito de aprendizagem e, para tal, devem pensar sobre o que aprendem, envolvidos em ações físicas, sociais, intelectuais, estéticas, éticas e que considerem suas diferentes fases do desenvolvimento.

Cabe destaque, atividades envolvendo a capacidade imaginativa, a oralidade, e em relação à autonomia, socialização, criatividade e exploração do espaço. Outro fato é que nem todos resumos mencionaram ação diretamente das crianças. Poucos trabalhos registraram falas das crianças, porém os que assim o fizeram demonstraram uma riqueza de informações nas atividades em família.

Pesquisa sobre Estágio num Continuum

No livro Estágio e Docência (PIMENTA; LIMA, 2012) as autoras abordam, de maneira ampla, o percurso das concepções de estágio curricular na formação de professores, apresentando uma crítica à perspectiva dicotômica da relação entre teoria e prática, e defendendo o estágio como um espaço de investigação da prática pedagógica na realidade escolar e da própria formação universitária, atribuindo a ele um lugar de evidência na formação docente.

Nesta mesma direção, contribuindo com os estudos sobre o estágio, Calderano (2013), em uma pesquisa com 429 colaboradores, sendo supervisores e gestores da escola, estagiários e orientadores da universidade, buscou analisar diferentes percepções destes sujeitos sobre o estágio. Dentre as considerações sobre as respostas dadas, aponta que o diálogo entre os sujeitos envolvidos é um imperativo para melhor compreender e propor novas formas de acontecer o estágio supervisionado.

Apresentamos dois novos estudos, como uma continuidade das investigações anteriores. No primeiro estudo contemplamos as leituras dos resumos publicados de 2010 a 2018 e disponíveis no endereço: https://estagiodepedagogia.fe.ufg.br/ . Estes resumos tratam dos estágios realizados somente nos anos iniciais do ensino fundamental, pois apresenta uma temática articulada com outras investigações realizadas no âmbito do NUFOP. Além disso, procuramos dar visibilidade aos trabalhos desenvolvidos pelos estagiários, ou seja, suas produções escritas, possibilitando identificar ações dos sujeitos envolvidos, com abertura para explicações e para novas inquirições, considerando aspectos significados que os sujeitos conferem ao desenvolvimento do Estágio no Ensino Fundamental. Possui como objetivo geral: analisar o desenvolvimento do estágio como evento que agrega diálogos e tensões sobre a prática e a formação docente, pelas produções escritas de estagiários. E como objetivos específicos esperamos que no decorrer da pesquisa seja possível:

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O percurso metodológico desta investigação consiste em três momentos principais: seleção, identificação e análises das produções escritas em forma de resumo. A seleção, pela leitura dos títulos dos resumos, será dos resumos nos quais abordam o estágio nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) publicados de 2010 à 2018, descartando os do ensino fundamental na EAJA e os referentes ao Estágio na Educação Infantil. A partir de então, serão realizadas as leituras dos mesmos. Esta leitura será mais atenta aos objetivos da pesquisa. Logo após, os dados serão categorizados e analisados.

Na identificação será elaborado um quadro com a quantidade de trabalhos inscritos nos Seminário de Estágio da Pedagogia por modalidades/etapas da Educação Básica no período 2010 à 2018, com destaque para a coluna dos respectivos trabalhos do Estágio no Ensino Fundamental (1º ao 5º ano).

Logo após será realizada a leitura dos resumos especificamente dos Estágios ocorridos no Ensino Fundamental, buscando apreender a história criada e recriada, registradas, assim a coleta dos dados será pela leitura e análise destes resumos, visando a compreensão do desenvolvimento do Estágio. Nas leituras serão identificados os resumos que abordam reflexão sobre algum aspecto da própria formação acadêmica, no geral, e os que abordam relatos das regências.

A análise será qualitativa, com categorização dos dados, pela apresentação de textos reflexivos sobre o estágio na formação profissional de pedagogos. E terá as seguintes categorias:


  1. Área de Conhecimento/Tema/Conteúdo e as motivações para a escolha, fundamentação teórica;
  2. Ações docentes - Quando os resumos mencionam ações desenvolvidas pelos estagiários, em diferentes atividades e nas regências; relação pedagógica, questões de conflitos, contradições, angústias;
  3. Ações discentes - Casos em que os resumos referem-se a ações dos alunos, e para tal são selecionados os verbos empregados na descrição das ações discentes, por exemplo: falar, ler, escrever, pintar, brincar etc. Sobre as ações das crianças, serão considerados os aspectos afetivos, psicomotores e intelectuais, e ainda a educação inclusiva: crianças com deficiências.

Para desenvolver o estudo das categorias será usado um instrumento de leitura pelo qual serão contabilizas as informações contidas nos resumos.

A segunda investigação procura dar continuidade à discussão sobre a atuação e a formação docente dos estudantes de Pedagogia da FE, especificamente, através do estágio em Educação Infantil. Na tentativa de compreender o desenvolvimento do estágio obrigatório nesse campo, além de refletir a respeito de aspectos teórico-práticos dessa experiência vivida em CMEIS. No desenvolvimento desta pesquisa, são estudados os resumos elaborados pelos alunos apresentados nos seminários de estágio do Curso de Pedagogia nos anos de 2016 à 2018.

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No primeiro momento será construída uma tabela com a quantidade de trabalhos inscritos nos Seminário de Estágio da Pedagogia por modalidades/etapas da Educação Básica no período 2016 à 2018, com destaque para a coluna dos respectivos trabalho em Educação Infantil. Logo após será realizada a leitura dos resumos especificamente do Estágio em Educação Infantil realizados exclusivamente em Centro Municipais de Educação Infantil (CEMEI), buscando assim a coleta dos dados pela leitura e análise dos resumos, visando a compreensão do desenvolvimento do Estágio nesta primeira etapa da educação básica.

A análise será qualitativa, com categorização dos dados, pela apresentação de textos reflexivos sobre o impacto do estágio na formação profissional dos estudantes. Nas leituras serão identificados os resumos que abordam reflexão sobre algum aspecto da própria formação acadêmica, de maneira geral, dos estagiários, e os que abordam relatos das regências. São usadas as mesmas categorias de análise: áreas do conhecimento, ações docentes e ações discentes, considerando as especificidades da Educação Infantil.

Estas duas novas pesquisas, já em andaemento, abordarão registros de estágios na educação infantil e no ensino fundamental, excluindo os estágios realizadas nas turmas atendidas na Pestalozi, na EAJA e no CEPAE/DEI/UFG. Entendemos que a realização do estágio nestes espaços de aprendizagem merece uma atenção particular. As propostas pedagógicas deste tipo de atendimento são específicas e merecem um tratamento coerente com suas características. Assim, temos grandes expectativas para novas investigações deste campo de atuação.

Considerações Finais

O ensino escolar institucionalizado é produzido culturalmente, numa determinada sociedade, a partir de uma construção histórica educacional coletiva e protagonizada por pessoas em suas vivências no cotidiano. Desta forma, a cronologia do tempo se cumpre, através de um calendário escolar convencional, pelo qual se constrói uma história, que na sutileza da simplicidade cumpre o ritual amplo, delicado e conflitante da atividade docente.

A carreira docente não é prescrita num manual e não há consenso sobre seu estatuto, principalmente no que diz respeito à formação docente do Pedagogo. Neste texto intencionou abordar como se constitui a docência atual sob o prisma de estagiários em escola pública. O olhar e a memória de discentes sinalizam para as mudanças significativas sobre a formação docente. Ao sintetizar, de formar escrita, a análise do trabalho realizado no ano letivo, o estagiário expõe e pensa sobre os desafios postos, os percalços, e admite que nem tudo funciona a contento.

Segundo as escritas é possível sinalizar que os estagiários, muitas vezes se sentem protagonistas em histórias no cotidiano da escola, manifestam ter realizado o melhor. Os relatos apontam alguns caminhos e corroboram com o pensamento de autores da área de formação de professores sobre a formação inicial via estágio. Dentre as expressões manifestadas, algumas demonstram dificuldades encontradas na educação infantil relacionadas à inexperiência e insegurança de estagiários em lidar com crianças pequenas. Todavia, as leituras apontam para a possibilidade de fazer do estágio um momento que integre as disciplinas do curso, contribuindo para elaborações teórico-práticas, considerando, além das situações de sucesso, as de conflitos e contradições.

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Muitas questões ainda emergem sobre a formação de professores e almejamos que o percurso das investigações em andamento revele possíveis conflitos, aspirações e melindres advindos da relação entre universidade e campo de estágio. E também que dê pistas para entender as questões de relacionamento interpessoal construída entre os diferentes sujeitos envolvidos no desenvolvimento dos estágios, além de demostrar bases teóricas que fundamentam o planejamento de estagiários e sinalize para novas possibilidades de se pensar a formação do docente dos profissionais que trabalham com crianças na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Referências

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Notas

1. Graduada em Pedagogia pela Fundação de Ensino Superior de Rio Verde-GO /FESURV (1992). Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília UCB-DF (2000) e Doutora em Educação pela Universidade Federal de Goiás-UFG (2011). Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás-UFG, no curso de Pedagogia. Atualmente participa como pesquisadora do Núcleo de Formação de Professores-NUFOP - FE/UFG. Coordena a área de Didática e Estágio (2019-2020).

2. UEG- Campus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas. E-mail: nilmaamaral20@hotmail.com

3. Graduanda do curso de Pedagogia, bolsista Prolicem da Faculdade de Educação-UFG. mikaellypedagogia2017@gmail.com.

4. Os discentes são estudantes das instituições campo de estágio, ou seja, alunos da Educação Infantil, Anos iniciais do Ensino Fundamental e Anos Iniciais do Ensino Fundamental na modalidade EJA.