Rodrigo Rodrigues Freire Gomes (IESA/UFG)
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A Potencialidade do Tema Cidade no Ensino de Geografia para os Estudantes da Eaja do Munícipio de Goiânia-GO

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Resumo

Esse trabalho é derivado da pesquisa de mestrado intitulada: “Práticas socioespaciais e ensino de Geografia dos alunos da EAJA do município de Goiânia”. O objetivo desse trabalho é evidenciar a potencialidade do ensino da temática cidade voltada para a formação do aluno da Educação de Adolescentes Jovens e Adultos, levando-se em conta o perfil do alunado desta modalidade de ensino. Para evidenciar a importância desse conteúdo, foi realizado um breve levantamento bibliográfico sobre a relevância desse tema para o ensino de Geografia, somada à aplicação de questionários para 50 alunos em duas escolas da Educação de Adolescentes Jovens e Adultos (EAJA), em Goiânia, visando compreender a situação socioeconômica desses alunos. Ao longo do trabalho, nota-se, que, grande parte dos estudantes trabalham e vivem uma situação econômica desfavorável. Também é perceptível, que alguns alunos estão matriculados na EAJA para conseguirem um trabalho ou se inserirem em uma melhor condição de empregabilidade. Desse modo, é fundamental destacar que a Educação de Jovens e Adultos tem sua rotina vinculada à questão do trabalho, e que muitos alunos por conta de sua exaustiva rotina de trabalhar e estudar, vivenciam melhor a cidade em suas formas, estruturas e contradições. Perante essas afirmações, o estudo também atesta, que ensinar o tema cidade para esses alunos os possibilitam a compreenderem a dinâmica urbana de seu espaço vivido, sendo necessário pensar o contexto urbano no ambiente escolar, e trazer o cotidiano desses estudantes para dentro do processo de ensino e aprendizagem. Em linhas gerais, pondera-se que o Ensino de cidade assume um importante papel na formação do aluno, emancipando-o como sujeito constituinte de uma classe social capaz de atuar nas contradições enraizadas no seio do espaço urbano.

Palavras-chave: EAJA. Estudo de Cidade. Espaço Urbano.

Introdução

Para investigar a Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade de ensino, é importante entender quais são os sujeitos que ali estudam e quais as razões que lá os levaram. A EJA, carrega ao longo dos anos a marca da exclusão social, dos preconceitos e das injustiças, mas também leva a esperança, a luta e o anseio de milhares de pessoas que sonham em ter um futuro melhor e uma vida mais digna.

De modo geral, não é exagero afirmar que está-se falando de trabalhadores, pessoas que estão no mundo de trabalho, geralmente, em condições desfavoráveis, ou pessoas que querem ingressar em uma condição de empregabilidade e vê a Educação de Jovens e Adultos como um atalho para tal inserção.

Ao entrar em uma sala de aula da EAJA, nota-se a grande diversidade dos sujeitos, suas formas de falar, de pensar e de se portar na escola. Deste modo, esse trabalho visa compreender quem são esses alunos, as causas e motivos que os levaram a estar ali, o que fazem, e como a escola está inserida em seu contexto.

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A inserção no mercado de trabalho ou a perspectiva de entrada no mesmo, implica em uma abrupta mudança no cotidiano do sujeito, que a partir de agora, decorrente de sua rotina mais acelerada, passa a vivenciar e a realizar maiores trajetos e itinerários pela cidade (RIBEIRO, 2011). Nesse cotidiano, o jovem ou adulto trabalhador passa conhecer mais as paisagens urbanas, os sujeitos de outras regiões da cidade e diferentes lugares do seu espaço urbano. Transitar por esses novos lugares, mesmo que de forma transeunte, oportuniza a esse estudante a percepções dos vários sentidos, formas e arranjos que estão presentes no seio da cidade.

A análise dos alunos da EAJA, foi realizada através da aplicação de questionários – presente no apêndice desta pesquisa -, em duas escolas municipais da Rede Municipal de Goiânia – a Escola Municipal Coronel Getulino Artiaga (Escola 1) e a Escola Municipal João Braz - no mês de junho (Escola 2). Além disso, foi realizado um levantamento bibliográfico para compreender qual a importância que o estudo da temática Cidade pode ter para a formação da cidadania do aluno dessa modalidade de ensino.

O Perfil do Estudante da Eaja de Goiânia

Para entender um pouco do perfil dos alunos que responderam aos questionários, é preciso entender a realidade local das escolas que esses alunos estudam para entender qual é contexto espacial que esses estudantes estão inseridos.

A Escola Municipal Coronel Getulino Artiaga, situada no Setor Leste Vila Nova, região central de Goiânia, está em um dos bairros mais antigos da capital e oferece uma ampla variedade no setor de serviços e comércios para a sua população. Apesar de estar próxima de bairros importantes como Setor Central, Setor Leste Universitário e Setor Sul, o bairro constitui-se como uma centralidade e atualmente é um dos maiores setores de Goiânia. Segundo o censo de 2010 do IBGE, o bairro abriga mais de 16 mil habitantes.

A Escola Municipal João Braz, situada na Vila Jardim São Judas Tadeu, região norte de Goiânia, está em uma zona mais periférica na cidade, e localiza-se em um bairro predominantemente residencial contém alguns estabelecimentos comerciais e opções de serviços, como supermercados, caixas eletrônicos e lotéricas. O bairro recebe muita influência de bairros vizinhos como o Goiânia 2 e o Itatiaia, onde boa parte da sua população procura essas localidades para atividades de lazer e consumo. Sua população, segundo o censo de 2010, era de aproximadamente 5.500 habitantes.

Conforme ressaltado anteriormente, o questionário foi realizado no mês de Junho, e contou com a participação de 50 alunos, distribuídos nas duas escolas, em que 33 eram da Escola Municipal GetulinoArtiaga e 17 na Escola Municipal João Braz. A categorização do número de alunos por escola é intencional, e tem como objetivo entender os percursos dos alunos que trabalham e a forma de como esses alunos chegam a escola.

O questionário aplicado teve as seguintes perguntas:

  1. Qual sua renda familiar? : ( ) ½ a 1 salário mínimo (R$ 499,00 a R$ 998,00), ( ) Até 2 salários mínimos (R$ 1996,00), de 2 a 3 salários (R$ 1996,00 a 2994,00), Acima de 3 salários (R$ 2994,00 ou mais)
  2. Trabalha? Sim ( ) Não ( )
  3. Qual função realiza?
  4. Qual a carga horária semanal?
  5. Qual é o bairro onde você mora?
  6. Qual é o bairro onde você trabalha?
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A primeira pergunta questiona sobre a renda familiar dos estudantes do EAJA, que é um dado que nos possibilita depreender sobre as condições socioeconômicas desses alunos.

Figura 1. Fonte: Pesquisa de campo (2019)

Dos 50 alunos, 29 declararam que a renda mensal familiar não passa de 2 salários mínimos – R$ 1996,00 -. Isso mostra que alunos que estão na EAJA tem uma condição socioeconômica bastante desfavorável. Para o DIEESE, (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em 2018 o valor mínimo para se viver em condições razoáveis é de R$ 3.636,04 “para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência”. Esse dado escancara a situação dos indivíduos que sustentam uma família com essa renda em um país extremamente desigual e marcado por injustiças sociais, o que fomenta o sentimento de mudança nos alunos do EAJA, que querem entrar no mercado de trabalho ou conseguirem um emprego melhor.

Existem também alunos que declaram a renda familiar de 2 salários mínimos ou mais, representando 15 pessoas do total de 50. Existem algumas variáveis para justificar tais dados. Um deles é o fato do aluno ainda não ter obrigações de inserção no mercado de trabalho decorrente das boas condições socioeconômicas de suas famílias, como pode ser o caso dos adolescentes de 15 a 19 anos que estudam na EAJA. Outra justificativa palpável, é que a renda pode ter contribuição de uma ou mais pessoas, o que não necessariamente indica um conforto socioeconômico, pois isso depende da quantidade de pessoas que vivem na família e que são dependentes da mesma.

No gráfico 2, foi mostrado a quantidade de estudantes da EAJA que trabalham. A questão do trabalho nessa modalidade de ensino é uma questão muito sensível e que deve estar sempre embutida nos planejamentos e nos currículos elaborados para esse alunado.

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Figura 2. Fonte: Pesquisa de campo (2019)

Dos 50 alunos, 30 afirmaram que trabalham e 20 disseram estar sem trabalho. Apesar de haver uma certa proximidade entre os números de empregados e desempregados entre os alunos que responderam à pesquisa, devemos atribuir esse dado à quantidade de adolescentes que estão nas duas escolas da EAJA, em que se nota que grande parte dos mesmos estão sem trabalho.

Porém, apesar do desemprego, o jovem que está na EAJA, de fato, tem ambições de ter um trabalho em um momento próximo, visto que a necessidade de consumir espaços, bens e mercadorias permeiam as ambições das juventudes. Isso pode ser atestado mediante suas intenções na modalidade de ensino, que é pela rápida escolarização, ou por ter tempo para procurar emprego e/ou trabalhar.

Em relação aos 30 estudantes que confirmaram ter um trabalho, dados sobre suas jornadas de trabalho diárias nos trazem alguns apontamentos.

Dos 30 alunos que responderam que trabalham, 25 afirmam que trabalham pelo menos 40 horas semanais totalizando uma total de 8 horas diárias. São estudantes que possivelmente, trabalham em horário comercial – das 08h00 às 18h00 – e vão pra escola após o fim de seu expediente.

Figura 3. Fonte: Pesquisa de campo (2019)
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Até o momento, certificamos que grande parte dos alunos trabalham e estudam, recebem uma remuneração salarial insuficiente a um padrão razoável de vida. Mas como é a mobilidade destes estudantes? Quanto tempo demoram se deslocando de casa para o trabalho? Como vão para a escola? O gráfico e os quadros abaixo nos dão algumas considerações iniciais sobre as rotinas diárias dos estudantes:

Figura 4. Fonte: Pesquisa de campo (2019)

Dos 30 alunos que trabalham, 13 demoram até 10 minutos para chegarem ao local de trabalho, o que provavelmente demonstra que os mesmos trabalham próximo da suas residências ou vão para seus locais de trabalho através de transporte individual. 15 dos 30 alunos afirmam que demoram até 40 minutos para chegar ao local de trabalho, e apenas 2 declaram que demoram mais de 40 minutos para chegarem ao trabalho. Porém, para aprofundarmos sobre a realidade espacial dos alunos é importante verificar em quais setores esses alunos trabalham e moram:

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Quadro 1: BAIRROS QUE OS ALUNOS DA EAJA MORAM
Escola 1
Setor Negrão de Lima (5 alunos), Setor Central, Setor Leste Universitário (4), Setor Leste Vila Nova (12), Setor Aeroporto, Conjunto Caiçara, Setor Nova Vila, Setor Santa Genoveva, Setor Goiânia II (2), Setor Norte Ferroviário, Vila Coronel Cosme, Setor Jaó, Vila Jardim São Judas Tadeu.
Escola 2
Jardim Pompeia (4), Vila Jardim São Judas Tadeu (13), Jardim Bom Jesus, Goiânia II (3)
Quadro 2: BAIRROS QUE OS ALUNOS DA EAJA TRABALHAM
Negrão de Lima (3 alunos), Setor Campinas, Setor Central, Setor Aeroporto, Setor Sul, Setor Bela Vista, Crimeia Leste, Setor Oeste, Setor Leste Vila Nova (2), Setor Leste Universitário (5), Setor Nova Vila, Vila Jardim São Judas Tadeu (3), Setor Norte Ferroviário, Setor Jaó, Aldeia do Vale, Santa Genoveva, Goiânia II (2), Jardim Bom Jesus.

No momento de tratamento dos dados tabulados sobre o local de moradia dos alunos, foi preciso concatenar esses dados com as escolas que esses alunos estudavam. Deste modo, fica mais compreensível averiguar a mobilidade espacial desses alunos, o seu trajeto casa-trabalho e trabalho-escola.

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Na Escola 1, a maioria dos alunos residem no próprio bairro da escola – Setor Leste Vila Nova –, e em bairros limítrofes como o Setor Leste Universitário (4), Setor Nova Vila, Setor Negrão de Lima (5), Setor Norte Ferroviário e Vila Coronel Cosme. Tais opções sustentam a ideia de que os alunos da EAJA procuram a escola mais próxima de suas casas como uma forma de encontrar comodidade em suas trajetórias diárias. Em relação ao restante dos setores de moradia dos alunos como Santa Genoveva, Goiânia II, Setor Jaó, Conjunto Caiçara e Vila Jardim São Judas Tadeu, podemos ponderar que a opção pela escola foi decorrente da escola estar próxima do local de trabalho.

Na Escola 2 também ocorre uma situação semelhante, dos 17 alunos, 13 moram no bairro da escola – Vila Jardim São Judas Tadeu – e o restante mora em bairros próximos – Jardim Pompeia, Jardim Bom Jesus e Goiânia II (2) -.

No que concerne ao local de trabalho, nota-se que grande parte dos alunos trabalham em bairros que são considerados como centralidades em Goiânia. O Setor Campinas, por exemplo, é uma importante localidade em Goiânia muito por conta de seu intenso comércio popular e especializado, sobretudo ao longo da Avenida 24 de Outubro e da Avenida Anhanguera. Foram citados também outros bairros que se destacam pela grande quantidade de comércio, serviços e empresas como o Setor Central, Setor Sul, Setor Oeste, Setor Leste Vila Nova, Setor Leste Universitário, Setor Aeroporto e Setor Bela Vista.

Além desses setores, foram citados alguns bairros mais longínquos. Entre eles, podemos citar o Aldeia do Vale e Setor Jaó, que no contexto urbano de Goiânia, são considerados bairros elitistas e voltados para as camadas sociais mais ricas da cidade que empregam jardineiros, diaristas, empregadas domésticas, cuidadoras, entre outras ocupações. Em linhas gerais, percebe-se que a espacialização do trabalho entre os alunos da EAJA segue a mesma lógica do delineamento do espaço urbano pautada a partir de uma lógica mercadológica, em que os proletários se deslocam para as regiões mais centrais e aptas para a acumulação do capital, como ocorre em Goiânia.

A Importância da Temática Cidade para o Estudante da EAJA

Levando em conta as respostas obtidas frente aos questionamentos aplicados, traça-se o seguinte perfil dos estudantes: grande parte dos alunos vivem em uma condição socioeconômica desfavorável, são trabalhadores, aspiram arrumar um trabalho, trabalham o dia todo e vão pra escola no período noturno e labutam próximo às suas residências e às suas escolas. Sendo assim, surge a seguinte questão: como o Ensino de Cidade pode contribuir na formação desses alunos?

Trabalhar e estudar ou ter a ambição de ter um vínculo empregatício, acarreta em uma drástica mudança no cotidiano do aluno, que a partir de agora, passa a ter uma rotina mais acelerada, que o possibilita vivenciar e perambular por diferentes regiões e trajetos da sua cidade. Nessa nova rotina, o estudante da EAJA passa a visualizar mais as paisagens urbanas, a dinâmica espacial de outras regiões da cidade e diversos lugares do espaço de onde vive. O trânsito por essas novas áreas na cidade, mesmo que de forma rápida, permite ao estudante experienciar os vários sentidos distintos da cidade de onde mora, as formas e os arranjos que constituem o seu espaço urbano.

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Desse modo, o tema cidade surge como uma das temáticas mais potencializadoras de trabalhar o cotidiano do estudante, já que diariamente ele enfrenta os desafios de viver e percorrer o espaço urbano.

Corroborando com as assertivas de Carlos (2004), a análise espacial, no que se refere ao processo de produção, revela a indissociabilidade entre espaço e sociedade, na medida em que as relações sociais se materializam no território real e concreto, em que a sociedade produz/reproduz um espaço, enquanto prática socioespacial. Ou seja, os espaços são delineados, produzidos e impregnados de significados a partir das práticas socioespaciais que ali se estabelecem, causando então, uma grande complexidade, heterogeneidade nos espaços que constituem a cidade, que cada vez mais são mais fluídas e modificadas.

Porém essa fluidez, e grande complexidade que presencia-se nos grandes centros urbanos decorre de um outro fator determinante que começa a ocasionar situações agravantes, em que Carlos(2004)aponta que a influência e a subordinação da cidade com o capitalismo, alterou a produção do espaço, incorporou espaços, transformou o contexto social e político em uma perspectiva mercadológica e impôs uma racionalidade pautada na dominação e segregação na dinâmica espacial.

Deste modo, o espaço urbano passa a operar sob a lógica dominante do capital. O cotidiano agora passa a se pautar sob a nova perspectiva da reprodução da metrópole. A imposição de novos modelos culturais, desencadeado pela invasão do mundo da mercadoria, gera conflitos e estranhezas entre as pessoas. Deste modo, a cidade funciona manifestando as exigências do capitalismo, alterando as relações, as dinâmicas e causando a desigualdade.

Operar sob essa lógica impõe um processo de homogeneização no que refere-se à construção espacial. A sobrevalorização e a existência da propriedade privada, a atribuição de valor de uso no espaço, reduz o cidadão à uma mera condição de consumidor e usuário de serviços. Desta forma, surge a concepção de direito à cidade que acerca todas as possibilidades referentes à apropriação dos espaços constituintes da cidade.

Essa nova configuração espacial que levanta debates sobre o direito à cidade, e a nova lógica na produção do espaço, leva a uma complexa e variada gama de possibilidades de ação do Estado capitalista. Corrêa (1995) aponta que as ações estatais reproduzem, em sua grande maioria, os interesses de diferentes membros nas classes sociais mais poderosas e abastadas da sociedade, bem como as alianças existentes entre eles. Nesta perspectiva, as vontades e ambições dessas classes mais favorecidas tendem a ser mais atendidas ou privilegiadas, causando a intensa desigualdade no espaço.

Goiânia é um exemplo claro disso, onde nota-se regiões de lugares com um alto padrão estético, estabelecimentos modernos e inovadores, carros luxuosos de alto valor, prédios monumentais e imponentes; em outras regiões podemos ver casas com condições ínfimas de infraestrutura, ruas esburacadas e sem pavimentação, carentes de coleta de esgoto e lixo, e desprovidas de qualquer tipo de acessibilidade para o restante da cidade.

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Desse modo, o aluno da EAJA, ou o aluno-trabalhador, que diariamente enfrenta a árdua tarefa de trabalhar e estudar, deve ser orientado a ter essa leitura espacial. Tal leitura tem como premissa conceber esse indivíduo como um sujeito social da cidade, situando-o e conscientizando-o como parte constituinte de um espaço fragmentado e articulado, que apresenta diversos grupos e classes sociais, que em seus cotidianos ensejam ou reivindicam um maior acesso e apropriação desses espaços.

Considerações Finais

A partir das análises e discussões realizadas pondera-se que o aluno-trabalhador, que diariamente enfrenta uma árdua rotina, consegue vivenciar de forma superficial a cidade em que vive.

Considerando a importância da temática cidade no ensino de Geografia, reforça-se que seus pressupostos teóricos são capazes de trazer o cotidiano do aluno para dentro da sala de aula, desvelando todas as desigualdades e contradições que se encontram no interior do espaço urbano, que grande parte dos estudantes não conseguem compreender devida à sua acelerada rotina.

Desse modo, trabalhar esse tema em sala é importante para trazer uma concepção crítica do olhar espacial desse estudante e conscientizá-lo acerca dos direitos e deveres que o mesmo tem como cidadão trabalhador que contribui para o funcionamento da sua cidade, emancipando-o como um sujeito ativo e social capaz de intervir em seu espaço vivido.

Referências

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2004.

CAVALCANTI, Lana de Souza. O Ensino de geografia na escola. Campinas, SP: Papirus, 2012.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 4ª edição. São Paulo: Ática, 1995.

SOUZA, Camila Vianna de. As Práticas socioespaciais urbanas dos estudantes da EJA do Município de Duque de Caxias, RJ. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores. 2017, 224f.

Notas

1. Mestrando em Geografia na área de ensino e aprendizagem – IESA/UFG e professor da Educação Básica na rede particular de Ensino de Goiânia.