Fernanda Caroline Nascimento (PPGEEB-UFG)
fernandacepae@gmail.com

Moema Gomes Moraes (PPGEEB-UFG)
gmoraes002@gmail.com

Nayara Elias Pinheiro Godoi (PPGEEB-UFG)
nayaragodoi1@gmail.com

Crianças e Mídias: a Construção do Objeto de Estudo

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Resumo

Este artigo é decorrente de uma pesquisa a nível de Mestrado Profissional, realizada no Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica, do Centro de Pesquisa e Ensino Aplicada a Educação, da Universidade Federal de Goiás e traz um recorte realizado de algumas reflexões e discussões que dizem respeito da construção do objeto de pesquisa cuja temática problematiza os usos e processos de apropriação que as crianças fazem das tecnologias. O objetivo deste texto é apresentar uma reflexão dos principais marcos que se apresentam nas pesquisas que investigam sobre a criança e a mídia em espaços formativos. Neste percurso, foi realizada uma revisão bibliográfica entre os anos 2008 e 2017, que permitiu a seleção de 101 resumos de pesquisas de Programas de Pós-Graduação em Educação Acadêmicos e Profissionais, disponível na página da internet do Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). As regiões sudeste e sul brasileiras apresentaram o maior número de trabalhos publicados, dezenove da região sudeste e quatorze da região sul. As regiões centro-oeste, nordeste e norte brasileiras, não apresentaram trabalhos relacionados à temática nos mestrados profissionais. Esta constatação justifica a relevância das pesquisas que se dedicam a temática, principalmente nos programas profissionais. A partir da análise dos resumos selecionados, identificamos as principais temáticas presentes nessas investigações e constatamos elementos que nos permitiram justificar a Teoria Histórico Cultural como referência teórica na análise de conceitos importantes para se pensar sobre desenvolvimento infantil e as mídias no espaço da Educação Infantil.

Palavras-chave: Educação Infantil. Educação e Tecnologias. Teoria Histórico-Cultural.

Introdução

O processo de aproximação com a temática nos fez observar que as pesquisas brasileiras que possuem a problemática referente a relação entre a Educação e as Mídias, são tratadas a partir de diferentes perspectivas metodológicas e teóricas (PEIXOTO, 2015). Tal fato nos permite notar a existência de diferentes áreas do conhecimento científico: psicologia, informática, sociologia, filosofia, antropologia, educação entre outras.

Nesta perspectiva, entendemos que para compreender o contexto em que se constitui as pesquisas relacionadas a esta temática, se faz necessário investir esforços que nos permitem observar as principais características que estão presentes no meio científico. Nesse exercício de revisão da literatura, o propósito é de identificar os principais aspectos apresentados nas pesquisas que possuem como objeto de estudoa criança e o uso de tecnologias na formação humana.

O entendimento é de que a relação entre a tecnologia e a educação é uma questão de problemática em função do papel que se apresenta essa discussão nas ciências humanas e sociais. De acordo com Peixoto (2008), a matriz do pensamento contemporâneo sobre a técnica mostra-se de maneira antagônica ao humanismo.Ele coloca os aspectos relacionados à visão técnica no centro das discussões, deixando as reflexões sobre as relações que os seres humanos fazem dos objetos técnicos a margem das reflexões.

O processo de apropriação das tecnologias não é um acontecimento natural (PEIXOTO, 2015). Nesse sentido, nossa compreensão é de que a criança que utiliza a mídia é um sujeito social, se relaciona com seus pares, brinca, comunica, expressa suas ideias e se apropria das tecnologias, a partir de um contexto. Essa complexidade nos motiva a compreender o contexto ao qual as pesquisas são realizadas.

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O exercício proposto neste texto é de apresentar algumas impressões obtidas a partir de um levantamento bibliográfico realizado em dissertações e teses do campo da educação, que se dedicaram a estudar sobre as crianças e as mídias. O texto se apresenta inicialmente com a descrição do percurso percorrido para a organização dos dados coletados, apresentando as principais temáticas que emergiram do corpus identificado e em seguida, elencando os principais aspectos que permitem a apreensão do contexto brasileiro que se dedica a estudar esta temática.

O Recorte Realizado

A escolha do interstício teve como princípio buscarmos mapear uma década de pesquisas de mestrado e doutorado defendidas no Brasil. Assim, o corpus foi composto por fontes publicadas entre os anos de 2008 e 2017 que tinham uma temática convergente com nosso objeto de estudo: a criança e as tecnologias.

A partir da abordagem qualitativa, buscamos compreender as características que permeiam o cenário observado relacionando os dados numéricos com nosso objeto de estudo. Como assevera Triviños (2012) a abordagem qualitativa

parte também da descrição que intenta captar não só a aparência do fenômeno, como também sua essência. Busca, porém, as causas da existência dele, procurando explicar sua origem, suas relações, suas mudanças e se esforça por intuir as consequências que terão para a vida humana ( p. 129).

O levantamento bibliográfico é sustentando sob a perspectiva de observar os dados para além da perspectiva quantitativa que apresenta num primeiro instante. Para isto, os procedimentos utilizados foram definidos de forma sistemática exigindo das pesquisadoras o cuidado de observar a relação das informações com o objeto de estudo (LIMA, MIOTO; 2007).

Para isto, nos guiamos por meio de questões norteadoras que contribuíram para a construção da relação entre o objeto investigado e o cenário observado: quais instituições possuem pesquisas nesta temática? quais as perspectivas teóricas são declaradas? As informações encontradas podem nos sinalizar aspectos importantes para observarmos o contexto e avançarmos nas reflexões desta temática.

Este levantamento foi feito em duas etapas: na primeira foi realizado um levantamento de pesquisas realizadas nos Programas de Pós-Graduação em Educação Profissionais e Acadêmicos. Usamos o banco de dados disponível na página da internet do Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Os descritores utilizados para a identificação dos trabalhos foram: “Criança e mídia” e “Criança e tecnologias”. Após a leitura do título e das palavras-chave, obtivemos uma planilha com 101 investigações que possuem relação com a temática. Por meio deste levantamento foi possível darmos início a visualização de alguns elementos que nos permitem compreender o cenário ao qual as pesquisas brasileiras corroboram sobre a temática que se delineiam.

Nesse momento, foi possível observar um aspecto inicial referente às regiões e universidades que realizam este tipo de pesquisa.

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Quadro 1: Teses e dissertações por regiões brasileiras. Fonte: Autoras, 2019.
Teses e Dissertações Publicadas nas Universidades Brasileiras 2008-2017
Região Sudeste Instituição Mestrado Acadêmico Mestrado Profissional Doutorado
UNIRIO 3 - -
PUC – RIO 1 - 1
ESTÁCIO – RJ 1 - -
UFF 1 - -
UFRRJ 1 - -
UERJ 4 - -
USP 1 - 1
UNICAMP 5 - 1
PUC – CAMPINAS 1 - -
UNISAL 1 - -
UNOESTE 1 - -
UFSCAR - - 1
UNESP - RIO CLARO 7 1 -
UNISO 1 - -
UFMG 1 - -
PUC – MG 2 - -
UFJF 4 - -
UFES 1 - -
UFU 2 - -
Região Sul UFSC 7 - 2
UNIJUÍ 1 - -
UNIVALI 2 - -
UFRGS 5 - 1
UNISINOS - 1 -
FUPF 1 - -
UFSM 1 - -
UNESC 1 - -
ULBRA – CANOAS 3 - -
UDESC 1 - 1
UFPR 2 - -
UNIOESTE 2 - -
UCS 1 - -
PUC – RGS 1 - -
Região Centro Oeste UFG 2 - -
UEG 1 - -
PUC – GO 2 - -
UNB 4 - 1
UFMT 5 - -
UNEMAT 1 - -
UCDB 1 - -
Região Nordeste UECE 1 - -
UFRN 2 - -
UFPB 1 - 1
UFRPE 1 - -
Região Norte UFPA - - 1
UEPA 1 - -
TOTAL 88 2 11
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No quadro 1, podemos ter uma visão das instituições que estão pesquisando a temática crianças e mídias em espaços formativos, sendo que as universidades das regiões sudeste e sul brasileirasapresentam o maior número de trabalhos publicados, dezenove da região sudeste e quatorze da região sul. Destacamos a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus Rio Claro e aUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC), comoàs instituiçõesque apresentaram mais pesquisas no período de 10 anos, referentes à temática mencionada.

Podemos ressaltar ainda, que as universidades das regiões sudeste e sul publicaram trabalhos relacionados à temática crianças e mídias nos programas de pós-graduação em educação profissional, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus Rio Claro, região sudeste e Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), região sul.

Outro aspecto que podemos comprovar em relação ao quadro 1, diz respeito às publicações das universidades dasregiões centro-oeste, nordeste e norte brasileiras. Elas não apresentaram trabalhos relacionadosà temática nos mestrados profissionais.

De maneira geral, podemos identificar as publicações por ano, como mostra o quadro a seguir:

Quadro 2: Distribuição do Número de pesquisas por ano. Fonte: Autoras, 2019.
Dissertações e teses que investigam sobre criança e mídia
Ano Mestrado Acadêmico Mestrado Profissional Doutorado Total
2008 6 - - 6
2009 6 - 1 7
2010 6 - 2 8
2011 4 - - 4
2012 5 - - 5
2013 7 - - 7
2014 11 1 2 14
2015 15 - 2 17
2016 14 1 - 15
2017 14 - 4 18
Total 88 2 11 101
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No quadro 2, nota-sea distribuição dos números de investigações encontradas, 101 pesquisas publicadas disponíveis online. Ressaltamos que no percurso do levantamento bibliográfico, encontramos nove pesquisas que não estão disponíveis no banco de dados da CAPES e na biblioteca virtual da instituição.

As informações apresentadas neste quadro nos permitem observar o ano onde houve maior (2017) e menor (2011) número de pesquisas. Além disso, é possível identificar o movimento entre as investigações realizadas em programas de pós-graduação acadêmicos e profissionais.

Vale destacar que as investigações que tratam sobre a criança e as tecnologias nos mestrados profissionais surgiram a partir do ano 2014. Estes programas foram regulamentados por meio da portaria normativa n. 7, de 22 de junho de 2009, que dispõe sobre os programas de mestrado profissional. Tal fato, nos ajuda refletir e explicar a ausência de investigações nos primeiros cinco anos do intervalo observado. Ainda sobre estes programas, foram encontrados apenas dois trabalhos que dizem respeito esta temática. Observar esse movimento é relevante diante das características destes programas, ou seja, seu papel frente às possibilidades de relacionar a teoria e a prática docente. Além de estabelecer uma relação contextualizada e fundamentada de maneira efetiva entre o produto e a realidade da escola.

Neste sentido, nossa atenção para estes programas, além de vir ao encontro da necessidade de compreendermos como está se organizando as pesquisas realizadas em programas desta natureza, está vinculada ao interesse em verificar as investigações sobre a prática pedagógica na Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica e apreender o desenvolvimento infantil que permeia às relações entre as crianças, as mídias e a atividade docente.

A segunda etapa da pesquisa bibliográfica, foi destinada a compreender as principais características da construção da temática dos trabalhos selecionados. Para isto, foi feito a leitura e registro das informações obtidas nos resumos encontrados. A ideia foi observar o objetivo e o aporte teórico declarado nas pesquisas com o propósito de avançarmos na identificação das discussões que tratam sobre relação entre as perspectivas pedagógicas e o uso de mídias na formação das crianças de até 6 anos de idade.

Após a leitura dos resumos, organizamos os principais eixos temáticos declarados nas pesquisas:

  1. A infância na pós-modernidade e as mídias;
  2. A Educação Infantil, as questões didático-pedagógicas e as mídias;
  3. A brincadeira, as mídias e a criança da educação infantil.

As pesquisas que tratam da temática “A infância na pós-modernidade e as mídias”, indicam que a base teórica que sustentam as reflexões origina-se do campo da filosofia da infância, enfatizam os estudos pós-estruturalistas em Educação e destacam as contribuições de Michel Foucault. Nota-se ainda a existência de uma preocupação com análises sobre as questões referentes à infância a partir de recursos midiáticos. Além de tratarem sobre os aspectos relacionados às relações de poder, a identidade de gênero, ao consumo na infância, a influência da mídia no desenvolvimento infantil e ao conceito de infância.

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As pesquisas que tratam da temática “A infância na pós-modernidade e as mídias”, indicam que a base teórica que sustentam as reflexões origina-se do campo da filosofia da infância, enfatizam os estudos pós-estruturalistas em Educação e destacam as contribuições de Michel Foucault. Nota-se ainda a existência de uma preocupação com análises sobre as questões referentes à infância a partir de recursos midiáticos. Além de tratarem sobre os aspectos relacionados às relações de poder, a identidade de gênero, ao consumo na infância, a influência da mídia no desenvolvimento infantil e ao conceito de infância.

Observamos a existência da preocupação referente à relação entre a criança, o consumo e a imagem. São enfatizadas discussões que tratam sobre as possibilidades estéticas da infância construídas na interface de experiências históricas do passado, presente e futuro. A problemática abordada nestes resumos busca a percepção de como a criança apreende a cultura infantil constituída por meio de representações cinematográficas.

A segunda temática, “A Educação infantil, as questões didático pedagógicas e as mídias”, possui como principal problemática o processo de apropriação e desenvolvimento infantil e as perspectivas teóricas da Educação. Destaca-se as discussões que abrangem a prática pedagógica que utiliza os recursos midiáticos no cotidiano das crianças. Foi possível perceber que nas reflexões relacionadas à tecnologia como recurso pedagógico, existe o predomínio de discussões que consideram como o uso das mídias podem contribuir com o desenvolvimento cognitivo da criança. Nesse sentido, sublinhamos nos resumos, a indicação de Lev. Vigotski como referência teórica.

Ainda nesta temática destacam-se alguns trabalhos que investigam sobre as produções audiovisuais no imaginário infantil. Estas pesquisas ressaltam como as crianças recebem os conteúdos midiáticos materializados nos desenhos animados, filmes, propagandas televisivas e elaboram suas representações, impactadas nas relações com seus pares, nas brincadeiras e narrativas infantis.

Foi possível identificar também, pesquisas que investigam a prática pedagógica na formação dos professores. Percebemos que as teorias da comunicação são apontadas como referenciais em muitos resumos. Observou-se que o objetivo central é de conhecer os processos de mediação vivenciados pelas crianças e professores ao usar os recursos tecnológicos como computadores, smartphones, videogames, televisores. Além de buscar a compreensão dos impactos que a inserção das tecnologias em espaços escolares causa na atividade docente.

Na terceira temática, “A brincadeira, as mídias e a criança da educação infantil”, percebemos que os resumos oscilam entre perspectivas de investigação voltadas à formação cultural das crianças e a presença das mídias na brincadeira infantis. A maioria dos trabalhos indicam o enfoque teórico dado ao conceito de cultura lúdica elaborado pelo filósofo Gilles Brougère. Notamos o questionamento sobre a maneira pela qual as crianças se apropriam dos discursos midiáticos e se relacionam com a cultura contemporânea. Além disto, existe o interesse de análise das implicações desses processos na formação cultural. Nesse sentido, a brincadeira é referenciada como uma atividade lúdica privilegiada para a observação dos processos de apropriação dos recursos midiáticos.

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Nos chamou atenção as investigações que possuem como objeto de estudo a criança de quatro anos de idade, visto que esta temática converge com nosso objeto de estudo.Nesse sentido, notamos que existem reflexões referentes à relação entre a formação humana e as tecnologias na infância, isto é, buscam pressupostos teóricos, no campo da educação, que tratam sobre o desenvolvimento infantil.

Nosso entendimento é de ser necessário observarmos os elementos que permeiam estes referenciais pois eles nos permitem compreender os limites e as possibilidades de utilização das mídias em espaços formativos para além de uma perspectiva tecnocentrada, a crítica e que não responda as questões que são de ordem pedagógica e didática (MORAES, PEIXOTO, 2017).

As fontes que sinalizam para o estudo da Teoria Histórico Cultural (THC), portanto, encontradas em alguns resumos, convergem com a perspectiva que consideramos relevante para as discussões da temática em questão. Pois, ela compreende que as relações sociais, históricas, culturais e econômicas são determinantes no contexto da criança e influenciam diretamente na criação das representações ao brincar. A história da brincadeira é inerente aos fatos históricos da humanidade em um movimento dialético e contraditório (ELKONIN, 2009).

As fontes consultadas contribuíram para reforçarmos a necessidade de buscarmos nas teorias da educação, elementos que permitam ampliarmos nas discussões sobre a problemática que tratem as mídias, as tecnologias e a educação infantil como partes do contexto social e cultural presentes em espaços de formação humana.

Algumas Considerações

O levantamento nos trouxe uma descrição quantitativa e qualitativa do cenário brasileiro sobre as pesquisas que possuem como objeto de estudo a criança e o uso de tecnologias na formação humana. Do ponto de vista quantitativo, observamos um número expressivo de dissertações em relação a teses publicadas entre os anos de 2008 a 2017. Trata-se de uma curva crescente, onde as regiões sudeste e sul se destacam das demais. Destaca-se ainda o baixo número de pesquisas dos mestrados profissionais.

No que diz respeito aos aspectos qualitativos, observamos que a complexidade de relações que envolvem esta temática, nos levam a entender que a teoria capaz de nos esclarecer tais significados apropriados pelas crianças, envolvem pressupostos educativos, não técnicos (NASCIMENTO, 2014). Assim, é importante pensarmos no papel da escola e do ensino que possibilitem as crianças o desenvolvimento mental, isto é, não podemos nos esquecer de que, “as crianças e jovens vão à escola para aprender cultura e internalizar os meios cognitivos de compreender o mundo e transformá-lo” (LIBÂNEO, 2004, p. 5).

As discussões sobre a brincadeira e a criança nos chamou atenção. Principalmente aquelas em que utilizavam as teorias do campo da educação e em especial a Teoria Histórico-Cultural.

Esta teoria, formulada por Lev Semyonovitch Vigotski, considera o homem como um ser social, histórico e cultural. Sua constituição humana acontece por meio de suas interações com outros seres humanos em uma determinada época. Consideramos que a contribuição da THC, como referência teórica nas investigações desta temática nos remetem a pensar sobre alguns conceitos que contribuem para refletir sobre o desenvolvimento da criança.E ainda para discutir sobre as formas de usos das tecnologias como artefato presente em nosso contexto.

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Ao refletir sobre a educação infantil e as contribuições da THC nas discussões pedagógicas, ressaltamos a relevância de compreendermos o que é a brincadeira. A luz da teoria, Prestes (2010) entende que “a brincadeira tem dois aspectos importantes. O desenvolvimento intelectual (do ponto do amadurecimento de funções psíquicas) e o desenvolvimento da esfera afetiva”. É importante que a criança brinque, pois, é nesse momento em que ela realiza seus desejos mediante a imaginação. Nesse sentido, o “que é primordial na brincadeira é que ela reflete a vida” e favorece a representação de “situações reais que não podem ser vividas” pela criança “naquele momento” (p. 158).

Para a criança, a brincadeira de faz de conta é uma atividade guia do desenvolvimento infantil. O brincar protagonizado é uma recordação da atividade humana. Este momento é importante para a compreensão dos comportamentos sociais humanos e para o desenvolvimento da personalidade da criança (PRESTES, 2010). A brincadeira de faz de conta é a “reconstrução de uma atividade social”, enquanto a criança brinca ela reconstrói as tarefas e as normas das relações sociais (ELKONIN, 2009, p. 20).

O resultado do levantamento nos mostrou a importância de desenvolvermos pesquisas sobre a brincadeira, as mídias e a criança da educação infantil (terceira temática apreendida), com o menor número de pesquisas encontradas. Tal fato reforça nosso interesse pelas discussões que se proponham a avançar nessa temática.

Este cenário nos remete a pesquisa realizada por Nascimento (2014), que se dedicou a observar o uso que as crianças faziam das mídias em um ambiente escolar. Para esta autora, as discussões epistemológicas sobre a Educação e as Tecnologias são fundamentais para a compreensão das relações entre os sujeitos envolvidos no processo de apropriação midiática. Entender a técnica por si mesma elimina os processos sociais, históricos, econômicos e políticos, por sua vez, indissociáveis das relações humanas.

De acordo com Nascimento, Peixoto e Moraes (2017), para propor o uso de recursos tecnológicos na educação infantil se faz necessário, antes de mais nada, compreender e refletir sobre como acontece esta inserção. Por isto, além de contextualizar o uso das tecnologias é necessário avaliar os sentidos e significados que as crianças atribuem a estes objetos. Motivo para buscar o olhar a partir de uma teoria pedagógica. Nesta perspectiva, nossa defesa é que a teoria capaz de contribuir com tais pressupostos relacionados à mídia, a brincadeira e as crianças é a Teoria Histórico-Cultural.

Referências

BRASIL, 2009, MEC. Portaria normativa n. 7, de 22 de junho. Disponível em: https://www.capes.gov.br/images/stories/download/legislacao/Revogada-Portaria Normativa-n_7-22-de-junho-2009-Mestrado-Profissional.pdf. Acesso em: 27 de julho de 2019.

ELKONIN. D. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

MORAES, M. G; PEIXOTO, J. Estado do conhecimento como perspectiva crítica para as pesquisas em educação: Educação e Tecnologias em questão. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 25, n. 3, p. 321-338, Set./Dez. 2017.

LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a Teoria Histórico-cultural da Atividade e a contribuição de Vasili Davydov. Revista Brasileira de Educação n. 27, p.5-24, 2004.

NASCIMENTO, N. A. do. As mídias digitais como instrumentos culturais no desenvolvimento infantil. 2014. 153f. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2014.

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NASCIMENTO, N. A, PEIXOTO, Joana, MORAES, M. G. Educação Infantil e os usos educativos das mídias digitais. In: II INTERFOR, 2017, Palmas. Formação de professores: currículo, saberes e práticas docentes. Palmas, 2017. v. único. p. 1187-1197.

PEIXOTO, J. A inovação pedagógica como meta dos dispositivos de formação à distância. EccoS, São Paulo, v. 10, n. 1, p 39-54, jan./jun. 2008.

PEIXOTO, Joana. Relações entre sujeitos sociais e objetos técnicos uma reflexão necessária para investigar os processos educativos mediados por tecnologias. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 20, n. 61, p. 317-332, 2015.

PRESTES, Z. R. Quando não é quase a mesma coisa: traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de Brasília, UNB, Brasília, 2010.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 1. ed. – 21 reimpr. São Paulo: Atlas, 2012.

LIMA, Telma Cristiane Sasso de; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos Metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katályses, Florianopolis, p. 37-45, abr. 2007.

Notas

1. Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura. Mestranda em Ensino na Educação Básica pelo Programa de Pós Graduação de Ensino na Educação Básica do Centro de Pesquisa e Ensino Aplicada a Educação (CEPAE) da Universidade Federal de Goiás. Professora efetiva do departamento de Educação Infantil do CEPAE/UFG.

2. Licenciada em Matemática pela Universidade Católica de Goiás (UCG), Mestre em Ciências da Educação Superior pela Universidade de La Havana e Doutora em Educação pela PUC-GO.Professora efetiva do Centro e Pesquisa Aplicada a Educação (CEPAE) e dos Programas de Pós-Graduação: Ensino na Educação Básica (CEPAE) e Educação e Ciências e Matemática. Atualmente atua na Pró-Reitoria de Graduação da UFG comodiretora de Ensino e coordenadora das Licenciaturas e Educação Básica da UFG.

3. Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade Salgado de Oliveira. Mestranda em Ensino na Educação Básica pelo Programa de Pós Graduação de Ensino na Educação Básica do Centro de Pesquisa e Ensino Aplicada a Educação (CEPAE) da Universidade Federal de Goiás. Professora efetiva da Rede Municipal de Educação de Goiânia.

4. http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/

5. Nesta etapa, observamos que algumas pesquisas não encontram-se disponíveis no banco de dados pesquisado: UERJ - 3 dissertações, CUML - 1 dissertação ,UFF – 1 tese, UFES – 1 dissertação, UCP – 1 dissertação, ULBRA/ Canoas – 1 dissertação, UNIUBE 1 dissertação.