Wanessa Santos Silva
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A Interdisciplinaridade na Disciplina de Eletiva: ensino em período integral na Educação Básica

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Resumo

Tendo o trabalho de campo e a interdisciplinaridade quanto ferramenta pedagógica geradora do conhecimento no ensino e aprendizagem dos alunos, foi realizada uma eletiva no Centro De Ensino Em Período Integral Cecilia Meirelles (CEPI-CM) – Aparecida de Goiânia - GO em 2018/02 sobre os Biomas Brasileiros, através da união entre as disciplinas de Biologia e Geografia com alunos do ensino médio. Interligando a relação, professor, aluno, conhecimento e cotidiano do ponto de vista de duas disciplinas que conversam entre si. Mantendo a particularidade de cada professor e disciplina, porém, destacando os aspectos biológicos e geográficos de cada um dos biomas existentes. Na tentativa de ampliar a percepção do aluno quanto a possibilidade de junção de diferentes áreas do conhecimento com o mesmo foco pedagógico, através da conciliação entre aulas teóricas e práticas. Sendo a disciplina de eletiva parte do currículo da Escola da Escolha. Essa disciplina tem como objetivo aprofundar, diversificar e enriquecer os conteúdos trabalhados nas disciplinas presentes na Base Nacional Comum Curricular, considerando as diversas áreas da produção humana, uma vez que as escolas de período integral têm como foco a formação plena do indivíduo, na busca pela ampliação do seu repertório de conhecimento, a fim de auxiliar na formação acadêmica, profissional e pessoal. O presente trabalho é fruto da eletiva executada com alunos de 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, apontando algumas metodologias e modelos de trabalho. Ressalta ainda o início do projeto da Escola da Escolha, a implantação dos CEPI’s e o formato que se é trabalhado nessas instituições de ensino.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Ensino. Eletiva.

Introdução

Ao longo dos anos a maior parte das escolas públicas no Brasil seguiram o modelo de ensino regular, onde as aulas aconteciam apenas em um período do dia. Nos anos 2000 um novo modelo de ensino começa a ganhar forma, em Recife-PE, com a revitalização do Ginásio Pernambucano, considerado referência na história da educação, cultura, da vida social, econômica e política da população daquele Estado. Durante uma visita eventual de um ex-aluno à sua antiga escola, deparou-se com um estado de abandono, aquele ambiente que seus olhos enxergavam já não conseguia mais significar o que foi no passado. Através dessa visita, criou-se mecanismos para iniciar o resgate do padrão de excelência daquela escola pública, essa iniciativa reuniu alguns representantes do segmento privado, como CHESF, PHILIPS, ABN AMRO Bank e ODEBRECHT. E então iniciou-se o processo de revitalização e restauração do Ginásio Pernambucano. Para além do espaço físico notou-se a importância em criar um novo modelo de ensino, que possibilitasse a formação integral do indivíduo, trabalhando três eixos fundamentais (formação acadêmica, formação para a vida e formação para o desenvolvimento das competências do século XXI), ou seja, “o homem precisa ser extraordinariamente criativo para se modificar e, para isso é necessário que ele se instrumentalize de múltiplas habilidades, inclusive das mais sensíveis” (Foucault 2004). Esse novo modelo viria junto com o “novo” Ginásio.

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Modelo Escola da Escolha

O Modelo Escola da Escolha surge nos anos 2000 a partir da recuperação e revitalização do Ginásio Pernambucano, uma escola pública de Ensino Médio que foi referência na educação pública brasileira desde 1825, O ginásio ganha sua reforma após a visita e inquietação de um ex-aluno, que tinha a intenção de criar um “novo” ginásio Pernambucano e recuperar a qualidade do ensino nessa instituição. As obras se estenderam dos anos 2000 a 2002, recuperando a estrutura física para posteriormente modificar a estrutura pedagógica dada como a mais difícil ao longo do processo de implantação de um novo modelo escolar.

Após a reforma estrutural, o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) e o Governo Estadual do Pernambuco iniciaram estudos para sugerir um novo ordenamento político-institucional e pedagógico ao Ginásio Pernambucano, a fim de manter não só em Pernambuco, mas espalhando para o Brasil a referência como parte do processo amplo de desenvolvimento da educação. Para tanto, foi necessário modificações cuidadosas nos conteúdos, métodos e na gestão, considerando o período social contemporâneo, em escalas micro e macro. As atividade do “novo” Ginásio Pernambucano iniciaram em 2004, colocando em prática o novo Modelo que nos anos posteriores originou-se o processo de expansão para outras regiões do pais, através de ações conjuntas entre o ICE e instituições parceiras junto às Secretárias de Educação dos Estados e Municípios, cooperando com a implantação do Modelo no Ensino Fundamental e Ensino Médio, atendendo dessa forma todas as etapas da Educação.

No ano de 2006 a Educação em Tempo Integral começou a ser implantada em Goiás na rede de ensino Estadual inicialmente nas escolas de Ensino Fundamental, chegando no Ensino médio somente em 2013, onde 15 escolas se adequaram ao modelo do Programa Novo Futuro, implantado pela Secretaria de Estado e Educação, modelo esse que “visa a ampliação do tempo escolar com qualidade para atender estudantes do ensino médio na perspectiva da formação de um cidadão livre, solidário e qualificado em acordo com o art. 2 da lei de diretrizes e bases 9.394/96. Assim, os CEPIs (Centros de Ensino em Período Integral), através da Lei 17.920/2012, pauta em um modelo pedagógico diferenciado baseado em várias experiências de sucesso no País.” (SEDUC, 2012).

Dentro do programa do Novo Futuro os alunos dos CEPIs tem um total de 45 aulas semanais compostas por disciplinas do núcleo comum (que seguem o currículo referência do Estado de Goiás) e as disciplinas do núcleo diversificado (Pós-médio, Prática de laboratório, Projeto de vida, Clube Juvenil e Eletiva) que são aulas onde o professor tem autonomia para modificar e/ou acrescentar formas, conteúdos e práticas para além das que se estabelecem no cotidiano das escolas de período regular, possibilitando aos educandos uma formação continuada entre teoria e prática. O modelo de ensino dos CEPIs, têm como foco a formação plena dos educandos, para além dos conhecimentos sistêmicos, considerando todos os alunos sujeitos na sua dimensão cognitiva, biopsicossocial e multidimensional.

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Nessa perspectiva de ensino, durante uma disciplina de eletiva que nos foi posta a trabalhar no ensino médio ao longo de um semestre, optamos por reunir as disciplinas de Biologia e Geografia tendo como base a interdisciplinaridade que “tem uma função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para resolver às questões e aos problemas sociais contemporâneos” (Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio. Brasília: MEC, 2002, p. 34). Interligando a relação, professor, aluno, conhecimento e cotidiano do ponto de vista de duas disciplinas que conversam entre si. Para Piaget (1981, p.52), a interdisciplinaridade pode ser entendida como o “intercâmbio mútuo e integração recíproca entre várias ciências”. Desse modo buscamos mostrar aos educandos que o conhecimento não está fragmentado, materializando em práticas e reflexões teóricas a integração dos conteúdos propostos no currículo referência do Estado de Goiás.

A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados. BRASIL (1999, p. 89).

Buscando trabalhar a partir da interdisciplinaridade, escolhemos como tema de nossa eletiva “Biomas Brasileiros” mantendo a particularidade de cada disciplina e destacando os aspectos biológicos e geográficos de cada um dos biomas existentes. Sabe-se que o Brasil é formado por seis biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa. Cada um desses ambientes abriga diferentes aspectos específicos de forma de relevo, hidrografia, clima, solo, vegetação, fauna e as relações interespecíficas. Como o espaço geográfico é determinante para o desenvolvimento biótico, seu estado de conservação e de continuidade definem a existência ou não de hábitats para as espécies, a manutenção de serviços ambientais e o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência de populações humanas.

Visando a importância de conhecer os diferentes Biomas Brasileiros, e sentir-se pertencentes a um desses ambientes de acordo a região em que habitam, buscamos a interdisciplinaridade entre as disciplinas de Biologia e Geografia e elaboramos uma eletiva para ampliar a percepção do aluno quanto a possibilidade de junção de diferentes áreas do conhecimento com o mesmo foco pedagógico, através da conciliação entre aulas teóricas e práticas.

Como metodologia executamos nossa eletiva por blocos de aulas, onde cada bioma seria trabalhado dentro do bloco, com aulas teóricas e práticas. Sendo um total de três para um, três aulas teóricas e uma prática. Durante as aulas teóricas foram apresentados diversos aspectos biológicos e geográfico de cada um dos biomas, usamos como material didático imagens apresentadas em formato de slides, trabalhamos com textos explicativos e ainda com uso de alguns documentários a cerda do tema que estava sendo trabalhado. As aulas práticas tinham o intuito de verificar o aprendizado do aluno e trabalhar a criatividade a partir da elaboração de folders (fotografia 01) explicativos sobre cada um dos biomas, elaboramos ainda ao decorrer das aulas práticas dois grandes mapas que foram usados em exposição juntamente com os folders. Fizemos ainda um trabalho de campo com a turma, que fez parte do produto final do nosso projeto.

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Figura 1. Folders explicativos
Fonte:Wanessa Santos Silva (2018)

Sabemos que o trabalho de campo no ensino de geografia e biologia é um formador do conhecimento, é utilizado e considerado como pratica pedagógica que auxilia na formação do educando desenvolvendo e construindo conhecimento. Através dele pode-se extrair informações, testar teorias levantadas durante pesquisas teóricas, elaborar conhecimento teórico a partir da pratica. Para Compiani (1991), o campo é um ótimo “ambiente de ensino”, que auxilia na aprendizagem dos alunos e fixação dos conteúdos, devido ao contato com objetos e fenômenos que estão sendo estudados, podendo tocar, ver de perto, sentir e analisar com cautela. Esse contato direto com a realidade estudada, permite que o aluno entenda e perceba a interação da sociedade e natureza, sem fragmentar o estudo. Nesse sentido, para além das aulas práticas realizadas na unidade escolar, fizemos um trabalho de campo para o Zoológico de Brasília–DF, possibilitando aos educandos a visualização de determinadas características estudadas em sala de aula.

Dentro do currículo do Programa de Ensino Integral as disciplinas eletivas ocupam um lugar central no que tange à diversificação das experiências escolares, oferecendo um espaço privilegiado para a experimentação, a interdisciplinaridade e o aprofundamento dos estudos. A disciplina de eletiva conta ainda com o momento da culminância, em que os alunos e toda equipe se preparam para compartilhar o que foi aprendido e produzido ao longo do semestre.

Considerações Finais

Todo o desenvolvimento do presente trabalho parte da proposta de uma eletiva interdisciplinar, trabalhada em um CEPI, com o intuito de mostrar aos alunos que os conteúdos e os elementos do cotidiano estão interligados. Utilizando ainda o trabalho de campo como prática didática e pedagógica no ensino de Biologia e Geografia, pautado na necessidade de se aprender conteúdos e testar teorias durante as atividades práticas. Sendo a disciplina de eletiva parte do currículo da Escola da Escolha, como o objetivo aprofundar, diversificar e enriquecer os conteúdos trabalhados nas disciplinas presentes na Base Nacional Comum Curricular, considerando as diversas áreas da produção humana, uma vez que as escolas de período integral têm como foco a formação plena do indivíduo, na busca pela ampliação do seu repertório de conhecimento, a fim de auxiliar na formação acadêmica, profissional e pessoal.

Todo esse novo formato de ensino, sistematizado na formação integral do indivíduo, partem de princípios educacionais que conversam entre si, interligando as disciplinas do currículo comum ao currículo diversificado que está presente no modelo dos CEPI’s. Dessa forma ao trabalhar de maneira interdisciplinar e com a utilização do trabalho de campo como ferramenta de apoio ao ensino, conseguimos resultados expressivos no que diz respeito ao aprimoramento do conhecimento de alguns conteúdos já estudados anteriormente de forma isolada em cada uma das disciplinas (Biologia e Geografia) propostas nessa eletiva.

Referências

FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo, Martins Fontes, 2004. Tradução de Márcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail.

SEDUC.<http://portal.seduc.go.gov.br/Paginas/Superintencias%20e%20Gerencias%20de%20Ensino/Programa-Novo-Futuro.aspx . Acessado em 02/08/2019 as 14:46.>

BRASIL. Ministério da Educação MEC. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2002.

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PIAGET, J. Problémes Géneraux de la Recherche Interdisciplinaire et Mécanismes Communs. In: PIAGET, J., Épistémologie des Sciences de l'Homme. Paris: Gallimard, 1981.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999.

COMPIANI, M. A relevância das atividades de campo no ensino de Geologia na formação de professores de Ciências. Caderno IG, UNICAMP, Campinas: v. 1, n.2, p.2¬25, 1991.

Notas

1. Graduada em Geografia pela Universidade Federal de Goiás. Professora de Geografia no Centro De Ensino Em Período Integral Cecilia Meirelles (CEPI-CM) – Aparecida de Goiânia – GO.