Keides Batista Vicente

Wanderson dos Santos Poloniato

Cinema e Diversidade: uma proposta visual e didática contra a violência

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Resumo

Apresentamos a proposta de atividade extensionista realizada no ano de 2019 de forma interdisciplinar na Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Pires do Rio, com a participação de alunos dos cursos de Licenciatura em História, Geografia, Letras e Pedagogia, e professores da rede estadual e municipal de ensino. O objetivo principal do projeto é, através do recurso audiovisual, elaborar materiais didáticos para o ensino na educação básica, como planos de aula, transposição e sequência didática com ênfase nas temáticas como diversidade étnica, racial e de gênero. Para isso propomos a utilização de filmes, documentários, animações, entre outros, como recurso didático metodológico em aulas do ensino fundamental e médio, isto de acordo com a atuação dos participantes no projeto. A seleção dos filmes deu-se articulada com a resolução n. 02 de 01 de julho de 2015 (CNE/CP), em especial o art. 02, sobre a formação continuada de professores e alunos no espaço acadêmico. Associada a resolução o projeto de extensão esteve amparado nas Leis 10.639/03 e 11.645/08 sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena. Desta forma em um primeiro momento ocorreu a leitura do referencial teórico que enfatiza o processo educacional, legislações e elaboração de recursos didático metodológico. Na sequência as atividades de planejamento, exibição dos filmes, debate e elaboração de recursos didáticos aconteceram semanalmente com as temáticas pré-definidas no cronograma apresentado no projeto. Ao final do projeto de extensão os recursos didáticos elaborados serão disponibilizados nas páginas oficiais da UEG para consulta pública de professores, estagiários e demais interessados.

Palavras-chave: Cinema. Material Didático. Diversidade.

Introdução

A proposta que aqui apresentamos é resultado de um projeto de extensão realizado no ano de 2019 na UEG - Câmpus Pires do Rio que articular pesquisa, ensino e extensão, cumprindo assim a função da universidade pública e de qualidade social. A proposta ancora-se em experiências acadêmicas já realizadas na UEG, Câmpus Pires do Rio e Morrinhos, em experiências didáticas e nos estudos e pesquisa sobre cinematografia, ensino de História e formação de professores.

Nos anos de 2008 e 2009, desenvolvemos juntamente com o Professor Enival Mamede Leão, o projeto de extensão intitulado “Cine vídeo-história”, em que filmes com temática histórica eram exibidos e analisados, o público era os alunos do ensino médio e dos cursos de licenciatura oferecidos pela UEG. O resultado da atividade de extensão proporcionou um novo olhar para a cinematografia e com isso várias problematizações sobre o ensino de História e os recursos metodológicos utilizados em uma sala de aula.

Nos anos de 2012 a 2014, coordenamos as atividades do PIBID do curso de História, Câmpus Morrinhos, e entre as metodologias de ensino, recorremos ao uso do audiovisual como recurso para as práticas pedagógicas. O resultado foi a produção de atividades de ensino para alunos do ensino fundamental enfatizando temas das História política contemporânea e diversidades raciais. Com a atividade de ensino foi possível aos alunos bolsistas do PIBID o contado com a pesquisa sobre a produção cinematográfica e a metodologia de ensino com esse recurso, produzindo assim uma relação de ensino pela práxis.

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E, no ano de 2018, oferecemos a disciplina Produção de material didático pedagógico para a Educação Básica no curso de Especialização em Educação e Diversidade: Relações Étnico-Raciais e de Gênero que foi ofertado na UEG Câmpus Pires do Rio. O curso congregou egressos das várias licenciaturas oferecidas pela UEG – Câmpus Pires do Rio, e de outras instituições de ensino superior, além de alunos formados em Psicologia pela UFG, Uni Anhanguera e PUC – GO.

Com a disciplina foi possível o debate sobre as propostas pedagógicas para o ensino básico e a confecção de materiais utilizando várias metodologias como a música, imagens, jornais, fanzine e cinema. Quando enfatizamos o recurso didático audiovisual tivemos contato com uma diversidade de filmes, curta metragens, animações e documentários produzidos em escala comercial e de forma independente ou com financiamento público enfatizando temas como diversidade étnica, racial e de gênero.

As nossas experiências aqui elencadas nos permitem afirmar que o uso do recurso audiovisual é positiva, necessária e atrativa para os alunos dos cursos de licenciatura e do ensino médio, bem como para professores da rede pública e privada. Nossa atividade extensionista aproxima pesquisa, no que refere ao conhecimento sobre a produção cinematográfica situado em um tempo, espaço e compromisso social; ensino, pois articula a transposição através de didáticas e metodologias, aproximando o conhecimento científico com a linguagem dos participantes; e extensão, pois aproxima o conhecimento produzido na academia com os professores e alunos, ocorrendo assim a materialização do papel social e transformador que a Universidade possui.

Posto isto, torna-se importante pensarmos as articulações entre ensino e aprendizagem e a utilização do cinema para mediar esse processo. Assim nos aproximamos das considerações de de Viana (2002)

[...] o adequado equilíbrio entre as palavras e as imagens, facilita os processos de desenvolvimento do pensamento em geral e, em particular no processo de ensino/aprendizagem. É por isso que se assinala que sem sensações, percepções e representações, não há desenvolvimento do pensamento; daí, ser importante, sempre que possível, além das palavras, usar representações visuais (VIANA, 2002, p.77).

Associada ao equilíbrio proposto pela palavra e imagem, que Viana (2002) esclarece, o projeto de extensão contribuiu para a formação docente dos alunos dos cursos de licenciatura oferecidos pela UEG – Campus Pires do Rio e outras instituições de formação da região. Além da aproximação dos egressos e atuantes na rede de educação básica da região, e a comunidade em geral interessada pela abordagem.

Como articulação no processo de formação de professores a presente proposta de extensão ancora-se nas determinações contidas na resolução n. 02 de 01 de julho de 2015 (CNE/CP). A referida resolução define diretrizes sobre a formação inicial em curso superior e formação continuada, e em seu Art. 2º

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de Profissionais do Magistério para a Educação Básica aplicam-se à formação de professores para o exercício da docência na educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio e nas respectivas modalidades de educação (Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação a Distância e Educação Escolar Quilombola), nas diferentes áreas do conhecimento e com integração entre elas, podendo abranger um campo específico e/ou interdisciplinar.
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Acreditamos que a formação continuada durante o processo de formação do professor e o trabalho docente é, também, responsabilidade da Universidade pública em uma relação de práxis docente. Desta forma ao aproximar os alunos e profissionais da educação básica com o espaço acadêmico torna-se possível compreendermos as diferentes nuances da educação e a profissionalização docente, isto é, uma troca de conhecimentos e construções que poderá auxiliar na compreensão da realidade educacional e atuar favoravelmente nesse espaço e durante a formação dos alunos de licenciatura do Câmpus Pires do Rio.

Materiais e Métodos

No início do semestre letivo do ano de 2018 o projeto de extensão, o cronograma de leituras e exibições cinematográficas foram apresentados aos alunos, publicamos também o convite para as atividades nas redes sociais.

Com referência a diversidade as produções cinematográficas foram divididos em três temática: 1 – raciais com os filmes: MENINO 23: INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL, Direção: Belisário Franca; A COR PÚRPURA, Direção: Steven Spielberg; 2 – povos originários com os filmes: XINGU, Direção: Cao Hamburger; ESTRATÉGIA XAVANTE, Direção: Belisário Franca; 3 – Gênero com os filmes: AS SUFRAGISTAS, Direção: Sarah Gavron; “GIRL RISING”, Direção: Richard Robbins; PERSÉPOLIS, Direção: Marjane Satrapi e Vicent Parannaud; HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO, Direção: Daniel Ribeiro; TOMBOY, Direção: Céline Sciamma; “XXY”, Direção: Lucia Puenzo.

Os encontros com os participantes do projeto de extensão ocorrem semanalmente no prédio da UEG, Câmpus Pires do Rio, momento dedicado ao planejamento e avaliação das atividades. A exibição do filme para a comunidade em geral ocorre na segunda quinta-feira do mês seguindo o cronograma pré-estabelecido. Após a exibição do filme ocorre o debate com ênfase nas propostas de abordagem que o filme suscita. E, por último, ocorre a elaboração e apresentação dos recursos didáticos construídos.

Resultados e Discussões

Voltamos nosso olhar para o recurso audiovisual como uma ferramenta que proporciona uma leitura de uma realidade, caracterizada por sons e imagens que remetem o expectador a múltiplas sensações, interpretações e sentidos. Isto pois,

[...] o filme pode ser utilizado como instrumental didático ilustrando conteúdos, principalmente referentes a fatos históricos; como motivador, na introdução de temas psicológicos, filosóficos e políticos, estimulando o debate; ou como um objeto de conhecimento, na medida em que é uma forma de reconstrução da realidade (CIPOLINI, 2008, p. 19).

Com as produções cinematográficas temáticas são suscitadas e, desta forma, são problematizadas para um procedimento metodológico de ensino-aprendizagem. Temos então com os filmes a materialização de conteúdos em imagens e sons.

Os conteúdos são segundo Libâneo (1994) “um conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagogicamente e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos em sua prática de vida” (p. 128). E esses conteúdos que possibilitam, através de uma articulação teórica e metodológica, que os alunos assimilem, compreendam e enfrentem as práticas da vida social.

Desta forma a articulação entre conteúdo e recurso didático possibilita ao docente e ao discente a compreensão da realidade e sua práxis. O estudo das questões étnicas, raciais e de gênero possibilitam além do conhecimento da realidade, a atuação social nos espaços, proporcionando o questionamento, a compreensão das contradições e rompendo com um processo de preconceitos e violências.

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Conclusão

A proposta aqui apresentada é resultado da realização de um projeto de extensão em curso na UEG, Câmpus Pires do Rio. O objetivo da ação extensionista é a elaboração de planos de aulas, transposição didática e sequência didática com a abordagem de temáticas que enfatizam as relações étnicas, raciais e de gênero. As atividades foram realizadas semanalmente com referência ao recurso didático audiovisual como filmes, documentários e animações, que proporcionaram a problematização e elaboração de processos educacionais.

O projeto foi realizado com referência as determinações da resolução n. 02 de 01 de julho de 2015 (CNE/CP), em especial o art. 02, sobre a formação continuada de professores e alunos no espaço acadêmico. Associada a resolução o projeto de extensão esteve amparado nas Leis 10.639/03 e 11.645/08 sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena.

Ao longo do período de realização das atividades foi possível articular as teorias sobre o processo de atuação docente, o debate sobre as legislações que referenciam o projeto, a utilização do audiovisual como recurso didático e a elaboração do material didático. Desta forma ocorreu a práxis docente no processo de formação continuada, no caso dos alunos dos cursos de licenciatura oferecidos pela UEG, Câmpus Pires do Rio, e, também no processo de ensino e aprendizagem nas escolas da educação pública com a participação dos professores em atuação na educação básica.

Referências

ALENCAR, S.E.P. O cinema na sala de aula: uma aprendizagem dialógica da disciplina história. Dissertação (Mestrado em Educação) Fac. de Educação, Univ. Federal do Ceará, Fortaleza – CE, 2007.

BRASIL, Ministério da Educação. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br, Acesso em: 20 out. 2016.

BRASIL, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº. 10.639/03. Disponível em: http://www.planalto.gov.br, Acesso: 25 out. 2016.

BRASIL. Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Brasília, DF: Presidência da República/Casa Civil, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br, Acesso: 25 out. 2016.

BRASIL. Lei 11.645, de 10 de marco de 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br, Acesso: 25 out. 2016.

BRASIL. Resolução n. 02, de 01 de julho de 2015 (CNE/CP). Brasília, DF: Presidência da República/Casa Civil, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br, Acesso: 20 out. 2016.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. História e geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br, Acessado outubro de 2016.

CIPOLINI, A. Não é fita, é fato: tensões entre instrumento e objeto – Um estudo sobre a utilização do cinema na educação. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo – SP, 2008.

LIBANEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.

VIANA, M. C. V. O Cinema na Sala de Aula e a Formação de Professores de Matemática. Mini-curso oferecido aos alunos do Curso de Matemática na UFRRJ. Dia de Atividades Acadêmico-Científico-Culturais.18 de maio de 2010. Seropédica- RJ. Disponível em: http://www.conferencias.ulbra.br/index.php/ciem/vi/paper/viewFile/810/283. Acesso em: 10 out. 2018.

Filmografia

GIRL RISING, Direção: Richard Robbins.1h41min EUA, 2013.

XXY, Direção: Lucia Puenzo. 1h 31min Argentina/Espanha/França, 2007.

A COR PÚRPURA, Direção: Steven Spielberg. 154 minutos, EUA, 1985.

AS SUFRAGISTAS, Direção: Sarah Gavron. 1h 47min, Reino Unido, 2015.

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ESTRATÉGIA XAVANTE, Direção: Belisário Franca. 86min Brasil, 2006.

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO, Direção: Daniel Ribeiro. 1h36min, Brasil, 2014.

MENINO 23: INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL, Direção: Belisário Franca. 79 min, Brasil, 2016.

PERSÉPOLIS, Direção: Marjane Satrapi e Vicent Parannaud. 1h 35min, França, 2007.

TOMBOY, Direção: Céline Sciamma. 1h 22min, França, 2011.

XINGU, Direção: Cao Hamburger. 1h 42min, Brasil, 2012.

Notas

1. Doutora em Educação. Professora da Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Pires do Rio.

2. Discente do Curso de Licenciatura em História – UEG – Câmpus Pires do Rio.