Maria Rita de Cássia Campos
campos.mariarita@yahoo.com.br

Gabriela da Silva Guimarães
gabisg9@gmail.com

Anderson Rodrigo dos Santos Rodovalho
andersonrodovalho@hotmail.com

Avaliação de Acessibilidade na Biologia Celular – Um Estudo de Caso

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Resumo

Este estudo baseou-se na barreira excludente enfrentada por um aluno que apresenta déficit intelectual, do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão. O objetivo foi investigar as barreiras à aprendizagem e à participação desse estudante com necessidades educacionais especiais no contexto do ensino e aprendizagem do componente curricular biologia celular. Neste componente curricular há uma linguagem científica e conceitos de determinados conteúdos abstratos, além disso, o componente é ofertado no primeiro semestre do aluno na Instituição. Para coletar os dados, utilizamos como instrumento o roteiro de observação. A aprendizagem deste aluno em biologia celular foi acompanhada durante quatro anos. Os resultados mostram que o sujeito analisado sofre de dois dos três tipos de barreiras à aprendizagem e à participação em seu contexto escolar: barreira atitudinal de adjetivação ou rotulação e de baixa expectativa e subestimação (vinda dos colegas de classe e de outros membros da Instituição escolar) e barreira pedagógica (oriunda dos professores que utilizam material didático não adaptado à deficiência do aluno, por exemplo), bem como indícios de barreiras atitudinais provenientes da família do aluno desde o início de sua vida discente. Diante desta observação foram propostas aulas e avaliações alternativas, com ou sem auxílio de monitor, atendimento individual e trabalho em equipe. Os resultados sugerem que a diversificação no atendimento contribuiu para a relação entre o sujeito e professor, aumentando o interesse pelo componente curricular biologia celular. Esta pesquisa poderá contribuir para estudos vindouros que tangem os processos de inclusão e exclusão escolar considerando que o componente curricular é pré-requisito para outros componentes do curso.

Palavras-chave: Déficit Intelectual. Barreiras. Inclusão.

Introdução e Justificativa

A Biologia Celular é uma área das Ciências Biológicas que explora as células abordando a composição, os aspectos morfológicos, estruturais e funcionais. Esses conceitos abstratos mostram-se de difícil compreensão e parecem estar entre as principais dificuldades no processo de ensino-aprendizagem (CARLAN et al., 2014). Existe a necessidade de promover o envolvimento do aluno e desfazer a ideia que biologia celular somente envolve fatos que devem ser memorizados. Mesmo diante dos recursos audiovisuais é difícil para alunos com déficit intelectual compreender os temas abordados (RANDI, 2011).

Numa sala de aula observa-se uma grande diversidade de estudantes, com diferentes realidades sociais e níveis de conhecimento, tornando o trabalho do professor ainda mais complexo. Um bom professor não se recusa a examinar, a inovar, a arriscar e a experimentar novas propostas, pois o seu compromisso deve ser com a qualidade da aprendizagem (LEÃO e RANDI, 2019). Diferentes abordagens e métodos alternativos podem ter efeitos significativos na qualidade do aprendizado e podem ser tentativas de suprir necessidades variadas dos estudantes. Por esse motivo, é importante que os professores se apropriem de estratégias flexíveis para o ensino (CARRANO, 2019).

A geração de imagens mentais e a criação de representações gráficas podem ser aliadas poderosas quando acompanham uma informação. Dessa maneira, a criatividade e a imaginação estão diretamente relacionadas com as representações não linguísticas. Diversas atividades podem envolver as representações não linguísticas e, consequentemente, melhorar o entendimento dos conteúdos abstratos, como a criação de mapas conceituais, confecção de modelos educativos, elaboração de cartazes, jogos e outros (MARZANO et al., 2008).

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A Biologia Celular é um componente curricular que envolve conceitos abstratos para o estudante, uma vez que a grande maioria dos temas estudados está abaixo do limite de resolução do olho humano. Por esse motivo, a utilização de estratégias diferenciadas em sala de aula pode ser especialmente importante, com efeitos significativos na melhora desse processo de ensino-aprendizagem. O objetivo principal desse trabalho foi analisar a possível correlação entre a aprendizagem de temas da Biologia Celular e a utilização de diferentes estratégias pedagógicas, considerando as diferentes características e habilidades do estudante além de investigar barreiras à aprendizagem e à participação de aluno com necessidades educacionais especiais no contexto do Ensino.

Desenvolvimento

Este estudo está organizado como uma pesquisa social, qualitativa, do tipo estudo de caso (ANDRÉ, 1995), o qual tem como universo amostral um sujeito regularmente matriculado e frequentando o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão. A detecção do déficit intelectual foi verificada por meio de uma vista de avaliação individual. A partir daí foram aplicadas as estratégias assim distribuídas:

  1. Estratégia um (aplicada no primeiro ano): O estudante foi conduzido para o atendimento individual com monitor e, ou, professor durante aproximadamente uma hora por semana. Estudo do conteúdo sem metodologia específica.
  2. Estratégia dois (aplicada no segundo ano): Plano de ensino da disciplina foi modificado, de forma a melhor atender o aluno em questão, com distribuição da nota em outras atividades de avaliação.
  3. Estratégia três (aplicada no terceiro ano): Confecção de jogos pelos grupos de alunos para entendimento (Carneiro et al., 2016).
  4. Estratégia quatro (aplicada no quarto ano): Dinâmicas envolvendo monitor da disciplina, tutor da Acessibilidade da UFG-Regional Catalão e docente. Estudos direcionados com uso de modelos educativos.

As aulas foram aplicadas de acordo com o plano do componente curricular e o aluno teve contato com os temas de Biologia Celular. Antes do início de cada metodologia, o estudante foi orientado sobre o funcionamento e a forma de condução da aula, enfatizando-se a participação do aluno, a necessidade de se estudar previamente os conteúdos e os mecanismos de avaliação que seriam utilizados.

Para coletar os dados, utilizamos como instrumento o roteiro de observação, previamente elaborado. O roteiro de observação foi preenchido através de análise do contexto escolar e os tipos de barreiras enfrentadas por estes alunos. A investigação ocorreu entre os anos de 2012 a 2016.

Considerações Finais

Alguns aspectos gerais devem ser considerados. O aluno em questão foi inicialmente resistente à interferência no processo de ensino aprendizagem. O sujeito acreditava que tinha conhecimento e que não precisava de auxílio. Devido a essa crença e resistência ao aprendizado nenhum resultado positivo foi observado nas estratégias um, dois e três. Após a terceira estratégia e antes da quarta o aluno foi entrevistado pelo docente sobre suas expectativas, seu ambiente familiar e escolar. Embora o objetivo desse estudo não seja analisar o âmbito familiar do sujeito, é preciso ressaltar que através da análise dos dados, encontramos barreiras atitudinais vinculadas a esse contexto, pois a família do sujeito atribui tarefas a este no período escolar levando a faltas constantes por ter que ficar com parente em hospital, acompanhar a mãe em atividades do cotidiano e as consultas com médicos são sempre marcadas em horário escolar. Foi, portanto necessário informar ao estudante a necessidade de uma dedicação aos estudos. Quando foi aplicada a quarta estratégia o estudante, agora receptivo, respondeu as expectativas da estratégia e mostrou avanço tanto na barreira atitudinal de adjetivação ou rotulação quanto na barreira pedagógica.

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No presente trabalho, para avaliar o potencial do modelo educativo, optou-se por criar e estabelecer critérios relacionados à possibilidade de interação do aluno de forma a estimular o estudo do conteúdo proposto. Além disto, a possibilidade de o aluno realizar a manipulação e interagir com o material, permitiu uma exploração e uma análise de sua própria capacidade, o que pode ser auxiliado pelo monitor e, ou tutor. Outros recursos como esquemas ou figuras, foram utilizados como apoio ao uso do modelo e do microscópio. O estudante em questão participava ativamente das aulas práticas com interesse e questionamentos.

Os modelos educativos empregados neste trabalho foram elaborados por alunos de outros semestres e apresentaram baixo custo, tornando-se acessível a educadores e demonstraram interação com o aluno, indicando avanço no tipo de interação que se tem com o recurso. Sugere-se a elaboração de materiais que trabalhem mais a capacidade manual e intelectual dos alunos, incentivando criatividade e habilidades em que os estudantes possam modificar, buscando atender a realidade de diferentes necessidades educativas. Importante se faz destacar a participação dos monitores, tutores e colegas de sala. Além disso, para cada componente curricular deve se adequar uma estratégia.

Referências

ANDRÉ, M. Etnografia da prática escolar. 1. ed. Campinas, SP: Papirus, 1995.

CARLAN, F.A., SEPEL, L.M.N., LORETO, E.L.S. Teaching Cell Biology in Primary Schools. Education Research International, v. 2014, p. 1–5, 2014.

CARNEIRO, C.C.M.; CORTÊS, B.M.; BORGES, P.V.; CAMPOS, M.R.C.C. Elaboração de Jogos educativos para o ensino de célula eucarionte educacional. Arquivos do MUDI, v.20, n.1, p. 51-63, 2016.

CARRANO, Paulo. A ANPEd lança a campanha Aqui já tem Currículo: o que criamos na escola. 2019. Disponível em http://www.anped.org.br/news/um-novo-ensino-medio-e-imposto-aos-jovens-no-brasil. Acesso em: 05 agosto 2019.

LEÃO, Gabriel Mathias Cordeiro, RANDI, Marco Antônio Ferreira. Existe vida além da aula expositiva? um caso para a biologia celular. EDUCERE XIV Congresso Nacional de Educação. 2017.

MARZANO, R.J.; PICKERING, D. J.; POLLOCK, J. E. O ensino que funciona: estratégias baseadas em evidências para melhorar o desempenho dos alunos. Porto Alegre, Brasil: Artmed, 2008.

RANDI, Marco Antonio Ferreira. Criação, aplicação e avaliação de aulas com jogos cooperativos do tipo RPG para o ensino de biologia celular. 2011. Universidade Estadual de Campinas, 2011.

Notas

1. Professora de Biologia Celular UFG-Regional Catalão.

2. Aluna de pós-graduação em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia.

3. Biológo pela UFG- Regional de Catalão, Professor da Rede Pública de Goiás.