Wanessa Saran Ribeiro (UFG)
wanessasaran25@gmail.com

Kellen Jessika Stalchus (UFG)
kellenstalschus@gmail.com

O Estágio Obrigatório no Departamento de Educação Infantil: o plano de ação na teoria histórico-cultural

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Resumo

O objetivo deste trabalho é socializar, por meio de um relato de experiência, as práticas de ensino desenvolvidas durante a realização das intervenções do estágio obrigatório da turma de pedagogia da Faculdade de Educação no Departamento de Educação Infantil do Centro e pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás – DEI/CEPAE/UFG, que se deu no ano de 2017. O texto resultante é parte do relatório final do plano de ação elaborado especificamente para o agrupamento III, denominado de Tatu Bolinha, composto por quinze crianças com idades entre três e quatro anos. A respectiva proposta teve como objetivo principal desenvolver com as crianças o processo de construção e formação do personalismo, por meio de clássicos da literatura e brincadeiras de faz de conta, visto que esta é uma das atividades guia das crianças na idade pré-escolar. A fundamentação do plano de ação foi baseada na teoria histórico-cultural desenvolvida por Vygotsky, Leontiev e outros autores soviéticos. Este marco teórico orienta todo o trabalho pedagógico desenvolvido no DEI/CEPAE/UFG. O plano de ação desenvolvido com as crianças teve como eixo condutor a história “João e o pé de feijão”. Em um primeiro momento a história clássica foi apresentada às crianças em forma de contação de história e durante todo o processo de realização do projeto, a história pôde ser ressignificada pelas crianças que exploraram a criatividade e imaginação. Os personagens, suas vontades, personalidades e temperamentos foram desconstruídos pelas crianças, que deram espaço para uma história recontada, utilizando a imaginação e a criação, construindo e reconstruindo conceitos.

Palavras-chave: Plano de Ação. Tatu Bolinha. Educação Infantil.

Introdução

As práticas educativas pedagógicas fundamentadas na teoria histórico-cultural e desenvolvidas no DEI/CEPAE/UFG são o ponto de partida para o trabalho de intervenção dos alunos do estágio obrigatório do curso de pedagogia. O estágio é, portanto, um percurso formativo importante, pelo qual todos os estudantes devem passar para um crescimento intelectual, pessoal e acadêmico, promovendo o amadurecimento do professor em formação e a compreensão real da unidade teoria e prática.

A proposta acadêmica da disciplina de estágio exercitou em nós, docentes em formação, a atitude investigativa, num primeiro momento por meio da observação da prática pedagógica da instituição (observação participante) e, posteriormente, com a possibilidade do desenvolvimento de um projeto de ações pedagógicas com crianças da primeira etapa da educação básica.

O relato de experiência aborda o período de intervenções do estágio do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás realizado no segundo semestre de 2017 no Departamento de Educação Infantil do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação da Universidade Federal de Goiás.

As atividades desenvolvidas no Departamento de Educação Infantil são orientadas pela abordagem histórico-cultural desenvolvida por Vygotsky, Leontiev e outros autores soviéticos, portanto, pautadas na teoria Marxiana e no materialismo dialético. A compreensão de criança como sujeito ativo do processo de desenvolvimento e aprendizagem advém dessa perspectiva, considerando a relação dialética que ela estabelece com o seu contexto e seus pares. O trabalho desenvolvido na sequência didática do estágio obrigatório buscou seguir a mesma fundamentação teórica.

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a perspectiva histórico-cultural contrapõe-se radicalmente a uma visão naturalizante do desenvolvimento infantil, isto é, indica que não é possível compreender o desenvolvimento infantil como um processo natural que se desenrola de forma espontânea, como resultado de leis naturais. Isso significa que o desenvolvimento psíquico não percorre um caminho natural, que se desenrola de forma espontânea como resultado de leis naturais. (Pasqualini, 2010, p.165)

O objetivo deste relato de experiência é compreender a importância do estágio obrigatório no curso de pedagogia para a formação do futuro docente, por meio da proposição de uma sequência didática que foi desenvolvida no agrupamento que acompanhamos, aportada na abordagem seguida na própria instituição.

Desenvolvimento

O grupo que acompanhamos é formado por quinze crianças em cada turno, com idades entre três a quatro anos, e conta com duas educadoras de referência, sendo uma professora e uma bolsista. Observamos o cotidiano do grupo na instituição e percebemos uma trajetória metodológica percorrida para um determinado fim, que foi o projeto desenvolvido na turma que abordou aspectos em torno do “eu e o outro”.

“[...] Trata-se de pensar um trabalho que vincule o lúdico ao educativo, que entenda o pedagógico como cultural, que desconstrua a ideia de aluno, de aluna e conceba o sujeito criança, num espaço de convívio coletivo, onde as mais diversas interações possam estabelecer-se” (CORSINO, 2009, p.9).

A presença do faz de conta nas intervenções foi muito marcante, assim como, a desconstrução de algumas histórias e a proposição de ressignificações elaboradas pelas próprias crianças que vivenciaram situações conflitantes juntamente com os personagens.

No período de observação, percebemos que o trabalho desenvolvido no grupo esteve relacionado com o faz de conta e a formação da personalidade das crianças e, ainda, com a identificação do projeto realizado com a turma (“Eu e o outro, formação da personalidade da criança”). Nesta proposta, o imaginário foi um aspecto muito desenvolvido. Assim, decidimos permanecer nesta mesma concepção, relacionando, o personalismo de Wallon, o faz de conta com as histórias clássicas e contos de fadas para a materialização de nosso do plano de ação.

Na obra de Wallon é apresentado o “Estágio do Personalismo”, que tem como características marcantes a: oposição, sedução e imaginação. Durante as intervenções do estágio, foi permitido a criança diferenciar-se dos outros e descobrir sua autonomia e originalidade. No estágio do personalismo:

a direção é para si mesma, a criança aprende principalmente pela oposição ao outro, pela descoberta do que a distingue de outras pessoas. Como agora está se descobrindo como diferente dos outros, está rompendo com o sincretismo entre ela e os outros. O tipo de afetividade que facilita essas aprendizagens comporta oportunidades variadas de convivência com outras crianças de idades diferentes e aceitação dos comportamentos de negação, lembrando que são recursos de desenvolvimento. (MAYONEY, ALMEIDA, 2005, p. 23).
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O plano de ação desenvolvido por nós (estagiários) teve como tema: O processo de formação da personalidade por meio de clássicos da literatura e do “faz de conta”. A escolha por tal temática se deu nos momentos de observação participativa por optarmos continuar numa perspectiva que já estava sendo trabalhada no grupo pelos professores de referência da turma. A partir dessa escolha, nos propomos um estudo voltado à compreensão do estágio do personalismo, considerando a importância da unidade teoria e prática como um elemento fundamental no desenvolvimento das ações educativas pedagógicas com crianças.

O objetivo do plano de ação foi proporcionar a vivência das crianças com os clássicos da literatura e do “faz de conta” e, nesse processo, explorar o imaginário e a criatividade, vivenciando situações conflitantes como a dos personagens, usando suas capacidades de observação, imitação e imaginação. Esse movimento possibilitou a formação e reconstrução de conceitos a partir da relação das crianças com os outros e com suas próprias singularidades. O plano de ação promoveu ainda a exploração do imaginário e a possibilidade do exercício da observação e criatividade ao incentivar as crianças a buscarem solucionar situações conflituosas nas histórias, promovendo a construção do eu e da relação com o outro em diálogo com as vivências dos personagens.

A metodologia caracterizou-se pela realização de rodas de conversas no início das intervenções (para estabelecer os combinados construídos juntamente com as crianças); utilização de música; contação de histórias, apresentação teatral e teatro com fantoches.

A avaliação se desenvolveu de forma contínua e processual, com registros realizados pelas estagiárias e crianças sobre as atividades, promovendo assim, a participação e envolvimento.

As atividades realizadas no plano de ação contaram com o incentivo do desenvolvimento da criatividade na criação e ressignificação da história do João e pé de feijão, explorando o imaginário e a reconstrução de conceitos, bem como, a promoção da relação entre o eu e o outro na exploração das ações e falas dos personagens da história.

O plano de ação foi desenvolvido dentro de uma sequência didática que previa vários momentos de intervenções. O primeiro momento foi a contação da história “João e o pé de feijão” com o auxílio de objetos representando os personagens e desenvolvida nos vários espaços do Departamento. A primeira atividade de contação da história se deu dentro da casinha de madeira (pátio II) destinada para brincadeiras das crianças onde os personagens, representados por objetos, foram apresentados. Outro momento de intervenção ocorreu no Hall (entrada principal da instituição), neste local apresentamos o vídeo “O gigante” do Tiquequê, e desenhamos um pé de feijão com os pés das crianças, utilizando papel pardo como material principal. O pé de feijão foi construído com os pés das crianças e ao final desenhamos coletivamente a casa do gigante. A terceira intervenção foi a caça aos feijões mágicos, utilizamo-nos do faz de conta para visitarmos os ambientes da história e os personagens. As crianças conheceram alguns personagens, puderam estabelecer diálogos, ressignificar conceitos e desfrutar da imaginação, propondo vários questionamentos ao gingante tais como: “Qual o motivo de ele não gostar de João?” e; se o gigante não ficava triste por viver sozinho no castelo? As crianças dialogavam durante todas as atividades desenvolvidas e, neste movimento, construíam conceitos e, ainda, elaboravam várias outras perspectivas e possiblidades de soluções dos conflitos postos na história. A última intervenção consistiu no retorno das crianças à casa do gigante para uma festa à fantasia, foi um encerramento significativo e houve a caracterização de diversos personagens.

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Considerações Finais

Durante o período de observação no DEI, percebemos a concepção de educação fundamentada na abordagem histórico-cultural, tendo com o eixo norteador do trabalho as interações e as brincadeiras. A teoria histórico-cultural foi identificada por nós diversas vezes na prática educativa-pedagógica da instituição e especificamente na turma acompanhada pelos estagiários no primeiro semestre.

O estágio obrigatório na grade curricular do curso de pedagogia nos fez perceber o quanto se faz importante para a formação do docente, nos proporcionando um aprendizado muito significativo, pois nele temos a oportunidade de exercer uma prática pedagógica que articula teoria e prática, aplicada em um determinado contexto que expressa uma realidade. É um espaço oportuno para o desenvolvimento de observação, apropriação e proposição de ações pedagógicas.

Estagiar no Departamento de Educação Infantil nos proporcionou compreender a abordagem histórico-cultural em sua prática docente e vivência com crianças. Tê-la como norteadora do plano de ação foi muito significativo. O estágio confirmou a importância da instituição de educação infantil que tem como eixo principal de suas ações pedagógicas as brincadeiras e interações, nos mostrando que tal eixo curricular é essencial para o aprendizado e desenvolvimento das crianças.

Referências

MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Psicologia da Educação, São Paulo, v. 20, p. 11-30, 2005.

PASQUALINI. J.C. O papel do professor e do ensino na educação infantil: a perspectiva de Vigotski, Leontiev e Elkonin. In: MATINS. L. M. DUARTE. N. Formação de Professores limites contemporâneos e alternativas necessárias. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

CORSINO, Patrícia (org.). Educação Infantil – cotidiano e políticas. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.

Notas

1. Resumo de relatório/reflexão de estágio na Educação Infantil 2017.

2. Pedagoga pela Universidade Federal de Goiás. Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Políticas e Gestão da Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal de Goiás. Professora Bolsista do Departamento de Educação Infantil (DEI/CEPAE/UFG).

3. Pedagoga pela Universidade Federal de Goiás. Mestranda em Ensino na Educação Básica pela Universidade Federal de Goiás e Professora Substituta do Departamento de Educação Infantil (DEI/CEPAE/UFG)