Larissa de Mello Evangelista (UFG)
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Atividade Lúdica como Processo Ensino Aprendizagem do Conteúdo “Célula”

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Resumo

Este trabalho tem o intuito de demonstrar parte dos resultados de uma pesquisa relativa ao processo ensino aprendizagem para o conteúdo Célula utilizando-se uma atividade lúdica nas aulas da disciplina de Ciências, nas duas turmas de 7⁰ ano do Ensino Fundamental II em uma escola pública federal do município de Goiânia, Goiás, Brasil. A pesquisa em questão teve como objetivo utilizar o lúdico trabalhando de duas formas diferentes em cada uma das duas turmas da série em questão comparando os resultados encontrados em cada uma das turmas. Porém, devido à extensão do trabalho não será possível finalizar os resultados e relatá-los neste texto. Assim transcorreu a atividade: Na turma do 7⁰ ano “A” foi proposta que vários grupos fossem formados e cada um ficou responsável por pesquisar e elaborar uma estrutura celular para depois, durante a apresentação, um tipo celular fosse formado. Esse resultado foi apresentado no XII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) neste ano de 2019. Os resultados aqui descritos serão os da turma do 7⁰ ano “B” que para realização do trabalho os alunos foram instigados a elaborar modelos das estruturas celulares e dos tipos celulares: animal e vegetal. Neste caso, a turma foi dividida em apenas dois grupos grandes: um ficou responsável por elaborar um modelo da célula animal e o outro da célula vegetal e apresentá-los ao final do trabalho. Os alunos pesquisaram sobre a função das estruturas celulares presentes em cada tipo celular e elaboraram o modelo celular conforme compreenderam da pesquisa. Durante a apresentação que ocorreu ao final da pesquisa eles descreveram, além de como fizeram o modelo celular, também a função de cada estrutura celular desempenhada na célula. A criatividade para a elaboração dos modelos celulares foi demonstrada de forma clara. Percebeu-se que a aprendizagem de forma lúdica é mais eficiente e eficaz, pois torna o aluno responsável e consciente do processo.

Palavras-chave: Ciências. Lúdico. Célula.

Introdução/justificativa

O Ensino de Ciências atualmente se depara com uma realidade difícil no processo ensino aprendizagem em que os alunos demonstram pouco, ou até mesmo nenhum, interesse no que se deve estudar em sala de aula. Diante disto, o professor possui papel fundamental para mudança desse paradigma e por isto deve sempre estar buscando diferentes alternativas para que o ensino e a aprendizagem tenham algum sentido para os estudantes.

Cachapuz, Praia e Jorge (2004) afirmam que há necessidade de mudança nos currículos e no ensino das Ciências, se os professores quiserem motivar os alunos, ensinar Ciências implica em um grande esforço de atualização e disponibilidade científica dos professores para fazer leituras inovadoras do currículo.

Libâneo (1994) afirma que a unidade entre ensino e aprendizagem fica comprometida quando o ensino se caracteriza pela memorização, quando não suscita o envolvimento ativo dos alunos. Por outro lado, também, se quebra a unidade quando os alunos são deixados sozinhos, com o pretexto de que o professor somente deve facilitar a aprendizagem e não ensinar. O processo de ensino tem o papel de impulsionar a aprendizagem e, muitas vezes, a precede.

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Ainda, diante do exposto, Freire (1987) considera que o professor deve propor situações problemáticas que desafiem os alunos a resolvê-las com respostas buscadas como manifestação do ser humano dá-se em duas dimensões: “ação e reflexão”.

É importante salientar que o professor deve ser o mediador do processo ensino aprendizagem não o detentor do saber e muito menos propor atividades de questionamento, criação, desenvolvimento dentre outros somente para os alunos desenvolverem sem a sua orientação. O professor deve estar presente em todas as etapas e desenvolvimento do processo ensino aprendizagem seja em qualquer metodologia aplicada durante a aula. O professor deve ser o mediador sendo o responsável por conduzi-lo, levando o ensino e dando condições para que ele aconteça, desenvolvendo habilidades e competências em seus alunos. Desempenhando, também, o papel de ensinar, formando, então, indivíduos capazes de compreender o que aprendem na relação ensinar-aprender, mas não apenas isso, mas também, cidadãos críticos e responsáveis (GROSSI, 1998).

Este trabalho tem o intuito de demonstrar parte dos resultados obtidos na pesquisa em que utilizou-se uma atividade lúdica para construção de modelos celulares no processo ensino aprendizagem do conteúdo de Célula nas aulas da disciplina de Ciências na turma do 7⁰ ano “B”do Ensino Fundamental II, no qual os alunos têm acesso ao conceito global de célula e a sua importância (BRASIL, 1998), além de conhecerem suas organelas e suas respectivas funções.

O conteúdo Célula foi escolhido para ser trabalhado ludicamente devido ser mais dificilmente contextualizado pelos alunos, pois nos livros didáticos é exposto de forma plana e totalmente fora do tamanho real, o que dificulta a compreensão do aluno.

A escola, porém, por vezes, não possui recursos que possibilitem o aprendizado de forma mais clara sobre a célula. O livro didático, no entanto, com relação à citologia é um recurso insuficiente, pois não aproxima do aluno o conceito e, ainda, apresenta ilustrações que não explicitam as funções das organelas. Os alunos têm dificuldade em, a partir de figuras planas, microscópias eletrônicas e microfotografias, compreender e reconstruir a célula total (KRASILCHIK, 2008; OLIVEIRA et al., 2015).

A abordagem tradicional, contida nos livros didáticos, gera atividades fundamentadas na memorização com poucas possibilidades de contextualização formando indivíduos treinados para repetir conceitos, armazenar termos e aplicar fórmulas sem reconhecer possibilidades de associá-los ao seu cotidiano. Isso provoca um distanciamento entre o ensino de Ciências e a apropriação dos conhecimentos científicos necessários para a formação de um cidadão crítico e participante (VASCONCELOS e SOUTO, 2003).

Orlando et al (2009) afirmam que devido ao caráter microscópico do conteúdo célula seria importante uma boa infra-estrutura de laboratório, com microscópios e aparelhagem que possibilitem a observação e estudo desses aspectos. Porém, a existência desses laboratórios é extremamente dispendiosa e difícil de ser implantada.

Uma alternativa para a falta desses laboratórios nas escolas seria a montagem de laboratórios que contivessem modelos didáticos que contemplassem os conteúdos e dessa forma pudessem trazer uma visão mais aproximada desse mundo abstrato aos estudantes. Dessa forma, modelos biológicos como estruturas tridimensionais ou semi-planas (alto relevo) e coloridas são utilizadas como facilitadoras do aprendizado, complementando o conteúdo escrito e as figuras planas e, muitas vezes, descoloridas dos livros didáticos (ORLANDO et al, 2009).

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Assim, uma alternativa para uma melhoria no processo ensino aprendizagem de Ciências e do conteúdo Célula seria a utilização da atividade lúdica.

A atividade lúdica é considerada como uma atividade que imita ou simula uma parte do real. Possui a capacidade de interagir com a realidade, inserindo o participante no tema que é proposto (BROUGÈRE, 1998). Vasconcelos (2006) afirma que as atividades lúdicas proporcionam momentos de descontração e prazer, incertezas e exploração, o que permite aprender de verdade. Para Chateau (1987) “Atividade lúdica é essencialmente humana e provém de uma atividade interessada, não voltada para o prazer sensorial que proporciona esse resultado” (p. 18).

Diante do exposto é possível afirmar que a elaboração destes modelos celulares é considerada como uma atividade lúdica e uma forma de inovar, motivar e mudar a forma de aprender dos alunos.

O objetivo foi analisar o uso da atividade lúdica utilizando-se modelos celulares para o processo ensino aprendizagem do conteúdo Célula, trabalhando com grupos grandes para a realização da atividade de elaboração de modelos celulares.

Desenvolvimento da Atividade

Conte-me alguma coisa e eu não me lembrarei. Mostre-me alguma coisa e me lembrarei vagamente. Envolva-me em alguma coisa e compreenderei.
(Confúcio)

Caminhos Percorridos

No primeiro dia da atividade a professora explicou que seria trabalhado o conteúdo Célula e para o processo ensino aprendizagem seria realizada uma atividade lúdica e pediu para que os alunos formassem dois grupos, cada um contendo 15 alunos. Cada grupo pesquisaria sobre as características e estruturas de um tipo celular e elaboraria um modelo para explicá-lo.

Os grupos foram formados pelos próprios alunos, conforme afinidade entre eles, não havendo interferência da professora. As atividades lúdicas em geral propõem este tipo de constituição, o que é muito importante para o desenvolvimento do sentimento de cooperação e a exclusão do individualismo, principalmente nas crianças.

Segundo Chateau (1987), existem grupos que trabalham ativamente, enquanto outros já deixam as coisas acontecerem, e dentro do próprio grupo existem as pessoas que trabalham mais que as outras, e ainda há um participante que é “o cabeça”, ou seja, aquele que comanda o grupo, que é chamado de mentor, sua autoridade se instala progressivamente e não há escolha consciente, nem eleições.

E foi justamente isto que ocorreu, em cada grupo havia um mentor que organizava as atividades, dividia grupos ou tarefas e auxiliava os integrantes, sendo também ponte entre o grupo e a professora. Todos os integrantes do grupo deveriam ter voz e vez, ou seja, participar ativamente da atividade, porém não foi isto que aconteceu. Alguns alunos não realizaram a parte que ficaram responsáveis e o mentor do grupo teve que realizar.

Após a formação dos grupos foi explicado como a atividade aconteceria. Os alunos pesquisariam em casa e durante as aulas elaborariam e discutiriam o modelo celular. Ao final haveria apresentação dos modelos celulares e as funções de cada estrutura celular presente.

Durante todo o trabalho dos alunos a professora, mediadora, estava presente para tirar dúvidas da atividade e também para manter a ordem.

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Resultado e Discussão

O grupo responsável pelo modelo da célula animal utilizou uma estrutura de isopor para ser apoio de uma bola, também de isopor, que representou a membrana plasmática da célula, e também para uma legenda com as organelas citoplasmáticas.

A célula foi representada por uma bola de isopor fechada, pintada do lado de fora de amarelo (Figura 1), e dentro estavam as organelas citoplasmáticas feitas de massa de modelar colorida, conforme figura 2. Os alunos não conseguiram explicar o porquê da cor amarela. Ainda na figura 2 é possível visualizar a legenda das organelas citoplasmáticas com as estruturas em miniatura da mesma forma que se encontram na célula.

Figura 1. Modelo celular compreendido pelos alunos.
Figura 2. Célula animal com suas organelas citoplasmáticas e a legenda ao lado.

O grupo que elaborou o modelo da célula vegetal (Figura 3) também utilizou o isopor para fazer estrutura da membrana plasmática, porém recortaram para ficar no formato poliedro conforme se apresenta a célula nos tecidos vegetais. A parede celular foi proposta utilizando EVA na cor verde com desenhos representando outras células em contato com ela.

A cor verde, segundo o grupo, se deu devido em todas as pesquisas a célula aparecer desta cor e também por ser a célula da planta que é verde. As organelas citoplasmáticas foram feitas utilizando-se EVA e também massinha de modelar ambos coloridos para cada organela diferente. O citoplasma, estrutura importante na célula foi representado com gel de cabelo colorido com tinta.

Figura 3. Modelo da célula vegetal.

Segundo Justi (2006), na construção e utilização o conhecimento científico, independentemente da forma de representação empregada, os modelos são representações mentais. Reconhece-se que a principal função dos modelos é a capacidade que tem de ser representações do mundo produzidas pelo pensamento humano. Os modelos podem ser utilizados, também, para ajudar na visualização de estruturas abstratas, caso as estruturas celulares que são microscópicas e se encontram dentro das células.

Foi bem isto que aconteceu, os alunos conseguiram perceber que dentro de uma célula microscópica existem várias estruturas importantes e todas trabalham juntas para o funcionamento dela e do corpo do indivíduo.

As características da atividade lúdica que emergiram na proposta do trabalho foram: Interesse/Motivação; Criatividade e Relação professor-aluno.

Interesse/Motivação: Interesse é algo, sobretudo pessoal e não material e um mesmo assunto ou objeto pode gerar diferentes interesses, de acordo com sua apresentação e manipulação (SOARES, 2008). Indicando-se assim, possibilidades práticas e ilimitadas de motivação de uma pessoa. Segundo Soares (2013), o interesse corresponde à primeira manifestação positiva evidenciada com o lúdico e ele contribui para levar ao aprendizado; porém o interesse não pode ser gerado e sim despertado. Indicando-se assim, possibilidades práticas e ilimitadas de motivação de uma pessoa.

Segundo Dohme (2003) as pessoas aprendem melhor quando o que está sendo ensinado é o que as interessa, para isto é necessário que se desperte a curiosidade quanto ao assunto e que o mesmo apresente para elas aplicabilidade.

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A motivação é o que gera a ação, apresentando-se com a conotação de gerar o interesse. Só haverá motivação se já tiver algum interesse envolvido, o que pode levar a um ciclo vicioso, pois o interesse precede a motivação (SOARES, 2013).

Os alunos se interessaram pelo conteúdo célula a partir do momento que tiveram que criar um modelo para exemplificar uma estrutura celular e isto os motivou a ir atrás e pesquisar sobre cada organela, suas funções.

Criatividade: Para Soares (2008) se considerarmos a criatividade, como uma característica a ser trabalhada, desmistifica-se a idéia de que ser criativo é possuir um dom divino. Assim, no processo educacional é fundamental o papel do professor no trabalho de tal característica. O que se observa é que nosso sistema educacional está voltado ainda para a reprodução do conhecimento, ao invés de preparar o aluno para a produção de idéias e de conhecimentos, que caracteriza o pensamento criativo.

A criatividade foi demonstrada de forma clara nos grupos, pois durante a elaboração dos modelos celulares os alunos tiveram que pesquisar sobre as funções das estruturas e também as formas de elaborá-los, e também o tipo de material que deveria ser utilizado.

Relação professor-aluno: O uso da atividade lúdica no processo ensino aprendizagem favorece a situação de diálogo, troca e intercâmbio entre o educador e o educando (HUIZINGA, 2001). Isso porque o professor sai de uma posição de destaque, sendo inserido dentro do processo de criação e descoberta ocorrendo uma aproximação entre o aluno e o professor. E foi o que realmente aconteceu, os alunos passaram a procurar mais a professora para tirarem suas dúvidas e conversarem sobre as ideias e vontades que tinham para a elaboração de seus modelos. Com essa aproximação há o melhoramento da aprendizagem por parte dos alunos. Isso porque surge uma situação de confiabilidade, caracterizada pela valorização do aluno.

Considerações Finais

Percebeu-se que quando a atividade lúdica é utilizada no ensino, a criatividade é uma característica que é despertada e sofre um aumento gradativo, o que deve ser continuamente estimulada. A relação professor/aluno e aluno/aluno melhorou significativamente, favorecendo o processo ensino aprendizagem neste conteúdo e nos outros.

Os conteúdos de Célula foram trabalhados de forma prazerosa para os alunos, tornando-os participantes ativos do processo ensino aprendizagem deste conteúdo, aumentando, assim, a vivência deles.

Referências

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CACHAPUZ, A.; PRAIA, J.; JORGE, M. Da educação em Ciências às orientações para o ensino das Ciências: um repensar epistemológico. Revista Ciência & Educação, v.10, n.3, p.363-381, 2004.

CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. Trad. Guido de Almeida. São Paulo: Summus, 1987. 139 p.

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KRASILCHIK, Miriam. Prática de ensino de biologia. 4ª Ed. 2ª Reimpressão. São Paulo. Editora da USP. 2008. Cap. 4 (4.3). p. 61-63.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo, SP: Cortez, 1994.

OLIVEIRA, D. B.; PIANCA, B. R.; SANTOS, E. R.; MANCINI, K. C. Modelos e atividades dinâmicas como facilitadores para o ensino de biologia. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11, n. 20. 2015.

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SOARES, Márlon Herbert Flora Barbosa.Jogos para o ensino de química: teoria, métodos e aplicações. Guarapari – ES. Ex Libris, 2008.

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VASCONCELLOS, Tânia. Crianças em trilhas na natureza: jogos de percurso e reencantamento. Rev. Dep. Psicol., UFF, July/Dec. 2006, vol.18, n.2, p.143-162. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-80232 006000200011 &script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 05/09/2007.

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Notas

1. Professora de Ciências e Biologia no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE) – UFG. Mestre em Educação em Ciências e Matemática – UFG. Licenciada em Ciências Biológicas – UFG.