Rafael Barrozo de Carvalho (UFG)

A importância do olhar individualizado e da educação humanista na produção escrita de alunos da educação básica: um olhar para a prática pedagógica do Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo principal versar sobre a educação humanista, evidenciando a importância do atendimento individualizado, especialmente, no desenvolvimento da escrita de alunos da educação básica inseridos num ambiente cada vez mais virtual, rápido, exigente, ou seja, indivíduos nativos digitais. Para tanto, teve-se um olhar para a prática pedagógica do Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima, instituição de educação confessional católica de Goiânia que comemora, neste ano, 55 anos e almeja evidenciar e discutir frequentemente seus métodos e estratégias. Nesse sentido, disserta-se sobre o Ensino Fundamental e Médio e práticas específicas nessas fases de ensino envolvendo a educação humanista, o olhar individualizado e a utilização de metodologias ativas no componente curricular Produção textual com o intuito de formar cidadãos participativos e que usam o conhecimento científico, diversas vezes consolidados pela escrita, a fim de modificar sua realidade e o meio de outras pessoas que enfrentam problemas sociais. Fala-se, neste trabalho, com mais detalhes, de ações pedagógicas realizadas no sexto, oitavo e nono anos do Ensino Fundamental, estudando gêneros como o e-mail, tipos textuais argumentativo e injuntivo e mostrando que, a fim de contribuir para uma formação humanizada - consequentemente - cidadãos que pensam e projetam intervenções para problemas sociais, é imprescindível um olhar individualizado e ter o aluno como protagonista das atividades acadêmicas, ações chamadas, frequentemente, de metodologia ativa. Dessa forma, o Colégio Agostiniano coloca-se sempre disponível para evidenciar e discutir sua prática pedagógica especialmente em ambientes acadêmicos objetivando potencializar cada vez mais a forma de ensinar e contribuir para uma educação ainda mais humanizada, logo, individual e formadora de cidadãos críticos e conscientes.

Palavras-chave: Educação Humanista. Produção Textual. Educação Básica.

Introdução

O objetivo principal desta investigação, bem como a realização deste relato de experiência didática é evidenciar e colocar em pauta alguns dos métodos e vivências realizadas no Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima com o propósito de acercar academia e educação básica e aperfeiçoar ainda mais a metodologia da instituição. O Colégio tem a filosofia e prática pedagógica humanista que, por sua vez, passa pelo atendimento individualizado e uma educação diagnóstica.

Há 55 anos, esse método consolidou-se e tornou-se uma das principais metodologias aplicadas no ensino em todas as áreas, especialmente, na produção escrita e oral do Colégio. Nesse sentido, presa-se pela produção escrita frequente, feedbacks individuais evidenciando o crescimento de um texto realizado pelo aluno para o outro de mesma autoria, além de atendimento individualizado objetivando possibilitar o estudante atingir o próximo nível de escrita.

Na Instituição em questão, é dado ainda foco na produção escrita desde o Ensino Fundamental I, primeiro ao quinto ano, com aulas e professores específicos de redação. Os próprios tutores dedicam-se à correção e responsabilizam-se pelo retorno positivo e/ou negativo aos alunos envolvidos no processo de aquisição e aperfeiçoamento da escrita.

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Faz parte da redação e reescritura de um texto conhecer o indivíduo que produz, perpassando pelas suas ideias, filosofias e valores. Logo, a partir disso, proporciona-se intervenções mais efetivas num processo de educação completo, acadêmico e vinculado aos valores que formam os pilares do Colégio.

A escrita, nesse sentido, dá acesso a manifestação do pensamento do educando, revelando concepções de um indivíduo inserido num contexto sócio-histórico específico. Portanto, dedicar-se ao aperfeiçoamento da produção escrita numa instituição escolar, assim como a investigação frequente dos métodos existentes e a discussão das propostas pedagógicas,é favorecer e potencializar a formação integral do estudante.

Por isso, frequentemente, o Colégio Agostiniano está disposto a levar, especialmente às Universidades, aos professores universitários, outros docentes da educação básica e estudantes de graduação e pós-graduação, com acesso diário à literatura voltada à produção escrita, os métodos usados no Colégio a fim de discutir e aperfeiçoar as práticas pedagógicas de um lugar que, há 55 anos, pensa e repensa a educação.

Desenvolvimento

Compreende-se a educação humanística a luz dos conceitos de Nimrob Aloni, professor no “Hakibbutzim College of Education" e no "Beit Berl College of Education”: várias teorias e práticas engajadas na visão de mundo e código de ética do humanismo, isso é, a proposta de aprimoramento do desenvolvimento, bem-estar e dignidade como objetivo de todo pensamento e ações humanas. Nesse sentido, a educação humanística incute ao estudante ser construtor dos seus conhecimentos e um indivíduo crítico e participativo de um mundo que precisa do conteúdo adquirido no ambiente escolar.

A filosofia de Paulo Freire evidencia que nenhuma verdadeira educação é isenta do desenvolvimento social e do mundo que circunda o educando, evidenciando a necessidade do conhecimento reverberarno ambiente social. No texto “Papel da educação na humanização”, Freire destaca não existir uma teoria pedagógica isenta de um conceito de homem e mundo. Assim, não há educação neutra, consequentemente, se, para uns, o homem é um ser da adaptação ao mundo, a ação educativa deverá se adequar ao homem e mundo, para outros, ainda segundo Freire, o homem é um ser de transformação do mundo, mesmo nessa concepção, a prática pedagógica também é social. Dessa forma, a educação deve encarar o outro como pessoa/indivíduo e ser, portanto, libertadora, logo, humanizada.

Diante desta concepção de educação humanista que norteia a prática pedagógica do Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima e frente ao cenário atual de ensino, preocupa-se, na instituição, especialmente, na produção escrita dos alunos, com a individualidade. Para tanto, a fim de cumprir uma educação humanista e, consequentemente, individualizada, aplica-se frequentemente metodologias ativas.

Num cenário educacional de alunos da cultura digital, a educação precisa, segundo Lillian Bacich e José Moran, estudiosos da educação, psicologia educacional e metodologias ativas, vinculados à Universidade de São Paulo, na obra Metodologias ativas para uma educação inovadora, propiciar experiências de aprendizagem mais vivas e significativas, logo, unir ainda mais o saber cotidiano (externo à escola) com o saber científico (adquirido na escola), dando, nesse sentido, razão para os conhecimentos angariados no ambiente acadêmico.

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Assim, a escola incorpora também a reconstrução e reorganização da experiência do aprendiz, retomando, por exemplo, a educação dialógica proposta por Freire e a Learning by doing tratada por Dewey.

José Moran, no artigo intitulado “Metodologias ativas parra uma aprendizagem mais profunda”, evidencia os dois processos de aprendizagem: indutivo e dedutivo, respectivamente, aprender com situações concretas e aprender com ideias/teorias e, apenas em seguida, aplicar ao concreto.

A proposta, acertadamente, feita pelo Doutor em educação pela USP é aplicar, na educação atual, uma metodologia híbrida, em que aplica-se os dois processos/metodologias. Ou seja, promove um ensino diversificado, com estratégias múltiplas, isso é, ora partindo de situações concretas (indutivo), ora iniciando com a teoria a fim de chegar a uma aplicabilidade no cotidiano do aluno (dedutivo).

Nesse sentido, centra-se o ensino no aluno, o educando com protagonista do aprendizado e o professor como orientador/mentor do conhecimento, outrossim, diversificando as estratégias, coibindo, logo, a monotonia. As propostas do movimento híbrido são, por exemplo, um trabalho individual, grupal ou tutorial (orientação de pessoas mais experientes - professor).

As reflexões propostas vão ao encontro de prática pedagógica do Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima pautada num aluno do século XXI, que integra uma sociedade diferente das gerações anteriores e, consequentemente, possui características distintas dos jovens e adultos do passado.

Lida-se hoje, na educação, com um aluno digital, ágil, rápido, imediatista e que contribui positivamente para o ensino atual e para o mercado de trabalho, entretanto o professor precisa mediar determinadas decisões e ser participantes na construção de um projeto de vida sólido e de acordo com o que o mundo cada vez mais competitivo espera dos nossos alunos. Sem dúvidas, esse cenário pede um indivíduo ativo, protagonista, imerso à mídia digital, capaz de intervir em problemas sociais vividos, bem como lidar com as gerações passadas, aprendendo, por exemplo, a esperar e a ouvir.

É, portanto, essas algumas teorias que dão base para a metodologia adotada no Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima. No Ensino Fundamental anos iniciais, isso é, primeiro ao quinto ano, temos aulas específicas de redação, com grade de correção e gêneros específicos para o ano e a faixa etária dos estudantes. Nesse sentido, as produções são especialmente narrativas e injuntivas, por exemplo, contos maravilhosos, de terror, entre outros, receita e cartão postal e dão ao estudante um retorno real e possibilidades de crescimento.

No Fundamental anos finais, sexto ao nono ano, as produções são mais frequentes comparada com a fase anterior. Os professores são os próprios corretores das redações, demanda realizada no contraturno e possibilitando um atendimento ainda mais individualizado ao educando na produção escrita e nas aulas semanais de redação. Nessa fase, há um equilíbrio entre todos os tipos textuais, especialmente, o narrativo, expositivo e argumentativo.

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No Ensino Médio, as produções são semanais, com a maior independência dos alunos nesta fase, os professores recebem auxílio de corretores terceirizados, porém corrigem, no mínimo, dois textos por mês com o objetivo de conhecer e fazer parte das produções escritas dos alunos e, consequentemente, das suas ideias, dos principais equívocos e orientar as potencialidades de cada um.

Todos os gêneros estudados são praticados, frequentemente, com uma situação cotidiana, ou seja, vinculada ao dia a dia dos estudantes ou de um grupo de pessoas da sociedade. Logo, os temas e as situações de produção estão, diversas vezes, associadas a um problema social vivido no passado ou que o país vive atualmente. As propostas, em todas as fases de ensino, abordam ainda temas diversos, isso pautados na comprovação da neurociência de que o aprendizado é único e diferente para cada indivíduo, pois aprende-se aquilo que é relevante para si e, consequentemente, o seu meio.

O professor, nesse contexto, torna-se um mentor, falando, às vezes, menos e orientando mais os alunos, os quais participam ativamente do processo por meio de textos escritos e orais e a reescrita dessas produções.

O atendimento individual, orientado, ocorre, assim, por meio de uma metodologia ativa que entende a leitura e, principalmente, a escrita a luz dos pressupostos de Kramer (2001):

“leitura pode ser fruição, divertimento, prática que informa, comunica, avisa. Instrumentalizar é necessário, importante, tal como divertir-se, envolver-se, praticar. Apenas me parece que para se construírem como formadoras a leitura e a escrita precisam se concretizar como experiências” (2001, p. 106)

Uma vivência específica realizada no Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima que possibilita ainda o atendimento individualizado e a metodologia ativa é o trabalho com proposta de intervenção, isso é, para cada problema social enfrentado na sociedade, os estudantes são incutidos a elaborar uma intervenção. Diversas vezes as intervenções realizadas são colocadas em prática nas ações voluntárias realizada por uma equipe específica de Pastoral escolar.

As ações sociais devem ser realizadas de modo consistente e detalhado e pensando conscientemente nos agentes reais e responsáveis pelo problema enfrentado. No sexto ano, por exemplo, os estudante já discutiram diversos problemas sociais e redigiram, para um deles, e-mail direcionado a vereadores de Goiânia solicitando explicações para projetos existentes e sugerindo novas medidas. No oitavo ano, os alunos já realizaram textos argumentativos com um olhar para a dependência em drogas e realizarão, neste segundo semestre, visita a comunidades que têm como foco essas pessoas. Os alunos vão, nesses locais, então, com novas ideias e análise das já aplicadas pela instituição. No nono ano, inspirados na Campanha da Fraternidade de 2019, cujo tema é “Fraternidade e políticas públicas: serás libertado pelo direito e pela justiça”, os estudantes discutiram temas como: saúde pública: vacinação, moradia e programas governamentais para moradias e realizaram novas intervenções ou propostas de modificações nas já existentes.

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Considerações finais

O trabalho com a individualidade dá-se, especialmente, porque compreende-se o estudante como único e que possui particularidades, consequentemente, as medidas devem ser tomadas pensando nas potencialidade e fragilidades de cada um. É nesse sentido que uma educação pensada num projeto de vida consolida-se. Acredita-se ainda que é por meio do discurso, oral e escrito, que mais temos acesso aos alunos, suas ideias, frustrações e, consequentemente, possibilitam intervenções mais efetivas para cada um e para o meio em que vivem.

Com isso, tem-se um ensino humanizado, visto que entende o outro como um ser único e com uma realidade diferente. Além disso, faz com que esse indivíduo compreenda que o conhecimento acadêmico deve servir como matéria para sua intervenção no mundo, um lugar que precisa dele, das suas ideias e de seus serviços.

Por fim, isso só ocorre quando coloca-se o estudante como foco, ou seja, lidando com metodologias ativas. Nesse contexto, o professor torna-se mediador da discussão, das ideias dos estudantes, dos seus projetos e, assim, formando um espaço mais proveitoso e útil para o mundo.

Referências

BACICH, L. MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: editora Penso, 2018.

BRASIL. Secretaria de Educação. Parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

FREIRE, P. O papel da educação na humanização. Disponível em: http://www.rcdh.es.gov.br/sites/default/files/Freire,%20Paulo%201969%20Papel%20da%20educacao%20na%20humanizacao.pdf. Acesso em 20 de julho de 2019 às 19h34.

KRAMER, S. Leitura e escrita como experiência– notas sobre seu papel na formação. In:ZACCUR, E. (Org.). A magia da linguagem. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual: análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

MORAN, J. “Metodologias ativas parra uma aprendizagem mais profunda”. In: BACICH, L. MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: editora Penso, 2018.

Notas

1.Rafael Barrozo de Carvalho é graduado em Letras pela Universidade Federal de Goiás e mestre em Letras e Linguística pela mesma instituição. Atualmente é professor e coordenador no Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima, possui publicações e desenvolve pesquisas sobre a poesia, especialmente, de Ferreira Gullar, produção de texto, educação básica e gestão escolar. E-mail: rafaelcarvalho120@gmail.com