Língua e literatura em sala de aula de inglês: um estudo de caso com iniciantes

Larissa de Oliveira Casulo (G/UFG)

Carla Janaina Figueredo (UFG)

PT

Resumo: Esta pesquisa tem como foco principal discutir as possíveis contribuições do uso de texto literário em sala de aula. De modo geral, o objetivo foi analisar se uma aula pautada no texto literário “The Lightning Thief” pode auxiliar a aprendizagem da língua inglesa levando em consideração o sistema da língua e o uso dela em contexto. Além disso, a perspectiva dos alunos quanto ao uso de literatura também foi examinada. Este estudo foi realizado no Centro de Línguas da Universidade Federal de Goiás com vinte e dois alunos da turma de Inglês 3 e dentre eles, cinco foram entrevistados. A base teórica usada é pautada nos estudos de Derrida (1992) quanto ao conceito de Literatura e Curia (2012) a respeito da literatura em sala de aula, entre outros autores. Os instrumentos usados para a realização deste trabalho foram: questionário, texto literário, aula e entrevista. Com isso, os resultados obtidos apontam que, além de ser utilizado a fim de desenvolver o interesse pela leitura, o texto literário auxilia na ampliação e revisão do conhecimento referente `a língua inglesa. Ademais, foi notado que o uso da literatura é valorizado pelos alunos como um instrumento de contextualização da língua. Dessa forma, conclui-se que, quando consideradas as necessidades e os interesses da turma, atividades com base em um texto literário podem contribuir com a aprendizagem dos alunos.
Palavras-chave: texto literário; aprendizagem; língua inglesa; The Lightning Thief.

EN

Abstract: This research main focus is to discuss the possible contributions of the use of literary text in the classroom. In general, the objective was to analyze whether a class based on the literary text "The Lightning Thief" can help the learning of the English language taking into account the language system and its use in context. In addition, the students' perspective on the use of literature was also examined. This study was conducted at the Language Center of the Federal University of Goiás with twenty-two students from level 3 English class, and among them, five were interviewed. The theoretical basis used is based on the studies by Derrida (1992) regarding the concept of Literature and Curia (2012) regarding classroom literature, among other authors. The instruments used to carry out this study were: questionnaire, literary text, class and interview. Based on this, the results obtained indicate that besides being used in order to develop the interest for reading, the literary text helps in the expansion and revision of the knowledge related to the English language. In addition, it was noted that the use of literature is valued by students as an instrument of contextualization of the language. Thus, it is concluded that, when considering the needs and interests of the class, activities based on a literary text can contribute to students’ learning.
Keywords: literary text; learning; English language; The Lightning Thief.

Introdução

Para escolher o tema deste estudo, perguntamos: como o texto literário pode contribuir com a aprendizagem do inglês como língua adicional no contexto da sala de aula? Primeiramente, compartilhamos do conceito de Segabinazi, Souza e Oliveira (2018, p. 58) de que obras de literatura infanto-juvenil “podem colocar em confronto dialógico diferentes pontos de vista, diferentes vozes e diferentes linguagens, gerando no leitor diversos horizontes de expectativas e encaminhando-o para uma leitura mais autônoma”. Apesar de tantas facetas, se faz rara a leitura e compreensão desse tipo de texto literário em sala de aula de línguas, especialmente por se tratar de textos classificados como não-canônicos, sendo mais comum a consideração dos chamados Cânones. No entanto, o uso de livros clássicos pode gerar resistência em possíveis leitores por razão da complexidade linguística apresentada. Por isso, Curia (2012, p. 3) defende o uso da “Literatura Infantojuvenil de Entretenimento como uma ferramenta de trabalho facilitadora na difícil tarefa de criar uma cultura da leitura e, também, como a porta de entrada aos Clássicos.” Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é compreender como o uso do texto literário pode contribuir para o ensino-aprendizagem da língua inglesa com alunos iniciantes. Portanto, este trabalho visa responder às seguintes questões: 1) De que modo atividades pautadas no texto literário contribuem para a aprendizagem da estrutura da língua inglesa e do uso da língua em contexto? e 2) Como os participantes avaliam as atividades conectadas ao texto literário?

Na próxima seção, apresentaremos o arcabouço teórico que fundamentou nosso estudo.

Língua e Literatura: conceitos adotados neste estudo

Os estudos linguísticos contam com diversas abordagens teóricas, sendo assim, não é surpresa que o conceito de língua não seja definido por uma única linha de estudo. Saussure, Labov, Marcuschi, Matos e Fiorin são alguns dos pensadores que dedicaram suas reflexões a esse tópico.

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Segundo Ferdinand de Saussure (1970), é possível compreender a língua como “produto social da faculdade da linguagem” e como “um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, para permitir o exercício da linguagem”. Porém, Labov (1972. p. 187, apud FIGUEROA, 1994. p. 76) considera a língua como “fato social”, pois esta é usada como “o instrumento de comunicação utilizado pela comunidade de fala”. Sendo assim, é possível afirmar que o linguista levava em conta o contexto social para alcançar uma conceituação satisfatória. Há também autores brasileiros que defendem conceitos interessantes acerca do que é a língua. Por exemplo, Marcuschi (2003), define que a língua não deve ser vista apenas como um sistema ou forma, mas como uma atividade.

Com base em tantas perspectivas, das quais algumas foram citadas, este estudo adotará o conceito elaborado por Whitney (1827-1894) por concordar que, apesar de o indivíduo não ser idealizado como proprietário da língua, é capaz de adaptá-la a diferentes contextos de uso. Porém, essas adaptações não seriam de caráter unicamente individual. Marra e Milani (2013, p. 129), ao refletirem sobre as perspectivas adotadas por Whitney, dizem que “qualquer mudança que ocorresse numa língua seria resultante de uma ação conjunta dos indivíduos”

Desse modo, no sentido de Língua mencionado anteriormente, o indivíduo é capaz de adaptá-la a diferentes contextos e isso pode ser notado claramente no uso da língua na Literatura.

O conceito de literatura é questionado e é, há muito tempo, o objeto de estudo de pesquisadores da teoria da literatura. Segundo a conceituação de Nogueira (2008), a arte literária cria “pela palavra, uma imitação da realidade, a ficção, a criação de uma supra- realidade com os dados profundos, singulares da intuição do artista; pode ser verossímil ou inverossímil”. Para Candido (1972) e Lajolo (1981, p. 38), o conceito de literatura se baseia a partir da linguagem usada no texto considerado literário. Na visão de Llosa (2022), a literatura é uma atividade indispensável para a formação do indivíduo e da sociedade onde este reside.

Considerando tais perspectivas, para este trabalho, adotaremos a perspectiva complementar de Derrida (1992) tendo em vista que, para esse autor, na literatura há a possibilidade de “dizer tudo” de diferentes formas. Dessa forma, a linguagem literária é capaz de desempenhar uma função crítica em meio às suas próprias regras e combinações.

Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

A Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p. 7) é um documento aplicado exclusivamente para a educação escolar no Brasil que visa definir as aprendizagens necessárias que os estudantes precisam desenvolver na educação básica.

A respeito das práticas de leitura em inglês, a BNCC afirma que elas promovem o:

[...] desenvolvimento de estratégias de reconhecimento textual (o uso de pistas verbais e não verbais para formulação de hipóteses e inferências) e de investigação sobre as formas pelas quais os contextos de produção favorecem processos de significação e reflexão crítica/problematização dos temas tratados. (BRASIL, 2018, p. 243).
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Em seguida, é destacada as diversas possibilidades que envolvem a leitura em salas de aula de língua inglesa. Uma delas é a “ampliação de conhecimentos de temáticas significativas para os estudantes” que envolve a apreciação dos diversos gêneros literários. Esse contato com variados gêneros é de grande relevância para a vida escolar, social e cultural dos alunos. Do mesmo modo, segundo o documento (2018, p. 244), “as perspectivas de análise e problematização a partir essas leituras corroboram para o desenvolvimento da leitura crítica e para a construção de um percurso criativo e autônomo de aprendizagem da língua”.

Com base no que foi considerado, o intuito deste trabalho é compreender como as atividades pautadas no texto literário contribuem para a aprendizagem da língua inglesa e quais as perspectivas dos participantes quanto a essas atividades.

Ensino-aprendizagem de inglês e textos literários: implicações para a sala de aula

O uso de textos literários no ensino-aprendizagem de inglês pode contribuir para o compartilhamento de experiências e conceitos pessoais que colaboram para a interação entre os estudantes e, como aponta Carvalho (2015, p. 12) “desenvolve o senso crítico e melhora a escrita, como também a capacidade de argumentação e comunicação com o outro”, fatores estes de grande importância no ensino de LE. Porém, Mota (2010) considera o distanciamento que pode existir entre os alunos e os textos literários, tanto na língua materna, quanto na LE. Isso acontece por razão dos currículos escolares brasileiros se basearem em conteúdos gramaticais, “sem levar em consideração as representações culturais, identitárias, históricas e sociais” (MOTA, 2010, p. 104).

Ao propor uma reflexão sobre o papel desempenhado pelos textos literários no ensino de língua inglesa na educação básica, Silva (2019. p. 7) concluiu que alunos e professores são favoráveis ao uso do texto literário em sala de aula de língua inglesa. Contudo, os docentes

“ressaltam que o interesse dos alunos varia da forma como as histórias, poemas etc., são apresentados, pois levar textos de difícil compreensão para os educandos compromete a aula pela fácil dispersão dos alunos.” (p. 37).

Por sua vez, Ferreira e Gomes (2019, p.1) utilizaram o poema “The Burglar of Babylon” de Elizabeth Bishop para discutir “a relevância do texto literário nas aulas de língua inglesa, atentando-se para um trabalho que visa a identificação social e cultural dos aprendizes com a obra”. Apesar da relutância inicial ao poema apresentado, os alunos foram capazes de criar conexões entre experiências pessoais e o texto literário. Tendo isso como base, foi constatado que “literaturas de língua inglesa podem, de fato, contribuir com a formação crítica dos cidadãos, além de promover uma educação de ordem intercultural e servir como material autêntico” (p. 13).

Por fim, Zilberman e Silva (2008) mencionam que a leitura em sala de aula confere à literatura um outro sentido educativo, auxiliando o estudante a ter mais segurança em relação às suas próprias experiências. Sendo assim, é possível perceber que o texto literário deve ser considerado como uma ferramenta essencial para o ensino de línguas estrangeiras, pois é composto de aspectos socioculturais, gramaticais, lexicais, entre outros.

A literatura infanto-juvenil na sala de aula de inglês

A literatura infanto-juvenil (LIJ) é alvo de diversas reflexões ao longo do tempo, pois há um questionamento constante acerca de sua relevância. Esse gênero é conhecido por ter objetivos estéticos e pedagógicos e ser alvo de um consumo em massa por crianças e jovens, sendo assim desvalorizado por muitos (SEGABINAZI; SOUZA; OLIVEIRA, 2018, p. 51). Porém, a LIJ é capaz de alcançar diversas pessoas dos mais variados contextos, especialmente nos dias atuais onde a “cibercultura” está em evidência. Mais pessoas estão tendo contato com obras infanto-juvenil por meio de livros digitais, adaptações cinematográficas e sites/aplicativos de leitura. Isso acontece porque as temáticas da LIJ rompem as fronteiras do texto escrito, podendo se relacionar com outras manifestações artísticas e isso resulta em um maior interesse de leitores do público-alvo e, também, do público adulto.

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Ao pensar no ensino e aprendizagem de língua inglesa em níveis iniciais, pode-se considerar que o uso de obras literárias clássicas é capaz de gerar um afastamento do leitor devido à linguagem mais complexa, por exemplo, que pode dificultar a compreensão do estudante inicial da língua. Assim, a literatura infanto-juvenil surge como alternativa mais acessível para o contato do leitor com o texto literário. Porém, isso não impede um futuro contato com os Clássicos, como pontua Curia (2012):

Penso ser de extrema importância que um professor de língua, que tenha como um dos objetivos maiores de sua função a formação de alunos leitores, compreenda a Literatura Infantojuvenil de Entretenimento como uma ferramenta de trabalho facilitadora na difícil tarefa de criar uma cultura da leitura e, também, como a porta de entrada aos Clássicos (CURIA, 2012, p. 3).

Sendo o professor de línguas um importante profissional na ação de pavimentar o caminho para a literatura, pensar neste objeto como interdisciplinar parece bastante coerente. Afinal, ao ler histórias fantásticas que apresentam “os conflitos de personalidade, o amor que vence todas as convenções, a vida eterna sem limites, os fortes laços de amizade, a disputa entre o bem e o mal e tantas outras mazelas e alegrias que estão na ficção” (CURIA, 2012) e trazê-las para debate dentro de uma aula de LE, os alunos não estarão apenas reproduzindo regras engessadas sobre aquela língua, mas absorvendo e traduzindo suas próprias experiências a partir do novo idioma.

Lima (2008) acredita que as singularidades das crianças devem ser respeitadas e utilizadas na aprendizagem, dentro e fora do ambiente escolar. Entretanto, devido ao fato de existirem diversas modalidades do ensino de língua inglesa, deve-se lembrar que a idade dos alunos varia. Isso não impede a utilização da literatura infantil ou juvenil em sala de aula, visto que o professor precisa oferecer um “insumo rico” referente à faixa etária e interesses dos alunos. Logo, por ser um texto de fácil compreensão, a LIJ em inglês pode ser aplicada em salas com alunos que não fazem parte do público-alvo, a eficácia disso depende do professor escolher abordar o texto de modo adequado à idade dos estudantes.

Metodologia

Esta pesquisa tem como objetivo analisar fenômenos sociais em um contexto específico para fins interpretativos, sendo assim, esta se qualifica como uma pesquisa qualitativa realizada por meio de um estudo de caso.

Para a realização desta pesquisa, os dados foram coletados no Centro de Línguas (CL) da Universidade Federal de Goiás (UFG) em uma turma de Inglês 3 do turno vespertino no sábado. Essa turma foi escolhida porque, apesar de aprendizes iniciantes, os alunos já tinham uma base de conhecimento acerca da língua inglesa que possibilitaria a realização das atividades planejadas. A turma era composta por vinte e oito alunos, porém apenas vinte e dois deles assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) oficializando a participação na pesquisa. As aulas foram ministradas remotamente por meio da Plataforma GoogleMeet devido ao estado emergencial causado pela pandemia da Covid-19.

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Questionário

O primeiro instrumento utilizado foi um questionário que tinha como objetivo traçar o perfil dos participantes. O questionário foi constituído por quinze questões, sendo seis abertas e nove fechadas. Foi utilizada a plataforma GoogleForms para a construção do questionário e, depois de finalizado, o link de compartilhamento foi enviado para o grupo do Whatsapp da turma para que os alunos o respondessem.

Planejamento das aulas

Em seguida, as aulas que seriam destinadas à geração de dados para a pesquisa foram planejadas com foco no ensino do passado simples de verbos regulares e irregulares em inglês. Anteriormente a essas aulas, foi elaborado um resumo do texto literário The Lightning Thief, primeiro livro da série norte-americana de cinco livros Percy Jackson and the Olympians escrita por Rick Riordan, para os participantes conhecerem a história e o personagem principal. Esse texto foi usado como base para as atividades da aula. A primeira atividade planejada foi um aquecimento em que os alunos deveriam definir o protagonista do texto literário em termos de personalidade. Depois disso, foram apresentadas algumas imagens e frases que serviram de base para os alunos descobrirem qual traço de personalidade do Percy Jackson elas representavam. Os adjetivos escolhidos para essa atividade foram: demigod, troublemaker, angry, anxious, courageous, funny, thoughtful e impertinent.

Em seguida, algumas partes do texto que mostram uma sequência de eventos foram selecionadas e misturadas. Além disso, foram removidos alguns verbos no passado simples das frases para que os alunos preenchessem as lacunas e colocassem as partes do texto na ordem certa de acontecimentos. Na parte de produção, os alunos foram questionados acerca de suas similaridades e diferenças em relação ao protagonista da história. Depois das respostas, os alunos compartilharam uma experiência em que eles se comportaram como Percy Jackson, onde eles deveriam usar os traços de personalidade mencionados. Para finalizar a aula, os estudantes escreveram um curto parágrafo sobre a experiência em questão, usando os adjetivos e os verbos no passado simples. Para otimizar o tempo na sala de aula virtual, também foram usados slides na plataforma Google Presentation e uma extensão para se criar pequenas salas e formar grupos de alunos.

Entrevista

Por último, foi realizada uma entrevista com cinco alunos. Em razão de incompatibilidade de horários, a entrevista foi realizada de forma escrita, sendo assim, foi enviado um arquivo com algumas perguntas para o Whatsapp de cada participante para que a parte final da coleta de dados pudesse ser realizada. Segundo Rosa e Arnoldi (2008, p. 2), a entrevista na pesquisa qualitativa é “uma técnica de coleta de dados, responsável por resultados e, inúmeras vezes, possibilitadora de intervenções para a resolução dos problemas apontados e detectados”.

Discussão de dados

Faz-se relevante uma discussão reflexiva a respeito da contribuição do texto literário em sala de aula para a aprendizagem da língua inglesa levando em consideração o sistema da língua e o uso dela em contexto.

Inicialmente, é importante apresentar alguns dados obtidos no questionário aplicado para traçar o perfil dos alunos. Referente à leitura, a maioria dos alunos afirmou que gosta de ler e entre os gêneros mais lidos por eles, estão o romance, o suspense e a fantasia.

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Alguns alunos podem entender a literatura como algo complexo, tedioso ou descartável. Porém, essas representações quando abordadas podem desenvolver no aluno o conhecimento de mundo, resultando na compreensão da relação entre língua e contexto. Com base nessa reflexão, no questionário utilizado para traçar o perfil dos participantes da pesquisa, foi incluída a seguinte pergunta: “Você acredita que a literatura pode contribuir para o aprendizado da língua inglesa? Por quê?”. Todas as vinte e duas respostas obtidas foram positivas quanto à utilidade do texto literário em sala de aula. Os excertos apresentados a seguir retratam a opinião geral dos participantes.

Excerto 01
José Silva: Sim. Por meio da literatura é possível praticar a leitura, além de conhecer palavras e elementos novos relacionados à língua inglesa.
(Fonte: Questionário)

Excerto 02
Livi: Sim, porque durante a leitura começamos a nos interessar pela história, queremos saber quais são os próximos passos do personagem e saber o final da história, assim ficamos instigados a continuar a leitura mesmo não conhecendo todas as palavras, o que nos permite aprender novas palavras por curiosidade.
(Fonte: Questionário)

Excerto 03
Li: Sim. Cada frase para um estudante de inglês pode ser uma nova descoberta de palavras ou de sentido, de modo bem prazeroso, é como aquela frase ‘junta o útil e o agradável’.
(Fonte: Questionário)

Excerto 04
Guilherme: Sim, pois desta forma é possível conhecer novas palavras e abrir o conhecimento para novas formas de diálogo.
(Fonte: Questionário)

Contribuições para a aprendizagem da língua como sistema

No ensino de língua inglesa é importante levar em consideração que o aluno não é um recipiente para ser “preenchido com conhecimento”, pelo contrário, ele é um indivíduo com experiências próprias, que, por sua vez, constroem um repertório linguístico e cultural que contribui com o aprendizado de inglês. Segundo Fenner e Corbari (2005, p. 14), ao passo que elementos relativos à língua estrangeira são apresentados, “o aluno ne seu conhecimento prévio e incorpora outros, ao mesmo tempo em que vai percebendo os significados embutidos no texto”.

Seguindo esse conceito, a partir da terceira atividade foi possível notar evidências do conhecimento prévio dos alunos quanto à forma dos verbos regulares e irregulares no passado. Eles não demonstraram nenhuma dificuldade em lembrar dos verbos que deveriam usar na atividade de preencher as lacunas de frases recortadas do resumo, além de também usarem a pronúncia correta nos verbos terminados em -ed.

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Pensando em relacionar o familiar com o novo, é notável que as obras literárias apresentam uma possibilidade de expansão de vocabulário em diferentes formas e contextos quando o professor faz uso do conhecimento prévio dos alunos para que eles acessem novas estruturas, palavras ou expressões em inglês. Baseando-se nesse conceito, a primeira atividade da aula pautada no texto literário teve como objetivo considerar os adjetivos que os alunos relacionavam com o personagem do texto, após a leitura do resumo elaborado. Algumas das respostas obtidas estão nos excertos abaixo:

Excerto 05
Victor F: relaxed, sarcastic
(Fonte: Gravação)

Excerto 06
Martins: he's funny
(Fonte: Gravação)

Excerto 07
Ytalo: an agitated person
(Fonte: Gravação)

Em seguida, foram apresentadas algumas imagens referentes ao personagem Percy Jackson e os alunos deveriam tentar descobrir qual traço de personalidade retratava a imagem. Uma das imagens mostrava o protagonista com uma expressão raivosa enquanto discutia com outra personagem. Sendo assim, os adjetivos a serem usados eram angry e troublemaker, porém as primeiras respostas dos alunos foram:

Excerto 08
Pedro: in a trouble
(Fonte: Gravação)

Excerto 09
Edilei: fight
(Fonte: Gravação)

Excerto 10
Edilei: have some fight
(Fonte: Gravação)

Apesar disso, eles descobriram as palavras da atividade depois que era indicado que eles tinham usado algum sinônimo ou quando perguntas eram feitas a respeito das imagens. Na representação do personagem lutando contra um Minotauro, a palavra era courageous, mas a resolução só foi alcançada quando foi perguntado o que uma pessoa precisa ter para enfrentar o Minotauro e os alunos Victor F. e Ytalo responderam:

Excerto 11
Victor F.: we have to have courage
(Fonte: Gravação)

Excerto 12
Ytalo: courageous
(Fonte: Gravação)

Além de courageous e troublemaker, os alunos também aprenderam o significado da palavra thoughtful. Essas atividades evidenciaram que o uso de literatura nas aulas de inglês pode se fazer necessário para a ampliação do vocabulário dos estudantes, pois talvez esse seja o momento que eles tenham mais contato com a língua. É assim que a literatura infanto-juvenil se mostra um instrumento de aprendizagem válido. A linguagem usada em obras literárias dessa categoria é mais simples, e, portanto, mais acessível para estudantes de inglês de níveis iniciais. Ao mesmo tempo, os diversos temas e contextos abordados nessas obras podem colaborar com a expansão do vocabulário dos estudantes, como considerado nos exemplos acima, e auxilia no desenvolvimento das habilidades de leitura.

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Surpreendentemente, os alunos participaram de todas as atividades de modo voluntário. Dado o contexto de pandemia, o ensino remoto se mostrou um desafio quanto à participação dos alunos, mas a turma em questão se mostrou engajada nas atividades, participando através do chat da plataforma e usando o microfone. Essa participação se deu até por parte de alunos que não costumam se manifestar nas aulas.

Por fim, os alunos demonstraram bastante interesse em atividades que envolvem leitura, desde frases curtas até parágrafos mais extensos. Sendo assim, a leitura do resumo do texto literário não enfrentou resistência e os alunos o usaram como base para fazer as atividades propostas, principalmente aquelas em que precisavam compartilhar características pessoais semelhantes às do personagem do texto. Além disso, o resumo foi escrito na primeira pessoa, como se o personagem estivesse conversando com o leitor a fim de criar uma aproximação entre eles. De acordo com o comentário do José Silva, isso instigou a curiosidade acerca da obra original:

Excerto 13
Jose Silva: eu achei aquele texto tão interessante que deu até vontade de ler o livro.
(Fonte: Gravação)

Além de atividades com o intuito de auxiliar a aprendizagem da língua como sistema, os alunos também realizaram atividades focadas no uso da língua em contexto. O tópico a seguir abordará como essas atividades motivaram e ajudaram os alunos a se expressarem em inglês.

Língua em contexto

É importante a elaboração de atividades que desenvolvam aspectos do texto literário que possam explorar maneiras para os alunos se identificarem com o contexto, tema ou personagens da obra. Por isso foi possível notar que os estudantes se sentiram mais confortáveis em participar das atividades em que buscaram traços de personalidade similares com os do personagem.

Em uma das atividades finais, a turma foi separada em grupos para que discutissem aspectos semelhantes e diferentes entre eles e o protagonista, Percy Jackson. Depois disso, eles deveriam compartilhar as informações que acharam mais interessantes com a turma inteira. Algumas das respostas obtidas estão nos excertos seguintes:

Excerto 14
Mara: I am an anxious person like Percy Jackson, however I'm not that “much of” a trouble maker.
(Fonte: Gravação)

Excerto 15
Ytalo: I'm as anxious and thoughtful as percy, but I'm not as courageous as him.
(Fonte: Gravação)

Excerto 16
Mariana: I'm anxious like Percy because “I’m” also can't focus on one thing for a long time.
(Fonte: Gravação)

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Ainda a respeito dos benefícios da literatura, Zilberman e Silva (2008) acreditam que a leitura em sala de aula é capaz de desenvolver no aprendiz mais segurança em relação às próprias vivências. Em outras palavras, eles passam a valorizar o conhecimento que já têm e se sentem mais confiantes em compartilhar opiniões, ideias e, também, em usar a língua oralmente, pois se tornam mais seguros de que aprenderam como utilizá-la. Ademais, como visto nos excertos acima, os alunos encontram similaridades entre os colegas de classe e, como consequência, essa identificação pode gerar um ambiente de aprendizagem mais amigável. Alguns alunos podem evitar a participação nas aulas por receio de serem alvos de crítica por parte de outras pessoas, mas o uso do texto literário em atividades assim pode deixar claro que eles são mais semelhantes do que imaginam e que podem enfrentar as mesmas dificuldades e podem compartilhar o mesmo ponto de vista. Um exemplo dessa aproximação entres os alunos pode ser visto no Excerto 23, em que, após Mariana dizer que não era uma pessoa focada, Cris comentou como isso a surpreendeu:

Excerto 17
Cris: Teacher, I think it's interesting that mariana said that she is anxious because [como se diz consegue?] she can’t concentrate. But I think she is concentrated, participative and intelligent. I am surprised she is anxious.
(Fonte: Gravação)

Outro aspecto a ser considerado é que o livro The Lightning Thief tem como público- alvo crianças de até doze anos, mas foi bem aceito em uma classe com alunos na faixa etária de vinte anos. Como mencionado anteriormente, a idade do aprendiz é relevante para determinar a maneira pela qual se aprende uma língua, mas outros fatores como oportunidades, motivação e diferenças individuais, também são importantes para determinar o sucesso na aprendizagem (FIGUEIREDO, 1997, p. 26). Sendo assim, é evidenciado que a literatura infanto-juvenil, quando adaptada, pode ser usada no processo de ensino-aprendizagem de alunos mais velhos.

Os próximos excertos são as respostas à última atividade da aula, onde os alunos escreveram um momento da vida em que agiram de modo similar ao de Percy Jackson.

Excerto 18
Milady: one day I painted my fingernails and later I was doing something and “broke a nail”. I was so angry that I cutted off all the others.
(Fonte: Gravação)

Excerto 19
Mariana: once, I was in the kitchen “to drink” water and I was having a super stressful day. So, at the time when practically nothing helped me, my cellphone was crushing… so in a moment of anger, I just threw the “glass culp” on the floor with all my accumulated anger.
(Fonte: Gravação)

Excerto 20
Jaspion: Once, when I was a kid, my brother was taking pictures of me while I was in the bathroom. I got so “freak” out that I threw his Nokia out of the window.
(Fonte: Gravação)

É notável que o texto literário foi capaz de motivar os alunos a usarem a língua para expressar sentimentos, experiências e ideias. Não obstante, percebe-se também que foi posto em prática o que aprenderam quanto ao sistema da língua estudado (passado simples), porém esse exercício não foi realizado de forma isolada justamente por terem a oportunidade de usar as regras aprendidas dentro de um contexto que se fez interessante para eles. Portanto, é evidente que há a possibilidade de ensinar a língua inglesa e todos os aspectos que a compõem (culturais, gramaticais, sociais, entre outros) levando em consideração as individualidades e interesses dos alunos para que a aula se torne mais dinâmica e efetiva.

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Experiências com textos literários em aulas de inglês

Uma das ferramentas utilizadas para a realização desta pesquisa foi uma entrevista a fim de conhecer a percepção dos alunos quanto ao uso do texto literário em sala de aula de inglês. Sendo assim, entre os vinte e dois alunos, cinco foram escolhidos para participar da entrevista dividida em sete perguntas. A primeira questão empregada na entrevista teve como objetivo descobrir se a visão dos alunos quanto à aula ministrada foi positiva ou negativa.

Portanto, a pergunta foi a seguinte: “Como foi sua experiência em ter uma aula baseada em um texto literário?”.

Segundo o participante Ytalo, foi uma boa experiência, mesma opinião dada por José Silva que acrescentou que o uso do texto literário contribuiu para uma aula mais divertida e dinâmica. Esse interesse pode estar ligado com a “ampliação de conhecimentos de temáticas significativas para os estudantes”, como mencionado na BNCC (2018, p. 244), pois a aula não teve como foco a exposição de itens gramaticais, como é comum em muitas aulas de inglês.

Excerto 21
Mariana: Foi uma ótima experiência. O texto literário possui uma linguagem que é a que realmente é falada no cotidiano, por isso, eu acredito que ler textos desse estilo contribui para a fala e também para o aprendizado de novas palavras.
(Fonte: Entrevista)

Excerto 22
Cris: Foi bastante interessante e positiva, fiquei ainda mais curiosa pra ler um livro inteiro no idioma.
(Fonte: Entrevista)

Com base nas respostas obtidas, é notável que os estudantes gostaram da introdução da literatura nas aulas. Isso foi de certa forma surpreendente, pois é costumeiro presenciar alunos desanimados ao precisarem lidar com textos literários. Porém, é possível perceber que esse interesse se deu pela temática da história considerada e pela oportunidade de ampliação do vocabulário. Quanto à temática, é interessante apresentar algo que possa instigar a curiosidade dos alunos e que tenha uma linguagem que esteja de acordo com o nível iniciante de inglês. Dessa maneira, os alunos podem sentir mais facilidade de compreender o sentido do texto, ao mesmo tempo que aprendem novas coisas.

Uma boa experiência em sala de aula inclui a aprendizagem dos alunos, porque a aula, por mais divertida que seja, tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento do conhecimento sobre a língua inglesa. A fim de entender se essa contribuição ocorreu, foi perguntado aos alunos: “Você acredita que isso contribuiu para sua aprendizagem da língua inglesa? Como?”

Excerto 23
José Silva: O texto que foi trabalhado tinha uma linguagem não muito difícil, o que tornou a leitura prazerosa e ajudou bastante a praticar a leitura. Além disso, ao buscar as palavras que eu não sabia o significado, senti que isso contribuiu para a expansão do meu vocabulário
(Fonte: Entrevista)

Excerto 24
Ytalo: Neste caso em particular, o uso de literatura na sala trouxe o estudo de certas expressões e palavras, e a contextualização destas com o texto proposto, de forma mais dinâmica para a aula
(Fonte: Entrevista)

Excerto 25
Cris: Com certeza contribuiu para o aprendizado, primeiro porque traz palavras que no aprendizado normal às vezes não vemos nos livros. É algo do dia a dia deles, próprio do personagem. Acho importante conhecermos essas nuances da língua
(Fonte: Entrevista)

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Sendo assim, é notável que aprender novas palavras parece reforçar para o aluno que eles estão realmente aprendendo a língua inglesa. Então, precisa ser óbvio para os alunos que algo foi aprendido na aula, mesmo que seja uma palavra, expressão ou regra gramatical considerada no texto literário, pois, dessa forma eles podem entender que a leitura pode contribuir, de maneira sistemática, para a aprendizagem da língua inglesa.

A terceira pergunta teve como foco a opinião dos alunos quanto à contribuição das atividades aplicadas na aula para a aprendizagem da língua inglesa.

Excerto 26
José Silva: Com certeza contribuiu para o aprendizado, primeiro porque traz palavras que no aprendizado normal às vezes não vemos nos livros. É algo do dia a dia deles, próprio do personagem. Acho importante conhecermos essas nuances da língua
(Fonte: Entrevista)

Excerto 27
Mariana: Acredito que sim, pois são diferentes formas de aprender o inglês. Quando se desenvolve diferentes atividades, o aprendizado se torna interessante e divertido, saindo da forma padrão de ensino que muitas vezes se torna monótona
(Fonte: Entrevista)

Excerto 28
Cris: Sim, são muito importantes, porque quando aprendemos usando recursos que são usuais para os alunos o aprendizado fica mais fácil e prazeroso também
(Fonte: Entrevista)

A fim de complementar a questão citada no início do subtópico, foi perguntado aos alunos se eles gostariam de participar de mais aulas que são baseadas em textos literários e a resposta de todos foi positiva.

Excerto 29
Mariana: Sim, tenho interesse com certeza. Pois é uma oportunidade de estudar, falando e lendo sobre livros que leio no meu dia-a-dia, só que em inglês
(Fonte: Entrevista)

As respostas dos participantes evidenciam que atividades pautadas no texto literário podem ser eficazes no ensino-aprendizagem de inglês. Além do incentivo à leitura e expansão do vocabulário, a literatura pode ser empregada para aprimorar o ensino da língua inglesa, pois muitas vezes o uso dos mesmos materiais e temas em metodologias mais tradicionais podem ser cansativos para os alunos e para o professor. Porém, é razoável levar em consideração os recursos à disposição - da escola, do professor e dos alunos - e o tempo que o professor pode reservar a fim de planejar a aula, dada a carga de trabalho pesada que os docentes têm.

Baseando-se na pesquisa de Ferreira e Gomes (2019) é possível que os alunos se identifiquem com as personagens apresentadas e essa aproximação com o texto auxilia na compreensão e utilização da língua. As perspectivas do participante José sustentam essa noção, pois as atividades que consideraram alguns aspectos do personagem foram as mais marcantes para ele, como pode ser notado a seguir:

Excerto 30
José Silva: Eu lembro principalmente das atividades que envolviam os sentimentos e características do protagonista do livro, pois me identifiquei bastante com ele em alguns aspectos. Em especial, destaco a palavra thoughtful que faz referência ao fato de ele se importar muito com os amigos e a família dele
(Fonte: Entrevista)

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Alguns alunos podem se sentir desconfortáveis em participar oralmente na aula diante da turma inteira e até mesmo diante do professor, mas atividades em grupos menores podem promover um ambiente convidativo para eles. Ademais, essa proximidade é capaz de desenvolver uma rede de suporte entre os colegas de classe, onde eles podem se ajudar de acordo com a necessidade de cada membro do grupo. A opinião dos alunos nos excertos abaixo exemplifica como atividades em grupo podem ser relevantes na aprendizagem de inglês:

Excerto 33
Ytalo: Foram interessantes por promover a discussão entre os membros dos grupos
(Fonte: Entrevista)

Excerto 34
Mariana: As atividades em grupo são divertidas, e isso facilita o aprendizado, pois tira a tensão de estar numa aula de inglês
(Fonte: Entrevista)

Excerto 35
Cris: Achei importante, porque o que eu mais preciso praticar é a fala e as atividades em grupo nos proporcionam praticar mais
(Fonte: Entrevista)

A última pergunta da entrevista teve como foco obter sugestões dos alunos quanto às maneiras de aprimorar as aulas utilizando materiais que os agradam. Ytalo e José não conseguiram pensar em nada específico, mas, para Mariana, uma atividade voltada para a prática da habilidade compreensão oral poderia ter sido implementada.

Excerto 36
Mariana: Teria sido bom se tivesse um áudio com o personagem do texto falando o que foi narrado, isso contribuiria para a prática do listening, pois poderia se ouvir o áudio várias vezes
(Fonte: Entrevista)

Excerto 37
Guilherme: Todas as atividades me atendem muito bem, mas poderíamos ter atividades que tenham trechos de filmes para estudos, pois é algo que todos temos contato ao menos uma vez na semana ou ao mês
(Fonte: Entrevista)

Excerto 38
Cris: Podíamos fazer algo tipo teatro, escolher uma história, dividir os papéis entre os alunos e representar os personagens. Seria legal
(Fonte: Entrevista)

Com base nos excertos analisados é possível concluir que a perspectiva dos alunos é positiva quanto ao uso de texto literário em sala de aula. De modo geral, todos foram capazes de identificar o modo como foram beneficiados pelo uso da literatura no processo de aprendizagem da língua inglesa.

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Considerações finais

Este estudo foi realizado com base nas seguintes perguntas de pesquisa: 1) De que modo atividades pautadas no texto literário contribuem para a aprendizagem da estrutura da língua inglesa e do uso da língua em contexto? e 2) Como os participantes avaliam as atividades conectadas ao texto literário?

Os resultados obtidos apontam que o uso de literatura infanto-juvenil em sala de aula contribui para a aprendizagem, pois o texto literário auxiliou na expansão e revisão do conhecimento prévio dos alunos referente à língua inglesa. Além disso, o texto literário gerou uma identificação entre personagem e aluno que contribuiu com o desenvolvimento do caráter leitor e comunicativo dos estudantes, uma vez que eles usaram a língua inglesa para compartilhar traços de personalidade semelhantes ao do protagonista do texto. Dessa forma, as atividades tiveram alto índice de participação porque os alunos se sentiram confortáveis ao usar a língua em um contexto que faz sentido para eles e isso os auxiliou no aprimoramento da confiança para usar a língua como instrumento de comunicação e expressão de quem eles são.

Referente à segunda pergunta, a partir dos dados obtidos na entrevista, ficou evidente que os estudantes acreditam que as atividades apresentadas contribuíram para o processo de aprendizagem da língua inglesa. No caso analisado, foi notável que os participantes destacaram a ampliação do vocabulário como maior benefício do uso do texto literário. Uma vez que a literatura apresenta diversas temáticas e contexto, não é de se admirar que os estudantes encontrem nessas obras oportunidades para entender como a língua pode ser usada e de expandir o conhecimento adquirido ao estudar inglês. Por fim, os alunos também se mostraram dispostos a ter outras aulas pautadas em textos literários, pois, para eles, o ensino se torna mais interessante e dinâmico. Essa motivação está relacionada ao planejamento de aula que visa os interesses e, como menciona Silva (2019), leva em consideração a realidade dos alunos, uma vez que eles serão instigados a participar das atividades e não se sentirão resistentes quanto a literatura, pois esta será apresentada de uma maneira que considere os interesses deles.

Concluindo, vale enfatizar que a literatura contribui para o desenvolvimento do senso crítico, entretém e conecta pessoas, além de abordar diversas camadas culturais, sociais, raciais, entre outras. Para isso, a literatura se utiliza da língua como uma ferramenta de compartilhamento de mundos, opiniões e devaneios. Ao se considerar essa relação, se torna impossível desacreditar na contribuição da literatura para a aprendizagem de uma língua. Portanto, o uso de textos literários em sala de aula, além de auxiliar no ensino de estruturas linguísticas, é capaz de auxiliar o desenvolvimento dos alunos como leitores, aproximando-os de temas relevantes de maneiras individuais e coletivas. Além disso, pudemos aprimorar as aulas de modo a auxiliar os alunos na aprendizagem da língua inglesa e, possivelmente, como motivar os estudantes a abrirem portas para as mudanças que a literatura pode proporcionar na vida do leitor.

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Notas

1. Graduada em Letras-Inglês pela Universidade Federal de Goiás e atua como professora de língua inglesa tanto em escolas regulares quanto em centros de línguas. Seus estudos e pesquisas concentram-se nas implicações que o estudo de textos literários traz para o processo de aprendizagem de inglês em contextos formais como a sala de aula. Destaca-se sua ênfase na inclusão de textos literários infanto-juvenis ao conteúdo programático de cursos de inglês para crianças e adolescentes.

2. Professor de Língua Francesa e Literaturas Francófonas no Departamento de Línguas e Letras (DLL) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGEL) da UFES. Doutor em Estudos Linguísticos (2013) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua como assessor de Língua Francesa no Núcleo de Línguas da UFES.

3. Em português: O Ladrão de Raios.

4.Em português: Percy Jackson e os Olimpianos.

5. Em português: semideus, encrenqueiro, raivoso, ansioso, corajoso, divertido, atencioso e impertinente.

6. Criatura da mitologia grega que tinha corpo de homem e cabeça de touro.