Avaliar a aprendizagem de francês: relato de experiência no Núcleo de Línguas da Universidade Federal do Espírito Santo
Isabela de Vasconcellos Piva (UFES)
Luís Fernando Bulhões Figueira (UFES)
Resumo: Este trabalho trata de um relato de experiência relacionado à avaliação de aprendizagem de língua francesa em uma turma de Francês 1 do Núcleo de Línguas da Universidade Federal do Espírito Santo. Foi proposto um sistema de avaliação por tarefas elaborado a partir de reflexões e reformulações no sistema de avaliação dos cursos de idiomas desde o início da pandemia de Covid- 19, em março de 2020, momento em que os cursos, anteriormente presenciais, passam a acontecer de forma remota, com aulas online. As tarefas contemplam as habilidades de expressão e compreensão oral e escrita e compõem um todo de atividades elaborado a partir de uma perspectiva formativa de avaliação, que visa acompanhar e intervir de forma contínua sobre o processo educativo, e não somente ao final dele. Observamos que as tarefas proporcionaram a avaliação de elementos tradicionais, como gramática, fonética, vocabulário, e de elementos como comprometimento, interesse e interação. Além disso, os alunos produziram uma variedade significativa de textos, tiveram momentos de socialização, de trabalhos em grupos e individuais e foram convidados a refletir sobre sua aprendizagem por meio de feedbacks e revisões de seus trabalhos.
Palavras-chave: avaliação formativa; aprendizagem de língua estrangeira; língua francesa.
Résumé: Ce travail porte sur un rapport d'expérience concernant l'évaluation de l’apprentissage de langue française dans un groupe de Français 1 au Centre de Langues de l'Université Fédérale d'Espírito Santo. Un système d'évaluation par tâches a été proposé sur la base des réflexions et des reformulations du système d'évaluation des cours de langues depuis le début de la pandémie de Covid-19, en mars 2020, lorsque les cours, auparavant en présentiel, ont commencé à se dérouler à distance, avec des classes en ligne. Les tâches visent les compétences d'expression et de compréhension orales et écrites et comprennent un ensemble d'activités conçues dans une perspective d'évaluation formative, qui vise à suivre et à intervenir en permanence dans le processus éducatif, et pas seulement à la fin de celui-ci. Nous avons observé que les tâches ont procuré l'évaluation d'éléments traditionnels, tels que la grammaire, la phonétique, le vocabulaire, ainsi que des éléments tels que l'engagement, l'intérêt et l'interaction. En outre, les élèves ont produit une variété remarquable de textes, ont eu des moments de socialisation, de travail en groupe et individuellement et ont été invités à réfléchir sur leurs apprentissages à travers des feedbacks et de révisions de leur travail.
Mots-clés: évaluation formative ; apprentissage de langue étrangère; langue française.
Introdução
Trataremos, neste artigo, da avaliação de aprendizagem de francês no Núcleo de Línguas da Universidade Federal do Espírito Santo (NL-UFES) por meio de um relato de experiência. O NL-UFES está situado em Vitória-ES e, entre suas atividades, desenvolve o projeto “Cursos de Línguas”, que oferece cursos de línguas estrangeiras de forma presencial e online para a comunidade.
Para tanto, abordamos primeiramente o tema da avaliação formativa a partir de autores que se preocupam com questões relacionadas a conteúdos, práticas e concepções de avaliação escolar e partem de uma perspectiva de avaliação ao longo (e não somente ao final) do processo de aprendizagem, isto é, a perspectiva da avaliação formativa.
Na UFES, assim como nas instituições educacionais no Brasil de forma generalizada, as atividades presenciais foram suspensas em março de 2020 com a chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil. Essa medida afetou, evidentemente, as aulas dos cursos de idiomas ofertados pelo NL-UFES, que foram retomadas somente em junho de 2020 por meio de aulas síncronas remotas com o uso da plataforma Microsoft Teams. Essa experiência das aulas online trouxe uma série de demandas e reflexões para a prática docente, como a preparação e a dinâmica das aulas online, a participação dos alunos nas aulas, o uso de ferramentas digitais que antes não estavam presentes no cotidiano dos professores e dos alunos, a avaliação da aprendizagem, entre outros.
Diante do desafio de avaliar os estudantes de francês que persistiram com o projeto de aprender a língua nas aulas remotas, iniciou-se um período de elaboração, testes e reflexões sobre como fazê-lo. Foi elaborada, então, no contexto da pandemia de Covid-19, uma proposta de avaliação-piloto para o curso de Francês 1 do NL-UFES que visasse atingir os objetivos comunicativos e interculturais do curso e que ocorresse de forma contínua, acompanhando e intervindo no processo de aprendizagem.
A proposta de avaliação foi elaborada a partir de experiências anteriores com turmas do mesmo nível e de reformulações nas avaliações aplicadas no NL-UFES desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020. Além desta Introdução e da Conclusão, trataremos do tema da avaliação, de práticas, métodos, concepções relacionadas a ela, em seguida, apresentaremos o NL-UFES, o projeto “Cursos de Línguas” e o curso de língua francesa. Finalmente, passaremos ao relato da experiência de desenvolvimento e aplicação de um sistema de avaliação formativa por meio da realização de tarefas.
Avaliação de aprendizagem: processo, continuidade e reflexão
O ato de avaliar a aprendizagem de uma língua, assim como de outras disciplinas escolares, acontece no dia a dia, ora de forma sistemática e previamente agendada, ora de forma imprecisa, por meio da observação e da consideração de tudo o que o estudante faz. Buscamos abordar, neste texto, o tema da avaliação em um curso de francês a partir de uma perspectiva formativa, isto é, uma forma de avaliar que, segundo Canan e Amorim (2018), acontece continuamente ao longo de todo o processo de formação.
Duboc (2019) pondera que a avaliação constitui uma “[...] tomada de posição em relação ao objeto avaliado” (p. 132), devendo priorizar os processos empreendidos pelos sujeitos na construção do conhecimento. As noções de processo, continuidade e reflexão estão associadas a essa perspectiva formativa de avaliação de aprendizagem. Primeiramente, pensando no foco da avaliação, naquilo que está sendo de fato observado e avaliado, a avaliação formativa recai sobre os processos educativos, e não sobre resultados pontuais.
São múltiplas as fontes de informação para essa avaliação contínua: comentários, notas, deveres de casa, trabalhos em grupo, projetos, entre outros, segundo Silva e Cunha (2018). Outros aspectos, que raramente são avaliados em testes, ou momentos de prova, como empenho, motivação, pontualidade, participação, também são objetos de avaliação. Além disso, faz parte do processo avaliativo a revisão da prática tanto do professor (revisões de material didático, do conteúdo programático, por exemplo), quanto do aluno, que é convidado a refletir sobre seu próprio processo de aprendizagem, o que pode resultar em uma maior conscientização para agir e intervir sobre ele. Portanto, observa-se como a avaliação formativa orienta tanto o trabalho pedagógico do professor, quanto o processo de aprendizagem do aluno.
Avalia-se, além do desenvolvimento de habilidades próprias de cada disciplina, no caso deste trabalho, em língua francesa, as habilidades sociais úteis ao processo de aprendizagem, como pontualidade, motivação, entre outras. É possível combinar diversos instrumentos avaliativos, como trabalhos individuais ou em grupo, produções escritas e orais de diversos gêneros discursivos, e até mesmo as provas, dentro de um processo de avaliação formativa. Isso porque a avaliação formativa é mais uma postura, um compromisso, do que um tipo de avaliação, segundo Vasconcellos (1998): nesse sentido, mesmo os instrumentos mais tradicionais, como provas sem consulta, podem ser pensados sob essas perspectivas de continuidade e processo.
A comunicação entre professor e aluno, frequentemente sob a forma de feedbacks, segundo Silva e Souza (2018), tem um efeito positivo no sentido de que ela motiva “[...] mudanças de hábitos e de estratégias de estudo” (p. 663) por parte dos estudantes. É nesse sentido que a noção de reflexão compõe a avaliação formativa. Acompanhando seu próprio desempenho, o estudante se conscientiza de suas próprias habilidades e pode passar a adotar diferentes estratégias de estudo que possam ser produtivas para o desenvolvimento de suas competências. Trata-se de uma autoavaliação, uma atividade de reflexão e ação sobre o modo como se aprende – a ação é relevante, nesse contexto, pois a avaliação formativa envolve a intervenção, a reformulação de práticas, a identificação do que se aprendeu e do que ainda falta aprender, no sentido de se agir sobre isso. O ato de avaliar fornece informações sobre o processo de aprendizagem, auxilia nas escolhas de estratégias de ensino e aprendizagem, por parte de professores e alunos, sendo assim, a “[...] avaliação da aprendizagem está comprometida com a construção da própria aprendizagem”, conforme Luckesi (2011, p. 423).
Os conteúdos avaliados
Um dos grandes desafios sinalizados por Vasconcellos (1998) no que se refere à transformação da avaliação em uma prática pedagógica mais significativa e efetiva está ligado ao fato de que somente o aluno é sistematicamente avaliado. É fundamental, nesse sentido, “[...] avaliar também a prática do professor, a organização da escola, o currículo, a participação da comunidade, as condições de trabalho, ou seja, tudo aquilo que está envolvido no processo de ensino-aprendizagem” (p. 41).
Verificar e classificar, funções mais tradicionais da avaliação, não são exatamente o objetivo de uma prática como essa proposta por Vasconcellos (1998). Acompanhar efetivamente o processo de aprendizagem (Duboc, 2007), formular e reformular a prática educativa (Canan; Amorim, 2018), fazer as retomadas necessárias (Vasconcellos, 1998) parecem objetivos mais condizentes quando a preocupação recai sobre os processos de aprendizagem – sem excluir os produtos, considerando-se que esses sempre estão inseridos nos processos.
Nesse sentido, Vasconcellos (1998) propõe que o conteúdo da avaliação tem duas dimensões: a dimensão cognitiva, relacionada ao conhecimento, às habilidades, às operações mentais que se espera do aluno, e a dimensão socioafetiva, em que se inserem o interesse, a responsabilidade, o comportamento, a iniciativa, a criatividade, a disciplina, entre outros.
Acerca do ensino de língua francesa, e dessa dimensão cognitiva da avaliação, o Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas (QECR), adotado pelo NL-UFES, define as quatro competências a serem trabalhadas e desenvolvidas – a compreensão oral, a compreensão escrita, a expressão oral e a expressão escrita. Para Hedid (2015), a escrita e a oralidade se completam e se definem como duas competências que estão na base do sistema de ensino do francês.
Em pesquisa sobre o ensino da expressão escrita em francês, Hedid (2015) observou que os critérios de correção do QECR são frequentemente modificados – ou até mesmo ignorados – no sentido de serem adaptados ao nível dos estudantes de cada estabelecimento de ensino. Os professores pesquisados, inclusive, relatam que estabelecem seus próprios critérios de avaliação de acordo com aquilo que trabalham em suas aulas. O QECR traz critérios socioculturais, interculturais, motivacionais, atitudinais e comunicativos, além dos critérios linguísticos, referentes à gramática, ao léxico, entre outros (Conseil de l’Europe, s. d.). O que parece estar em jogo não são exatamente os critérios de avaliação do QECR, mas o olhar sobre o processo de ensino-aprendizagem que acontece dentro de uma sala de aula específica, em um ritmo específico, que têm suas características específicas em função dos sujeitos que fazem parte dele para se acompanhar a progressão da aprendizagem dos alunos.
Feedback
O feedback, enquanto ferramenta de comunicação no contexto educacional, informa o aluno sobre seu processo de aprendizagem, sobre seu próprio progresso e sobre as questões que devem ser retomadas e observadas com mais cuidado. Para Luckesi (2011), a devolutiva, por parte do professor, sobre as informações recolhidas com os instrumentos de avaliação, no que se refere à aprendizagem do aluno, reflete uma prática pedagógica crítica e construtiva.
Estando mais consciente de suas evoluções, de suas dificuldades, o aluno é convocado a assumir uma postura reflexiva sobre sua aprendizagem, o que se torna significativo para que ele consiga atingir todo o seu potencial de desempenho, conforme apontam Fluminhan, Murgo e Fluminhan (2018). Ele pode, a partir das devolutivas que recebe do professor, reformular suas estratégias de estudo e adotar outras que possam ser mais produtivas para o desenvolvimento de suas competências (Silva; Cunha, 2018). Do contrário, a ausência de feedback é apontada pelos autores como algo que pode estimular o sentimento de desamparo por parte do aluno que está aprendendo uma língua estrangeira.
Sendo assim, o feedback constante não significa necessariamente a atribuição de notas, ou de pontos extras, mas a comunicação de observações que possam ser “[...] pertinentes ao redirecionamento dos trabalhos” (Duboc, 2007, p. 70). Observa-se como essa concepção de feedback dialoga com as noções de continuidade, processo e reflexão, anteriormente mencionadas e discutidas, próprias da avaliação formativa. Ao invés de ser avaliado por estar pronto, “no ponto em que se encontra” (Luckesi, 2011, p. 62, grifos do autor), ele passa a ser avaliado no seu caminhar, “[...] o que implica ter clareza dos fins que desejamos atingir [...] e da metodologia que vamos usar para chegar aos resultados desejados [...]” (Luckesi, 2011, p. 62).
Práticas de avaliação formativa
Vasconcellos (1998) defende o ponto de vista de que uma avaliação processual com base no cotidiano do aluno recolhe os dados necessários para se julgar o desenvolvimento da aprendizagem; segundo o autor, o fato de acontecer em momentos especiais pode artificializar a avaliação, “[...] a expressão da síntese do conhecimento não pode acontecer apenas em alguns momentos, de forma ocasional [...]” (p. 51), do contrário, as dúvidas podem se acumular e a ideia de acompanhar, reformular, retomar, tão destacadas até agora, fica comprometida.
Assim sendo, acompanhar o cumprimento das tarefas é mais do que medir o desempenho e envolve, também, práticas de autoavaliação, que, segundo Duboc (2007), devem ser direcionadas e baseadas nas atividades do cotidiano escolar. Vasconcellos (1998) sugere práticas de avaliação processual que enfatizam essa relevância do que é feito e desenvolvido no dia a dia, e não somente do que é atestado em um momento de avaliação específico. Citamos, aqui, quatro dessas práticas – a aplicação de provas, a aplicação de provas com consulta, a elaboração das avaliações pelo professor da turma e alguns rituais e hábitos relacionados aos momentos avaliativos.
Com relação à aplicação de provas, o autor sugere que as semanas de provas representam uma interrupção do processo de ensino-aprendizagem em que se enfatiza unicamente a avaliação, o que sistematicamente resulta em tensão e preocupação por parte dos alunos. As provas com consulta, por outro lado, exigem menos memorização e possibilitam o trabalho com questões mais reflexivas, o que pode ser interessante e produtivo para o processo de aprendizagem.
Considerando que a avaliação faz parte do processo de ensino-aprendizagem e que o professor é uma pessoa que está no cotidiano de sala de aula, observando e acompanhando atentamente os alunos, ele seria a pessoa mais adequada para pensar e elaborar a avaliação de suas turmas, sempre ouvindo as sugestões de seus pares, diretores, coordenadores, além dos próprios alunos. Isso implica em um aumento das responsabilidades do professor, evidentemente, mas a proposta se justifica, uma vez que parte da ideia de que a avaliação se insere no cotidiano de sala de aula.
Finalmente, e ainda pensando na questão do cotidiano, da avaliação como parte do dia a dia de alunos e professores, Vasconcellos (1998) atenta para a questão dos rituais e hábitos que envolvem os momentos especiais de avaliação, como as semanas de prova. A questão é que a alteração do comportamento habitual, como a mudança da disposição das mesas e cadeiras, o “mandar guardar o material” também altera o estado emocional dos alunos. É importante que, caso o aluno não siga as regras estabelecidas, ele se responsabilize pelo que fez, mas “[...] o fato importante aqui é que se parte da confiança nos alunos e não do contrário, como costuma acontecer” (p. 55).
O núcleo de línguas da universidade federal do espírito santo
Localizado na cidade de Vitória-ES, no campus universitário “Alaor de Queiroz Araújo”, o Núcleo de Línguas (NL) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) promove atividades relacionadas ao ensino-aprendizagem de línguas por meio do desenvolvimento do ensino, da extensão e da pesquisa. Trata-se de um núcleo de trabalho vinculado ao Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) da UFES que atende às demandas da Universidade no que se refere à produção de conhecimento e à oferta de serviços do campo da linguagem, voltado ao desenvolvimento linguístico, cultural, acadêmico e profissional da comunidade capixaba (UFES, 2016).
O NL-UFES constitui um espaço acadêmico de investigações relacionadas ao ensino de línguas, de aplicação e elaboração de exames de proficiência, de cursos de aperfeiçoamento e especialização em línguas e, ainda, de estágios em pesquisa básica e aplicada. Nessa perspectiva de promover a educação linguística e de atender a demandas da comunidade em que está inserido, o NL é composto por projetos envolvendo diversas áreas do campo da linguagem (UFES, 2016).
Enquanto projeto de extensão universitária, os “Cursos de Línguas” são ofertados à comunidade a baixo ou nenhum custo, visando ao acesso de pessoas de perfil socioeconômico desprivilegiado, conforme o projeto disponibilizado no site da universidade em 19 de outubro de 2021 (UFES, 2021a). São ofertados cursos de alemão, espanhol, italiano, inglês, francês; há, ainda, oferta de cursos diversificados, como o curso de português língua estrangeira, a partir das demandas da comunidade em que o NL está inserido.
No que se refere à oferta de cursos de idiomas à comunidade, esses são organizados por níveis de proficiência previstos no Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas (QECR) – A1, A2, B1 e B2. Cada nível, em geral, é realizado em 102 horas e busca desenvolver as competências de produção e compreensão oral e escrita. Semestralmente, há concessão de bolsas de estudos para alunos da rede pública de Educação, estudantes, professores e técnicos administrativos da UFES.
No período anterior à pandemia de Covid-19, as aulas de idiomas aconteciam exclusivamente de forma presencial. A partir do primeiro semestre de 2020, a fim de preservar vidas e atender os anseios tanto de alunos quanto da equipe do Núcleo de Línguas de forma geral, o projeto “Cursos de Línguas” passa a oferecer aulas online por meio do uso da plataforma Microsoft Teams. Em 2022, em virtude da vacinação da população, houve a consequente retomada tanto na modalidade presencial quanto na modalidade online (UFES, 2021a).
O curso de francês do NL
O curso de Língua Francesa ofertado pelo NL-UFES estrutura-se em oito semestres, isto é, oito níveis que correspondem ao QECR: os níveis 1 e 2 (Francês 1 e Francês 2) correspondem ao nível A1; os níveis 3 e 4 (Francês 3 e Francês 4) correspondem ao nível A2; os níveis 5 e 6 (Francês 5 e Francês 6) correspondem ao nível B1; e os níveis 7 e 8 (Francês 7 e Francês 8) correspondem ao nível B2. Cada um desses níveis é realizado em 51 horas e eles se referem às competências em língua estrangeira (LE) sendo que os estudantes de níveis A1 e A2 teriam competências mais elementares do que alunos dos níveis B1 e B2, que seriam capazes de utilizar a LE de forma mais independente.
Uma vez que este trabalho objetiva um relato de experiência acerca da avaliação de aprendizagem com uma turma de Francês 1, esse nível será o nosso foco. Segundo sua ementa, disponibilizada no site da universidade, o curso de Francês 1 objetiva o trabalho das quatro habilidades – compreensão escrita e oral, e expressão escrita e oral – visando ao desenvolvimento de competências linguísticas para o uso da língua francesa (UFES, 2021b).
As competências comunicativas desenvolvidas e aprimoradas no curso de Francês 1 são: saudar e se despedir, dar informações pessoais, se apresentar e apresentar alguém de forma simples, elaborar e fazer perguntas simples, falar dos seus gostos, da sua família, da sua profissão e de algumas atividades do cotidiano, soletrar, contar, situar-se no espaço, justificar uma escolha, caracterizar uma pessoa, indicar um país, uma cidade, convidar, pedir e informar o preço, além de empregar os tratamentos formais e informais das ocasiões adequadas e comunicar-se em sala de aula. Já as competências interculturais envolvem imagens da França, as línguas regionais, o plurilinguismo e o mundo francófono, o teatro e a música francesa, paisagens e festas francesas (UFES, 2021b).
O livro didático usado nas aulas de Francês 1 é o Entre Nous 1(Pruvost et al., 2015), editado e publicado pela Éditions Maison des Langues. O material é dividido em oito unidades, sendo que no Francês 1, os alunos estudam as quatro primeiras. Cada unidade é composta de quatro partes: Découverte, Observation et entraînement, Regards culturels e Tâches finales. As três primeiras partes focalizam aspectos linguísticos diferenciados, gramática, fonética, textos etc., e constituem etapas a serem cumpridas para que o aluno consiga realizar a tarefa final (Tâche finale).
A avaliação no curso de francês do NL-UFES
No período anterior à pandemia de Covid-19, que impôs o distanciamento físico como forma de combater a propagação do vírus, as aulas de idiomas do NL-UFES se davam de forma totalmente presencial. Essa realidade mudou com a suspensão, por parte do governo do estado do Espírito Santo, de atividades como aulas em escolas e faculdades, a partir de março de 2020. As atividades na UFES e no Núcleo de Línguas, em obediência ao decreto, também foram interrompidas, conforme foi divulgado na página online da universidade. Em 2020, as aulas de idiomas do NL-UFES começaram presenciais no mês de fevereiro, foram interrompidas em março e retomadas de forma virtual em junho.
Assim sendo, o NL-UFES mantinha, em seus cursos presenciais no período anterior ao ano de 2020, um sistema avaliativo padronizado para todos os idiomas: havia três momentos, ao longo do semestre, para aplicação de provas com datas pré-estabelecidas. Essas provas eram realizadas individualmente pelos alunos, sem consulta ao material no momento de aplicação da prova escrita e com tempo limitado de consulta ao material durante a realização da prova oral. Trata-se de um sistema de avaliação somativa, que recai sobre o desenvolvimento das competências orais e escritas dos alunos e que gera notas ao final de cada etapa e ao final do semestre. Quando o ensino remoto foi estabelecido no NL-UFES, em junho de 2020, essa prática avaliativa se alterou em função das demandas e das características das aulas on-line. Somam-se a isso as constantes formações docentes oferecidas pelo NL-UFES, que já aconteciam antes mesmo do período pandêmico, e que proporcionaram discussões e reflexões sobre diversos assunto relacionados à prática pedagógica. Esses momentos formativos também contribuíram significativamente para as alterações na forma de avaliar que vinha sendo aplicada no NL-UFES.
A partir de 2020 e do início dos cursos online, as equipes de professores dos diferentes idiomas passaram a desenvolver propostas alternativas de avaliação, decidindo suas formas e instrumentos. Dificuldades técnicas, pouca familiaridade com aulas remotas, além, evidentemente, da instabilidade emocional causada pelo contexto pandêmico são questões que trouxeram ansiedade aos alunos e que foram consideradas pela equipe de professores de francês do NL-UFES nesse primeiro momento de reformulação do sistema de avaliação do curso, no primeiro semestre de 2020 (Paixão; Porsette, 2021).
Nesse contexto, considerando a carga emocional do momento da avaliação, as dificuldades e dinâmicas das recentes aulas online , e o desejo, por parte dos alunos, de continuar as aulas de francês, “[...] optou-se por uma avaliação formativa, constante, flexível, por meio de atividades e projetos, ressaltando-se a importância de que o aluno tenha feedbacks ao longo do semestre” (Paixão; Porsette, 20212, p. 14). Priorizou-se, nesse momento, além do bem-estar dos alunos e dos professores e do estímulo ao prosseguimento do curso, a correção de dificuldades ao longo do processo de aprendizagem e os trabalhos coletivos.
A avaliação do curso de francês passou, então, a ser composta por atividades e projetos desenvolvidos de forma síncrona e assíncrona, sempre visando avaliar as habilidades orais e escritas. Logo em 2020-1, as atividades avaliativas consistiam em exercícios do próprio livro didático, selecionados para esse momento específico, e foram aplicadas durante uma determinada aula. Já os projetos tratavam de algum assunto específico trabalhado durante o semestre e eram desenvolvidos por meio de estudos dirigidos e pesquisas, individualmente ou em grupos, e resultavam na produção de cartazes, vídeos, apresentações orais, e de diversos gêneros discursivos, cardápios, manifestos, contos, resumos, entre outros.
Ao longo dos semestres seguintes, outros instrumentos de avaliação foram sendo testados, como a aplicação de questionários ao final de cada unidade do material didático e de provas agendadas previamente. Os projetos de final de curso vêm sendo mantidos desde 2020 e, em 2023, está em vigência um sistema de avaliação com provas e projetos. Uma característica das provas é que elas são aplicadas necessariamente ao final da primeira metade do semestre, com datas estipuladas desde o início do semestre, e, consequentemente, ao final do trabalho de determinadas unidades do livro didático. Os projetos, por sua vez, são desenvolvidos ao longo da segunda metade do semestre: os alunos têm a chance de revisar e refazer suas produções escritas, pesquisam de forma autônoma sobre o tema e, em uma data agendada, apresentam oralmente seus trabalhos, realizados individualmente ou em grupos, conforme cada turma.
Nesse sentido, em relação ao sistema de avaliação anterior a 2020, em 2023, mantém- se a observação das quatro habilidades – compreensão oral e escrita, expressão oral e escrita –, dos momentos avaliativos pré-estabelecidos – as atividades avaliativas foram aplicadas em uma data combinada com os alunos e a apresentação dos projetos também aconteceram em uma data pré-determinada, que viria a ser o último dia de aula – e da obtenção de uma nota, por parte do aluno, após a realização da atividade. Outras questões se alteraram significativamente, como a inclusão de outros instrumentos no processo avaliativo, diferentes da prova, a correção de dificuldades ao longo do percurso de forma mais intensificada, o que proporciona mais momentos de feedback, de trocas entre professor e aluno acerca da aprendizagem. Além disso, nessa nova proposta, os alunos trabalham individualmente e em grupos e produzem uma maior variedade de textos, como cartazes, vídeos, contos, manifestos, cardápios, álbuns de fotos, entre outros.
A experiência relatada neste trabalho é, portanto, fruto dessas reformulações constantes pelas quais o sistema de avaliação do curso de francês do NL-UFES vem passando desde a implementação do ensino remoto, em 2020.
Trata-se de uma proposta de avaliação voltada para o Francês 1 e que propõe a realização de tarefas distribuídas ao longo do semestre. Para além da obtenção de nota e da obrigatoriedade de realização, as tarefas geram engajamento e comprometimento dos alunos, criam espaço para a criatividade, a subjetividade e a interação e proporcionam momentos de feedback, de revisão e reformulação de trabalhos, tanto do professor quanto dos alunos, conforme veremos na próxima seção.
Relato de experiência: avaliação processual por meio da realização de tarefas
Mencionamos, anteriormente, as transformações pelas quais o NL-UFES e, especificamente, o projeto “Cursos de Línguas”, passou em função da pandemia de Covid-19 a partir de março de 2020. A partir desse momento, o sistema de avaliação do curso de francês passa por diversas reformulações, revisões, adaptações, assim como a própria dinâmica das aulas de idiomas. Este trabalho, portanto, apresenta uma proposta de avaliação de aprendizagem que foi sendo amadurecida durante todo esse período em que foi necessário repensar e adaptar as aulas e a avaliação do curso de francês ao novo formato das aulas remotas. Mesmo que tenha sido amadurecido nesse contexto, esse sistema de avaliação foi aplicado pela primeira vez em uma turma presencial.
Sendo assim, considerando-se experiências de semestres anteriores, o material didático, os objetivos comunicativos e o desenvolvimento das habilidades de compreensão e expressão oral e escrita, além, evidentemente, do calendário acadêmico do NL-UFES e dos prazos para entrega de notas junto à secretaria do NL-UFES, foram elaboradas oito atividades avaliativas para o curso de Francês 1. Essa proposta foi enviada e aprovada pela coordenação pedagógica da instituição, foi elaborado um calendário para a aplicação das tarefas, com a previsão de datas para realização de cada uma delas.
Sobre os objetivos comunicativos do curso de francês do NL-UFES, esses foram discriminados na seção anterior. A seguir, no Quadro 1, constam os objetivos comunicativos das unidades do livro Entre Nous 1 (Pruvost et al., 2015) trabalhadas durante o curso de Francês 1 e as tarefas propostas para cada uma delas.
Quadro 1 - Objetivos comunicativos das quatro primeiras unidades do livro Entre Nous 1 e tarefas avaliativas propostas
Unidade | Objetivos comunicativos | Tarefas |
---|---|---|
1 | Reconhecer palavras em francês; soletrar; saudar e se apresentar; contar de 0 a 20; aplicar estratégias de leitura; o idioma da sala de aula; e diferenciar tu e vous. | 1. Une visite touristique 2. Les salutations |
2 | Perguntar e dar informações pessoais; informar sobre a identidade, a nacionalidade e a profissão; nomear os países, as regiões e as cidades; contar de 20 a 100. | 3. Mes personnalités préférées 4. Qui est-il ? Qui est-elle ? |
3 | Descrever uma cidade/ um bairro; nomear os lugares da cidade, os comércios e os meios de transporte; localizar. | 5. Mon quartier 6. Des souvenirs de voyage |
4 | Falar da família; falar dos seus lazeres, seus interesses e seus gostos; avaliar e selecionar um candidato para dividir uma moradia. | 7. Ma famille en 3 mots 8. Qui suis-je ? |
Conforme o Quadro 1, foram realizadas oito tarefas avaliativas ao longo do semestre. A seguir, serão descritas quatro delas – tarefas 1, 4, 6 e 8 – em função do espaço que dispomos para este artigo e por essas quatro tarefas serem representativas do conjunto de atividades realizadas.
Descrição das tarefas
Tarefa 1: Une visite touristique
Objetivos comunicativos: reconhecer palavras em francês; saudar; contar de 0 a 20; aplicar estratégias de leitura; a língua da classe.
Objetivos gramaticais: emprego dos artigos definidos
Léxico:vocabulário da cidade
Fonética: liaison; singular/ plural dos artigos definidos
Habilidades: compreensão escrita e oral; expressão escrita e oral
Durante a aula, foi trabalhado, a partir do material didático, um panfleto turístico de Lille voltado para os turistas que visitam a cidade, contendo um mapa, algumas fotos e os nomes dos lugares indicados no mapa – nomes e localizações de bairros, locais turísticos como museus, igrejas, palácios, teatros etc. Foram trabalhados os artigos definidos como conteúdo gramatical e um vocabulário mais elementar sobre lugares turísticos da cidade. A participação na aula foi essencial para que os estudantes tivessem mais autonomia para realizá-la. O enunciado da tarefa foi o seguinte:
-
Avec un collègue, cherchez des photos et un plan de la ville de votre choix et créez une brochure touristique. Classez les endroits selon des catégories (les visites guidées, l’histoire, l’art, les marchés, les achats, etc…)
Vous devez …
- employer les articles définis (page 24, ex. 9C);
- avoir 3 catégories et citer 6 lieux minimum;
- utiliser des images pour illustrer votre brochure. - Présentez votre brochure touristique à la classe.
Os alunos deveriam, em grupos, escolher uma cidade e criar um panfleto turístico dela em francês. Para tanto, eles mobilizaram os conhecimentos desenvolvidos durante as aulas e se apropriaram desses conhecimentos uma vez que eles seriam empregados para falar sobre algo mais próximo da realidade do aluno: uma cidade que ele já visitou, uma cidade em que ele já morou, ou simplesmente uma cidade que ele deseja visitar. Os estudantes que enviaram a tarefa com antecedência, por e-mail, receberam um feedback com orientações sobre a execução da tarefa, uso da gramática e do vocabulário. Os trabalhos foram apresentados oralmente em sala de aula e, em seguida, os estudantes receberam um feedback individual por meio de uma ficha de feedback.
A Tarefa 1 promoveu uma primeira socialização entre os alunos, que precisaram formar grupos; além disso, os alunos se viram em uma situação em que deveriam falar em francês utilizando as primeiras regras de pronúncia que haviam aprendido – no momento da apresentação da Tarefa 1, estávamos no quinto dia de aula – e elas foram suficientes para que eles pudessem apresentar seus trabalhos e serem compreendidos, com a ajuda dos elementos visuais trazidos nas apresentações.
Tarefa 4: Qui est-il? Qui est-elle?
Objetivos comunicativos: pedir e dar informações pessoais; informar sobre a identidade, a nacionalidade e a profissão
Objetivos gramaticais: interrogação com quel.le.s; adjetivos possessivos; os verbos être e avoir no presente; a interrogação
Léxico: estado civil; profissões; nacionalidade; números; países/ cidades
Fonética: masculino e feminino dos adjetivos de nacionalidade e profissão; a frase e a entonação declarativa.
Habilidades: expressão escrita e oral
A Tarefa 4 é adaptada de uma das Tâches finales da Unidade 2. Trata-se da elaboração de um questionário composto por perguntas sobre os temas sugeridos: nome, idade, profissão, estado civil, nacionalidade, cidade, gostos etc. Observe-se que não há uma única formulação correta para essas perguntas, há várias maneiras de se perguntar sobre um tema, por exemplo: se o tema for “nacionalidade”, os alunos poderiam elaborar perguntas como “Quelle est votre nationalité?” (qual é a sua nacionalidade?), ou “Vous êtes brésilien?” (você é brasileiro?).
O enunciado atendido pelos estudantes foi o seguinte:
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En groupes, créez un questionnaire pour mieux connaître les autres. Vous devez demander des informations sur ces thèmes: nom, prénom, âge, état civil, profession, nationalité, ville préférée, pays préféré, lieu de résidence, goûts.
Votre questionnaire doit contenir 3 questions minimum et 5 maximum. -
Individuellement, interrogez une personne de la classe.
Attention!
Utilisez le vocabulaire que vous connaissez pour poser des questions: quel.le.s, comment, où …
Demandez de l’aide à votre prof pour corriger vos questions.
Para realizar a Tarefa 4, os alunos se organizaram, em um primeiro momento, em grupos, o que proporcionou uma socialização interessante na sala de aula. Diante dos temas propostos, eles elaboraram o questionário, mobilizando os conhecimentos que haviam sido desenvolvidos durante as últimas aulas; após a elaboração, passamos ao momento de diálogo entre colegas. Embora tivessem sido propostos 11 temas possíveis, foi estabelecido o número mínimo de três e o máximo de cinco questões, em função do tempo disponível para a realização da atividade.
Durante a realização da tarefa, os alunos receberam a ajuda da professora para corrigir as questões elaboradas. Algumas dúvidas surgiam pontualmente, em cada grupo, e elas também eram resolvidas dessa forma, grupo por grupo; as dúvidas em comum, que surgiram em todos os grupos, eram também resolvidas de forma coletiva, com uma explicação para toda a sala. Entre essas questões, que surgiram em todos os grupos, estava o uso dos pronomes tu e vous– eles deveriam escolher qual o registro e seguir sempre usando o mesmo pronome, não poderiam elaborar uma questão usando tu e outra usando vous, por exemplo –, dos possessivos – ton, ta, tes quando usamos tu em um diálogo, votre, vos quando usamos vous – e a escrita do plural e singular de alguns nomes.
Depois de elaborados, corrigidos e finalizados os questionários, os alunos circularam na sala de aula interrogando os colegas; a professora circulou na sala, acompanhando, ouvindo e anotando algumas questões. Em determinados momentos, os alunos aproveitavam a proximidade da docente para confirmar uma ou outra pronúncia. Ao final da atividade, alguns minutos foram dedicados para comentar as principais questões que apareceram ao longo da execução da atividade – questões de escrita e de oralidade –, recolheram-se os questionários por escrito e, na aula seguinte, foram devolvidos com os feedbacks para os alunos.
Tarefa 6: Des souvenirs de voyage
Objetivos comunicativos: descrever uma cidade/ um bairro; nomear os lugares da cidade; localizar
Objetivos gramaticais: preposições de lugar; “il y a”; artigos contraídos
Léxico: lugares da cidade; meios de transporte
Fonética: pronúncia das preposições, dos lugares da cidade; entonação.
Habilidades: expressão escrita e oral
Durante a aula, foi trabalhada a etapa Observation et entraînement da Unidade 3, onde há fotos de viagem publicadas em uma rede social. Os alunos atribuíram legendas a essas fotos, explorando o vocabulário dos lugares da cidade, os meios de transporte e o uso das preposições de lugar (devant/ derrière, sur/ sous, à, dans, à côté de, en face de, à gauche/ droite de). Como dever de casa, foi passado o seguinte enunciado:
- Cherchez trois photos de vos dernières vacances et écrivez des légendes.
- Ensuite, présentez-les à vos camarades.
Os alunos deveriam, então, selecionar três fotos de viagem e criar legendas para elas. Dentro do prazo fornecido para a realização dessa atividade, as atividades foram recebidas por e-mail, corrigidas e devolvidas aos alunos, que tiveram tempo para reformular o que fosse necessário. Depois disso, elas foram organizadas em um mural colaborativo virtual, por meio do site Padlet, e foi esse o material usado para as apresentações orais das fotos.
Durante as exposições, algumas questões foram corrigidas ao longo da apresentação, individualmente, outras foram corrigidas coletivamente, como a pronúncia a+u (como em gauche), o+i (como em droite), entre outros. Quando houve manifestações de dúvida, os alunos usavam o francês para colocarem suas questões e elas foram sendo resolvidas ao longo das apresentações.
Houve, ainda, uma interação significativa entre os alunos, fazendo comentários em francês para os colegas: “très chic!”, “cool!”, “c’est où?”. Isso tornou o momento mais comunicativo e natural, trazendo espontaneidade para a fala e leveza para o momento.
Tarefa 8: Qui suis-je?
Objetivos comunicativos: apresentar-se, falar de si, de seus interesses, lazeres e gostos.
Objetivos gramaticais: pour/ parce que; verbos aimer, adorer, détester, venir, prendre
Léxico: família, personalidade, lazeres, expressão dos gostos (aimer, adorer, détester…)
Fonética: pronúncia das consoantes finais, vogais nasais.
Habilidades: expressão escrita e oral
A oitava e última tarefa foi composta de duas partes: expressão escrita e expressão oral. Para a expressão escrita, os alunos foram convidados a escrever um texto de aproximadamente 70 palavras respondendo à questão “Qui suis-je?” (Quem sou eu?) trazendo, para seu texto, as informações: nome, estado civil, origens/família, características da personalidade, lazeres, gostos e outras informações que considerasse interessante. A segunda parte consistiu em uma apresentação pessoal com o suporte de imagens ou slides. Os alunos responderam ao seguinte enunciado:
Activité 1) Dans un texte (60-70 mots), répondez à la question "qui suis-je?". Dites votre nom/ prénom, état civil, vos origines (famille), votre caractère, vos loisirs, goûts, et toute autre information que vous trouvez intéressante.
Activité 2) Élaborez une présentation et illustrez-la à l'aide de photos, images, couleurs …
Os textos foram enviados pelos alunos por e-mail dentro do prazo combinado, foram corrigidos e devolvidos. Os alunos tiveram, então, a oportunidade de revisá-los e reescrevê-los segundo as orientações antes do último dia de aula, quando aconteceriam as apresentações. Os alunos puderam escolher se apresentar da forma que desejassem: alguns montaram slides com fotos, legendas, outros organizaram murais com imagens, entre outras coisas. A última aula do semestre foi, então, destinada à apresentação oral da última tarefa e para o último feedback.
Conclusão
O ato de avaliar a aprendizagem de língua pode partir de diversas concepções, se valer de inúmeros instrumentos e depende sempre do contexto em que acontece. Buscamos relatar uma experiência de avaliação guiada por uma perspectiva formativa, com foco no processo e uma ênfase maior no acompanhamento do aprendizado, na interação, na constante identificação e resolução de problemas e, sobretudo, no engajamento do aluno sobre seu próprio aprendizado.
Trata-se de uma proposta de avaliação aplicada em uma turma de Francês 1 de um centro do línguas capixaba, o NL-UFES, que foi elaborada a partir de reflexões e reformulações no sistema de avaliação dos cursos de idioma oferecidos por essa instituição que se iniciaram em 2020 com a pandemia de Covid-19. Nesse momento, as aulas de línguas do NL-UFES converteram-se em aulas remota, o que impôs uma série de transformações, adaptações e mudanças nas práticas pedagógicas, inclusive das avaliações dos cursos.
Desde o primeiro semestre de 2020, o sistema de avaliação do curso de francês foi sendo repensado, reformulado, revisado, e esse processo resultou, em 2022, na elaboração da proposta de avaliação por tarefas apresentada neste texto. Porém, mesmo que tenha sido desenvolvida nesse contexto, não se trata de uma avaliação voltada exclusivamente para aulas online, mas de uma avaliação fruto dessas reflexões iniciadas a partir do momento em que o formato das aulas de francês mudou.
Sendo assim, ao longo de um semestre, uma turma presencial de Francês 1 do NL-UFES realizou um total de oito tarefas, que foram elaboradas segundo os objetivos comunicativos do curso, que objetivaram avaliar as competências de expressão e compreensão oral e escrita. Os alunos receberam feedbacks sobre seu desempenho, puderam reformular suas produções, quando necessário, trabalharam individualmente e em grupos, e experimentaram momentos de interação e socialização durante a realização das tarefas.
O que percebemos é que essa experiência proporcionou a observação contínua do aprendizado. O acompanhamento dos alunos e as intervenções sobre as dificuldades também se deram, consequentemente, de forma contínua, uma vez que as tarefas foram distribuídas ao longo do semestre – e não somente ao final de uma determinada unidade do livro didático.
Referências
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HEDID, Souheila. La formation des nouveaux enseignants de FLE à l’évaluation de l’écrit. Discours sur une pratique enseignante. Dialogues et cultures (FIPF), Bélgica, p. 102-110, 2015. Disponível em: http://abef-bdi.fipf.org/sites/fipf.org/files/d_c_ndeg61_-_2015.pdf#page=102. Acesso em: 10 nov. 2022.
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VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança por uma práxis transformadora. 6. ed. São Paulo: Cadernos Pedagógicos do Libertad, 1998.
Notas
1. Professora de Língua Francesa no Núcleo de Línguas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É mestre em Letras pelo Programa de Pós- Graduação em Letras: Estudos da Linguagem (PosLetras) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), licenciada em Letras - Língua Portuguesa pela (UFOP) e licenciada em Letras - Língua Francesa pela UFES.
2. Professor de Língua Francesa e Literaturas Francófonas no Departamento de Línguas e Letras (DLL) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGEL) da UFES. Doutor em Estudos Linguísticos (2013) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua como assessor de Língua Francesa no Núcleo de Línguas da UFES.
3. O curso de Português Língua Estrangeira atende, entre outros interessados, os estudantes estrangeiros da Ufes, porém, no momento da elaboração deste trabalho, a oferta desse curso encontra-se suspensa.
4. Disponível em: https://coronavirus.ufes.br/conteudo/ufes-suspende-atividades-presenciais-partir-desta-terca-feira-17-de-marco.
5. Disponnível em: https://cchn.ufes.br/conteudo/nucleo-de-linguas-retomada-das-aulas-do-semestre-letivo-20201.
6. Disponível em: https://padlet.com/pivaisabela/album-de-photos-9vxkni5a8buxm3fp.