VOLTAR À COLEÇÃO ISBN: 978-65-86422-78-8
Volume 1

Narrativas de professores para professores:

Produtos educacionais para o ensino na educação básica

A Invisibilidade da Cultura Cigana nos Espaços Escolares

AUTORES
Maria Lucia Rodrigues
Elson Rodrigues Olanda
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1. Introdução

O presente texto tem por objetivo apresentar, em linhas gerais, o resultado de uma pesquisa realizada no município de Trindade - GO junto a uma significativa comunidade cigana com moradia fixa nas adjacências de duas escolas da rede estadual de ensino. Com uma cultura peculiar transmitida oralmente de geração em geração há mais de mil anos, os ciganos configuram sujeitos invisíveis em vários extratos sociais e na escola essa invisibilidade não é diferente. A observação do comportamento dos alunos ciganos em uma destas escolas colaborou para a pesquisa, buscando (re) conhecer sua cultura e propor a sua inserção ao currículo da Escola Campo situada na Vila Pai Eterno.

Nosso trabalho visa à valorização da cultura cigana, fundamentando-se na pesquisa etnográfica/participante, que compreende a discussão com a teoria e a prática cultural dos ciganos calon. A proposta deste estudo é a inserção dos costumes culturais dos ciganos ao currículo da escola campo, abrindo margem para a interdisciplinaridade. Ainda, busca ser alicerce para projetos com conteúdos que poderão enriquecer as práticas pedagógicas. Questionamos as leis institucionais que regem as práticas na escola campo, verificando a existência de um discurso carregado de lacunas quanto aos conteúdos que expressam a cultura cigana, sendo nossa pesquisa uma proposta para preencher essa ausência.

A escola preocupa-se em atender o que prevê as leis, conforme descrito em seu Regimento, porém, é preciso questionar a sua dimensão na prática, questionar quais ações asseguram, no dia a dia, o atendimento aos alunos ciganos e não ciganos. Na prática, a escola não tem um calendário restrito aos ciganos calon, mas se organiza de forma a atender suas especificidades, antecipando as avaliações e justificando as faltas. Nas aulas não são mencionados como grupo étnico, não há discussões concretas sobre seus costumes culturais.

A presença de ciganos no Brasil é descrita por (SIMIÕES, 2007; TEXEIRA, 2008; MOONEN, 2013), os quais afirmam que há um registro oficial da primeira deportação de Portugal ocorrida em 1574 do cigano João Torres, sua esposa Angelina e filhos para terras brasileiras, porém não há referencias aos ciganos nos livros de Historia e Geografia, como integrantes das naus portuguesas que iniciaram sua colonização no século XVI. A documentação, não é detalhada o que torna os ciganos singulares e praticamente invisíveis na história do Brasil. Quase sempre incidem sobre “o cigano”, como sendo entidade coletiva e abstrata à qual se atribuem características estereotipadas e pejorativas.

Existem diversas comunidades ciganas em várias partes do mundo, e, segundo Ramanush (2012), elas se reconhecem por uma origem comum em uma identidade básica, que autodenominam Rom. Fora do grupo, os não ciganos são chamados gazho. “Portanto, Rom é a autodenominação que a maioria dos ciganos utiliza no mundo, quando querem se auto-intitular em condições étnicas.” (RAMANUSH, 2012, p. 13). De acordo com Siqueira (2007), no Brasil os ciganos são divididos em Kalderash, Moldowaia, Sibiaia, Roraranê, Lovaria, Mathiwia e Kalê.

Os intensos debates atuais no Brasil e no mundo sobre diversidade e inclusão merecem um olhar diferenciado para com os ciganos, permitindo que o respeito e a valorização da diversidade cultural dessa etnia venham permear as práticas pedagógicas das escolas. Considerar o cigano como parte desta diversidade, como um grupo étnico, tornou-se imprescindível para o reconhecimento de sua cultura, seus valores, sua história, lutas e conquistas para inseri-la ao currículo escolar, conforme previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs,1997), Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 1996), bem como o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola campo e outros documentos oficiais.

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Para esse contato com a comunidade cigana, foi preciso primeiramente uma reaproximação com um dos lideres da comunidade, que, aliás, idoso, já havia estudado na escola campo visando pretensões políticas eleitorais. Ele foi o interlocutor entre a pesquisadora e a comunidade cigana de Trindade-GO no período de agosto de 2013 a maio de 2015.

Para perceber os valores culturais e apreender a visão de mundo, memórias e as trajetórias de 15 famílias ciganas nos setores Samarah, Vila Pai Eterno e Serra Dourada em Trindade – GO, o estudo/pesquisa foi assim distribuído: cinco (05) famílias no Samarah, cinco (05) na Vila Pai Eterno e cinco (05) no setor Serra Dourada. Privilegiando a abordagem qualitativa, com o contato direto do pesquisador no ambiente investigado, os registros foram feitos por meio de trabalho intensivo, entrevistas e diário de campo.

Outro trabalho também realizado foi na escola campo por meio de leitura do Projeto Político Pedagógico (PPP), Regimento e diálogo com a equipe escolar, na busca por informações complementares sobre a acolhida, procedimentos de matriculas, relações interpessoais e currículo. Nessa tarefa constatou-se que havia de maneira sutil instrumentos didáticos que contemplam essa clientela, com uma tímida participação no (PPP), por meio de projetos pouco inovadores distantes da realidade, sendo pertinente pensar na inclusão do estudo da cultura cigana ao currículo, estimulando o diálogo entre as culturas diversas que se apresentam na escola, deixando de ser apenas um discurso.

Os ciganos em Goiás, especificamente na cidade de Trindade, mesmo vivendo em sociedade com os nãos ciganos e tendo seus filhos matriculados nas escolas, continuam repassando suas experiências por meio da oralidade, acumulando assim, seus costumes, tendo como meio a vida em comunidade, ressignificando suas concepções simbólicas herdadas ao longo dos anos.

Nas entrevistas realizadas identificamos que os anciãos não frequentaram a escola formal, porém transmitem oralmente aos mais jovens os seus saberes culturais. A inclusão da cultura cigana ao currículo escolar é um grande desafio, pois os ciganos só permitem que se conheça deles aquilo que lhes convém. O que ainda permeia a vida dos ciganos é a manutenção do imaginário que se criou em torno deles. A cultura cigana e a compreensão do que é cultura cigana deve ser internalizada com o uso da mediação entre linguagem, papéis e valores durante atividades concretas significativas do ensino durante as aulas.

Espaço escolar: vencer a invisibilidade e (re) conhecer a cultura do cigano

O tratamento dado à clientela cigana durante as aulas é de uma cultura invisível, mas não no sentido de discriminá-la. A essa clientela é garantido o direito de estar na escola, de ser respeitada enquanto aluno, mas sem brechas ou espaço para se manifestarem nas práticas educacionais no cotidiano escolar.

Essa constatação só reafirma um comportamento homogêneo, dando ao aluno cigano a equivocada ideia de tratamento igualitário, mas que, na verdade, repreende a manifestação de sua cultura. Portanto, não há um conflito explícito, pois o aluno cigano não questiona a escola acerca de sua prática pedagógica, mesmo percebendo que em seus conteúdos ou atividades faltam elementos da cultura dos ciganos.

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O conflito ocorre de maneira silenciosa, nas ausências dos alunos à escola, nos índices de evasão e repetência ou na errônea ideia, por parte da escola, em acreditar que atender às especificidades previstas em lei é apenas não discriminar o cigano, garantindo-lhe o direito de estar na escola. No entanto, apesar de promoverem atividades esporádicas, estas não trazem para a realidade da escola uma socialização das culturas ali presentes.

A proposta de inserção da cultura cigana ao currículo escolar consiste em implementar o currículo da escola campo com práticas pedagógicas que privilegiem a pluralidade cultural, a diversidade e a igualdade de direitos. Essas práticas pedagógicas, organizadas de forma interdisciplinar nas áreas de História, Geografia, Português e outras, deverão ser discutidas e aprimoradas no coletivo de professores da escola.

O estudo em questão, após ser vinculado ao currículo, destinando-se a aperfeiçoar e criar meios de se disponibilizar conteúdos para a formação e o planejamento dos professores, permitiu que, a partir dessas informações e da sensibilização, fosse possível redimensionar o discurso nas aulas e no cotidiano escolar.

A pesquisa buscou socializar alguns aspectos da cultura cigana por meio de textos, mapas e outros materiais, que foram instrumentos de propostas que integraram as discussões nos momentos de estudos (trabalho coletivo), intencionando uma familiaridade da equipe escolar com os resultados que foram proporcionados pela pesquisa.

Como produto de ensino vinculado aos estudos, foram apresentadas propostas de instrumentos para implementação de conteúdos da cultura cigana como: texto sobre a origem dos ciganos, intitulado “(Re) Conhecer a cultura cigana”; sequência didática do projeto “(Re)Conhecer a cultura cigana”; proposta de aula interdisciplinar, envolvendo História, Língua Portuguesa e Geografia; anexos contendo termos e expressões ciganas, o Hino, a bandeira e os símbolos sagrados para os ciganos. Estes anexos podem ser consultados por meio eletrônico em https://repositorio.bc.ufg.br https://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/5204/5/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20-%20Maria%20 L%C3%BAcia%20Rodrigues%20Mota%20-%202015.pdf .

Estes produtos foram testados em oficinas, salas temáticas, rodas de conversas, trabalho coletivo e, em sala de aula como proposta de conteúdo na disciplina de História. Os testes foram inicialmente apresentados por meio da oficina (Identidade, gênero e a cultura cigana). Os objetivos específicos foram: socializar experiências na perspectiva das relações de gênero entre os ciganos; disseminar conhecimento por meio de fotos, cartazes, textos e vídeos em uma sala temática; subsidiar os estudos na oficina com as pesquisas já realizadas no Mestrado Profissional em Ensino na Educação Básica (PPGEEB/CEPAE/UFG), sendo a primeira apresentação no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás (CEPAE/UFG), durante o Circula (II Mostra de Ciência cultura e arte 04, 05 e 06 de dezembro de 2014). Por meio dos recursos de aulas expositivas, perguntas livres e vídeos, a oficina teve o propósito de buscar na memória do aluno o que ele associa com a palavra “cigana”, iniciando-se um debate em que foi solicitado aos alunos dizerem o que pensavam sobre a palavra. Muitos responderam que se tratava de pessoas festeiras que usam roupas coloridas, leem a sorte e moram em barracas e roubam cavalos e crianças.

Figura 1. Oficina Circula. Fonte: Arquivo da pesquisadora, dez. 2014.
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Essas contribuições foram fundamentais para se falar da identidade do cigano, bem como desconstruir os estereótipos negativos, pontuando no quadro as características citadas pelos alunos. Após exibição do vídeo “Vida Cigana” ( conferir em: https://www.youtube.com/watch?v=mr4LO0AakSU) surgiram várias perguntas, sendo a questão mais discutida o casamento precoce e a virgindade. O vídeo como re-curso didático proporcionou preencher o imaginário dos alunos e levá--los a perceber que a etnia cigana continua a preservar alguns traços básicos da personalidade cigana.

Dando continuidade à oficina, foram apresentadas algumas considerações teóricas sobre a cultura cigana, como por exemplo: a ideia de uma origem comum, a tradição, a língua, a valorização da idade e da experiência como princípios estruturantes do status. Falou-se ainda sobre o respeito e o culto que consagram aos seus mortos, assim como a coesão e a diferenciação assumida face aos não ciganos, o valor da palavra dada, a ideia do presente, a proteção das crianças e a solidariedade, são alguns dos traços distintivos nos coletivos dos que se auto classificam como ciganos.

Outro aspecto também apresentado nesta oficina foi a percepção de que, o conjunto de valores contribuiu para a manutenção da hierarquia no seio da família e para a preservação da autoridade no grupo, o que favorece o reforço da identidade dos ciganos enquanto grupo.

Ao final da oficina os alunos desenharam um corpo humano e escreveram palavras simbolizando a não discriminação aos ciganos. Nesta oficina foram evidenciados alguns traços que mais distinguem a cul-tura cigana da cultura não cigana, a defesa de certos usos, de valores e costumes específicos, tais como: desconhecimento de atitudes sociais negativas como a pedofilia, a violência e abando de crianças e jovens, respeito aos mais velhos, sendo desconhecido o seu abandono.

Dentre uma das propostas resultantes da pesquisa, destaca-se a necessidade de afastar da identidade cigana, a ideia de ser algo estático, uma vez que existem diferentes identidades ciganas e reconfigurações que se prendem com heterogeneidade dos grupos, o tempo de sedentarização, a pressão de políticas sociais ativas, os estereótipos negativos cristalizados, a frequência escolar ou estratégias de casamento.

A mulher cigana acaba por assumir um papel de suporte de toda esta transmissão e perpetuação cultural. A mulher assume um papel preponderante para a realização do casamento cigano, uma vez que lhe é imposta a preservação da virgindade antes do casamento. O desejo de casar as filhas virgens é uma tradição muito arraigada na cultura cigana, é algo que ainda permeia a vida das meninas e dos meninos os quais estando na escola, abandonam-na em função dos novos papeis que vão assumir no grupo. É como se precisassem se excluir do convívio dos não ciganos para vivenciar essa nova condição social.

A escola campo tem em seu PPP uma proposta anual de culminância de projetos e atividades diversificadas desenvolvidas durante o ano letivo, intitulada “Feira de Ciências e Geo-História”. Foi proposto aos professores da escola campo o desenvolvimento da oficina apresentada no CEPAE/UFG. As professoras da primeira fase do Ensino Fundamental acataram a idéia, para a segunda fase e Educação de Jovens e Adultos, ficou a cargo dos professores de Língua Portuguesa e História. A oficina durou uma semana e aconteceu nos três turnos (matutino, vespertino e noturno), sendo o planejamento dos professores adaptado para a realização da oficina em cada turno.

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Para os alunos de todos os turnos da escola campo a introdução do assunto foi apresentada por meio de um texto sobre a cultura cigana. Após a leitura foram feitas explanações sobre cultura, bem como apresentação dos símbolos, mapas e fotos dos ciganos que são celebridades no Brasil. Foi solicitado aos alunos ciganos que levassem fotos de seus familiares e objetos para a exposição. Ao término da oficina, incentivados pelas professoras da primeira fase os alunos confeccionaram livrinhos, poemas e desenhos coloridos sobre a história cigana.

Para a culminância da oficina foi organizada uma sala temática onde foram expostos os resultados trabalhados anteriormente com os alunos. A experiência foi positiva, sendo significativa a participação dos alunos, professores e da comunidade cigana. A sala foi organizada de modo que todos pudessem interagir, bem como participar de uma roda de conversa com os ciganos convidados, alguns compareceram a caráter, sendo a maior participação dos próprios alunos da escola, os quais relataram um pouco de suas histórias. Foi a primeira vez que um evento deste porte foi realizado na escola campo.

Figura 2. Sala temática sobre cultura cigana–exposição de objetos. Fonte: Arquivo da pesquisadora, Nov. 2015

A figura 2 retrata um momento em que são expostos alguns objetos e feitas algumas explanações para os alunos da Educação de Jovens e Adultos.

A figura 3 apresenta uma poesia escrita por um aluno da Educação de Jovens e Adultos – EJA da 2ª Etapa (Ensino fundamental).

Figuras 3. Poesia elaborada por um aluno-sala temática sobre cultura cigana. Fonte: Arquivo da pesquisadora, Nov. 2015.

Em agosto de 2017 o tema cultura cigana foi abordado no Colégio Estadual Castelo Branco (CECB) de Trindade-Go, para os alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA da 3ª Etapa (Ensino Médio).

A apresentação foi realizada fazendo-se interação com os alunos. Utilizando-se dos slides com o conteúdo da proposta de sequência didática desenvolvida na dissertação: (Re) conhecer a cultura cigana: uma proposta de inclusão ao currículo escolar em Trindade – GO (MOTA, 2015) a conversa teve início com perguntas dos alunos, facilitando a explanação que fluiu com o interesse dos alunos.

Segundo a coordenadora pedagógica da escola (CECB), o propósito desta conversa foi contribuir para os saberes dos alunos, os quais tinham um objetivo maior, complementar seus conhecimentos sobre a cultura cigana para a Mostra cultural na semana do Aniversário de Trindade – GO, visto que o tema do projeto dos alunos foi Trindade: nossa terra nossa gente.

Figura 4. Dança Cigana. Alunas do Colégio Castelo Branco. Fotos-Arquivo da pesquisadora, Ago.2017.

Os alunos do Colégio Estadual Castelo Branco trabalharam dança, língua e leitura de mãos, entre outros costumes, elevando o conhecimento sobre a cultura cigana. A contribuição de nossa pesquisa veio somar ao trabalho desenvolvido pelos estudantes, sendo profícua para promover, ainda que de maneira sutil o reconhecimento da cultura destes povos que são parte integrante do município de Trindade - GO.

Etnia cigana: o alcance do produto e uma breve avaliação

Os produtos vinculados como propostas de conteúdos sobre a etnia cigana procuraram apresentar de forma respeitosa um povo que ainda consideramos com a identidade invisível em nossa sociedade com costumes diferentes e língua própria.

Uma das dificuldades para aproximar e conhecer melhor a cultura dos ciganos está na língua Romani, sendo esta língua denominada pelos ciganos em todos os lugares do mundo como Romanes ou Romani. Esta língua tem diversos dialetos como o calo ou kalê, rom, e sinto que é falado somente entre eles.

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Os ciganos de Trindade-GO, falam o dialeto (caló ou kalê), que, como tradição cultural, é falado entre os calon, sem registros escritos e sem permissão de ensiná-la aos não ciganos.

Observamos a importância da língua Romani e seus dialetos como instrumento de defesa e resistência de uma cultura diferente. Esta resistência nos apresenta referências das memórias de uma etnia que, mesmo buscando o conhecimento da cultura do não cigano, o gadjo, tem na língua a mais forte aliada para resguardar seus costumes, confiando que ela não pode ser conhecida pelo gadjo, pois ele poderá, assim, atrapalhar seus negócios ou até mesmo interferir em seus hábitos. A língua é sagrada.

Durante os nossos estudos tivemos a oportunidade de conhecer um pequeno numero de palavras e expressões ciganas caló/kalê, às quais apresentamos no Quadro 01.

Quadro 1. Termos e expressões ciganas. Fonte: pesquisa de campo 2013/2014. Organização: MOTA, M. L. (2015).
Termo e/ou expressão cigana caló/kalê Significado em português do Brasil
Baji Força do destino
Calderash ou Kalderash Caldeireiros
Chakra Roda
Calon, Kalon ou Kalé Denominação aos que falam a língua caló, os ciganos ibéricos
Darro Um ritual que envolve um contrato de garantia, suporte material e psicológico entre as famílias envolvidas (dote que o pai do noivo paga ao pai da noiva)
Del/Beng Deus e o diabo
Deng Demônio
Dou-La ou Bel/Devel Único Deus
Gadjo, Gadjé, Gazho Homem não cigano
Gavalies de Lanoille Misteriosas noivas do fim de noite
Kakú Mestre de cura ou xamã cigano é um Kakú homem ou mulher que possui dons de grande paranormalidade. Eles usam ervas, chás e toques curativos se encontravam uma única vez, passando, desde então, a ter poderes especiais
Kris É uma Corte de Justiça dos ciganos, cujas sentenças devem ser obedecidas, do contrário a parte inobservante pode ser excluída da comunidade Rrom. (lei, regras)
Kristesco Jesus Cristo
Lowara/Lovaria,Machwaia/Mathiiwia São ciganos originários dos países balcânicos
Termo e/ou expressão cigana caló/kalê Significado em português do Brasil
Marimê ou Marimé Dicotomia entre puro e impuro entre os ciganos, que envolve dimensões físicas e espirituais
Phuridaí Anciã
Pomana As cerimônias fúnebres, luto dos Roms
Porraimôs Significa “destruição”, é um termo cunhado pelo povo Rom para descrever, em períodos mais recentes, a tentativa do regime nazista em exterminar este grupo étnico da Europa, juntamente com os judeus
Romanês ou Romaní A língua dos ciganos
Roms, Rom, ou Roma Que falam a língua romani. Os Roms se encontram subdivididos em quatro principais grupos: Calderash, Mathiwia, Lovaria e Curara. Apesar de possuírem diferenças em alguns aspectos específicos, inclusive de linguagem, esses grupos se reconhecem e se aceitam como Rom
Rrom Denominação reconhecida entre os ciganos para representar uma identidade básica étnica comum entre eles, ou seja, origem comum que auto se denominam os ciganos “Rrom”
Sansara Mover-se. É a perpétua repetição do nascimento e morte
Sara Kali Santa por quem a maioria dos ciganos nutre o mais devotado amor e respeito. “Santa Sara” é reverenciada em procissões nos dias 24 e 25 de maio.
Sinti Ciganos que falam a língua sinto e são mais encontrados na Alemanha, Itália e França, onde também são chamados Manouch
Styago Le romengo Bandeira internacional do povo e Rom
Vurdón Carroção. Transporte tipicamente cigano

Há um grande distanciamento entre o cidadão cigano e não cigano. Respeitar e valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa uma adesão a esses valores, mas deve suscitar a necessidade de promover uma educação que prima pela construção da cidadania.

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Compreendemos que o cigano e os não ciganos só se sentirão parte integrante dessa sociedade quando ambos, o cigano e gadjo, forem reconhecidos como cidadãos, pertencentes a esta sociedade na qual escolheram viver, porém, com sua particularidade respeitada. Elegemos a escola e o currículo como um espaço de troca e interação não só da cultura cigana, mas de todas as culturas inseridas na sociedade a qual a instituição escolar pertence.

Há uma responsabilidade, desde o surgimento de escolarização, em padronizar o que era preciso ensinar. Os conhecimentos acumulados durante anos devem ser transmitidos pela escola, uma vez que o processo de ensino aprendizagem não se dá apenas no ambiente escolar, mas sim em todo o âmbito social.

A nossa avaliação da aplicabilidade do produto se encerra no não querer apresentar, aqui, uma proposta de ensinar tudo aos ciganos na escola, mas desejamos que, ao serem respeitados e aceitos por meio de sua cultura pelos gadjo (homem em romani), a comunidade cigana se sinta mais familiarizada no ambiente em que vivem. Os conhecimentos sistematizados e acumulados pela humanidade poderão contribuir para o crescimento intelectual das pessoas dessa etnia e de outras também.

A pluralidade cultural do mundo atual também se manifesta de forma impetuosa e dinâmica em todos os espaços sociais, inclusive na escola, o que acarreta confrontos e desafios que os educadores precisam enfrentar. É a pluralidade que propiciará o enriquecimento e a renovação da atuação pedagógica pela socialização de um novo currículo, mais dinâmico e humanizado, que perceba, respeite e valorize as comunidades tradicionais e as suas diversidades.

O estudo da temática (cultura cigana) permitiu comparar e confrontar diferentes realidades e perspectivas analíticas, bem como a construção de hipóteses que possibilitaram o (re)conhecimento e a compreensão dos processos de construção cultural, deste e de outros grupos étnicos minoritários, possibilitando a melhoria das práticas pedagógicas nas escolas em que ministramos aulas debates utilizando as propostas do nosso produto. Temos ainda que alcançar outras escolas e outros espaços.

2. Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília: MEC/SEF, 1997.

LDB nacional [recurso eletrônico]: Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e  define e regulariza a organização da educação brasileira com base nos princípios presentes na Constituição. https://ufsj.edu. br/portal2-repositorio/File/proen/ldb_11ed.pd

MOONEN, F. Políticas ciganas no Brasil e na Europa: subsídios para encontros congressos ciganos no Brasil. Recife, 2013.

MOTA, M. L. R. (Re)conhecer a cultura cigana: uma proposta de inclusão ao currículo escolar em Trindade-GO.148 f. Dissertação (Mestrado em Ensino) Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica, Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.

RAMANUSH, N. Atrás do muro invisível: crença, tradição e ativismo cigano. São Paulo: Bandeirantes, 2012.

SIMÕES, R. C. F. Educação cigana: Entre-lugares entre escola e comunidade étnica. 2007. 113f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

SIQUEIRA, M. S. B. Povo cigano: o direito em suas mãos. Revista da Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH, Brasília, set. 2007. Disponível em: . Acesso em: 9 set. 2014.

TEIXEIRA, R. C. História dos ciganos no Brasil. Recife: Ed. Núcleo de Estudos Ciganos, 2008.

CONTATOS
Maria Lucia Rodrigues •
Mestre em Ensino na Educação Básica pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do CEPAE/UFG Professora da Rede Estadual de Educação Cultura e Esporte e da Rede Municipal de Educação de Trindade – GO •
ml.rigues@hotmail.com
Elson Rodrigues Olanda •
Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista. Docente do PPGEEB/CEPAE/UFG •
eolanda@ufg.br