Governo Federal República Federativa do Brasil Ministério da Educação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Universidade Federal de Goiás

DIDÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
EMBATES COM AS POLÍTICAS CURRICULARES NEOLIBERAIS

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SEÇÃO 2
AUTORA Andréa Kochhann
Referenciar como: KOCHHANN, Andréa. Extensão universitária e sua indissociabilidade com a pesquisa e o ensino: percurso de um grupo de estudos. In: LIBÂNEO, José Carlos; ROSA, Sandra Valéria Limonta; ECHALAR, Adda Daniela Lima Figueiredo; SUANNO, Marilza Vanessa Rosa (Orgs.). Didática e formação de professores: embates com as políticas curriculares neoliberais. Goiânia: Cegraf UFG, 2022, p. 38-46. Disponível em: https://publica.ciar.ufg.br/ebooks/edipe2_ebook/artigo_16.html
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Extensão Universitária e sua Indissociabilidade com a Pesquisa e o Ensino: percurso de um grupo de estudos

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No Ensino Superior no Brasil as funções da Universidade são o ensino, a pesquisa e a extensão, cujas atividades são indissociáveis. Nesse texto chamamos atenção para a extensão universitária, que se efetiva de forma acadêmica, processual e orgânica, pela práxis crítico-emancipadora (KOCHHANN, 2019, 2021), com rigor e critérios sistematizados, possibilitando a coleta de dados científicos e aprendizagens didático-pedagógicos, os quais podem ser socializados e divulgados, enquanto produção do saber científico. Assim, a extensão orgânica e processual, de relação intrínseca com a pesquisa e o ensino, que em sua natureza práxis comunidade-sociedade e sociedade-comunidade e como tal, uma ciência práxica.

Por uma herança histórico-conceitual a extensão universitária foi/é tida como segundo ou terceiro braço da universidade ou como uma subfunção da universidade ou ainda, como um departamento da universidade em que tudo se encaixa, não havendo uma concepção e um sentido estrito de ser. Esses equívocos epistemológicos fomentariam ações extensionistas de prestação de serviços e assistencialismo, frequentemente desconsiderando ações de formação acadêmica e de desenvolvimento da crítica por parte de acadêmicos de graduação e pós-graduação, que deveriam ser protagonistas do processo e não somente mão-de-obra. A concepção e sentido de extensão universitária defendida aqui tem um alicerce epistemológico em Freire (1983), Reis (1996), Curado Silva (2008, 2017), conforme apontamos em outros escritos (KOCHHANN, 2019, 2021).

Com esse pano de fundo, o presente texto socializa o percurso de um Grupo de Estudos que busca ao longo dos seus 15 anos de existência, realizar atividades que fomentem a indissociabilidade entre a extensão, a pesquisa e o ensino, colocando a extensão como o alicerce para as ações. O grupo em tela é o GEFOPI – Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade, que se movimenta no sentido de realizar variadas atividades voltadas para o crescimento acadêmico dos partícipes, sejam eles docentes, acadêmicos ou comunidade, bem como de toda comunidade atendida.

A extensão universitária no movimento de sua constituição

Abordar extensão universitária no Brasil perpassa por salientar o trabalho de Paulo Freire que, em 2021, teria completado 100 anos de vida. Mesmo com seu falecimento, seu legado continua vivo e ecoando por todo o mundo. A constituição histórica da extensão no Brasil é tensa e densa. Tensa pelas influências europeias e norte-americanas de prestação de serviços e assistencialismo. Densa por se tratar de uma vinculação com a origem das universidades, que data de tempos medievais e modernos e, no caso brasileiro, contemporâneo. Neste texto faremos um recorte, apresentando a participação de Freire no tocante a constituição histórica da extensão no Brasil.

Na época do governo Juscelino Kubistchek, Paulo Freire desenvolvia ações de caráter social, alfabetizando de forma politizada pessoas da classe trabalhadora, com o Movimento de Cultura Popular, cujo lema era “De pé no chão também se aprende a ler”. Seu trabalho se torna exemplo de proposta didático-pedagógica de caráter dialógico, libertador e humanizador. Segundo Fávero (1983, p. 239) “uma das condições desta libertação é que o povo tenha consciência da dominação a que está submetido e das tarefas históricas que lhes são requeridas para liquidar está dominação; por isso mesmo alfabetizar não pode ser distinto de conscientizar.”.

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Freire se torna a representação do movimento popular, principalmente pela forma como possibilitava aos oprimidos os esclarecimentos sobre o processo de opressão e os sentidos da luta para a libertação por meio da alfabetização, porque era necessário aprender a ler o mundo e não somente as palavras.

A Alfabetização no Sistema Paulo Freire é uma consequência da conscientização. Uma vez introduzido no “círculo de cultura” e iniciado nas atividades pela discussão do que é cultura e mais adiante dialogando a respeito de problemas vitais e sociais, sente-se o analfabeto, além de profundamente motivado, desinibido, inclusive pela dimensão nova que adquire de ser capaz de criar. Torna-se autoconfiante e comporta-se já diferentemente. (FAVERO, 1983, p. 168)

O posicionamento de Freire em favor do oprimido e seus ideais e propostas de consciência política, tornaram-no uma ameaça ao poder quando, após 1964, o governo é dirigido pelos militares. Seu reconhecimento no Brasil, na ditadura militar, foi quase nulo, já que foi exilado em 1964 e só retorna em 1980.

No início da década de 1960, houve importantes movimentos realizados pela UNE, influenciados por Paulo Freire, propagando a visão política da extensão universitária. Esse período desencadeou um movimento de conscientização popular em programas de alfabetização de jovens e adultos. Inclusive, a principal experiência de serviço de extensão cultural dessa época, foi seguindo o Método Paulo Freire (KOCHHANN, 2019).

Esse foi o período em que Paulo Freire desenvolveu suas ações extensionistas com a concepção de transformação, humanização e emancipação. Não se pode negar a contribuição desse educador para os variados campos educacionais, ainda mais quando se considera a Extensão. Freire apresenta uma epistemologia de formação humanizada e humanizadora para além dos espaços da sala de aula e rompendo com o pragmatismo e o tecnicismo do uso do livro didático, partindo da prática social e chegando à prática social. Além disso, considerava o ser omnilateral, pautado na necessidade de emancipação dos homens perante a relação opressora que o capitalismo impunha aos trabalhadores e, para tanto, a consciência dessa relação era primordial e propiciaria o rompimento com a estrutura social opressora. Freire abre caminhos para se pensar em outros espaços de formação crítica, política e social, sendo basilar para pensarmos nos projetos políticos de emancipação, pois “não basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder transformar.” (GADOTTI, 2010, p. 306).

Com o surgimento da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação e com o movimento de expansão das universidades, foi promulgada a Lei nº 5.540/68, lei da Reforma Universitária. O avanço de Freire em relação à visão de Extensão para a libertação, humanização e emancipação foi suprimida nessa Lei ao tratar a extensão como prestação de serviços.

[...] elegeu a prestação de serviços de caráter assistencialista como prioridade das ações extensionistas. Orientada pelos princípios da Lei de Segurança Nacional, tais ações rompem com a concepção de extensão como espaço de diálogo com a comunidade, restringindo as ações das universidades e impedindo-as do exercício da autonomia. (MIGUENS Jr.; CELESTE, 2014, p. 12)
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Em 1975, surge a Coordenação de Atividade de Extensão (CODAE), vinculada ao Departamento de Assuntos Universitários do MEC, no intuito de institucionalizar de fato a extensão universitária por meio do Plano de Trabalho da Extensão Universitária. Esse Plano, ainda que mantendo uma visão de Extensão como prestação de serviços, embasou-se na concepção de Paulo Freire de que a universidade e a sociedade deveriam se beneficiar mutuamente das ações extensionistas e da indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão. Em 1979, a UNE é reativada durante o Congresso de Salvador, pois esta “primou, durante todo o tempo de sua existência, pela presença constante no cenário político-cultural do país.” (SOUSA, 2000, p. 51). Desse modo, o Plano de Trabalho da Extensão Universitária (MEC – DAU), apesar de ainda apresentar fortemente a concepção de prestação de serviços, trouxe o sentido de retroalimentação entre universidade e sociedade e a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa sem o sentido meramente assistencialista.

[...] a extensão universitária é a forma através da qual a instituição de ensino superior estende sua área de atendimento às organizações, outras instituições e populações de um modo geral, delas recebendo um influxo no sentido de retro alimentação dos demais componentes, ou seja, o ensino e a pesquisa. (REIS, 1996, p. 43).

Na concepção de Sousa (2000, p. 74) este Plano não trouxe avanços para a concepção e o sentido da extensão universitária, pois apenas “[...] se limita a fazer um levantamento das atividades já existentes e propor formas de coordená-las [...].”. Para isso, a CODAE foi importante, visto que era de sua competência coordenar, supervisionar e avaliar as atividades de extensão. A CODAE “centralizou os seus esforços na tentativa de levar a extensão a uma articulação orgânica com os programas e projetos governamentais de maior impacto. Esperava-se que a participação da universidade influenciasse no sentido de sua revisão crítica.” (GURGEL, 1986, p. 143). Mas, o autor apresenta que a CODAE foi extinta em 1979.

No contexto da reabertura democrática, em 1987, ocorre a criação do Fórum de Pró-reitores de Extensão – FORPROEX, discutindo a função social da universidade, bem como sua institucionalização, as necessidades de financiamento e o fortalecimento das políticas de extensão, bom como defendendo que a extensão universitária precisa ganhar seu espaço acadêmico e não meramente assistencial e de prestação de serviço. O FORPROEX – é até o presente momento, representado pelos Pró-Reitores de Extensão Universitária de todas as Universidades públicas do Brasil e, suas discussões sobre a temática propicia o delineamento para suas gestões.

Ainda, com a retomada do regime democrático, em um período de 20 meses, foi elaborada uma Nova Constituição que passou a vigorar a partir de 1988, que abordou sobre extensão no movimento indissociado da pesquisa e do ensino. Com base no processo de redemocratização, em 1996, surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394 que apresenta a extensão universitária como uma finalidade da universidade, tratando da indissociabilidade com o ensino e a pesquisa, inclusive com possibilidade de bolsa de estudos, conforme Art. 43, 44, 52, 53 e 77.

O cenário da sociedade nesse momento se estabelece com críticas à teoria do capital humano e emergem as orientações políticas e econômicas do neoliberalismo. Nesse contexto é que a universidade está inserida e a extensão se estabelece. Em 1997, Paulo Freire morre, mas sua luta em relação à extensão universitária continua viva, principalmente porque seus “discípulos da época”, se assim podemos chamar, continuam na luta e resistência, junto a outros tantos discípulos do momento.

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Em 1998, aconteceu o XIV Encontro Nacional dos Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras que elaborou a proposta do Plano Nacional de Extensão. Este Plano consistiu de um documento que apresentava um avanço na concepção e no modelo de operacionalização da extensão universitária, pois defendeu uma concepção acadêmica para a extensão em contraposição às atividades de prestação de serviço e assistencialismo. O PNEU, lançado em 2001, foi elaborado pelo grupo de Pró-Reitores que defendia mudanças de concepção, propondo o abandono do assistencialismo e da prestação de serviços, almejando uma concepção acadêmica que colocasse o aluno como partícipe fundamental mediante a ação na comunidade. Essa concepção se vincularia aos saberes adquiridos nos momentos de ensino e com as pesquisas realizadas, sendo uma ação de dimensão processual, que ocorreria com certa temporalidade e sistematização, apresentando características de crítica da realidade concreta e não reprodução de conteúdos, conforme a concepção que o documento apresenta, que é a concepção acadêmica.

A extensão universitária no Brasil ficou delegada a segundo plano por um longo período devido sua configuração histórica nas universidades no Brasil. Somente na década de 1960 a extensão universitária começa a se configurar por meio das ações de Paulo Freire. No entanto, com a implantação do Regime Civil Militar e o exílio de Freire, a Extensão Universitária declina. A partir de 1985, depois do processo de redemocratização da política brasileira, volta a ser discutida abertamente, pois nunca deixou de existir. Nas últimas décadas, o Brasil tem fomentado inúmeras discussões sobre extensão universitária em seu sentido de ser.

Freire abriu espaço para as discussões sobre extensão no Brasil com uma concepção de emancipação vinculada a humanização. O conceito de emancipação em Freire, apoiado em princípios cristãos e marxistas, está aliado ao significado de humanização. A emancipação em Freire perpassa pela formação do humano e não somente pela formação do cognitivo-conceitual. Assim, emancipação freiriana é emancipação humanizadora.

Em Paulo Freire a emancipação deixa de ser somente uma proposta filosófica, social ou crítica, mas passa a ser fundamentalmente uma tarefa educacional, direcionada especificamente para a práxis pedagógica. Dentro da proposta de Freire, emancipação ganha o significado de humanização. Humanização essa que se opõe e luta contra a desumanização. (AMBROSINI, 2012, p. 386).

Freire (1983) defende que toda atividade deve levar o homem a humanização em seu sentido de consciência, amorosidade e respeito com o próximo, buscando a libertação da opressão. Considerando todo processo histórico que Freire viabilizou no Brasil e no mundo em relação a extensão universitária, a autora, por corroborar das ideias freirianas, prima por planejar ações de extensão para a emancipação e defende que isso possa ocorrer com a indissociabilidade com a pesquisa e o ensino.

A extensão universitária entre concepções e sentidos

A constituição histórica da extensão universitária no Brasil, bem como da universidade de forma em geral, tem bases e traços herdados por instituições europeias e norte-americanas, que se mostram destoantes pelo simples fato de serem países capitalistas desenvolvidos e o Brasil em desenvolvimento, ou quiçá, ainda subdesenvolvido ou desvalorizado, visto o potencial que possui.

Essa constituição histórica da extensão no Brasil permite afirmar que, em grande parte, a concepção e o sentido das ações que tem prediominado na legislação são de prestação de serviços e assistencialismo, em que o estudante, quando participa, é mera mão de obra barata. Nesse texto apresentamos a concepção de extensão contrária ao pressupostos mencionados, alinhando ao pressupostos do FORPROEX, de uma extensão acadêmica.

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A extensão universitária é uma das atividades que as instituições de ensino superior desenvolvem e precisa ser considerada como fomentadora de aprendizagem, na concepção acadêmica, processual e orgânica. As ações de extensão universitária tem a concepção acadêmica quando pensada com o sentido de aprendizagem do estudante, de produção de conhecimento teórico-prático por parte do estudante, de um movimento de ensino e pesquisa indissociável; tem a concepção processual quando a ação é pensada a longo prazo, enquanto um processo, de forma mediata; tem a concepção orgânica quando a ação é pensada organicamente, sistematicamente, de forma organizada com metodologias que atendam ao processo de aprendizagem, além de ser vinculada a organismos sociais, que apresentam demandas sociais para serem pensadas como elementos de pesquisa e ensino.

[...] processo educativo cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade. A extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica que encontrará na sociedade a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno a universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que submetido a reflexão teórica será acrescido àquele conhecimento. Este fluxo que estabelece a troca de saberes sistematizado acadêmico e popular terá como consequência: 1) a produção de conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, 2) a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria-prática e extensão é um trabalho interdisciplinar que fornece a visão integrada do social. (REIS, 1996, p. 43).

Destarte, uma ação extensionista de concepção acadêmica, processual e orgânica se estrutura por uma epistemologia que não seja meramente técnica ou prática, mas por uma epistemologia que no movimento contraditório, perante as condições materiais existentes, decorrentes de uma historicidade, que é política e econômica, se apresenta enquanto unidade da teoria com a prática e vice-versa, a práxis. Para Curado Silva (2008, p. 45) “[...] a práxis, ou seja, a unidade teoria e prática não acontece na imediaticidade a partir de modelos e nem por meio de teorias superficiais, ou mesmo resultado de pesquisas que apenas descrevem ou confirmam a realidade.”.

Para além da epistemologia da práxis, defendemos que as ações extensionistas sejam críticas e emancipadoras, no movimento do pensar e fazer, da teoria e prática, da forma e conteúdo, do saber e fazer, em oposição a fragmentação do conhecimento, a tecnificação do saber e a alienação ao trabalho.

Compreende-se a práxis como atividade de conhecer/agir humana transformadora, pois é a prática eivada e nutrida de teoria e, por isso, capaz de superar os primeiros estágios do pensamento – constatação e compreensão da realidade – para constituir um pensamento novo que, ao ser colocado em prática, pode transformar esta realidade. (CURADO SILVA, 2017, p. 5).

Partindo dessa premissa de concepção de ações de extensão universitária, defendemos que o sentido dos projetos e programas, que podem abarcar cursos e eventos, bem como atividades de carater assistencialista e de prestação de serviços, enquanto as atividades dos projetos e programas, seja de transformação acadêmica e social. A transformação acadêmica deve ser o sentido macro das ações extensionistas, pois se o acadêmico se transforma por si só, irá transformar a sociedade em que vive e trabalha, além do mais enquanto acadêmico extensionista de uma atividade processual e orgânica, irá vivenciar teórica e praticamente por determinado tempo o movimento junto a sociedade que recebe as ações de extensão, que de forma mediata, a médio e longo prazo, será transformada por influência oxigenante das ações.

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A extensão como processo e organicamente pensada é entendida enquanto articuladora do ensino e da pesquisa, vinculando-se ao exercício de transformação do acadêmico e da sociedade. Nesta articulação está inerente a realimentação do processo ensino-aprendizagem como um todo, a ação dinamizadora dos currículos e conteúdos de disciplinas, contato direto, realimentador e recíproco entre professores, alunos, técnicos, instituições e população.

Com essa concepção e sentido, apresenta-se o Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade (GEFOPI), que se constituiu por muitos anos como uma visão de Extensão concebida de forma orgânica e processual como apresenta Reis (1996) e com princípio de uma atividade de práxis crítico-emancipadora como apresenta Curado Silva (2017), visando a transformação social e humanização das relações com amorosidade e emancipação dos sujeitos como defende Freire (1983).

A constituição de um grupo de estudos pela indissociabilidade

O GEFOPI está cadastrado por anos, na Universidade Estadual de Goiás – UEG, como projeto de extensão, mas se configura como programa ou projeto integrado ou ainda como um Grupo de Estudos, por se efetivar metodologicamente por um conjunto de ações organicamente articuladas, discussões pelo whatsapp, minicursos, oficinas, rodas de conversa, palestras, salas de cinema, projetos de pesquisa, participação em eventos com publicação acadêmica, elaboração de revistas pedagógicas, entre outras atividades e em vários espaços formativos, discutindo temáticas inerentes a formação de professores, adotando a metodologia da interdisciplinaridade, interprofissionalidade e produção acadêmica.

O GEFOPI foi criado em 2006, vinculado ao curso de Pedagogia da UEG Câmpus São Luis de Montes Belos da Universidade Estadual de Goiás, idealizado e coordenado desde então, pela autora desde capítulo e foi se constituindo pela indissociabilidade e se estruturando de forma orgânica e sistemática na finalidade de contribuir para a formação docente. Iniciou suas atividades envolvidas somente com o ensino, devido dificuldades de acadêmicos quanto a leitura, interpretação e escrita. No ano seguinte, os partícipes do Grupo começaram a realizar atividades de extensão e passaram à escrita de resumos e a participar de eventos, socializando as atividades e o crescimento dos acadêmicos. Em seguida, vieram os projetos de pesquisa que se entrelaçavam com as ações de extensão, os estudos e as escritas, configurando-se como atividades indissociáveis. Essa é a marca das ações do GEFOPI.

No ano de 2020, o GEFOPI ressignificou suas ações atendendo aos tempos de atividades remotas tanto na pesquisa quanto no ensino e, principalmente, na extensão. Em 2021 se encontra integrando acadêmicos, egressos e docentes de vários cursos tanto da UEG quanto de outras IES, bem como comunidade em geral de várias cidades do Estado de Goiás e de outros estados e países, pela rede de pesquisadores. A Coordenadora Geral do GEFOPI conta com a colaboração de vários professores como coordenação de área. Cada projeto ou cada área tem um professor coordenador e um grupo de acadêmicos e comunidade.

As linhas de pesquisa, estudos ou ações do GEFOPI são:1. Formação docente e trabalho pedagógico, 2. Didática e processos de ensinagem, 3. Educação, Linguagem e Tecnologias, 4. Gestão pedagógica, currículo e políticas de qualidade. Cada linha abrange tanto projetos de pesquisa, quanto extensão, como ensino e produção acadêmica, a depender da metodologia elegida. A constituição das atividades do GEFOPI de forma em geral, pode ser vista pela Figura n. 01.

Figura n. 01: Constituição do GEFOPI.

Constituição do GEFOPI

Fonte: GEFOPI (2021)
Elaboração: Raniele Moreira da Costa (2021)

Os partícipes do GEFOPI podem realizar concomitantemente várias ações, nas várias modalidades, nas várias linhas e com as várias metodologias, a depender dos objetivos que elegem para o momento, desde que o objetivo maior seja o crescimento acadêmico-científicos dos envolvidos. Portanto, para esse texto iremos socializar as atividades do GEFOPI constituindo-se de maneira indissociáveis: ensino, pesquisa, extensão e produção acadêmica.

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As atividades do GEFOPI se vinculam no movimento do ensino, pelo fato de realizar grupo de estudos por temas ou área de interesse, orientação em pequenos grupos quando necessário, bem como orientação de monografias de acadêmicos de graduação, trabalha a questão de didática em apresentações e palestras, orientação de estágio extracurricular, discute a questão de normas da ABNT para a escrita de trabalhos submetidos à eventos e revistas, fomenta a aprendizagem e uso das variadas tecnologias digitais, participação em bancas e outras demandas. As atividades vinculadas ao ensino, não estão diretamente vinculadas às disciplinas curriculares de um curso, mas aos objetivos que o ensino de forma em geral pressupõe, que é a aprendizagem. Alguns exemplos são as discussões e informes realizados no grupo do Whatsapp, os encontros de estudos que ocorrem atualmente pelo Google Meet, as palestras, oficinas e minicursos que os partícipes realizam, monografias do curso de Pedagogia da UEG, entre outras, são atividades de ensino, pois aprendem para ensinar e ao ensinar aprendem ainda mais, ao passo que são extensão por se aproximarem da comunidade, bem como atinge a pesquisa, pois algumas ações também advém dos projetos de pesquisa. Assim, cada atividade do GEFOPI tem elementos do ensino.

As atividades do GEFOPI se vinculam no movimento da pesquisa, pelo fato de desenvolvermos projetos de pesquisa como iniciação científica e, também, vinculados ao programa de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. Os objetos de investigação são inerentes às linhas de pesquisa do grupo e fundamentam os debates no grupo e nas ações de extensão, nas monografias, mestrados e doutorados e na produção acadêmica. Atualmente estamos com pesquisa na área de tecnologias educacionais com acadêmicos de iniciação científica e mestrado envolvidos, projeto de pesquisa na área de formação e trabalho do pedagogo com acadêmicos de iniciação científica e de mestrado envolvidos. Todas as atividades de pesquisa podem virar projetos de extensão e vice-versa, bem como estágio extracurricular. Assim, cada atividade do GEFOPI tem elementos da pesquisa.

As atividades do GEFOPI se vinculam no movimento da extensão, pelo fato de planejar atividades com base nas pesquisas e no grupo de estudos para realizar ações vinculadas à comunidade em geral, como oficinas, rodas de conversas, palestras, mesas redondas, minicursos, formações, sala de cinema, lives pelo Instagram e Youtube, orientação pedagógica às escolas, espaços esportivos, espaços assistenciais, eventos e outros. Assim, cada atividade do GEFOPI tem elementos da extensão. Vinculam-se, também, ao movimento da produção acadêmica, pelo fato de que seus partícipes são protagonistas de eventos científicos, escrevem para periódicos Qualis e capítulos de livros, publicam as revistas pedagógicas que são elaboradas como reflexo do ensino, da pesquisa e da extensão, organizam livros, produção de material pedagógico, bem como vinculação com Programas Lato e Stricto Sensu. Assim, cada atividade do GEFOPI tem condições pela indissociabilidade de produção acadêmica.

Difícil traduzir em palavras todo o movimento de indissociabilidade que as atividades do GEFOPI representam. Difícil apresentar uma separação, quando a sua essência é a unidade. O GEFOPI foi se constituindo como grupo que realiza ações indissociáveis. Cada atividade se configura pelo movimento do ensino, da pesquisa e da extensão, criando possibilidades de produção acadêmica.

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Socializando as atividades de um grupo de estudos pela indissociabilidade

Objetivamos nesse momento, socializar algumas atividades construídas ao longo do percurso de do Grupo de Estudos e que estão em vigor em tempos de pandemia (2020 – 2021). O GEFOPI realiza doze movimentos com ações variadas, como foi apresentado na Figura n. 01 e que aqui serão apresentadas de forma sintetizada.

A ação Gestão educacional para espaço esportivo se constituiu como atividade de extensão, por se efetivar em encontros de acadêmicos, orientados por docentes, com um grupo de atletas do Desportivo Real Futebol Clube. A ação tem quatro eixos: Línguas, Pedagógico e Lúdico, Psicopedagógico e Psicológico. Cada eixo tem um docente e vários acadêmicos envolvidos, que desenvolvem atividades com os adolescentes do clube. Para a realização das atividades é preciso planejamento, estudo e avaliação, que envolve questões do ensino e da pesquisa, bem como os resultados da ação podem se transformar em artigos para publicação.

A ação Gestão acadêmica para mestrado e doutorado se constitui como atividade de extensão e se efetiva por uma formação com quinze encontros semanais para discutir questões relativas a mestrado e doutorado. Os encontros são pelo Google Meet. A cada ano ocorrem duas formações. Entre as temáticas estão organização do tempo e do conhecimento, plano acadêmico e financeiro, currículo pulverizado e currículo lattes, escrita acadêmica e normas da ABNT, quadro de coerência, esquema de artigos, estado da arte e conhecimento, materialismo histórico dialético e fenomenologia, projeto de pesquisa, entrevista, prova escrita e de línguas, memorial, equilíbrio emocional, entre outros emergentes. Além das formações, temos o grupo no whatsapp que alimenta os partícipes com informações e esclarece dúvidas. Os partícipes do GEFOPI podem participar da formação como ouvintes, mas participam também como gestores das ações, mediadores dos encontros e palestrantes. A aprendizagem do ensino é notória em cada encontro de extensão e fomenta a elaboração de artigos para publicação e de projetos de pesquisa.

A ação Gestão pedagógica para espaço agrário se constitui como projeto de pesquisa que investiga a atuação do pedagogo nesse espaço. Os acadêmicos envolvidos com a pesquisa nessa área crescem em conhecimento teórico e práticos, que possibilitam ministrarem palestras e oficinas, bem como fazerem lives pelo Instagram, como um movimento de extensão, visto que a temática é pouco conhecida. Essa temática se organiza também como monografia final de curso, além de originar artigos para publicação e inclusive, livros.

A ação Pedagogia em espaço escolar e não-escolar se constitui como projeto de pesquisa que investiga o currículo do curso de Pedagogia da UEG, as políticas públicas que abordam sobre o pedagogo, o sentido de docência, os espaços em que atua, tanto escolares como não escolares, entre outras questões. Os acadêmicos envolvidos com essa pesquisa ministram palestras, oficinas, lives, entre outros movimentos extensionistas e publicam artigos e capítulos de livros. Vinculadas a essa pesquisa originam-se monografias e estágios extracurriculares.

A ação Organização de revistas pedagógicas se constitui como uma atividade de extensão pelo fato de socializar o conhecimento elaborado em cada sessão das revistas. Em 2021, somam 37 edições, com variados temas, oriundos de oficinas em eventos, de disciplinas em graduação, especialização, mestrado e doutorado, de grupos de pesquisas, entre outros. Os partícipes do GEFOPI organizam todas as etapas das revistas, se constituindo no movimento do ensino de gestão e organização, além da escrita.

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A ação Brinquedoteca no presídio se constitui como extensão por realizar atividades em uma brinquedoteca dentro de um presídio. As atividades são efetivadas com os filhos dos presos, no dia da visita íntima das mães. São várias atividades pedagógicas desenvolvidas com as crianças nos encontros semanais. Com a pandemia houve adequações nas atividades, que passaram a ser muito forte de formação dos partícipes no tocante a humanização, relações prisionais, brinquedoteca, entre outros. Bem como com vídeos de histórias infantis e atividades pedagógicas enviadas aos filhos dos presos. Os acadêmicos têm um envolvimento com o ensino, de planejamento de encontros formativos, atividades pedagógicas, gravação e edição de vídeos, além de realizarem projetos de pesquisa sobre a temática que se pode transformar em monografias e artigos para publicação.

A ação escrita de capítulos e organização de livros, Lives no Instagram, Debates e informes no Whatsapp, palestras, oficinas, minicursos e mesas redondas se constituem como ensino, pesquisa e extensão, pois o processo de escrita é um movimento do ensino, que pode advir de projetos de pesquisa e ser extensão pelo fato de divulgar conhecimentos e envolver a sociedade em geral.

Considerações finais

As atividades do GEFOPI se constituem como acadêmica, processual e orgânica, pela práxis crítico-emancipadora e fomentam a indissociabilidade entre a extensão, a pesquisa e o ensino. Para Kochhann (2019) as atividades de extensão universitária, na formação de professores e quiçá de todo estudante, vêm carregadas de contradições entre o pensar e o fazer, o instituinte e o instituído, o ideal e o real material.

Apesar das contradições, é possível a superação da fragmentação e do praticismo que a extensão universitária carrega como herança europeia e norte americana e visar uma perspectiva de práxis crítico-emancipadora, pois, para além da dimensão curricular que ela carrega, possibilita análise das situações concretas e que a prática na extensão pressupõe uma transformação do real, na unidade compreensiva teórica, como passagem indispensável para desenvolver ações, cujo sujeito nesta relação desenvolve perspectivas da emancipação.

O GEFOPI, considerando as metas de publicação constante de seus membros, defende que haverá contribuições principalmente pela produção e disseminação do saber científico e quiçá a transformação dos envolvidos no tocante a formação e o trabalho, suscitando o rompimento de paradigmas nos modelos vigentes, pelas variadas ações que desenvolve tanto de pesquisa, quanto de ensino e, principalmente, de extensão.

Sobre os autores

ANDRÉA KOCHHANN • Pós-Doutoranda em Educação (PUC/GO), Doutora em Educação (UnB), Mestre em Educação (PUC/GO), Especialista em Docência Universitária (UEG), Pedagoga (UEG). Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão, Educação e Tecnologia, da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Coordenadora do GEFOPI (Grupo de Estudos em Formação de Professores e Interdisciplinaridade). E-mail: ndreakochhann@yahoo.com.br.

Referências

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