AUTOR

Cristiano Mezzaroba

Capítulo 5
Um relato de experiência em tempos de caos bolsonarista e pandemia no Brasil: o modo remoto de ensino exigindo ações, adaptações e reflexões dos professores

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Contextualizando a experiência de ser professor na pandemia no Brasil

A partir do momento em que inicio a escrita deste relato de experiência, já se passaram 15 (quinze) meses desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a situação de pandemia no mundo decorrente do novo coronavírus, que atualmente vem sendo denominado Covid-19 (Sars-CoV-2), um vírus novo que impacta no sistema respiratório humano, sendo que a maioria dos acometidos pela infecção viral possui sintomas leves a moderados. Entretanto, nesse mesmo período, o mundo já contabiliza a triste marca de 173 milhões de contaminados, com 3 milhões e 780 mil mortos, sendo que, no Brasil, já perdemos 482 mil vidas – o que nos coloca em terceiro lugar num pódio mundial que simboliza o descaso com a vida humana (proporcionalmente, os óbitos por Covid-19 no Brasil representam 12,75% das mortes causadas por essa doença no mundo).

Se o cenário mundial é difícil e tenso, nosso contexto brasileiro tem se caracterizado como uma realidade que mais parece um filme de terror: não bastasse a triste, dura e angustiante experiência social de lidar cotidianamente com os medos e insegurança de um vírus novo e com potencial destruidor de vidas, nós, brasileiros e brasileiras, ainda temos que lidar com a materialidade de uma política de extrema-direita que despreza a vida e a ciência.

Diante desse trágico cenário, eis que a “luz” para tamanho obscurantismo surge pela ciência, com as pesquisas científicas que, em tempo recorde, chegaram às primeiras vacinas e que, desde dezembro de 2020, primeiro no Reino Unido e depois em outros países, começaram, de forma lenta, a garantir a imunização da população mundial – obviamente que sob os ditames do capitalismo e geopolítica mundial, os países de melhores condições garantindo-se primeiro e os países mais pobres com parcas doses do imunizante até o momento (junho/2021). No Brasil, apenas em meados de janeiro é que se iniciou de forma muito lenta a vacinação, e que se registre: foram e estão sendo necessárias campanhas de comunicação e de divulgação para estimular e convencer as pessoas a se vacinarem.

Com o surgimento das vacinas, embora seja indiscutível, principalmente pelas vozes dos especialistas (infectologistas, virologistas e epidemiologistas), a avaliação quanto à demora na vacinação da população brasileira, já podemos começar a “juntar os cacos” dessa tragédia, não só contabilizando vítimas, responsáveis e culpados (governantes irresponsáveis, negacionistas, charlatões e genocidas, das mais diversas esferas de poder), mas podendo analisar de maneira mais ampla toda essa experiência.

Em tão poucos meses, vimos uma falsa dicotomia entre vida/saúde versus economia; vimos ricos e sedentos empresários em busca de mais lucro explorando ainda mais uma população cada vez mais empobrecida e trabalhando na informalidade; vimos a população que depende de transporte público obrigar-se às aglomerações para deslocar-se nos grandes centros urbanos, expondo-se perigosamente à contaminação; vimos políticos, sem a menor vergonha e constrangimento, superfaturarem produtos hospitalares; esses mesmos políticos que certamente se elegeram com a bandeira do “estado mínimo” tanto para a saúde como para a educação.

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Não restam dúvidas, pelo menos até este momento, quanto aos ensinamentos coletivos que temos constatado com a pandemia: a importância de um estado que não seja mínimo, principalmente em relação à saúde (a cada dia ratifica-se a importância e imprescindibilidade do SUS – Sistema Único de Saúde do Brasil, considerado o maior, mais amplo, integral, universal e equitativo sistema público de saúde do mundo) e da educação pública que mesmo sem o devido reconhecimento simbólico e social, tem em seus agentes – das escolas e das universidades – uma incrível capacidade de superação, adaptação e trabalho em circunstâncias adversas.

Quando falamos da educação brasileira, não podemos esquecer que desde que o atual presidente eleito em 2018 assumiu em 01 de janeiro de 2019, é visível que seu projeto – com ladainhas nacionalistas na base de um circo patriota – é de destruição das instituições a partir do seu interior, principalmente no que se refere à educação, ciência, meio ambiente e funcionalismo público. Não podemos dizer que fomos enganados: os 57.797.847 votos (55,13% dos votos válidos no 2º Turno) que o legitimaram para nos governar entre 2019 e 2022 (e que 2022 termine com a esperança de que o mal foi vencido nas próximas eleições!) sabiam exatamente que seu projeto era esse.

O primeiro Ministro da Educação do Governo Bolsonaro, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, não ficou 3 meses no posto, afinal, referiu-se aos brasileiros como um povo “mal-educado” no exterior. Como sempre pode ficar pior, eis que chega ao cargo de Ministro da Educação o “inesquecível” Abraham Weintraub, certamente o pior Ministro da Educação que qualquer país do mundo poderia ter.

Graças a ele, ao menos nas capitais brasileiras, jovens escolares e universitários, com os trabalhadores tomaram as ruas em três importantes manifestações em prol dos recursos básicos à manutenção da educação pública, conhecidas como as “Jornadas da Educação” em meados de 2019, principalmente quando Jair Bolsonaro disse que quem iria às ruas seriam os “idiotas úteis”. Depois de 14 meses no cargo, com a divulgação de um vídeo de uma reunião ministerial em que o ministro da (des)educação ofendeu o Supremo Tribunal Federal (STF), ele foi removido rapidamente do cargo e viajou aos EUA assumindo um posto em um organismo internacional.

Eis que, então, surge Carlos Decotelli como nomeado à pasta da Educação, permanecendo cinco dias, mas não tomou posse porque rapidamente foi divulgado na imprensa que sua titulação era falsa, não tendo defendido o doutorado conforme ele expunha em seu currículo para consulta na internet. Depois de algum tempo, o professor, teólogo, advogado e pastor presbiteriano Milton Ribeiro passa a ser nomeado Ministro da Educação, permanecendo até o momento, já colecionando algumas polêmicas, embora de perfil “mais discreto” em relação aos anteriores.

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Com tal configuração política, e em um cenário que já contava com a bandeira do movimento conservador e retrógrado do “Escola Sem Partido”, de desvalorização social, de baixíssima legitimidade profissional, que implica em baixa remuneração, e de desprezo por boa parte da sociedade, os professores e professoras brasileiros passaram, também, por mais um desafio: com o fechamento das escolas, de uma hora para outra, para se protegerem do novo coronavírus, agora de dentro de suas casas, com todas limitações de equipamentos e recursos materiais, aliado ao fato de não terem, em sua maioria, uma formação para lidar com dispositivos tecnológicos e midiáticos, tiveram que se adequar, reinventar-se e atuarem no chamado “modo remoto”, completamente na base do improviso e do “salve-se quem puder”.

Trabalhos no campo educacional brasileiro, como de Gallo e Monteiro (2020) lançam-se à compreensão do momento atual da educação brasileira com as implicações do projeto neoliberal em voga no Brasil; assim como os escritos de Candiotto (2002) expõem as questões da educação como investimento (a partir da década de 1960), como “capital humano” dentro de uma lógica do capital baseada na eficiência e produtividade. Também Candiotto (2011) aborda quanto ao “empreendedor de si mesmo”, crítica que opero neste texto em relação a como a profissionalidade docente tem sido encarada dentro dessa cultura do professor “se virar”, como tantos outros “profissionais” têm se adaptado com esse projeto neoliberal de desprezo pela educação e pelos trabalhadores de modo geral.

Assim, esse relato procura descrever e refletir quanto às minhas experiências como professor do ensino superior nessa minha experimentação diante da necessidade de aprender coisas novas, fazer cursos ao longo dos primeiros meses da pandemia, adequar estratégias que foram utilizadas para dar conta do cotidiano pedagógico e formativo diante do contexto do ensino remoto na atuação com acadêmicos e acadêmicas do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e também com uma turma de Pós-Graduação em Educação/UFS, processo que iniciou em abril de 2020 e que perdura até o momento (junho/2021) e que provavelmente irá se prolongar até o final de 2021, devido ao quadro pandêmico que não se altera em relação aos níveis de contágio e de óbitos diários.

O texto está organizado em quatro momentos: inicialmente, exponho de maneira breve a minha trajetória formativa e o trato com mídias e tecnologias ao longo dessa formação. Em seguida, apresento o contexto do impacto da chegada da pandemia e as questões e dúvidas sobre como lidar com esse cenário inédito, angustiante e desafiador. Sigo apresentando minhas ações quanto às formas como pensei o planejamento diante de tal cenário, sob muita angústia e ansiedade. Por fim, avalio quanto a essa experiência, não só pelo meu olhar, mas pelos diálogos que revelaram o olhar dos alunos e alunas que estiveram comigo nestes momentos pandêmicos diante das telas, de forma on-line ou de modo assíncrono, nos contatos por e-mail e por aplicativos de mensagens.

O texto, portanto, configura-se como um testemunho histórico dessa experiência vivida em tempos de pandemia num país que despreza a educação, a ciência e o conhecimento.

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A minha trajetória formativa e o trato com mídias e tecnologias

Iniciei meus estudos na Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em agosto de 2000, ou seja, em um momento que começava a se tornar mais comum a internet no Brasil, embora naquele momento a internet não fosse, ao menos para mim, algo usual e comum. Era um assíduo telespectador de televisão (programas jornalísticos, documentários, filmes, novelas, programas musicais e de entretenimento), escutava rádios FM e AM (em aparelhos físicos ou mesmo nos momentos em que dirigia), tinha acesso a jornais impressos e a algumas revistas impressas (por assinatura) e não costumava frequentar cinema.

Foi no início da faculdade que fiz meu primeiro e-mail, e por termos acesso a um laboratório de informática setorial (exclusivo para o nosso Centro, onde funcionava o Departamento de Educação Física), passei a usufruir daquela estrutura com frequência, não só para realização dos trabalhos das mais diversas disciplinas, mas também como um local para acessar a internet, trocar e-mails com familiares e amigos/as, ler notícias, encontrar textos para os trabalhos acadêmicos, ver vídeos etc.

Embora na casa dos meus pais (Florianópolis encontrava-se a quase 650Km) desde o começo da década de 1990 tivéssemos computador em casa, em Florianópolis, durante meus estudos, só passei a ter o meu computador no conforto domiciliar em 2003, três anos após o início do curso. Nesse período, a internet já estava mais facilitada, principalmente na UFSC, enquanto em casa utilizávamos a internet discada – geralmente depois da meia-noite para o valor da conta telefônica não “estourar” no final do mês. Aparelho de celular – os famosos “tijolões” – passei a ter em 2002, quando celular era um produto caro e servia exclusivamente para ligações telefônicas. Nem se imaginava, naquele momento, que teríamos esses “supercomputadores” em nossos bolsos, ainda chamados de “celulares”, os quais pouco utilizamos, atualmente, para chamadas telefônicas.

Os constantes trabalhos avaliativos da faculdade nos demandavam uma frequência quase que diária ao prédio da Biblioteca Central (BU-UFSC), tanto para acessar revistas brasileiras de Educação Física ou mesmo obras diversas dos mais variados conhecimentos.

Operar esse autoexercício de história de vida nos permite compreender alguns movimentos para entender que os processos de incorporação de saberes e de usos de dispositivos não é algo natural, embora seja quase um senso comum dizermos que incorporamos com facilidade equipamentos e tecnologias diversas para o trabalho que hoje realizamos.

No curso de Educação Física da UFSC, foi só em 2004 (bem na parte final do curso, quase me formando) que passei a frequentar o LaboMídia – Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva –, coordenado pelo Prof. Dr. Giovani De Lorenzi Pires, que, depois, tornou-se, certamente, o mais importante grupo de estudos sobre mídia esportiva e usos de tecnologias na Educação Física brasileira. Foi a partir dessa inserção que as mídias e as tecnologias passaram a ser visualizadas por mim com o viés pedagógico e formativo.

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Minha monografia de final de curso já foi realizando uma pesquisa documental acessando a Folha de São Paulo pela internet, todos os dias por alguns meses. Depois, entre 2006 a 2008, cursei o mestrado em Educação Física da UFSC, na Linha Teoria e Prática Pedagógica, realizando um estudo de recepção com escolares a partir das mediações culturais pertencentes ao universo daqueles jovens, como da televisão, da internet, de jornais e revistas e da própria participação nas aulas de Educação Física. O doutorado , entre 2014 a 2018, também na UFSC, agora na Educação, na Linha Sociologia e História, já foi um movimento em compreender como pode ser analisado o que chamei de “subcampo das mídias e tecnologias” no interior do “campo da Educação Física brasileira”, ou seja, realizar uma pesquisa para investigar práticas das quais eu mesmo faço parte deste movimento da Educação Física brasileira que desde a década de 1990 passou a olhar para as questões midiáticas e tecnológicas para realizar suas práticas pedagógicas, formativas e investigativas.

Rememorar e trazer de forma descritiva e resumida a minha trajetória em relação às questões das mídias e tecnologias neste quadro da formação e atuação profissional no campo educacional me permite considerar que talvez a forma como tive que lidar com a urgência do modo remoto de ensino tenha sido “menos traumática” quando comparada com a trajetória de alguém que ao longo da sua formação e atuação não tivesse uma proximidade com equipamentos e dispositivos como eu tive.

Não me atrevo a afirmar que tive uma “formação” ou “treinamentos” específicos pensados para atuar como tivemos que fazer a partir de março de 2020, com a pandemia se confirmando como uma triste realidade que demandaria o fechamento das escolas e a “abertura delas” em nossas telas, de dentro de nossas casas. Entretanto, o fato de estudar mídias e tecnologias na Educação Física e na Educação acabou me auxiliando em pensá-las como recursos, estratégias e ferramentas complementares em relação ao ensino, à pesquisa e à extensão.

Embora consiga operar com as questões básicas do universo tecnológico, inclusive em relação aos termos técnicos, reflito muito sobre como os professores e professoras que não tiveram essas experiências ao longo de suas formações iniciais ou mesmo na formação continuada, sejam eles “mais velhos” ou “mais novos”, viveram momentos de muita angústia neste período. Reconheço que sentimentos como insegurança, receio e ansiedade me tomaram por muito tempo, não só em relação à pandemia em si, mas em como iria ter minha performance docente diante do que seria o modo remoto de ensino. Mas vi, em cursos que fiz, colegas professores questionando quando os professores-cursistas se referiam, por exemplo, a “jogar o vídeo criado para a nuvem”. Escutei: “Professor, o que é nuvem? Como faço isso? Meu Deus! Pra mim nuvem tá no céu!”.

Naturalizamos por muito tempo o fato de “todo mundo” ter bons equipamentos ou boa e estável conexão com a internet; normalizamos que “todo mundo” sabe gravar um vídeo e disponibilizá-lo; achamos comum saber fazer uma apresentação num software de geração de slides. Talvez com a pandemia tenhamos aprendido que os usos pedagógicos não sejam os mesmos dos usos cotidianos dos equipamentos e tecnologias: precisamos aprender mais sobre isso!

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Chegou a pandemia: e agora, como vamos fazer?

Como no Brasil costumamos “levar na brincadeira” muitas coisas sérias, hoje fica fácil constatar que com o vírus da Covid-19 se espalhado pelo mundo no começo de 2020 fomos ingênuos, inconsequentes e irresponsáveis desde o começo desse fenômeno sanitário mundial. Lembro-me de vídeos circulando em aplicativos de mensagens que passavam a mensagem que o novo coronavírus era um vírus simples, que bastava tomar água com limão e pronto, estaríamos nos protegendo.

Certamente, tais simplificações ajudaram a municiar nosso atual presidente com suas narrativas mentirosas e irresponsáveis, comparando o vírus da Covid-19 a uma “gripezinha”; vários de seus assessores divulgarem vídeos dizendo que não era para se preocupar, que em maio de 2020 tudo já estaria resolvido, com, no máximo, 2100 mortos. E que depois seguiriam, na forma de sugestão de ‘kit-covid’ (que conforme as publicações científicas iam “clareando” que cloroquina e ivermectina não eram eficazes para “prevenir” ou mesmo “tratar” ou “curar” Covid-19, foi denominado pelos governistas e seus seguidores de ‘tratamento preventivo’).

Enquanto isso, nós, agentes da educação brasileira, trancados em casa, apreensivos não só pelo desconhecido e enigmático novo vírus que ia fazendo centenas de vítimas diariamente por todo território brasileiro, mas, também, preocupados em relação a como lidaríamos com tal contexto de necessidade de isolamento social, com nossas escolas e universidades sem aulas presenciais e a urgência em pensarmos em formas de resolução a um novo formato que nos colocasse em contato com nossos colegas (para reuniões, grupos de estudos etc.) e também com nossos alunos e alunas (não só nas disciplinas, mas, também, quanto às orientações de iniciação científica, de trabalhos de pós-graduação, de projetos de extensão etc.).

Particularmente, as minhas estratégias iniciais para enfrentar essa problemática foi procurar ler o máximo possível sobre a pandemia, vendo muitos telejornais, lendo muitos artigos em portais de informação e buscando artigos científicos que tratassem da pandemia (contaminação, cuidados, testes com medicamentos que iam sendo descartados, desenvolvimento de tratamentos pelo mundo etc.). Além disso, procurei realizar cursos que foram sendo oferecidos em quantidades cada vez maiores em relação às questões da educação a distância, ensino remoto, utilização de plataformas, metodologias ativas etc.

A partir de abril de 2020, portanto, realizei muitos cursos de treinamento e capacitação (oferecidos principalmente pela minha própria universidade, mobilizando seu corpo docente e suas plataformas de educação a distância). Foram vários cursos, como usos das ferramentas Google (eu nunca havia entrado no Google ClassRoom e tampouco, até aquele momento, nunca tinha gerado um link para uma ligação pelo Google Meet); aprendi a usar algumas outras ferramentas via plataforma Google (de otimização das atividades; de games online etc.); informei-me sobre elaboração de podcasts e arrisquei-me a realizá-los; também fiz cursos rápidos sobre edição de vídeos, entre outros.

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Tenho a percepção que foram cursos bem básicos e que foram muito superficiais, mesmo assim, ofereceram-me subsídios mínimos para que pudesse minimamente começar no tal modo de ensino remoto. Considero que para “professores mais antigos”, que não tinham relação cotidiana com as tecnologias, esses mesmos cursos que fiz não devem ter lhes ajudado em muita coisa. Nos momentos finais desses cursos, costumava haver uma live em forma de chat, e era bem comum ler opiniões desesperadas de professores e professoras, que, de maneira geral, relatavam não compreender muito do linguajar do curso e que tinham muitas dificuldades para pensar na aplicação daqueles conhecimentos em suas aulas quando elas iniciassem de maneira virtual com os alunos.

Avalio, hoje, que para lidar com as atividades básicas da docência no modo remoto, tenho uma preparação mínima que me permite usar adequadamente os recursos digitais (computador, câmera, celulares, plataformas digitais – no nosso caso, utilizamos a Plataforma Google, a partir da pandemia, mas desde 2011 utilizamos uma plataforma própria, chamada SIGAA – Sistema Integrado de Gestão das Atividades Acadêmicas) a fim de realizar uma aula qualificada remotamente.

É um hábito meu preparar antecipadamente as aulas, reservando sempre materiais novos para leitura, procurando modificar um pouco as aulas de um semestre para o outro. Costumo transformar as apresentações em arquivos formato de leitura (PDF) e compartilhar com os alunos(as) pelas plataformas. Também fiz busca na internet de videoaulas e arquivos de vídeos no YouTube e em alguns canais, que estimulassem e complementassem o conteúdo abordado da aula.

Também procurei, na medida do possível, estimular, a partir de uma dialogicidade nas conversas com os alunos, que abrissem suas câmeras nas aulas, o que nem sempre foi atingido, e minha avaliação, sobre isso, encontrou respostas na baixa qualidade de conexão dos alunos/as: ao abrirem suas câmeras, era comum vir a mensagem que o/a aluno/a tinha saído da reunião.

Há muito que se falar sobre o que seria uma ‘aula qualificada’ neste modo de ensino remoto: seria aquela que demandaria muitas tecnologias e seus bons usos? Seria aquela que o professor/a domina as plataformas e passa a ser um “tarefeiro” com suas turmas? Seria aquela que o professor simplesmente encontra e disponibiliza links para seus alunos assistirem ou lerem textos? Penso que, muitas vezes, confundimos uma aula necessária e de bom conteúdo, com aprendizagem significativa, com utilização exagerada de recursos midiáticos. Para mim, uma aula qualificada – presencialmente, remotamente – é quando, a partir do meu domínio de conhecimento, consigo buscar mais ainda a partir de como a turma me estimula e ao mesmo tempo me desequilibra, ou seja, depende também de certo interesse da turma que está comigo e de como eles e eu nos envolvemos em relação ao saber trabalhado, compartilhado, questionado e refletido.

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Percebi muitos discursos – no campo midiático, em reportagens, mas, também, no próprio campo educacional, com colegas – que neste momento de pandemia o professor(a) seria um “gestor de si”, um “empreendedor de si”, ou seja, os discursos do pós-trabalho ‘caindo no colo’ também dos professores: a narrativa de uma máxima eficiência numa época de desvalorização do trabalho docente. Vendo televisão, algumas propagandas veiculam sobre a cultura do empreendedorismo: o sujeito descobre que tem um grande poder para certas coisas, como confeccionar um artesanato. A propaganda enaltece que esse mesmo sujeito atravessou dificuldades, mas, com criatividade, superou e venceu tudo. Ele é responsável pelas compras, pela confecção de suas peças, pela divulgação na internet e nas redes sociais. Ele vende seus produtos com uma máquina de cartão ou mesmo se lançando na internet. Impressiona ver que mesmo com a pandemia evidenciando a importância dos apoios econômicos e sociais dos governos, vide a imprescindibilidade do auxílio financeiro (de R$ 600 em 2020 e de meros R$ 150 em 2021), a mídia comercial e o senso comum insistem em vangloriar o empreendedorismo! Lembremos que no caso docente, essa ‘cultura’ empreendedora aparece na forma dos comunicadores das redes sociais, principalmente com os youtubers.

Não imagino nós professores nos colando nesses discursos falaciosos que, no fundo, antecipam a ideia de que o trabalho educacional e formativo dos professores pode ser substituído por livros didáticos, por telas remotas, por apostilas digitais. Professor é aquela profissão que deve exercitar a arte do estudo diário e contínuo, da experimentação das metodologias mais diversas que se encontram de maneira confluente às formas diversas de aprendizagens de seus alunos.

Nosso tempo deve ser usado para estudar, melhorar nossas aulas, aperfeiçoar nossa didática, acolhermos nossos alunos, dedicarmo-nos com máxima atenção e cuidado nas nossas tarefas avaliativas. Não podemos e não devemos cair nessa discursividade da cultura do empreendedorismo no campo da educacional. Não nos formamos para isso; não devemos perder nosso digno tempo de vida para nos encontrarmos como professores-empreendedores.

Escolas, universidades e professores não sabiam direito o que fazer, mas tentaram fazer em meio ao caos e à cultura do improviso. As instituições não ficaram fechadas, mas, com suas limitações, procuraram, a partir das formas mais diversas, seguir ajudando suas comunidades locais (as escolas, distribuindo merendas; as universidades, ajudando na produção de álcool em gel, nos testes, nos serviços remotos etc.). Com os professores e as professoras, não foi diferente, o tempo pandêmico exigiu muita reflexão, muito “freio de mão puxado”, muita racionalização e muitos desafios, principalmente em relação à pressão de muitos pais e mães que, já há algum tempo, desprezam de maneira intensa tais agentes, embora de suas bocas os discursos são aqueles que enfatizam a importância da educação – sim, na pandemia, principalmente no Brasil, vimos que razoabilidade e empatia são comportamentos difíceis de serem encontrados.

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Planejamento, organização e atuação: angústia e ansiedade

Ainda em maio de 2020, ou seja, em um período que ainda não estávamos atuando com o ensino remoto, mas nos preparando para aprender sobre plataformas e estratégias possíveis, dediquei-me, juntamente com outro colega, a refletir sobre “O que podemos e devemos aprender sobre a pandemia como professores?” (MEZZAROBA; DANTAS JUNIOR, 2020).

Nosso olhar, naquele momento, era o de que a pandemia, enquanto uma experiência social, estava nos apresentando novos desafios que mereciam ser bem refletidos e analisados, principalmente a partir das informações que estavam sendo geradas e veiculadas nos mais diversos veículos midiáticos, como os portais de notícias da internet brasileira, com a possibilidade de operarmos “leituras da realidade” a partir dessa relação, envolvendo questões quanto à política, saúde, corpo e educação. Assim, sinalizamos vários problemas em curso no Brasil, principalmente a constatação de uma necropolítica (intencionalidades governamentais) e de uma intensificação das desigualdades sociais, que implicavam (e implicam) de maneira intensa no campo educacional.

Nesse movimento de reflexão do nosso quadro político, social e sanitário, é que se começou a pensar, então, no quadro de ofertas de disciplinas para prosseguimento do semestre, em reuniões bastante interessantes propostas pelo NDE – Núcleo Docente Estruturante do Curso de Licenciatura da UFS, que procurou pensar as melhores maneiras diante do cenário e do contexto de nossos alunos e das possibilidades dos professores.

A minha primeira experiência no ensino remoto está sintetizada no quadro 1 abaixo, em que apresento as disciplinas sob minha responsabilidade pedagógica, o nível de ensino, a quantidade de alunos(as) que iniciou o curso e a quantidade de concluintes. Na sequência, amplio a descrição em específico quanto à disciplina “Saúde, Sociedade e EF”, por considerar que a maior parte das novas experiências que me permiti como docente referem-se a ela.

Quadro 1: Disciplinas ministradas no modo de ensino remoto (2020)

DISCIPLINA NÍVEL ALUNOS CURSANDO ALUNOS CONCLUINTES
Saúde, Sociedade e EF Graduação(2º período) 23 17
Tópicos Especiais em EF II Graduação (Optativa) 09 07
Monografia II Graduação (8º período) 03 01
Cinema,Imagem e Educação Pós-Graduação (Educação) 06 06

Fonte: O autor.

Aprendemos a organizar nossas disciplinas em um “jogo de equilíbrio” entre aulas síncronas, aquelas que se realizavam de forma on-line com a presença em um mesmo espaço virtual envolvendo alunos(as) e professor, e as aulas assíncronas, aquelas que se disponibilizam materiais diversos (textos, vídeos, entrevistas, videoaulas, tarefas etc.) e que os alunos(as) podem realizar a qualquer momento, sem a presença virtual do professor.

Nesse sentido – também dentro de uma normativa da UFS – procurei não exceder o quantitativo de 40-45% do total de aulas síncronas (a UFS estabeleceu, por portaria própria, o mínimo de 20-25% e o máximo de 50% de aulas síncronas). Na disciplina de Monografia II, o percentual de encontros on-line foi de 25-30%; na disciplina de Tópicos II, ficou em 40% de aulas síncronas, e na disciplina Saúde, Sociedade e EF, em torno de 40-45% de aulas on-line. No próximo tópico, “Avaliando essa experiência pelo meu olhar e pelo olhar dos meus alunos e alunas”, comentarei sobre algumas considerações dos alunos em relação à carga das aulas síncronas/assíncronas.

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Como estratégias utilizadas nas disciplinas, procurei diversificar ao máximo a oferta de materiais, seja de autoria própria ou mesmo de outros autores. Elaborei vídeos de apresentação da disciplina, disponibilizados uma semana antes do início da disciplina, tendo em vista que para a disciplina com o maior número de alunos, eu não os conhecia presencialmente, assim, pensei que deveria me apresentar a eles antes do começo das aulas remotas.

Também utilizei um recurso que até então nunca havia feito, ou seja, a gravação de videoaulas utilizando o aplicativo de apresentação de slides (Powerpoint e ApowerREC). Como no modo presencial, costumo transformar as apresentações em formato PDF e disponibilizar nas plataformas para os alunos terem o material para estudo posterior.

Segui no modo remoto com uma mesma estratégia que utilizo no modo presencial, ou seja, a utilização de, no mínimo, um texto por aula (geralmente artigo científico ou ensaio, mas, também, capítulos de livros, ou mesmo reportagens jornalísticas ou links diversos de notícias que podem despertar/suscitar discussões), para aperfeiçoar o hábito de leitura dos acadêmicos, futuros professores(as). Entretanto, mesmo com aulas quinzenais, os alunos(as) avaliaram como uma carga grande de leitura, tendo em vista o cansaço gerado por ficarem muito tempo diante das telas, aqui não considerando apenas a minha disciplina, mas o conjunto delas cursadas naquele semestre.

Também compartilhei vídeos de outros professores, vídeos de entrevistas, documentários nacionais e internacionais, filmes disponíveis e plataformas abertas (como YouTube, por exemplo).

Na disciplina “Saúde, Sociedade e EF”, denominei uma das atividades como sendo “Cinema & Saúde”, ou seja, a disponibilização de três audiovisuais em forma de documentários que apresentam contextos possíveis de serem relacionados às questões que envolvem saúde e sociedade, conforme quadro 2:

Quadro 2: Disciplinas ministradas no modo de ensino remoto (2020)

Documentário Link para acesso
Políticas de Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde (Ministério da Saúde/Fiocruz) http://www.ccms.saude.gov.br/videos/politicas-de-saude-no-brasil-um-seculo-de-luta-pelo-direito-saude
Super Size Me (EUA, 2004) https://www.youtube.com/watch?v=M_SBQ8xfUjE   
Bigger, Stronger, Faster (EUA, 2008) https://www.youtube.com/watch?v=ApAzA0swfPs

Fonte: O autor.

Os alunos comentaram que não conheciam tais produções audiovisuais e que elas permitiram ampliar o olhar em relação a uma ideia mais ampliada no que se refere às relações da saúde com a sociedade. Como atividade avaliativa, foram estimulados a tecerem um breve comentário, de no máximo duas páginas, articulando os produtos audiovisuais com as questões que estavam sendo debatidas ao longo da disciplina.

Nessa mesma disciplina, elaborei um pequeno canal de podcasts utilizando o aplicativo Audacity (que foram muito bem avaliados pelos alunos, comentarei posteriormente), o qual foi denominado como “Saúde, Sociedade e Educação Física: contexto brasileiro”, com as seguintes temáticas/conteúdos de acordo com o quadro 3:

Quadro 3: Canal de Podcasts “Saúde, Sociedade e EF: contexto brasileiro”

Podcast Convidados(as) Síntese
Podcast 1 Cristiano Mezzaroba (Professor disciplina) O podcast comentou quanto às possibilidades da temática da saúde com o audiovisual, trazendo alguns exemplos de filmes e documentários, tanto aqueles que seriam oferecidos pela disciplina, como tantos outros do cinema comercial e não comercial.
Podcast 2 Profa. Dra.Priscilla De Cesaro Antunes/UFG, abordando quanto à “Filosofia do Bem Viver” e Prof. Dr.Heitor Martins Pasquim/UFG, tratando sobre a determinação social do processo saúde-doença de acordo com a Corrente Latino-Americana de Medicina Social. O podcast focou-se nas relações entre;Educação Física e Saúde Coletiva, abordando sobre a dimensão dos;Determinantes Sociais da Saúde (DSS), no sentido de compreender a saúde nãoapenas sob a perspectiva biológica, mas como ela é determinada socialmente, apartir de um conjunto mais amplo das condições materiais e objetivas da vida.
Podcast 3 Profa. Esp.Marília Alves/Residente Saúde Mental, HU/UFS, tratou sobre as PICs e suas experiências em Aracaju/SE.
Prof. Dr. Victor Machado de Oliveira/UFAM, abordando sobre o campo da Saúde Coletiva no Brasil e as relações da EF com a Saúde Coletiva.
Podcast comentando quanto às possibilidades que temos, na EF, com seus conteúdos tradicionais e que agora também são conhecidos (fora do contexto escolar), como PICS – Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.

Fonte: O autor.

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A possibilidade com a comunicação a partir da “cultura dos podcasts” se amplia, ainda mais considerando a necessidade de oferecermos conteúdos para além do formato de aula on-line. Nesse sentido, os programas em formato podcasts acabam servindo para expor novos conteúdos, inclusive trazendo convidados (como optei em fazer); trazer relatos de acontecimentos e contextualizá-los em relação à centralidade temática da disciplina; trazer uma conversa com outros profissionais/especialistas, em forma de bate-papo quanto a algum tema, conceito, projeto, alguma polêmica etc.; e, claro, principalmente trazer um debate informacional sobre temas diversos.

Embora tenha sido uma experiência com poucos programas – tendo em vista que cada um deles demandava organizar a escrita de um roteiro, convites aos convidados, edição no programa e disponibilização em forma de arquivo de áudio e posterior envio aos alunos(as) nas plataformas de ensino – a avaliação dos acadêmicos foi muito elogiada e positiva, como podemos constatar segundo algumas falas no dia da avaliação da disciplina:

"Modo diferente de estudar" (Aluno 1)
"Gostei bastante, pode ter mais, pois podem ser ouvidos em vários momentos" (Aluno 2)
"Estudei ouvindo, porque sou mãe, pude estudar cuidando das crianças" (Aluna 1)
"Nunca tinha escutado, foi uma coisa diferente e gostei" (Aluna 2)
"Deveria ter tido mais! Levar adiante a ideia!" (Aluna 3)
"Escutei todos e foram proveitosos" (Aluna 4)

Ainda em relação a essa mesma disciplina, também criei um evento como estratégia nessa disciplina de trazer convidados e convidadas para abordar temáticas pertinentes às questões sobre saúde e EF brasileira (também foi uma atividade muito bem avaliada pelos participantes). O evento foi denominado “Conversas com convidados(as) – Saúde, Sociedade e Educação Física: contexto brasileiro”, conforme organização do quadro 4 abaixo quanto aos nomes desses(as) convidados(as) e suas temáticas:

Quadro 4: Professores e professoras convidados na disciplina

Convidado(a) Temática abordada
Prof. Dr. Edgard Matiello Júnior (UFSC) Educação Física e Saúde Coletiva
Profa. Ms.Flávia Cristina Silveira (ESTÁCIO – Aracaju/SE) Relações entre Educação Física e Saúde
Profa. Dra. Priscilla De Césaro Antunes (UFG) Práticas corporais
Prof. Dr.Alex Branco Fraga (UFRGS) Biopolítica informacional
Prof. Dr.Bráulio Nogueira de Oliveira (Instituto Federal do Maranhão) Relações entre Educação Física e Saúde e aplicativos fitness

Fonte: O autor.

Essa atividade também foi muito bem avaliada pelos alunos e alunas de forma unânime, sendo que a atividade avaliativa seria a elaboração de um relatório constando uma síntese das abordagens desses professores e um comentário sobre os aprendizados em relação às suas falas ao final da disciplina. Comentarei, no próximo tópico, que uma excelente possibilidade que o ensino remoto nos apresentou foi acionar nossa rede de contatos com professores e professoras espalhados pelo país, movimento que garantiu excelentes momentos formativos neste período, o que é um avaliação minha, pessoal, como professor e organizador desses “encontros”, mas, também, foi constatado como uma avaliação dos alunos e alunas, pois tiveram contato com pesquisadores renomados do campo da Educação Física brasileira, uma experiência que geralmente temos quando vamos a eventos presenciais, como congressos da área.

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Por fim, optei por uma atividade avaliativa em forma de elaboração de ensaios, ou seja, uma modalidade de texto acadêmico utilizado nas mais variadas áreas, desenvolvendo uma temática em específico e expondo pontos de vista com certo aprofundamento e embasamento teórico-conceitual. Os acadêmicos foram desafiados a elaborarem, então, ensaios que envolvesse a seguinte temática: “Saúde, Sociedade e Educação Física – a experiência social de viver na/com a pandemia”, explorando uma variedade de questões, como: valores humanos, tecnologias, cultura, saúde x doença, ciência, esporte, política (governos), religião, mídia, educação, academias de ginástica, fake news etc.

Os ensaios foram realizados em grupos de até cinco pessoas. Um grupo desenvolveu o ensaio “Sacrifício do corpo nas atividades esportivas em busca da glória”; outro, sobre “Ciência na pandemia”; e esses dois – “Consequências das fake News na sociedade em tempos de pandemia” e “Covid-19: o impacto da quarentena sobre o nível de atividade física” – foram ajustados, revisados e melhorados e, assim, publicados em um blog.

Os estudantes não sugeriram materiais ao final, mas avaliaram como muito positivo o fato de eu ter diversificado as estratégias e a organização com as disciplinas. Uma das sugestões, na disciplina optativa de Tópicos II, foi de ter mais encontros síncronos, lembrando que, conforme apresentado acima, as aulas no formato on-line nessa disciplina ficaram em 40% do total dos encontros.

Durante o ensino remoto, não tive problemas ou dificuldades didáticas com o manejo da tecnologia, porque, como já observei, ao menos o “básico” eu consigo utilizar, além do mais, conforme sinalizado, antes de iniciarmos o modo remoto, os cursos que fiz em várias plataformas me ajudaram a sanar algumas dúvidas e apontar possibilidades. Entretanto, algumas dificuldades de toda ordem apareceram:

O modo de ensino remoto também me estimulou a criar um novo projeto de extensão para ocorrer prioritariamente em formato remoto, de acordo com Edital PROEX-PIAEX Nº 08/2020 – Cadastro de Projeto para Desenvolvimento Remoto, sob o título “Corpo, Saúde e Salutogenia na pandemia covid-19: produção de produtos audiovisuais e textuais”, em que foi composta uma equipe pelos professor coordenador e subcoordenador, dois voluntários alunos da pós-graduação em Educação da UFS, além de cinco alunos bolsistas e dois alunos voluntários, todos do curso de Licenciatura em Educação Física da UFS.

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Realizamos reuniões de estudos, principalmente para tomar contato e apreender conceitualmente e metodologicamente as questões que envolvem “Salutogenia” e as possibilidades com a Educação Física, bem como, nessas reuniões, também íamos nos organizando para as tarefas, ou seja, a concretização da elaboração dos produtos audiovisuais/textuais para serem gerados pelo projeto, isto é, o audiovisual de cinco minutos de duração em formato .mp4 contextualizando a pandemia Covid-19 e a dimensão salutogênica a partir de relatos do cotidiano de três cidadãos sergipanos; o banner digital em formato .jpg contendo a pesquisa dos memes que abordaram corpo e salutogenia na pandemia (agrupados em cinco temáticas) e os slides em formato .ppt contendo o acompanhamento de março/2020 a novembro/2020 nos portais UOL e G1 – no momento em que escrevo este relato, estão sendo produzidos três relatos de experiência para serem enviados ao Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE), a ser realizado também em modo virtual, em dezembro/2021.

Em meio a isso tudo, as atividades de orientações de iniciação científica, de monografia, de pesquisas de dissertação de mestrado, reuniões (de colegiado, de departamento, de pós-graduação etc.) iam acontecendo, ou seja, nossas rotinas administrativas e pedagógicas seguiram-se, mas de dentro de nossas casas. Esgotamo-nos diante das telas. Tivemos crises de ansiedade constantes (certamente um dos relatos mais corriqueiros de professores atuando em modo remoto foi este).

Enfim, este foi o jeito que fizemos para “nos virar”, e aqui, um testemunho do jeito que procurei garantir minimamente uma qualidade pedagógica diante da angústia e da tristeza do momento, que ainda hoje, junho de 2021, insiste em perdurar e nos assustar. Ter nossos colegas professores e professoras nos ajudando, mesmo a distância, contribuindo com nossas disciplinas, aceitando nossos convites em meio ao caos que a vida de cada um se transformou, certamente foi uma grande e positiva lição desses tempos de ensino em modo remoto. Muitos agentes reconhecidos no campo da Educação Física brasileira, que eram acionados nas disciplinas em forma de seminários de seus livros ou artigos, estiveram presentes de forma virtual com as turmas, e isso foi uma experiência bastante significativa!

Mesmo procurando ser um entusiasta das mídias e tecnologias (conforme expusemos em SANTOS; SANTOS & MEZZAROBA, 2021), até porque foram os recursos que tivemos neste momento, não posso deixar de registrar que não fomos formados para sermos empreendedores na educação, e essa lógica do empreendedorismo, quanto atuante no campo educacional, nos desgasta, nos responsabiliza para mais questões técnico-instrumentais das quais não somos preparados e talvez nem devemos ser (isso demanda ter bons equipamentos, treinamento constante, tempo), porque nosso foco deixa de ser o conteúdo, o estudo, a pesquisa, para nos tornarmos em sujeitos que se preocupam em produzir materiais cujo foco está mais na “forma” (imagética, espetacular) do que no “conteúdo” (qualificado, amplo, crítico).

Quando recupero todas essas recentes experiências pedagógicas em uma única disciplina da graduação entendo o porquê de ter chegado ao final do semestre completamente esgotado físico e psicologicamente. Passamos por muito estresse, muito esgotamento, e isso gerou somatizações, principalmente na forma de ansiedade. O mesmo certamente não foi diferente para com os alunos e alunas, pois vimos um processo de evasão do alunado, em torno de 10 a 15% entre o começo e o final do semestre, ou seja, acadêmicos desistindo das disciplinas (e que muito provavelmente já no segundo semestre do modo remoto ocorrendo, esses dados serão maiores ainda).

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Avaliando essa experiência pelo meu olhar e pelo olhar dos meus alunos e alunas

Sob minha análise, considero ter me aventurado a fazer muitas coisas diferentes, que, até então, no modo presencial, não fazia: elaborei roteiros para vídeos, videoaulas e podcasts, gravei e editei vídeos, gravei e disponibilizei podcasts, contactei muitos colegas professores e professoras de várias partes do Brasil para contribuírem nas disciplinas; li, corrigi e revisei vários textos, produzi apostilas, e, como habitualmente, preparei muitas aulas e as disponibilizei em formato apresentação para meus alunos e alunas.

Na minha análise, de alguém que já elaborou materiais didático-pedagógicos para cursos à distância, em que, na condição de professor conteudista organizamos e selecionamos o material que servirá como apoio teórico-conceitual de forma dialogada, agora no modo remoto emergencial, cada um de nós teve que ser professor conteudista, diagramador, avaliador, organizador, proponente das aulas etc.

Enquanto nos formatos a distância há vários setores que realizam diferentes tarefas para se chegar a um produto comum, no ensino remoto tivemos que nos virar com absolutamente tudo, e apesar de ter sido uma experiência nova, desafiadora e rica, também foi uma experiência de esgotamento, de angústia, de sobrecarga absurda de trabalho e tarefas, de ansiedade, dos mais variados medos, como o medo de não dar conta do que nos propomos realizar e, principalmente, de nada dar certo diante dos nossos alunos e alunas.

Fui considerado pelos alunos – ao menos durante uma avaliação final na disciplina de “Saúde, Sociedade e EF”, ofertada no segundo período do curso de Licenciatura em EF – como o professor que, naquele período, mais diversificou formas didáticas no modo remoto, com o uso de recursos midiáticos e tecnológicos. Sim, é um elogio, gratificante, inclusive. Entretanto, o vi como uma obrigação, porque venho, há anos, estudando mídias e tecnologias. Ao mesmo tempo, isso criou uma carga de responsabilidade em mim que gerou muita ansiedade, que é diferente daquele “nervosismo” que temos no modo presencial a cada vez que preparamos e entramos na sala para iniciar nossas aulas.

Nas conversas com os alunos(as), eles enfatizaram que todos os professores “naturalizaram” a cada aula assíncrona disponibilizar textos para ler, o que gerou uma carga de leitura diária na qual eles não deram conta de realizar, frustrando-os. Precisamos, então, repensar essa estratégia de ocupar aula assíncrona com leituras, sejam leituras complementares, sejam aquelas para antecipar a aula seguinte. Na verdade, precisamos considerar que o “espaço” das aulas assíncronas é o momento para pensarmos em ação, outras formas de tarefas, não apenas disponibilizando textos (artigos, ensaios, capítulos, reportagens etc.) e não pensando em usos de vídeos que encontramos em plataformas abertas.

Os participantes também avaliaram como positiva a experiência de se seguir de maneira adequada o planejamento pensado no começo do semestre, pois, segundo suas posições, isso permitiu que se organizassem melhor diante das circunstâncias de cada um(a) deles(as). Isso me leva a pensar que os problemas que temos no modo presencial também possivelmente ocorreram no modo remoto, ou seja, precisamos ser “modelos” aos nossos alunos e alunas em relação à adequação dos nossos conteúdos ao nosso planejamento. Entendo a importância da estratégia das readequações (que podemos chamar de “improvisos”), afinal, o contexto, mais do que nunca, exigiu isso. Mas é importante que saibamos desenvolver nossos cronogramas e planejamentos de modo a não confundir nossos alunos(as).

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Outra estratégia que foi muito bem avaliada pelos acadêmicos(as) foram as participações externas das disciplinas – e aqui me permito exemplificar para além da disciplina em que trouxe os detalhes, “Saúde, Sociedade e EF” – o que amplia os contatos e coloca pesquisadores e alunos frente a frente a ponto de aprenderem com aqueles/as que eles se acostumaram a ver em artigos, em livros ou mesmo em eventos científicos.

Por fim, penso que em meio a tantas dificuldades geradas pela pandemia, em meio à tamanha insegurança quanto à vida, em meio ao enclausuramento há mais de um ano (para quem acredita e tem medo desse vírus novo e enigmático – infelizmente isso é importante de ser explicitado, pois vivemos no Brasil do negacionismo!), senti bastante insegurança didática e bastante ansiedade a cada aula síncrona.

Mesmo diante desse cenário, precisamos reconhecer que, com todas as críticas que temos em relação ao modo remoto, sua improvisação e toda a responsabilidade que recaiu sobre nossos ombros (dos professores e professoras!), ainda somos privilegiados em podermos trabalhar desse modo, apesar de termos trabalhado muito mais de dentro de nossas casas, com uma quantidade de e-mails com questões profissionais a serem respondidos, com o aplicativo de mensagens WhatsApp sempre nos lembrando das respostas aos alunos e alunas com dúvidas ou querendo dicas, e com a responsabilidade de “alimentar” cotidianamente duas plataformas (no caso da UFS, o SIGAA e o Google ClassRoom).

Acredito, pelas conversas que tive, que esse sentimento foi generalizado. Particularmente, diante de tais desafios, minha estratégia foi diversificar formas em lidar com esse “modo novo”. Uma das mudanças que aprendi que preciso incorporar como ensinamento desse momento é que devo abrir mais possibilidades para a potencialidade da conversa com os alunos, deixando um pouco de lado o aspecto conteudista, permitindo-me dialogar quanto às impressões, dúvidas, questões gerais da disciplina, sua organização e suas tarefas avaliativas.

Além do mais, eu já costumava convidar professores e professoras para todas as minhas disciplinas no formato presencial, e agora, como aprendizado do momento, podemos convidar também pessoas de outras instituições neste formato virtual. Uma outra mudança é a elaboração de alguns produtos com os recursos tecnológicos, como a possibilidade de gravação de podcasts temáticos.

Notas finais – A certeza da importância da educação presencial: eis a grande lição para a sociedade brasileira decorrente da pandemia

Logo no início da pandemia, estando com minha família, eis que numa manhã de outono, bate à nossa porta a mãe de um colega da minha sobrinha, ambos estudantes de escola pública, completamente desesperada e falando rápido ao fazer perguntas à minha sobrinha em relação às tarefas passadas pelos professores. Uma das frases que escutei foi: “Como vou ajudar meu filho numa aula de Inglês se nunca tive Inglês e nem português eu sei direito?!”

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De lá para cá, meados de 2021, vimos e convivemos com tantos absurdos diários que comprovam que vivemos em um país doente, e não é só por causa da pandemia: socialmente, tornamo-nos uma nação doentia! Pais (principalmente oriundos da classe média) nas ruas manifestando-se a favor da volta às aulas presenciais mesmo com taxa altíssima de contaminação pela Covid-19 e hospitais abarrotados em todos lugares do Brasil; votação na Câmara dos Deputados tratando da “essencialidade” da educação, coincidentemente e paradoxalmente proposta por deputados de direita, apoiadores do governo federal negacionista, que nunca se preocuparam nas votações quanto aos orçamentos anuais a favor dos investimentos na educação pública (de repente, descobrimo-nos “todos” valorizando a educação!); e agora começam a aparecer projetos nos estados discutindo e aprovando (caso do Rio Grande do Sul, por exemplo) a prática do homeschooling, isto é, da educação domiciliar (alguns meses atrás, o discurso da necessidade das aulas presenciais, agora, a volta do projeto que quer “tirar os filhos das mãos de professores e professoras doutrinadores nas aulas presenciais das escolas”).

A pandemia e a situação do Brasil exigem que explicitemos quanto ao desinvestimento nas escolas e universidades públicas, sucateando-as ao máximo, projeto sempre bem elaborado das políticas (ultra)neoliberais em vigor com apoio, infelizmente, legítimo da população que mais precisava de educação e formação. Que se registre: o modo remoto foi o que pudemos fazer, diante de um sem-número de limitações, dificuldades, mas tentamos, realizamos, fizemos. Poderia ser melhor? Claro que sim, principalmente se um Ministério da Educação atuasse em prol das crianças e jovens e das famílias brasileiras garantindo, por um tempo, dispositivos tecnológicos e condições de conexão para esse modo remoto emergencial e temporário. Mas é compreensível diante da “lógica negacionista” atual: é mais importante comprar deputados dos mais diversos espectros políticos (principalmente o grupo conhecido como “Centrão”, que de centro não tem nada) para garantir-se no poder do que efetivamente colocar em prática os discursos tão nacionalistas e patriotas como ouvimos há algum tempo.

A vida tediosa e desmotivante foi a tônica desde o começo de 2020, não só para professores, mas para os alunos e alunas também. A situação dos riscos da contaminação com a Covid-19, associada à situação político-social do Brasil, desestimula “automaticamente” os jovens em relação às suas formações, o que já ocorria, inclusive, antes da pandemia. A nossa perda de contato corporal/presencial com nossos alunos e alunas encontra um efeito de perda de afeto, de distanciamento – e acredito, como aprendizagem desse período, que aprendemos a importância de estarmos em contato presencial! Políticos, profissionais da educação, empresários e muitos pais e mães, que outrora defendiam o “direito à educação domiciliar”, indo às ruas e cobrando dos governantes a volta ao ensino presencial, mesmo em momento preocupante, sem vacinação para a comunidade escolar, serão coerentes depois que a pandemia passar sobre essa “essencialidade” da educação presencial?

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Também se comprovou, ao menos para aqueles que não acompanham como realmente funciona a educação pública no Brasil, que não há democratização das tecnologias e do acesso à internet como um direito básico no século XXI. Durante a pandemia, os dispositivos tecnológicos encareceram, principalmente os preços de computadores e notebooks. Não precisamos argumentar muito quanto ao fato de que utilizar um dispositivo maior e mais adequado é melhor do que utilizar o celular ou o tablet para as aulas on-line. Não podemos naturalizar o entendimento de que há “igualdade” em relação ao acesso e usos de redes de internet adequadas, seguras e velozes, pelo contrário, o que há, é o reflexo de um país desigual evidenciando também a desigualdade nos dispositivos e nos acessos ao conhecimento e à informação pela internet.

Com o empobrecimento da população, livros também passaram a ser “produto de luxo”, ou seja, nem todos os estudantes podem adquirir esses materiais didático-pedagógico – e lembremos, também, que uma das propostas do Ministério da Economia, é taxar os livros! Triste país...

Havia muito “romantismo” em torno das tecnologias na educação, como se o Brasil fosse um país rico (em 2020, 12ª economia mundial, em 2021, projeção para ocuparmos a 13ª posição – mas já chegamos a ser a 7ª economia mundial entre 2010-2014) que investisse seriamente em educação e formação. A pandemia só nos revela mais e mais mazelas e deficiências. E a educação configura-se, cada vez mais, como um dos campos da sociedade que mais tem sofrido, vide a desvalorização dos professores diante do cenário.

Acredito que podemos tecer críticas também à forma como tudo foi jogado sob a responsabilidade dos professores, com baixos salários, tendo que “se virar”, agora, a terem boas tecnologias dentro de suas casas, bancando tudo, para fazer a educação acontecer. Professor com domínio de conteúdo precisa de tempo para se preparar, para ler, para escrever, para participar de formação. Com o cenário de pandemia, individualizados em suas casas, com pais vigiando suas aulas, muitos deles agindo de maneira arrogante e dizendo como deve ser o trabalho do professor, tudo vai se revelando como desmotivador. E lembrar que professor não é empreendedor, como os discursos atuais "romanticamente" advogam, assim como nosso mais profundo voluntarismo não será salvacionista de nada.

As redes de contato foram e estão sendo muito importantes para enfrentar essa situação, somos constantemente acionados auxiliando nossos colegas, ao mesmo tempo em que todos os dias, de algum lugar, alguém nos ajuda com seus conhecimentos e experiências diante das múltiplas telas. E fica a certeza de que educação boa e eficiente é aquela que se efetiva em contato presencial e corporal com o outro, na escola, na universidade, para além do que o senso comum pensa sobre educação como “transmissão de conteúdos”.

Por fim, um registro em forma de homenagem: nunca tinha atuado nesta modalidade de ensino remoto, e aprendi que os agentes que fazem da educação e da formação um ato cotidiano e de transformação da sociedade, a partir de seus microcosmos de alcance, não têm barreira alguma para criar empatia com o outro. Este testemunho das minhas experiências é uma forma de homenagear o acadêmico de mestrado em Letras da UFS, Gabriel Souza Soares, que, com apenas 26 anos de idade e sem nenhuma comorbidade, em março de 2021, dois meses após termos finalizado a disciplina “Cinema, Imagem e Educação”, foi mais uma das 482.135 vítimas da pandemia de Covid-19 no Brasil.

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Referências

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Notas

1. Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFS). Coordenador do GEPESCEF - Grupo de Estudos e Pesquisas Sociedade, Cultura e Educação Física.

2. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã afirmou que o Brasil poderia ter sido o primeiro país no mundo a iniciar a vacinação, ainda em dezembro de 2020, com 10 milhões de doses da vacina Coronavac produzidas e disponibilizadas pelo instituto, mas não teve posição do Governo Federal, fato que nos levou a iniciar a vacinação apenas em 17 de janeiro de 2021. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/05/27/brasil-poderia-ter-sido-primeiro-do-mundo-a-vacinar-afirma-dimas-covas-a-cpi. Acesso em: 09 jun. 2021.

3. Sobre essas movimentações, ver: https://ensenanzaestudossociais.blogspot.com/2020/08/para-haver-uma-formacao-humanista-e_28.html.

4. Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Quasi incidunt amet voluptatibus illo distinctio, temporibus, at eos. Distinctio doloribus, asperiores.

5. Sobre isso, ver os trabalhos de Marques (2021), Alves (2020), Dias-Trindade, Correia e Henriques (2020), Nobre e Rodrigues (2020), Branco e Neves (2020), Rebelo, Silva e Nascimento (2020), Da Silva e De Lima (2020).

6. De maneira trágica, a sociedade brasileira infelizmente tem naturalizado um grande número de óbitos diários por Covid-19. Se no primeiro ano tornou-se comum a média de mil mortes diárias, em 2021 este número dobrou, atingindo nos primeiros cinco meses a triste média de quase dois mil mortos por dia.

7. Importante rememorar que meu ensino médio foi no formato técnico-profissionalizante em “Processamento de Dados”, única etapa de toda minha trajetória escolar realizada em escola particular, entre 1994 a 1996, sendo que em 1995 recebi de presente dos meus pais um PC (personal computer – um computador pessoal no formato de mesa), para poder compreender mais aquele universo tecnológico que o momento histórico começava a nos apresentar. Lembro que o valor de investimento para ter um PC em casa equivalia, naquela época, ao sonho de todo jovem em ter um “fusca”. Vivendo em uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul (Jacutinga), era, juntamente com outros três amigos, que também cursavam esse ensino médio profissionalizante em Erechim/RS, as únicas quatro pessoas que tinham computador com impressora em casa.

8. Com o título: “Estratégias discursivas no agendamento do esporte na mídia: o voleibol masculino do Brasil em Atenas 2004”

9. A dissertação foi assim denominada: “Os Jogos Pan-americanos Rio/2007 e o agendamento midiático-esportivo: um estudo de recepção com escolares”.

10. Cuja tese foi: “A formação e constituição de um subcampo acadêmico: a mídia-educação na Educação Física – configurações, perspectivas e inflexões”.

11. https://noticias.uol.com.br/colunas/tales-faria/2020/04/27/osmar-terra-que-previu-so-2100-mortes-por-coronavirus-mantem-analise.htm. Acesso: 10 jun. 2021.

12. Disponível em: https://ensenanzaestudossociais.blogspot.com/2021/04/consequencias-das-fake-news-na.html. Acesso: 11 jun. 2021.

13. Disponível em: https://ensenanzaestudossociais.blogspot.com/2021/04/covid-19-o-impacto-da-quarentena-sobre.html. Acesso: 11 jun. 2021.

14. O trabalho de Oliveira et al (2020) configura-se como um estudo com professores de uma cidade no interior do Ceará, os quais adotaram o modo remoto e o uso das TIC’s na educação básica. O estudo evidencia a falta de familiaridade com as tecnologias, mas também adaptação na aprendizagem com tais recursos. Apontam falhas na formação (inicial e continuada) e a precarização da profissão, falta de infraestrutura física e de recursos materiais, bem como, inacessibilidade aos meios tecnológicos, além de ausência de políticas públicas para inclusão digital dos sujeitos escolares. Devemos prestar atenção a esse tipo de pesquisa a partir de agora, para elaborarmos um cenário nacional e suas múltiplas realidades e recorrência de dificuldades e problemáticas decorrentes do modo remoto.

15. O trabalho de Da Pieve e Carloto (2021) também aborda as consequências do mundo do trabalho na classe trabalhadora, com ênfase à dimensão do trabalho remoto como medida adotada, assim como o teletrabalho nas universidades federais brasileiras, mostrando como a pandemia tem sido um “laboratório” para experiências do capital que só se potencializa com sua racionalidade neoliberal. Também Cruz e Venturini (2020) analisam o crescimento do uso de dados pessoais/públicos para utilização de aplicativos educacionais, sem um debate público que explicite os riscos e consequências para a educação pública brasileira, com a principal consequência da ampliação do setor privado e a diminuição do investimento no setor público.

16. Já encontramos relatos em dossiês de revistas científicas comentando sobre essa dimensão do esgotamento dos docentes devido ao modo de trabalho na pandemia, com a docência levada à exaustão, como o artigo de Saraiva; Traversini e Lockmann (2020) e de Bittencourt (2021).

17. O artigo de Vicente et al (2021) apresenta e discute os efeitos da Covid-19 na educação de crianças e jovens e os impactos sociais e educacionais (as dificuldades para acompanhar as atividades escolares; a ausência de dispositivos eletrônicos; a carência de materiais pedagógicos e a falta de apoio e acompanhamento dos pais nas atividades pedagógicas).

18. O artigo de Santos e Mendonça (2021) apresenta as dificuldades encontradas pelos estudantes diante da modalidade de ensino remoto na pandemia, principalmente pelas ênfases nos aspectos conteudistas e pouco relacional no trabalho de ensino-aprendizagem de crianças dos 9-11 anos, implicando, entre outras coisas, na falta de motivação para as aulas remotas.

19. O trabalho de Martins; Castro e Trancoso (2020) relata uma experiência inovadora e bem-sucedida, referente a uma etnografia online com docentes experienciando o modo remoto, a partir do cotidiano, com o Facebook, propondo, com isso, “uma nova lógica educacional”.

20. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/737836-bolsonaro-veta-ajuda-financeira-para-internet-de-alunos-e-professores-das-escolas-publicas. Acesso: 11 jun. 2021.

21. Elaboramos uma pesquisa documental acompanhando como a temática dos jovens apareceu em relação às questões da pandemia – “As juventudes na mídia durante a pandemia COVID-19: compreender para educar” (DA CONCEIÇÃO; MEZZAROBA E SANTOS, 2021).

22. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/08/17/reforma-tributaria-livros-didaticos-biblia-cbs-pis-cofins.htm. Acesso: 11 jun. 2021.

23. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/04/06/brasil-deve-cair-para-13a-posicao-entre-maiores-economias-do-mundo-este-ano-aponta-fmi.ghtml. Acesso: 11 jun. 2021.

24.Até o dia 10 de junho de 2021, conforme informação disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/06/10/covid-19-coronavirus-casos-mortes-10-de-junho.htm. Acesso: 11 jun. 2021.