AUTORAS

Mariana Mendonça Lisbôa

Ana Paula Salles da Silva

Capítulo 4
Organização escolar e práticas docentes frente às demandas do Ensino Remoto Emergencial

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O Grupo de Estudos e Pesquisas em Conexões entre Prática Corporais, Tecnologias e Inclusão/ConnectLab da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás tem como objetivo geral problematizar questões relativas à inclusão e às Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação e nesse momento de distanciamento social que estamos vivendo, devido ao vírus SARS-COV-2, percebemos a necessidade de agregar professores para o diálogo acerca da docência na modalidade do Ensino Remoto Emergencial. Assim, foi desenvolvido pelo ConnectLab um Ciclo de Lives que teve como temática central a docência em Educação Física durante a pandemia. Um espaço no qual alguns professores convidados, em função de sua história acadêmica e de sua atuação profissional, puderam compartilhar suas experiências docentes. Um momento em que foram ouvidos sobre as suas inseguranças quanto à modalidade de Ensino Remoto Emergencial, sobre os caminhos que estão trilhando na prática docente e o que pensam acerca da educação daqui para frente.

O presente texto é uma edição revisada, com alteração de conteúdo, da entrevista realizada em 17 de junho de 2020 com a Profa. Dra. Mariana Mendonça Lisboa, durante o Ciclo de Lives. A revisão e publicação dessa entrevista em formato de texto tem por intenção complementar algumas das ideias que foram compartilhadas naquele momento e potencializar a divulgação dos saberes acerca da experiência vivida pela professora e seus pares no período da pandemia.

Ana Paula: Boa tarde, Profa. Mariana. Agradeço por ter aceitado nosso convite e digo que é uma alegria tê-la conosco nesta Live. E aproveito para destacar que o Ciclo de Lives foi a forma como nós do ConnectLab encontramos para buscar partilhar e refletir experiências docentes acerca desta condição singular que estamos vivendo devido à pandemia da Covid-19.

A Profa. Mariana é doutora em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina, professora da rede municipal de ensino de Florianópolis/SC e pesquisadora dos temas Educação Física, Escola e Mídia, com vários artigos e capítulos de livros publicados. E para iniciar esta nossa conversa, peço que nos dê mais detalhes de sua formação acadêmica e de sua atuação profissional.

Mariana: Primeiro quero agradecer o convite. É uma grande satisfação estar aqui conversando sobre a escola, sobre a educação que, como você bem colocou, está passando por um momento bastante peculiar. Para quem não me conhece, vou me apresentar inicialmente. Eu sou a professora de Educação Física Mariana Mendonça Lisbôa, de Florianópolis, Santa Catarina, lugar onde nasci e me formei. Realizei toda a minha formação acadêmica (graduação, especialização, mestrado e doutorado) na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A minha trajetória acadêmica é voltada para os estudos e as pesquisas no âmbito da educação, mais especificamente da teoria e prática pedagógica da Educação Física, e na perspectiva da Mídia-Educação, ou Mídia-Educação Física, que é pensar a interface entre comunicação/mídias e educação. Desenvolvi estudos e pesquisas nesta área, junto com um grupo – em uma perspectiva coletiva e colaborativa - o LaboMídia (CDS/UFSC), que é o Laboratório e Grupo de Estudos Observatórios da Mídia Esportiva. Tive o Professor Dr. Giovani De Lorenzi Pires, como meu grande mestre e orientador. Em 2003, junto com ele e outros estudantes da pós-graduação, fundamos o grupo, na UFSC. Período no qual, recém-licenciada, eu também me inseri na escola, como professora de Educação Física. Desta forma, a minha trajetória profissional, não apenas na pesquisa, voltou-se para a escola, mas também sempre estive inserida no ensino, na escola. A escola é meu chão de atuação e vivência pedagógica. Há 17 anos atuo na rede municipal de ensino de Florianópolis. Inicialmente trabalhando como professora substituta e, desde 2006, como professora efetiva, após aprovação em concurso público. Nessa trajetória também tive incursões no Ensino Superior, onde lecionei por cinco anos para o curso de Educação Física, licenciatura e bacharelado, da Faculdade Metropolitana de Blumenau (FAMEBLU/ UNIASSELVI), e em cursos de especialização. Atualmente sigo na escola. Na escola que me efetivei em 2006: a Escola Básica Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, localizada no Campeche, uma praia linda, de Florianópolis (SC). Desde então, há 17 anos, estou na escola. E, como sempre gosto de falar, a escola não é um lugar distante e teórico para mim, como pesquisadora. Além de estudar e refletir sobre a educação (física), eu vivo a escola, meu dia a dia é na escola. O chão da escola me constitui e constituiu profissionalmente. Quero também agradecer aos meus colegas professores. Pois, a minha fala aqui hoje, não vem sozinha. É uma fala que, em grande parte, traz contribuições e experiências vividas coletivamente com os meus colegas da Escola Brigadeiro, uma escola pública municipal. Quero agradecer a eles pelas trocas de experiências, as parcerias, e dizer que é um desafio estar aqui falando sobre a nossa experiência na Escola, mas dizer que é uma grande honra também.

Ana Paula: Adentrando a temática da pandemia, gostaria que falasse um pouco sobre como foi esse movimento de paralisação das escolas na cidade de Florianópolis. Como é que os professores reagiram? Como você percebeu que a cidade sentiu a necessidade de fechamento das escolas? O que você pode falar sobre isso para nós?

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Mariana: Paralisamos nossas atividades em meados de março. Florianópolis foi uma das primeiras cidades a paralisar suas atividades. Exatamente no dia 13 de março, em uma sexta-feira, a prefeitura lançou um decreto com algumas medidas de cuidado e orientação. Na segunda-feira, chegamos na escola com o aviso sobre o coronavírus. Faço parte, também, do Conselho Escolar, que é uma instância democrática e representativa da escola, constituída por pais, professores, estudantes. Imediatamente, na própria segunda-feira, chamamos uma reunião emergencial do Conselho. Porque nossa escola tem quase 900 estudantes. É uma escola grande. E aquela notícia do vírus nos preocupava. As medidas de cuidado e segurança, colocadas no documento da prefeitura (como, o álcool gel, distanciamento, retirada de equipamentos coletivos, como bebedouros, entre outros protocolos), não apresentavam viabilidade imediata de efetivação na escola. Então, na segunda-feira, dia 16 de março, realizamos uma reunião do Conselho Escolar, com a participação de pais, estudantes, professores e do diretor, para analisar a adequação das normas. Começamos a perceber que era inviável e inseguro o contexto escolar com a circulação do vírus. Fizemos um relatório com análise de todos os itens colocados e apontamentos de pesquisas para apresentar a prefeitura. Uma forma de pressionar o executivo, para constatar a impossibilidade imediata de cumprir as orientações sanitárias de segurança de forma eficiente, por conta das características da educação e da nossa escola. Sugerindo a necessidade de isolamento social. Porém, no dia seguinte, na terceira-feira, 17 de março, constatamos nossa sintonia com os estudos e recomendações que se veiculavam. A prefeitura de Florianópolis, baseada em evidências científicas de distanciamento social, reformulou o decreto, suspendendo as aulas a partir do dia 18 de março. Inicialmente, foi encaminhado que os professores e estudantes teriam o recesso escolar de julho adiantado. Quinze dias de recesso na escola. Fomos para nossos lares, para o isolamento social, e durante 15 dias ficamos em casa, nos cuidando, sem obrigações profissionais. Com o início de abril, e o fim do período de recesso, começou a surgir as normativas para regulamentar e estabelecer o chamado teletrabalho. Denominação estabelecida para o trabalho mediado pelas telas, pelas tecnologias, à distância. Começou a ser exigido que nos reorganizássemos para, de alguma forma, manter o vínculo com os estudantes. Essa era a proposta inicial. Nesse sentido, a prefeitura lançou um Portal Educacional, uma plataforma digital, em que os professores depositam os conteúdos/ atividades. Primeiro, as ações surgiram individualmente, por parte de alguns professores de diferentes escolas, que colaboravam com um único Portal, da rede municipal de ensino. Depois, com a instituição do teletrabalho nas escolas, e o empenho dos professores de Tecnologias Educacionais – particularmente da professora Greyce Bresan, em nossa escola - começamos o movimento de entrar institucionalmente no Portal Educacional, após cada escola criar sua página, seu espaço dentro dessa plataforma digital. Assim, começamos a organizar nosso trabalho no Portal da Escola Brigadeiro. Inicialmente, nossas ações e reflexões foram no sentido de ir contra esse processo a distância no Ensino Fundamental. Resistência! Porque tínhamos claro que uma educação pública de qualidade, para todas as crianças e jovens, não era possível dessa forma. Mas, com o tempo e com as exigências que nos foram colocadas, de elaborar um projeto emergencial, começamos a pensar em alternativas. Um trabalho de muito estudo, muita reunião, muitas dificuldades e muitos medos, para elaborar um projeto de ação – que nos foi solicitado. Com pouquíssimo tempo, e sem a formação e profundidade de estudos adequados. Em nossas inúmeras reuniões, agora mediadas pelas tecnologias - os chamados encontros virtuais - começamos a elaborar nossa pergunta de partida. Para que fosse possível pensar o que estava posto: o ensino remoto. Que entendíamos ser diferente de uma educação a distância.

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Ana Paula: Antes de você abordar mais sobre esta questão de partida que motivou as ações institucionais da sua escola, gostaria de salientar que esta diferenciação que você faz entre Educação a Distância e Ensino Remoto Emergencial é importante, pois pode parecer equivocadamente que estamos tratando do mesmo assunto. Sendo necessário destacar que há diferenças entre estas modalidades de ensino, e que o que estamos vendo neste período é uma experiência de Ensino Remoto Emergencial, que é algo inusitado e que está sendo construído na medida da necessidade.

Mariana: É, isso mesmo! É bem importante pontuar as diferenças e limites. Porque, como colocado, para nós ficou claro, desde o início, que não era possível e nem viável uma educação a distância no Ensino Fundamental. A Educação a Distância é uma modalidade da educação que possui uma forma de organização e estrutura específica que é muito séria, no sentido de ter práticas e dinâmicas estruturadas - estratégias de ensino - que não são possíveis com crianças ou viáveis em termos de estruturas para o momento/contexto vivido. E é importante frisar, também, que não foi viabilizado estruturas e recursos. Nós, professores, fomos colocados no olho do furacão, com nossos próprios e escassos recursos, tendo apenas a plataforma digital, o Portal da Brigadeiro, como repositório digital de atividades não presenciais. Sabemos que tem experiências diversas no Brasil, com utilização de outras plataformas, de outros recursos, com mais formações. Mas, o que temos no momento é esse Portal virtual. Nesta perspectiva de ensino remoto, não há sincronicidade da ação do professor e estudante. O professor deposita a atividade e o aluno em um dado momento vai acessar. Não há a interação síncrona, como estamos fazendo aqui, no mesmo espaço (virtual) e tempo.

Retomando a questão de partida de que eu falava, a escola se organizou a partir de um projeto de ação fundamentado na ideia de que tínhamos alguma contribuição a fazer nesse momento. E a nossa pergunta, nossa problematização era: qual a contribuição da educação (física) para a formação humana dos estudantes no contexto do isolamento social vividos pela Covid-19?

Ana Paula: Esta questão que você apresenta é muito instigante, porque não se trata de pensar apenas em como viabilizar o acesso e qualidade de acesso aos conteúdos curriculares. A questão nos faz refletir sobre qual o papel da escola frente ao momento social que estamos vivendo. E como vocês desenvolveram este projeto de ação?

Mariana: Isso, enfrentamos o desafio coletivamente. Por exemplo, a supervisora junto com a equipe pedagógica da escola, fez um questionário on-line para os professores, perguntando: devemos fazer? O que vamos fazer? Como vamos fazer? E a resposta da maioria dos professores foi de que devíamos fazer alguma coisa. Mas, alguma coisa na perspectiva de projeto, que era algo diferente do que simplesmente seguir o currículo, como se o barco estivesse afundando e fôssemos continuar tocando a música, ignorando o contexto/situação ao nosso redor. Não! Mas algo que pudesse contribuir para o momento, para a formação humana dos estudantes no momento de isolamento social.

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A partir daí, delineamos algumas estratégias. Por exemplo, a interdisciplinaridade, pensando a contribuição de cada conteúdo/área para o projeto de forma interdisciplinar – quando possível. As ações coletivas e colaborativas. Como somos uma escola grande, às vezes, temos vários professores da mesma área. Na Educação Física, por exemplo, temos seis professores. Quatro trabalham com a Educação Física curricular. No momento, estou na coordenação de projetos e na articulação pedagógica da Educação Física e do Grêmio Estudantil. Ainda tem a professora Adriana Werner, que é do projeto de jornada ampliada, da educação integral. Então, somos seis professores. Assim, nos propusemos a pensar juntos a área, e de forma interdisciplinar, colaborativamente. Porque, não podemos esquecer, esse era um momento difícil, de grandes dificuldades para todos. E nós professores também estávamos passando por muitos desafios. Muitos professores com dificuldade em relação ao acesso e uso das tecnologias, medos com o vírus, a dificuldades de ter que conciliar no mesmo espaço/tempo: filhos, casa, trabalho, enfim, muitas coisas novas para dar conta. Não podemos perder de vista a questão da humanidade, do resgate da condição humana também nesse contexto.

Ana Paula: Profa. Mariana, você aborda duas questões em sua fala. Primeiro vocês professores mantiveram o exercício do diálogo entre si, que dá a condição de acesso ao saber do outro, e buscaram fazer isso mesmo nas condições desfavoráveis. Assumindo o desafio da interdisciplinaridade e da ação colaborativa, como uma possibilidade de buscar soluções mais eficazes no momento e que no caso de vocês tem sido organizado por área. A segunda revela as dificuldades da vida cotidiana dos docentes e a necessidade de manter a sensibilidade e o cuidado conosco e com os outros. Saber que estas questões perpassam o projeto de ação de vocês revela o compromisso assumido com a qualidade do ensino e com a qualidade de vida de professores e estudantes.

Neste momento, a Profa. Flórence, que pertence ao ConnectLab, nos encaminhou um pedido para você continuar abordando o desenvolvimento do projeto de ação da escola. E complementando o pedido da Profa. Flórence, peço que nos relate como foi a chegada ou diálogo acerca desse projeto aos pais, à família. E como a família tem se colocado junto às atividades a serem realizadas pelas crianças?

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Mariana: Sobre a questão dos desafios, percebemos que a comunicação, no contexto de isolamento, está diretamente relacionada ao uso/acesso à tecnologia. O contato que temos hoje, com as famílias e os estudantes, é mediado pelas tecnologias/mídias. Nesse processo, temos vários sujeitos e pontos de vista. Podemos olhar pelo lado do professor, como estou te falando, as exigências que nos foram colocadas e, muitas vezes, cobradas e que questionamos, refletimos e organizamos. O olhar do estudante, do aprendiz, e que também nos deu informações. Fizemos um diagnóstico com os estudantes em algumas situações, e mantemos o diálogo com os pais. Os pais, por exemplo, através do Conselho Escolar, nas reuniões mensais, em que trazem as contribuições, opiniões, como representantes do segmento. Os canais de comunicação estão sendo criados e organizados na medida do possível. Ainda vemos muita angústia e dificuldade dos pais e dos estudantes no processo comunicativo e educativo colocado. O olhar dos pais é um pouco diferente, porque demanda deles algo que, talvez, muitos não estejam preparados ou não têm condição, que é a mediação do trabalho pedagógico e tecnologias. Os pais entram como uma figura fundamental no ensino remoto, pensando principalmente nas crianças pequenas, do primeiro ao quinto ano. Necessariamente vai ter outro sujeito na aprendizagem, que é o pai ou as famílias que vão ter que dar o suporte para o estudante, para esse aprendiz no contato com as tecnologias e novos processos de atividades não presenciais. E, muitas vezes, sabemos que não tem, não existe, não há, ou há muita dificuldade. E há esse embate da escola com a família, em alguns momentos, porque a família não consegue dar conta, reclama. Em relação a isso, por exemplo, vemos que o acesso e o retorno dos estudantes dos Anos Finais, que já possuem mais autonomia no uso dos meios de comunicação, autonomia nos estudos, são maiores do que o dos pequenos, que dependem do pai e da mãe, que está trabalhando, que está com muitas dificuldades colocadas nesse contexto. E sabemos que é difícil. Buscamos dialogar nas redes sociais, nos grupos de Whatsapp. Mas, tudo de forma ainda bem artesanal, podemos assim dizer, porque estamos construindo do zero e com poucos recursos. Na Educação Física, por exemplo, fizemos como primeira ação um diagnóstico com os estudantes. Um formulário on-line para saber como estava a realidade vivida. O que eles estão fazendo em casa, como estar viver no isolamento. Nossa preocupação é essa, nesse momento, e nos fez olhar para a realidade dos estudantes de forma muito sensível. E, falando um pouco dos dados, vimos que muitos dos pais estavam trabalhando em casa, praticamente metade. Muitos não tinham irmãos ou outras crianças para brincar, 25% estavam sozinhos, por exemplo, não tinham outra criança. Começamos a pensar a realidade, e a contribuições da Educação Física, nas interações ou possibilidade de corpo em movimento. Pensar a brincadeira no contexto da casa, como que será possível? Enfim, saber um pouco do momento para poder planejar. Esse foi o momento inicial. Estamos agora em um momento de aprofundamento, de reformulação das estratégias e experiências a partir do retorno e das reflexões que estamos fazendo constantemente, coletivamente, para pensar e repensar nossa prática.

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Ana Paula: Parece-me que a preocupação que relatas acerca de como estabelecer os processos comunicativo e educativo no Ensino Remoto Emergencial acomete a todos nós docentes neste momento, mas talvez as estratégias que buscaram não seja como a de todos, como no caso do diagnóstico específico da área da Educação Física para compreender o cotidiano das crianças e que possibilita pensar estratégias pedagógicas que sejam viáveis e significativas.

Penso que seria de grande contribuição para nós docentes ouvir mais sobre as experiências de vocês, sobre as estratégias adotadas. Visto que o contato com novas experiências possibilitam novas olhares sobre a nossa prática pedagógica.

Mariana: Neste momento, em que nos encontramos isolados ou distanciados, tenho observado o movimento maior de aproximação, de diálogo maior, entre os pares. Como nessas Lives e tantas outras que têm acontecido, mas, principalmente, na escola, entre os professores. Buscamos criar grupos de apoio, fortalecer e divulgar os canais, para conseguirmos juntos pensar em alternativas. Alternativas que fortaleçam a nossa ação humana e a nossa atuação pedagógica. Vou relatar um pouco das experiências da Educação Física, e de alguns outros colegas. Posteriormente, quem tiver mais interesse pode entrar nas redes sociais da Escola Brigadeiro Eduardo Gomes (@escolabrigadeiro), e lá na página vocês terão acesso a alguns dos projetos que eu vou falar. E é legal, pois vamos fortalecendo os meios de nos comunicar apesar de estarmos distantes. Na Educação Física criamos um grupo, o “Coletivo da Educação Física”, e ficamos pensando as ações colaborativamente e coletivamente. Tiramos alguns eixos para iniciar o planejamento, não na ideia de tocar os conteúdos/planos de ensino do modo como estavam já estruturados, no planejamento inicial do ano letivo. Mas, de reorganizar a partir da situação vivida, que era o distanciamento/isolamento social e a pandemia. Pensamos, por exemplo, nos Anos Iniciais (1° ao 5° Ano) o eixo de jogos e brincadeiras; e para os Anos Finais (6° ao 7° Ano) o eixo dos jogos e o esporte. Corpo e movimento sendo um eixo comum da área. Por meio das trocas de ideias entre os seis professores, chegamos ao título/tema do projeto que está acontecendo para os Anos Iniciais: “O chão de casa como território do brincar”. Pensamos na ideia de brincadeiras riscadas. Começamos a pensar as brincadeiras para aqueles que estão em casa, seja sozinhos, ou com os irmãos, com a família, no espaço do lar. Será que todos vão ter espaço de riscar no chão? Quais brincadeiras podemos fazer? E assim surgiu o “território do brincar em casa”. Pensamos também nas brincadeiras de riscar no papel, criando tabuleiros. Foram várias pessoas pensando e dando sugestões, um desafio. Pois é difícil construir juntos, dá trabalho, mas estávamos empenhados em fazer algo que fosse significativo para os estudantes no momento. Para aqueles que não tivessem acesso às atividades pelo Portal, disponibilizamos o material impresso. Fazemos um plantão na escola para entregar semanalmente. Agora estamos na amarelinha, explorando alguns jogos riscados. Teve a teca teca da cultura africana. Por exemplo, teve professores que, semana passada, numa perspectiva interdisciplinar, trabalharam com o tema do racismo, por conta da visibilidade e comoção social, não só no Brasil, mas no mundo, de que as vidas negras importam, todas as vidas importam. A teca teca também entra nesse contexto de valorização da cultura africana. A professora de português pensou a contribuição da área atrelada aos discursos antirracistas, que estava colocada nesse momento na sociedade. Ainda desenvolvi junto com a professora Adriana Werner, de Educação Física, um projeto extracurricular, porque não estávamos atuando na educação física curricular. O “Desafio de Dança”, uma proposta pedagógica organizada em cinco vídeos, disponibilizados semanalmente. Pensamos em, a partir do conteúdo da dança, da educação física, construir junto com os estudantes uma “dança da integração”. A ideia era para manter e estreitar o vínculo, por meio de uma dança que integrasse a escola, as famílias, os alunos. Uma dança para todos. Para que lá na frente, no final do ano, ou quando pudermos nos encontrar e estar juntos, como na Mostra Cultural (evento anual da escola), possamos dançar juntos e celebrar o reencontro. Então construímos uma coreografia. Mas não uma coreografia que nós, exclusivamente, criamos. Apesar de criar os passos iniciais, para demonstração e motivação, semanalmente pedíamos para os estudantes mandarem contribuições, e incluímos os passos enviados pelos alunos na coreografia. No final, ainda deixamos um espaço na música para o dançar livre, para a dança improvisação. O objetivo era contemplar a contribuição dos estudantes (passos de dança), o dançar livre e expressivo, e também a orientação/mediação das professoras. Assim, chegamos a “dança da integração”, que tinha como melodia rítmica a música “Peça Felicidade”, da Banda Melim. Os vídeos estão disponíveis em nossas redes. O projeto acabou há pouco tempo. Ainda estamos colhendo os retornos. Temos, também, um novo projeto que iniciou agora, com os professores auxiliares de ensino, que são professores que não têm turmas fixas. Eles elaboraram, sob coordenação da Professora Anelise Link, o projeto que se chama “O que te inspira”, para os estudantes socializarem e refletirem as experiências significativas que estão realizando em casa nesse momento. Um olhar sensível para o contexto, querendo dialogar, restabelecer os vínculos e aprendizagens. Nos aproximar e contribuir. Ainda temos a Biblioteca Digital, acessível no nosso Portal, organizada pelo bibliotecário Murilo, que oferece o compartilhamento de livros digitais e dicas de leituras. Lá também a professora auxiliar Adriana Martins tem desenvolvido o projeto “A Hora do Conto”, em que ela produz vídeos de contação de histórias infantis para os estudantes. Ela vai abordar essa semana uma história que tem como tema o racismo. Então, várias pessoas vão colaborando e vamos construindo uma proposta de escola, principalmente no meio digital, uma proposta de ensino remoto que não é a ideal, sabemos, mas que está sendo possível. Não está sendo fácil. Mas está trazendo bastantes aprendizados e reflexões.

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Ana Paula: Novamente o seu relato reforça a importância da escola fazer frente aos problemas sociais e não desconsiderá-los mesmo nessa experiência de Ensino Remoto Emergencial. Temos vivido atualmente situações bastante graves em relação ao racismo no Brasil e em diferentes países e as pessoas, mesmo com medo do contágio da Covid-19, tem ido para as ruas se manifestarem. Neste sentido, reconheço a importância do trabalho que estão realizando, visto que não é possível a escola ficar alheia ao contexto social em que está inserida. E fico extremamente sensibilizada e esperançosa, que no meio de toda esta crise social é possível vislumbrar práticas docentes criativas e compromissadas com seu tempo, como a que você relata. As dificuldades enfrentadas com a modalidade de Ensino Remoto Emergencial não impossibilitam, ainda que dificultem significativamente, a busca por uma ação pedagógica que seja significativa, crítica e ética. Um movimento de resistência às adversidades em busca pela educação se quer. E nesse sentido penso que as experiências que vocês estão produzindo na escola são muito relevantes pedagógica e socialmente.

A ideia da socialização com a experiência de dança, de como integrar à distância é algo que destaca no seu relato. Se estivéssemos vivendo esta pandemia há 30 anos, antes das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, o Ensino Remoto Emergencial não seria possível. A experiência proposta utiliza-se de modo positivo da tecnologia para promover a interação pedagógica e social entre estudantes e professores a partir de uma produção midiática, fortalecendo a noção de pertencimento à comunidade escolar. Sendo que esta produção midiática poderia não ter sido levada em consideração na modalidade de ensino presencial, ou seja, também estamos aprendendo com o Ensino Remoto Emergencial.

No seu relato você começou a falar sobre os desafios presentes na docência neste período de Ensino Remoto Emergencial, e gostaria de ouvir um pouco mais. Saber os maiores desafios na implantação dessas experiências. Ainda que tenham realizado a anamnese citada anteriormente, quais os desafios que verificaram ao propor os conteúdos aos estudantes?

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Mariana: Antes de falar dos desafios, mas relacionando com o que você disse em relação aos aspectos positivos e de como fazer isso, penso que o que nos move é não perder de vista o projeto de educação que almejamos, acreditamos. E neste sentido, o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, elucida questões importantes: que estudantes queremos? Que educação defendemos? Qual concepção de sociedade? Então, pensar que todas as estratégias e todas as ações que buscamos construir ou desenvolver com os estudantes vão ao encontro do nosso projeto de escola. Não é uma teoria destituída de uma prática, e nem uma prática descolada da teoria. Elas são indissociáveis, e constituem a nossa práxis pedagógica. Um enorme desafio, especialmente neste momento de crise sanitária. E falando dos desafios e dificuldades, em grande parte, os desafios e dificuldades estão inseridos no âmbito da utilização e dos acessos às Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). A questão da inclusão digital, não apenas numa perspectiva instrumental (saber usar), mas, também, crítica (saber problematizar) e criativa (saber produzir). Porque a comunicação neste momento se dá, principalmente, pelos meios tecnológicos. E uma das grandes dificuldades é o acesso e a apropriação dos estudantes a educação nesta perspectiva do ensino remoto, com a mediação tecnológica. Mas, não só deles. Vamos pensar nos professores também. Existem muitas dificuldades relacionadas ao uso pedagógico das mídias/tecnologias. Há carência de acesso aos recursos/equipamentos, há dificuldades em relação à utilização das tecnologias que estão nos sendo exigidas para mediar o ensino remoto. Um desafio. Vemos muitos professores se superando, em tão pouco tempo. Porque sabemos que o processo de aprendizagem/formação, apesar de ser constante, não é imediato. Os professores, em curto tempo, estão tendo que dar conta de uma lacuna da formação inicial - e aqui fica uma crítica ao currículo da formação de professores no ensino superior, que pouco considera a realidade das mídias/tecnologias na educação de forma crítica e comprometida. Uma lacuna da formação inicial que não considerou a importância dos professores se apropriarem das mídias/tecnologias para mediar e dialogar no processo educativo. Não no sentido de substituir o presencial, como vemos agora ser necessário. Este é um projeto emergencial. Mas, porque a mídia-educação é um campo social (de estudo e intervenção) muito antes da pandemia. Aqui entendida jamais como uma forma de substituir o ensino fundamental presencial, substituir a ação/figura do professor, substituir os livros, a literatura e o caderno pelo computador. Não! Mas como um novo elemento, um elemento a mais para qualificarmos a educação e colocá-la no seu tempo: tempo de uma sociedade digital. Em que as tecnologias precisam estar a serviço do humano e da educação e não o contrário. Outro desafio esta relacionado às condições de trabalho. Porque, muitas vezes, o professor sabe, sabe utilizar e lidar com a tecnologia, ou tem disponibilidade de aprender, mas não tem os equipamentos/suportes necessários para o processo educacional. Um computador adequado, uma estrutura, internet, cursos de formação. Muitos professores estão produzindo aulas, conteúdos pedagógicos digitais em pequenos aparelhos celulares. E por quê? Porque não têm os recursos e investimento necessário. Essa condição adequada do trabalho precisa ser cobrada dos agentes públicos, e aí temos que chamar atenção. Porque nem tudo compete ao professor, e o professor não vai dar conta de resolver tudo e nem é responsabilidade dele. Se estamos falando de uma educação pública, temos que lembrar do investimento no serviço público, em políticas públicas de educação, cobrar o papel dos governantes, o papel de fornecer as estruturas e condições para que consigamos manter a qualidade do trabalho. Na perspectiva dos estudantes e famílias a dificuldade do acesso e utilização das tecnologias existe por conta da exclusão social, observada na desigualdade da sociedade. Verificamos os excluídos digitais, aqueles que estão à margem da cultura digital, que têm o acesso negado ou fragilizado. Isso também nos faz pensar no processo de democratização da internet no Brasil, de um projeto de alfabetização digital, ao refletirmos o quanto hoje a nossa cidadania também é construída a partir das relações com a cultura digital. Qual o papel da escola ou da educação em relação as mídias e tecnologias? Não só agora, porque agora não vamos dar conta de resolver todos esses problemas, mas que possamos colocar isso na agenda de reflexão crítica da educação. Porque está sendo um momento de muito aprendizado, de muitas experiências, reflexão, muito estudo, muito desafio. E que esse legado e esses aprendizados sirvam para não perdermos de vista aquilo que defendemos, que é uma educação pública de qualidade para todos.

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Ana Paula: Esta questão da necessidade de democratização do acesso à internet e às tecnologias que você destaca é resultado do abismo social em que vivemos. Não é possível descolar a falta de acesso às tecnologias e à internet deste cenário mais amplo de desigualdade social. E como você bem colocou não se trata apenas de acesso, mas, também, de qualidade de acesso que se tem de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, de internet e de formação para interagir nas práticas sociais digitais. Hoje, se for abordar a questão da inclusão, que é uma das discussões importantes para o nosso laboratório, vamos ver que há um crescente processo de exclusão digital que precisa ser considerado. E precisamos cobrar os gestores políticas públicas educacionais que considerem a importância da inclusão digital pensando uma formação para a cidadania. Temos que cobrar políticas educacionais, e gostaria que você falasse um pouco desse lugar.

Mariana: Temos um sindicato bastante atuante aqui no município, que nos ajuda a refletir e organizar coletivamente as questões das responsabilidades, das condições de trabalho, e da luta por uma educação pública para todos. Mas em relação à questão da democratização do acesso, obviamente que não é só isso, ainda que seja imprescindível. Foi bom que você falou, para que possamos reforçar que não é apenas levar a tecnologia para a escola, para os professores, para os estudantes. Mas, pensando na perspectiva de uma cidadania digital, e nas contribuições da mídia-educação, é importante destacar que o desafio não é apenas fornecer o acesso, instrumentalizar tecnicamente, como se por si só as tecnologias e mídias fossem um recurso educativo. Não! As tecnologias são recursos disponíveis na sociedade, em diversas áreas, e elas vão se tornar educativas na medida em que forem sendo apropriadas pelos professores nos processos didáticos. Elas precisam se tornar recursos pedagógicos, a serviço da educação (de um projeto de educação), por meio da ação/mediação crítica do professor. É preciso torná-las educativas. E aí também vamos lembrar o caráter desses novos recursos, e suas condições na produção de novas linguagens, como meio de comunicação. A linguagem digital, a linguagem tecnológica, precisam também fazer parte das nossas ações no sentido de preparar os estudantes para lidarem de forma crítica e criativa com os recursos e discursos produzidos. As narrativas digitais e usos das tecnologias estabelecem novas formas de pensar, envolvem formas diferentes de elaborar conteúdos, diferentes formas de agir, comunicar-se e relacionar-se. Muito diferente da relação presencial, sem mediação tecnológica. Com recursos digitais, por meio da linguagem audiovisual, por exemplo, consigo editar e colocar recursos gráficos, colar e compor narrativas diferentes, cenários. Consigo, enfim, fazer várias alterações e enquadramentos da realidade. Então, é preciso uma educação para o olhar crítico diante dessa realidade. Para termos um olhar esclarecido em relação ao que significa utilizar e lidar com os recursos digitais na nossa vida, na educação. Enfim. Transitar na cidadania digital com ética, refletindo questões como: as fakes news, o cyberbullying, os discursos de ódio, que hoje estão presentes nos meios, na rede. Prepararmos os estudantes não apenas para o acesso, mas para a negociação de sentidos, para análise crítica dos discursos propostos por meio das tecnologias, para produção de narrativas digitais. E é isso que apontamos com o olhar crítico necessário para lidar com a mídia/tecnologias.

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Ana Paula: Mariana, penso que você foi bastante feliz ao destacar a importância de formação para mídia e apontar a perspectiva da Mídia-Educação com que você trabalha. Nós do ConnectLab também identificamos a falta de formação inicial e continuada no trato com a mídia e as tecnologias digitais como uma grande lacuna na educação. Penso que a necessidade de distanciamento social devido à pandemia apenas evidenciou esta demanda a quem ainda não tinha tomado conhecimento dela. Mas, faltam investimentos na educação. Em outro momento, você já havia comentado comigo a importância de investimento na educação. Você quer falar alguma coisa nesse sentido?

Mariana: Vendo uma Live do professor Dr. Mauro Betti esses dias, um grande estudioso da educação física escolar, ele enfatizou isso que eu falei antes. É impossível fazer uma boa educação com poucos recursos. Então, um projeto sério de governo, um projeto democrático de sociedade, tem que enfatizar a importância da educação e da saúde. Estamos vendo, neste contexto da pandemia, a importância dessas áreas para humanidade. Espero que tudo isso contribua para a valorização do trabalho dos professores, e do quanto é indispensável. Para que no pós-pandemia tenhamos um projeto de educação forte, crítico, comprometido (com investimento e valorização). Vai ser importante e fundamental para suprir as lacunas desse momento. Estamos vivendo várias crises, vários desafios, e depois disso tudo, na reconstrução, digamos assim, na reelaboração da escola, precisamos pensar nisso. E como estávamos colocando, a questão de investimento, é fundamental. Para que as condições de trabalho e da educação sejam condizentes com os desafios da escola pública, da humanidade. Esse é um desafio da escola pública em qualquer lugar.

Ana Paula: Neste sentido, espero que os próximos governos sejam mais comprometidos com as demandas da educação e, também, com o desenvolvimento de políticas sociais tão necessárias as populações que se encontram em situações de vulnerabilidade social.

Mudando de foco, você poderia fazer um relato do feedback dos alunos acerca das experiências implementadas pela escola. Qual a importância dessas experiências para eles?

Mariana: Os alunos estão bastante angustiados. Sentimos que eles estão passando por bastantes dificuldades. Temos que ser sensíveis em relação a isso, acolher. Um dos grandes desafios é conseguir estabelecer um canal de comunicação eficiente. Porque, como eu falei, nós temos uma plataforma com conteúdos, que o estudante acessa no seu tempo. E se quiser retornar, ele vai ter que mandar um e-mail para o professor. E existem muitas dificuldades de utilização do e-mail, do e-mail institucional. Como trabalho na articulação pedagógica do Grêmio Estudantil, também tento conversar com eles pelo nosso grupo. Inclusive, um estudante da escola participou de uma Live, a pouco tempo, falando de sua experiência no movimento estudantil e protagonismo. Mas, neste contexto é tudo muito novo, está todo mundo passando muita dificuldade. E essa comunicação para muitos não consegue ser eficiente. Os estudantes estão com muita saudade da escola, eles aguardam ansiosos o retorno das atividades presenciais, e, principalmente, das interações, porque a escola é um espaço de socialização muito importante para os jovens e crianças. Eles estão sentindo muito essa falta. Penso que da parte deles, isso também esteja contribuindo (se podemos assim analisar) para valorização da escola e do trabalho do professor. Esses dias acompanhei o relato de uma mãe dizendo: “meu filho quer tirar dúvidas imediatas com a professora. Porque na sala de aula, durante as atividades, a professora está o tempo todo mediando. Da forma que está ele não consegue fazer, porque ele tem dúvidas, e trava. Mandamos a dúvida pelo e-mail, mas até chegar a resposta, tem uma grande lacuna, entende?” Porque não é uma educação que tem sincronicidade, que tem a mediação constante do professor, porque ele não está presente, ao vivo. Essa é a condição que temos. Mas, tentamos manter os canais diversos, como falei, mobilizando pelas redes sociais, porque esse vínculo é muito importante.

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Ana Paula: A ideia do acolhimento é muito importante. Nós professores também temos essa necessidade de nos sentir acolhidos pelas instituições que trabalhamos, para que nos sintamos fortalecidos na experiência que estamos enfrentando. Os alunos também precisam se sentir acolhidos, porque eles, como você disse, sentem-se desamparados longe da escola, longe dos amigos, longe de uma rotina que eles tinham construído. E como o trabalho organiza a nossa vida, a escola organiza a vida das crianças, dá sentido de pertencimento comunitário e, também, de continuidade neste momento. Pensando um pouco nisso, esse acolhimento é fundamental. Acho que esses projetos que a escola de vocês tem organizado e que você socializou com a gente são uma grande contribuição, não só para a escola de vocês, mas para outras escolas que possam vir a se apropriar dessas experiências, dessas ideias. Principalmente do sentido presente no projeto de dança que você citou, que apresenta uma possibilidade de inter-relação, o aluno não se sente sozinho na sua casa fazendo uma atividade, ele se sente parte de algo maior, parte de uma comunidade.

Mariana: Isso, essa foi a ideia.

Ana Paula: Manter as relações, os vínculos é a ideia dessa Live. No seu relato, você mostra para nós que é possível estabelecer alguns laços, vínculos que sustentam, que movimentam e que dão sentido às ações nesse momento de Ensino Remoto Emergencial. E é justamente o diálogo que favorece que ações significativas. Mariana, embora a conversa esteja ótima, nós vamos chegando ao final do nosso tempo de transmissão ao vivo.

Mariana: Acabou? Tanta coisa para falar...

Ana Paula: Certamente teremos outras oportunidades. Mas antes de finalizar, deixo a palavra livre para você. Fique à vontade.

Mariana: Nós sentimos, eu, particularmente, essa angústia de conversar, de nos comunicar neste momento de grandes desafios, de grandes dificuldades para todos. Por fim, queria deixar o contato da escola. A Escola Brigadeiro está acessível nas redes sociais, onde poderão ver alguns dos projetos que falei. Vocês podem mandar mensagens para conversar e para dialogarmos. Porque a vontade é que fiquemos aqui conversando, porque quando conversamos vamos também ressignificando. E essas são angústias minhas, e imagino que de muitos professores. Acredito que esse seja um momento de fortalecermos nossa prática, nossa identidade profissional, nos ajudarmos, trocar experiências, buscar a interlocução com os pares, as ações colaborativas, coletivas. Não perdendo de vista, como falamos, o engajamento político, social e humano que envolve também todo esse momento que é de uma reinvenção da educação. Estamos nos reinventando. E falo, também, para não perdermos de vista os nossos sonhos, nossa capacidade de sonhar e de acreditar que podemos contribuir muito, mesmo que de uma forma não ideal, muitas vezes, mas emergencial, pontual. Seguimos estudando, nos aprofundando, refletindo, porque temos um grande desafio pela frente depois, quando tudo isso passar. Quero agradecer e me colocar à disposição para quem se interessar. Para continuarmos trocando as experiências e refletindo. E obrigada, Profa. Ana Paula, e ConnectLab, pela conversa, por abordar esse tema tão importante.

Ana Paula: Profa. Mariana, agradeço em nome de todos os integrantes do ConnectLab a sua participação, por aceitar o convite de estar aqui e pela partilha de suas experiências que nos ajudam a pensar a educação em tempos de Ensino Remoto Emergencial.

Notas

1. Doutora em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora efetiva da EBM Brigadeiro Eduardo Gomes, da rede municipal de ensino de Florianópolis (RMEF/PMF). Pesquisadora fundadora do LaboMídia (CDS/UFSC) e colaboradora do ConnectLab (UFG).

2. Doutora em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Associada da Universidade Federal de Goiás. Docente no Programa de Pós-Graduação em Educação Física em Rede Nacional/ProEF – FEFD e no Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica/PPGEEB – Cepae. Líder do Grupo de Pesquisa Conexões entre Práticas Corporais, Tecnologias e Inclusão/ConnectLab (UFG).