A importância do cinema no ensino de geografia
37Resumo:Os filmes possuem uma enorme função educativa, principalmente para a Geografia, visto que é uma ferramenta que estimula a curiosidade dos alunos. Tendo em vista que o indivíduo é um ser imagético, queremos ressaltar que o cinema é um grande aliado do ensino, pois pode possibilitar um melhor entendimento do que se quer transmitir. Neste sentido, este trabalho, tem como objetivo, demonstrar a importância que os filmes possuem, como recurso didático, no ensino de Geografia. Para que este objetivo seja alcançado, foi realizado um levantamento de dados primários, com o intuito de analisar os artigos e periódicos com temáticas cinematográficas. Com este artigo, pretendemos trazer uma breve discussão sobre a importância, deste recurso metodológico, para o aprendizado em sala de aula.
Palavras-Chave:Ensino. Filmes. Geografia.
Introdução
Esse trabalho se justifica pelo fato de que os recursos audiovisuais, como forma de linguagem metodológica, sempre foram usados em sala de aula com o intuito de ter aulas mais dinâmicas e participativas, nesse sentido o uso do cinema torna-se uma ferramenta indispensável para o ensino de Geografia, tendo em vista que é uma linguagem que possui uma grande contribuição para o aprendizado do aluno. Para a construção deste artigo, adotamos uma metodologia baseada em pesquisas qualitativas e analíticas, em que, a nossa base de dados, são sites e revistas online, com o intuito de analisar os artigos e periódicos específicos, que abordam o tema trabalhado, para que possa demonstrar a relevância do cinema e seu uso em sala de aula no ensino de Geografia.
No processo de aprendizagem significativa, como bem expos Cavalcanti (2019), o professor também tem papel de destaque, uma vez que a aprendizagem significativa tem o sentido de trabalhar, em sala de aula, com dados que não levem à generalização das informações apresentadas e, também, deve-se organiza procedimentos que levem em conta o conhecimento prévio dos alunos. Desta forma, uma aprendizagem significativa, poderá ser capaz de despertar a cidadania e a autonomia nos jovens escolares. Para tanto, o processo ensino-aprendizagem deve ser somado à “cultura geográfica do aluno com a Geografia do cotidiano, resultando em processos de significação e ampliação da cultura e dos saberes do aluno” (CAVALCANTI, 2010, p. 72).
O objetivo geral desse texto, é analisar as possibilidades que os filmes possuem, como recurso didático no ensino de Geografia, de modo que o aprendizado seja mais significativo aos alunos. Além do mais, iremos discorrer como a cinematografia pode contribuir para o processo de ensino e aprendizagem e demonstrar como os docentes podem utilizar estes recursos. Para nortear a construção deste trabalho, foi-se pensado em duas questões centrais: “Como a cinematografia pode contribuir para o processo de ensino e aprendizagem?” e “De que forma, os docentes, podem utilizar estes recursos?”.
38Contribuições da linguagem cinematográfica para o processo de ensino de Geografia
O ensino de Geografia não se dá de forma isolada, em que o aluno é considerado um repositor de informações. É primordial que, essa ciência, deva ser ensinada de modo que haja interação entre professor e aluno, de forma que seja levado em consideração o meio em que vivem. Para Silva (2014, p. 02) “a escola e o Ensino de Geografia necessitam ter, como metas prioritárias, o estudo e o conhecimento da cidade para facilitar o seu desvendamento e estimular uma maior participação popular e a presença objetiva das pessoas na cidade”; o que acreditamos ser a essência do ensino da Geografia, um estudo voltado para o conhecimento sobre o espaço humano, as suas formas de transformação e de ocupação e a relação que o homem tem com o meio em que está inserido, ou seja, ela possui capacidade em desenvolver, no aluno, a capacidade de entender, pensar e refletir o que acontece localmente e globalmente.
O objetivo do ensino de Geografia é levar o indivíduo a uma compreensão da composição do espaço em que ele vive, de modo que demonstre que este espaço é composto por diferentes povos, culturas e saberes que se integram e se completam. Exposto isso, é possível fazer com que este aprendizado seja alcançado, através de diferentes metodologias e recursos didáticos que instigam, os alunos, a aprendizagem do conhecimento geográfico.
Segundo Oliveira e Girardi (2019), há uma emergência de diferentes linguagens no ensino de Geografia. Essas diferentes linguagens fazem referência à diversificação dos materiais utilizados no ambiente escolar, em que podem ser divididas entre as linguagens criativa, no qual diz respeito às práticas de aquisição de informações por meio de processos de identificação de elementos, análises, interpretação e reprodução; e a criadora, em que se baseia em novas produções de mundo, ou seja, que está ligado a originalidade e a criação de novos métodos de alcance cognitivo. A ideia de educar, com o apoio da linguagem cinematográfica, é altamente relevante, pois poderá alcançar a linguagem criativa. Segundo Araújo (2007), desde os primórdios da produção cinematográfica a indústria do cinema sempre foi considerada, inclusive pelos próprios produtores e diretores, um poderoso instrumento de educação e instrução. Ao expor para os alunos filmes e documentários, que mostram a realidade do assunto a ser abordado em sala de aula, o docente permite ao aluno, fazer uma reflexão do tema discutido em sala de aula, fazendo um paralelo entre o que foi visto no filme e a realidade vivida por ele em sua comunidade, em que, essa reflexão, possibilitará, ao aluno, uma melhor compreensão, curiosidade e estímulo sobre o assunto que foi abordado.
Ao expor para os alunos filmes e documentários, que mostram a realidade do assunto a ser abordado em sala de aula, o docente permite ao aluno, fazer uma reflexão do tema discutido em sala de aula, fazendo um paralelo entre o que foi visto no filme e a realidade vivida por ele em sua comunidade, em que, essa reflexão, possibilitará, ao aluno, uma melhor compreensão do assunto que foi abordado.
39Proposta didática para o uso do cinema na prática de ensino de geografia
Pretendendo auxiliar os professores na utilização dos recursos cinematográficos como um instrumento didático capaz de instigar o desenvolvimento cognitivo geográfico nos alunos, foi-se pensado em uma proposta metodológica. O assunto escolhido foi sobre a questão agrária e rural, pensado em ser desenvolvido para as turmas do 2° ano do ensino médio. Para tanto, analisamos as competências e habilidades existentes, na BNCC, que, de alguma forma, fizesse relação com o tema elaborada que pretendemos utilizar como exemplo.
O uso da linguagem cinematográfica como um recurso para atingir essas habilidades, facilitará a compreensão dos alunos sobre os impactos que determinadas produções agrícolas podem ocasionar, tanto ao meio ambiente como a saúde humana e dos seres vivos. O plano de ensino (quadro 1) desenvolvido, foi idealizado de modo que possibilite uma maior compreensão e participação, de todos os envolvidos no processo de ensino/aprendizagem, sobre a temática escolhida. A estratégia de ensinagem foi elaborada a partir de dois autores: o Libâneo (1994), em que foi essencial para determinar alguns métodos que obtivessem relação com o objetivo e o conteúdo específico do plano de ensino idealizado, pois é apresentado os vários tipos de classificação de métodos, como o método de elaboração conjunta, que visa a interação entre o professor e o aluno, de modo que esse obtenha novos conhecimentos; e o método de trabalho de grupo, no qual consiste em distribuir tarefas iguais, ou não, a grupos de estudantes; e o Shulman (2014), em que traz como elemento significativo para obtenção de um ensino eficaz, o raciocínio pedagógico. Tal raciocínio serviu como importante ponto de reflexão para o nosso processo pedagógico, visto que é proposto um modelo que traz como aspectos a serem refletidos a compreensão, transformação, instrução, avaliação e reflexão.
No quadro abaixo, está representada a estratégia de ensinagem que formulamos para o nosso plano de ensino, no qual foi desenvolvido com o objetivo de se trabalhar a linguagem cinematográfica, a partir da temática agrária/rural. Com o objetivo de problematizar, principalmente, a questão do uso dos agrotóxicos, foi-se pensado em um tema específico para ser trabalhado, a questão da “Agricultura no Brasil: meios de produção e suas consequências”. Com o intuito de realizar uma atividade grupal com os alunos, foi-se pensado em uma metodologia que abarcasse a interação e que envolvesse a contribuição de todos. Tendo isso exposto, a proposta metodológica foi idealizada para ser concluída em dois dias, sendo o primeiro para realizar um estudo de texto sobre o tema, em que será utilizado para mobilização e construção de conhecimento; e um estudo de caso, com base no filme “O veneno está na mesa”, com o intuito de fortalecer os argumentos, construir o conhecimento referente ao tema e, os discentes, serem capazes de sintetizar.
40Conteúdo | Agricultura no Brasil: meios de produção e suas consequências | |
---|---|---|
Ano | 2° ano do ensino médio | |
BNCC | ||
Habilidades | (EM13CHS304) Analisar os impactos socioambientais decorrentes de práticas de instituições governamentais, de empresas e de indivíduos, discutindo as origens dessas práticas, selecionando, incorporando e promovendo aquelas que favoreçam a consciência e a ética socioambiental e o consumo responsável. (EM13CHS306) Contextualizar, comparar e avaliar os impactos de diferentes modelos socioeconômicos no uso dos recursos naturais e na promoção da sustentabilidade econômica e socioambiental do planeta (como a adoção dos sistemas da agrobiodiversidade e agroflorestal por diferentes comunidades, entre outros). |
|
Etapa metodológica | ||
Sequência de Aulas | Aula 1 | Aula 2 |
Objetivos | Analisar e avaliar, criticamente, os impactos socioambientais e econômicos decorrentes das práticas de produção agrícola no Brasil. | Sensibilizar os alunos, através das cenas do filme “O veneno está na mesa”. |
Problematização | O que é o sistema agrícola? Quais as práticas de produção agrícola são utilizadas no Brasil? Se produzimos tanto, por que há indivíduos passando fome? Por que dependemos de agrotóxicos se há outras práticas de produção que não causa tantos danos, tanto ao ambiente como a saúde humana? |
Há algum ponto positivo e negativo na utilização dos agrotóxicos? Como a contaminação das plantas, solo e ar, podem gerar consequências para as gerações futuras? Há outros meios alternativos para minimizar ou erradicar os impactos negativos que a utilização do agrotóxico traz à saúde dos seres vivos e ao meio ambiente? Os fatores climáticos podem auxiliar na propagação da intoxicação, por agrotóxicos, aos seres humanos? Há incentivos governamentais e bancários para incutir as práticas de utilização do agrotóxico? |
Sistematização | Apresente, os aspectos geográficos, referentes aos sistemas agrícolas e aos tipos de agricultura. Aborde as práticas utilizadas pelos produtores ao manusear os agrotóxicos para obter seu produto final e os impactos socioambientais e econômicos que ocasiona. Realize uma discussão com base na leitura do texto de apoio “Agricultura no Brasil: meios de produção e suas consequências”. | Relembre com os alunos, os problemas abordados na aula anterior, destacando os impactos ambientais e socioeconômicos ocasionados pela utilização do agrotóxico na produção. Em seguida, distribua os alunos, de modo que seja criado três grupos. Apresente o filme “O veneno está na mesa”. Em seguida, peça para que cada grupo identifique um impacto gerado pelo uso do agrotóxico que é apresentado no filme, podendo ser ambiental, social ou econômico. |
Sintetização | Realize reflexões e problematizações, juntamente com os alunos, acerca da necessidade de os seres humanos insistirem em utilizar os agrotóxicos em suas práticas agrícolas. | Agora peça para que os grupos discorram pelos problemas apresentados por eles. Ao final, realize uma síntese do que foi exposto e associe com os assuntos abordados na aula anterior. |
Avaliação | Analisar a participação, de cada aluno, nas discussões realizadas coletivamente e os argumentos utilizados em suas reflexões sobre o tema. |
Vale destacar que o professor, ao utilizar o filme como um recurso didático, deve planejar muito bem a sua aula, de modo que o escolha de acordo com a faixa etária e o nível cognitivo dos alunos, além de adequar o conteúdo presente no filme com o assunto que será abordado. Ademais, construir um roteiro de trabalho que contenha informações sobre o filme, como realizar a interpretação das cenas abordadas e apresentar questões pertinentes, presentes no filme, que tenha relação com o conteúdo exposto, de modo que direcione as discussões que serão realizadas em sala de aula.
41Resultados e discussões
Conclui-se que, enquanto docentes, é primordial (re)pensar as nossas práticas metodológicas, de modo que seja possível refletir sobre a melhor forma de mediar o conhecimento e qual o melhor recurso didático a ser utilizado para que, a aprendizagem, seja significativa. Nesta perspectiva, utilizar as diferentes linguagens, como a do cinema, em sala de aula, proporciona a construção do conhecimento, principalmente o geográfico, em que possibilita observar as transformações que ocorreram no mundo, tanto as transformações físicas, naturais, culturais e econômicas. No entanto, cabe aos docentes auxiliar os alunos a perceberem o objetivo da utilização desse recurso didático como um meio para se chegar ao conhecimento geográfico que pretende ser exposto.
Fica evidente que, com a utilização de filmes em sala de aula, é possível desenvolver várias metodologias que irão auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, a qual servirá como um recurso extremamente significativo, pois vários conceitos e conflitos humanos podem ser debatidos de forma mais lúdica, tornando as aulas mais dinâmicas e possibilitando uma maior integração entre os alunos e o professor, pois, através desta linguagem, haverá maior aproximação dos fatos e aspectos debatidos em sala de aula, de modo que possibilitará uma discussão mais rica, a partir das cenas e personagens dos filmes.
Referências
ARAÚJO, Suely Amorim de. Possibilidades pedagógicas do cinema em sala de aula. 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Ensino de Geografia e diversidade: Construção de conhecimentos geográficos escolares e atribuição de significados pelos sujeitos do processo de ensino. In CASTELLAR, S. M. V. (org.). Educação Geográfica: Teorias e práticas docentes. 2ª ed., São Paulo: Contexto, 2010.
CAVALCANTI, Lana de Souza. O Desenvolvimento do Pensamento Geográfico: orientação metodológica para o ensino. In: Pensar pela Geografia: ensino e relevância social. Goiânia: C & A Alfa, 2019, p. 139-180.
LIB NEO, José Carlos. Método de Ensino. In: Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
OLIVEIRA JR., Wenceslao Machado de; GIRARDI, Gisele Diferentes linguagens no ensino de geografia. In: I Jornada de Investigações em geografias, imagens e educação, 2019, p. 01-09.
SILVA, Eunice Isaias da. Ensino de cidade: lugar e cidadania. Estudos Geográficos, Rio Claro, 12(2): 101- 114, jul./dez. 2014.
SHULMAN, Lee S. Conhecimento e ensino: fundamentos para nova reforma. Cadernos CENPEC, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 196-229, 2014. Disponível em: http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/293/297. Acesso em: 06 de jul. de 2022.