Danúbia Carvalho de Freitas Ramos
profdanubiaramos@gmail.com

Adriana Aparecida Molina Gomes
adrianaapmolina@yahoo.com.br

EIXO
Matemática

Leitura e Construção de Mapas nos Anos Iniciais

79 próxima página

Resumo: Este trabalho é um recorte de uma pesquisa que foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação para Ciências e Matemática (PPGECM), do Campus Jataí, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. Os sujeitos da pesquisa foram alunos do 1º ano do ensino fundamental, de uma escola municipal na cidade de Jataí-GO. Teve-se como objetivo geral: Perceber como a história virtual do conceito contribui para com o desenvolvimento de ideias, estratégias e pensamentos matemáticos de alunos do 1º ano do ensino fundamental. Para tanto, buscou-se responder a seguinte questão de investigação: Que contribuições tarefas elaboradas com histórias virtuais podem trazer ao ensino e aprendizagem de contagem e de noções geométricas a alunos do 1º ano do Ensino Fundamental? Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujo análise se baseou nas produções escritas realizadas pelos sujeitos. O recorte deste trabalho se dá na construção e interpretação de mapas construídos pelos próprios alunos do 1º ano do ensino fundamental.

Palavras-Chave: Mapas. Anos iniciais. Ensino de geometria.

Introdução

A construção de conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades no ensino de matemática nos anos iniciais acontecem mediante fatores influenciadores como a comunicação entre professores-alunos e alunos-alunos.

Cândido (2001) enfatiza que a comunicação nas aulas de matemática torna a aprendizagem mais significativa para os alunos. Outro fator a ser destacado são as formas de registros, neste recorte optamos por trazer o registro escrito e/ou pictórico.

Nacarato, Mengali e Passos (2017) evidenciam que quando o aluno escreve ou desenha, ele representa as habilidades que foram desenvolvidas e também é possível perceber as dificuldades ainda existentes. Neste sentido, as autoras reforçam:

Muitas vezes, o registro pictórico de uma estratégia que o aluno faz traz muito mais detalhes do que o registro matemático, por exemplo. Da mesma forma que o registro escrito em linguagem corrente ou matemática, o pictórico também precisa ser incentivado e valorizado. (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2017, p. 45)

Neste sentido, podemos compreender que através do registro pictórico, os alunos podem expressar suas vivências, já que desde pequenas desenham por diversão e nas aulas de matemáticas o registro pictórico, o desenho da criança, pode auxiliar na construção de conceitos e ideias matemáticas.

Destacamos que a oralidade e o registro pictórico também se fazem presente na construção de conceitos e no desenvolvimento de habilidades para a aprendizagem de conceitos geométricos. Assim, quando as crianças produzem o registro e/ou comunicam suas ideias, elas podem compreender melhor os conceitos envolvidos na geometria.

Ademais, essas formas de comunicação se iniciam muito antes do período de escolarização. Moretti e Souza (2015) afirmam que no manipular e brincar com objetos e nas brincadeiras do dia-a-dia, eles têm contato com as noções de distâncias, formas, posições e outros.

Esses primeiros contatos com as noções e ideias geométricas são importantes para o desenvolvimento do pensamento geométrico. Para desenvolver este tipo de pensamento, os alunos precisam ter a oportunidade de investigar, levantar conjecturas e hipóteses, bem como poderem testá-las e comunicá-las perante a turma.

página anterior 80 próxima página

Assim, daremos a conhecer a metodologia do trabalho.

Metodologia

A escolha dos conteúdos e a elaboração da história foram pautas nos conteúdos exigidos na matriz curricular do 1º ano do ensino fundamental 1. Essa pesquisa é de natureza qualitativa com foco na intervenção pedagógica.

Para coleta e análise de dados os instrumentos utilizados foram: diário de campo da pesquisadora, gravação em áudio e vídeo e registros pictóricos produzidos pelos alunos.

A ida a campo aconteceu após a aprovação do comitê de ética. Passamos uma semana no período de observação para conhecer o ambiente de pesquisa e socializar com os alunos e, após as férias de julho de 2018, iniciamos o trabalho em sala de aula.

Para tanto, elaboramos uma sequência didática envolvendo 3 (três) histórias, dentre elas duas foram adaptadas para se tornarem história virtual do conceito. As histórias virtuais adaptadas partiram da fábula do “ O Pastorzinho mentiroso” extraída do livro infantil, da Coleção Fábulas de ouro, da Editora Girassol e do livro “Amigos” de Helme Heine (1990). Ainda, utilizamos a história do livro “ As três partes”, de Kozminski (1986), na integra.

A análise se deu por meio das produções dos alunos, gravações em áudio e vídeo, bem como diário e notas de campo da pesquisadora.

O recorte desse resumo expandido se dará na história “Amigos” de Helme Heine (1990). Esta foi adaptada pela pesquisadora e as tarefas realizadas também foram elaboradas pelas autoras deste trabalho.

Resultados e Discussão

As informações aqui trazidas são resultados de uma tarefa que foi proposta a partir da contação da história adaptada do livro “Amigos”. A adaptação se deu a partir da metodologia proposta por Moura (1996): as histórias virtuais do conceito. Moura et al (2010) explicam que a história virtual:

É compreendida como uma narrativa que proporciona ao estudante envolver-se na solução de um problema como se fosse parte de um coletivo que busca solucioná-lo, tendo como fim a satisfação de uma determinada necessidade, à semelhança do que pode ter acontecido em certo momento histórico da humanidade. (MOURA et. al. 2010, p. 105).

Estas histórias podem ser elaboradas a partir de fábulas, contos, histórias de livros literários. O objetivo delas é ensinar conceitos ou desenvolver habilidades matemática através da ludicidade. Outro fator importante, ao se elaborar uma história virtual do conceito é preciso ter um problema vivido por um personagem da história que os alunos possam auxiliar na resolução.

O desenvolvimento das tarefas aconteceu após a contação de história. Assim, iniciamos a contação e utilizamos o próprio livro. Narramos a história até uma determinada parte. Depois, adaptamos a história, para torná-la história virtual do conceito. Desse modo, criamos um problema a partir do texto.

A história apresenta as aventuras de três amigos - o rato Frederico, o galo Juvenal e o porco Valdemar – que gostam de passear pelo sítio todos os dias. Em um desses passeios adaptados, eles resolvem virar piratas em busca de tesouros perdidos na escola.

página anterior 81 próxima página

Desse modo, dividimos a turma em grupos e entregamos um mapa para eles. Este foi o convite para iniciarmos a aventura junto aos personagens. Assim, os alunos fizeram a leitura e reconhecimento das dependências desenhadas no mapa, para posteriormente, começaram a seguir as instruções do mapa para chegar até o tesouro.

Para tanto, eles leram, mediram e interpretaram as informações trazidas no mapa.

Em outro momento, foi proposto que os grupos desenhassem um mapa de caça ao tesouro pirata. Este foi disponibilizado para os demais alunos da turma. Assim, entregamos folhas de papel A4, para que realizassem seus registros, na tarefa foi possível perceber que os alunos dialogaram, argumentaram, levantaram hipóteses e as testaram.

À medida que os grupos iam terminando seus registros, os mesmos verificavam se os tesouros estavam ou não eram escondidos nos lugares desenhados, bem como se os detalhes colocados por eles no desenho eram possíveis de chegar ao destino final, terminando essa etapa, os mapas eram trocados entre os grupos.

Logo, abaixo será apresentado o registro pictórico feito pelos alunos do 1º ano do ensino fundamental.

Figura 1. Mapa do grupo 1
Mapa do grupo 1

Fonte: Mapa produzido pelos alunos L., P., R., M. e L., em novembro de 2018.

Foi possível observar que os alunos representaram algumas dependências da escola como secretaria, a sala do 4º ano, também colocaram detalhes como as árvores e a escada que ficava perto da sala de aula do 1º ano.

Os alunos colocaram os pontos de referência que seriam pontilhados, assim o grupo que ficou com o mapa desenhado por outro grupo conseguiu, observar os detalhes para chegar no objetivo que era encontrar o tesouro. Este foi destacado no desenho, ficando embaixo da árvore.

A tarefa do registro do mapa proporcionou aos alunos um momento de comunicação nas aulas de matemática, eles conseguiram registrar e interpretar mapas fizeram uso da linguagem matemática e desenvolveram as habilidades esperadas.

De modo geral, os grupos conseguiram identificar os pontos de referência, e perceber a lateralidade, a distância, isto é, aprenderam algumas noções espaciais. Ademais, os grupos resolveram os problemas, argumentaram, discutiram e tomaram decisões, elaboraram seus mapas, comunicaram suas ideias e estratégias matemáticas e as comunicaram perante a turma.

Conclusão

A história virtual elaborada a partir do livro “Amigos” e as tarefas propostas foram positivas, pois percebermos que alunos não tiveram resistência em desenvolvê-la, contribuiu para com a aprendizagem das noções geométricas, principalmente quanto as habilidades de leitura, interpretação, localização (como as noções de lateralidade e de espaço) e compreensão de algumas medidas não convencionais.

Observamos que todos os grupos encontraram o tesouro, que era uma caixa de bombom, esta foi dividida entre eles de maneira deliberada pelos próprios participantes dos grupos, pois um dos problemas, era a divisão dos bombons entre os participantes do grupo.

As análises possibilitaram-nos perceber que a história virtual do conceito auxiliou a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades geométricas dos alunos, também os motivou a se colocarem no lugar dos personagens na busca do tesouro, além de criarem suas estratégias de modo individual e coletivamente, bem como produzirem os mapas a partir das vivências anteriores.

página anterior 82

Referências

Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/ UNDIME,2017.

C NDIDO, P. T. Comunicação em matemática. In: SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 15-28.

HEIME, H. Amigos. Tradução: Luciano Vieira Machado. 13 ed. São Paulo: Ática, 2000. 32p.

MORETTI, V. D. SOUZA, N.M.M. Educação Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: princípios e práticas pedagógicas. 1ª ed.- São Paulo: Cortez, 2015. _ Coleção Biblioteca de alfabetização e letramento).

MOURA.M.O. A atividade de ensino como unidade formadora. Rev. Bolema. Ano. II, nº 12, pp 29 a 46, 1996. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/bolema/article/view/10647/7034. Acesso em: 28.dez.2018.

MOURA. M. ; ARAÚJO. E.. ; MORETTI. V.D. ; PANOSSIAN. M.L; RIBEIRO. F.D. Ensino: unidade entre ensino e aprendizagem. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 10, n. 29, p. 205-229, jan./abr. 2010. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/download/3094/3022 . Acesso em: 28. dez. 2018.

NACARATO, A. M; MENGALI, B. L. da S.; PASSOS, C. L. B. A Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.