Rafael Ribeiro dos Santos
rafaelribeiro.geografia@gmail.com

Maria Idelma Vieira D’Abadia
maria.dabadia@ueg.br

Loçandra Borges de Moraes
locandrab@yahoo.com.br

EIXO
Geografia

Um Olhar Para O “lugar” No Ensino De Geografia: ambiente escolar e prática docente

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Resumo:O ensino e a aprendizagem de Geografia não devem se configurar como uma atividade maçante ou mesmo desinteressante para os alunos. Tornar esse ensino mais significativo, aproximando os conteúdos ao cotidiano dos alunos, poderá produzir nos discentes um maior interesse pela aprendizagem. Com o objetivo compreender a vivência do aluno, e seu lugar, como possibilidades metodológicas para o ensino de Geografia foi realizada uma pesquisa de conclusão de curso, com alunos e professores de uma escola da Rede Estadual de Educação na cidade de Anápolis - GO. A pesquisa se desdobrou pelo viés do ensino de Geografia, concatenado à Geografia Cultural no que tange os estudos do lugar, do espaço de vivência dos sujeitos. Tratou-se de uma pesquisa de base qualitativa e descritiva, valendo-se de observação das aulas de Geografia das professoras participantes, bem como entrevista com essas docentes, no intuito de verificar, se o professor de Geografia utilizava a vivência do aluno durante as aulas e em diferentes conteúdos. Portanto, a pesquisa procurou destacar as potencialidades do lugar enquanto categoria de estudo fundamental para a Geografia, enfatizando as contribuições que podem ser geradas para as aulas.

Palavras-Chave: Educação. Música. Humanização.

Introdução

O ensino e a aprendizagem de Geografia não devem se configurar como uma mera atividade formal, em maçantes memorizações de conteúdos pré-selecionados e que levem apenas a comprovação de competências. Esse deve ser capaz de demonstrar a sua relevância no meio escolar, sobretudo no que diz respeito ao despertar da consciência dos sujeitos diante da sociedade e dos significados dos acontecimentos cotidianos.

Com isso, a Geografia desponta-se como uma ciência voltada ao estudo da dinâmica espacial, em suas diferentes escalas e sujeitos, não se trata de algo que pode ser passado adiante de modo banal, mas uma área do saber que, acima de tudo, deve ser compreendida, refletida, não memorizada. Para tanto, o professor deve conduzir o processo de ensino-aprendizagem em Geografia de modo que esse não se configure como algo limitado, mas que deixe elucidados os caminhos e possibilidades que os alunos têm para chegar às suas próprias conclusões (BENTO, 2013).

O professor apresenta-se como um profissional dotado de diferentes saberes e funções. Uma de suas bases de trabalho é, sem dúvida, a sua prática cotidiana em sala de aula, a qual se caracteriza pelas inúmeras atividades que são desenvolvidas. Vai desde o profissional que, em um campo teórico, se atem ao ensino, até o exercício do papel de amigo e confidente para muitos.

É no interior dessa amálgama de funções, sejam elas diretamente do professor ou não, que ocorre a prática docente; trata-se dos saberes e habilidades que o professor desempenha em sala de aula; contudo, tal prática não é restrita, fechada, limitada, ela se (re)constrói diariamente.

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Nesse espaço, diferentes tipos de conhecimentos transitam a todo instante e, incessantemente, um emaranhado sistema de comportamentos, seja da parte dos alunos ou dos professores, o que acaba fundamentando o termo ensino-aprendizagem. O que ocorre nesse espaço formal da sala transcende as noções básicas de ensinar e aprender, aqui quem aprende ensina e quem ensina também aprende (BENTO, 2015).

Para a Geografia, em especial para o professor dessa disciplina, a dinâmica em sala de aula oferece inúmeras possibilidades, principalmente pelo dinamismo ofertado pela própria ciência. Diante disso, uma vez que o professor passa a cercear as ideias em sala, ele limita sua própria prática, direcionando-a a arcabouços reducionistas, gerados, em grande medida, pelo desânimo em trabalhar com diferentes métodos, ou mesmo no despreparo em lidar com esses.

Ao passo em que o professor passa a utilizar das distintas possibilidades que lhe são ofertadas em sala de aula, ele consegue enriquecer e ter ganhos benéficos em seu dia-a-dia (CALLAI, 2001). As possibilidades descritas não se tratam de aparelhos e/ou recursos em sala, mas das duas maiores riquezas que ele possui: o conhecimento e o seu aluno.

O aluno traz consigo uma bagagem de conhecimentos muito vasta, rica de possibilidades. Portanto, ao dar oportunidade para esse sujeito, o docente possibilita mais que uma ou duas falas, mas a abertura de mundos e horizontes a serem desbravados. A vivência dos alunos, pautada em experiências e histórias diversas tem muito a contribuir, principalmente às aulas de Geografia.

É nesse sentido que o texto, fruto de uma pesquisa para trabalho de conclusão de curso (TCC), realiza um olhar para o lugar do aluno por meio da prática docente de professoras de Geografia da Rede Estadual de Educação de Goiás.

Metodologia

O presente trabalho constitui-se como uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva, em que se realizou uma análise sobre como os professores de Geografia, em sua prática docente, utilizam a vivência do aluno (ou não) como aporte/recurso de aprimoramento em suas aulas.

Nesse sentido, a pesquisa qualitativa permite uma análise do fenômeno em uma dimensão plural, possibilitando visualizar os dois lados da situação, tanto do professor, quanto do aluno, e assim entender os ganhos, ou não, para as aulas de Geografia. No que tange ao olhar do aluno acerca do lugar, bem como suas possíveis contribuições, esse se deu por meio de observação durante as aulas de Geografia de três professoras participantes da pesquisa no decorrer de uma semana, possibilitando visualizar a representatividade de tal categoria geográfica para o discente, e como essa se manifesta em seu discurso, em suas ações.

Sobre a pesquisa qualitativa de cunho descritiva Gil (1991, s/p apud RIBEIRO, 2008, p. 136) aponta que esse tipo de pesquisa “visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de Levantamento”.

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Assim, trata-se de uma pesquisa que não cerceia as ideias, seja do pesquisador, ou mesmo do participante, que podem assim dialogar, por meio de entrevista, de forma fluida, em que o conhecimento e a memória vão se manifestando gradativamente, promovendo uma amálgama de ideias e um reavivar de momentos.

A respeito do caráter ético da pesquisa, os participantes tiveram total liberdade de expressão durante as entrevistas, bem como na decisão de divulgar seus dados ou não. Desse modo, a pesquisa buscou manter o caráter de confidencialidade, integridade e sigilo aos participantes (professoras).

Essas tiveram seus nomes preservados, sendo identificadas como Professoras A, B e C. Em casos de possíveis desistências, as participantes tinham toda autonomia para que tomassem tal decisão. Vale ressaltar que um critério adotado para a escolha das professoras participantes da pesquisa foi o de possuir formação em Geografia. Para tanto, destaca-se também que a pesquisa possui aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Goiás.

Resultados e Discussão

Ao considerar a categoria geográfica lugar na dimensão do processo de ensino e aprendizagem em Geografia, observa-se que tal conceito se apresenta como fator essencial, sobretudo pela perspectiva do espaço vivido, como um agente na compreensão dos conteúdos geográficos.

Contudo, tal realização só ocorre a partir da ação do professor, a atividade docente, que no âmbito da sua prática, pode ou não considerar o espaço de vivência dos sujeitos (alunos) como uma ferramenta para o ensino de Geografia, para a compreensão do espaço em seus múltiplos aspectos, em sua complexidade.

Nesse contexto, observa-se que à medida que a vivência do aluno é considerada e associada aos conteúdos das aulas, os docentes despertam curiosidade em seus alunos e um maior interesse em buscar entender como se dá tal processo. Essa questão evidenciou-se tanto no período de observações das aulas das professoras participantes da pesquisa, bem como nas entrevistas concedidas por elas.

Afinal, o aluno, muitas vezes ou frequentemente se vê como um sujeito neutro (passivo) do processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, o professor, ao proporcionar uma maior interação do aluno, nas aulas, dando sua contribuição, ele realiza um avivamento desse indivíduo, o torna importante.

Desse modo, ao fazer com que o lugar do aluno seja o estopim para inúmeras discussões em sala de aula de Geografia, os ganhos não se limitam aos alunos, se estende também ao professor em sua prática. Ao aproximar os conteúdos trabalhados em sala com a realidade de seus alunos, o professor já está dando um passo a mais em sua prática docente; indo além dos saberes curriculares ele passa a exercitar os saberes experienciais (TARDIF, 2014).

Isso se dá pelo fato do docente transcender a ótica dos conteúdos pelos conteúdos, isto é, indo além do campo teórico, pois ele visualiza e demonstra para seus alunos as questões numa perspectiva prática, daquilo que eles têm contato.

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Nesse sentido, conforme o professor , no exercício de sua profissão, consegue fazer com que os seus alunos assimilem certas questões, não só os discentes são beneficiados, mas também o professor. A partir da sensação de dever cumprido, de que o seu trabalho não está sendo em vão, o docente se revigora.

Embora haja questões adversas que o desmotive, conforme pode ser visto em Moraes (2010), ele passa a perceber que o seu esforço diário em prol da educação, da construção de um pensamento reflexivo em seus alunos está valendo a pena. Essa afirmativa pode ser comprovada visto que, a partir da pesquisa, foi possível notar que são as pequenas questões que motivam o professor a (re)pensar a sua prática e assim buscar (dar) sentido a ela, ou mesmo ressignificá-la.

Diante disso, a pesquisa foi de uma importância singular, sobretudo, para que houvesse uma visão mais íntima do ambiente escolar, um olhar de perto sobre a dinâmica de um colégio em seus diferentes turnos, em suas múltiplas nuances. Trata-se de visualizar as relações que são estabelecidas dentro de uma escola, as formas como os sujeitos se comportam, a realidade vivida por cada um, seus desejos, suas expectativas.

Não obstante, agiu como mais uma oportunidade de poder lidar com as questões teóricas (advindas do meio acadêmico) em consonância aos aspectos práticos (a realidade da/na escola), não só pela observação das práticas, mas dos resultados que essas desencadeiam.

Assim, dada a conclusão da pesquisa, fica claro como o conceito de lugar se faz importante no ambiente escolar, algo que precisa ser mais evidenciado, mais trabalhado. São muitas as possibilidades que o espaço de vivência dos alunos desencadeia, as quais devem ser consideradas, associadas aos conteúdos ensinados, especialmente ao tratar da Geografia.

Referências

BENTO, Isabella Peracini. A mediação didática na construção do conhecimento geográfico: uma análise do processo de ensino e aprendizagem de jovens e adultos do Ensino Médio e da potencialidade do lugar. 2013. Tese (Doutorado em Geografia), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Estudos Socioambientais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2013. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/4280. Acesso em: 20 ago. 2018.

BENTO, Isabella Peracini. Ensino e aprendizagem em Geografia e os motivos dos alunos: a aposta do/no lugar. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 35, n. 1, p. 177-193, jan./jun., 2015. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/xmlui/handle/ri/11149. Acesso em: 20 ago. 2018.

CALLAI, Helena Copetti. A Geografia e a escola: muda a Geografia? Muda o ensino? Terra Livre, São Paulo, n. 16, p. 133-152, jan./jun., 2001. Disponível em: http://www.agb.org.br/publicacoes/index.php/terralivre/article/view/353. Acesso em: 20 ago. 2018.

MORAES, Loçandra Borges de. Profissão e profissionalização docente dos professores de Geografia da Rede Estadual de Educação de Goiás. In: MORAIS, Eliana Barbosa Marta de.; MORAES, Loçandra Borges de (orgs.). Formação de Professores: conteúdos e metodologias no ensino de Geografia. Goiânia: NEPEG, 2010, p. 79-96. Disponível em: http://nepeg.com/livros/formacao-de-professores-2/. Acesso em: 8 nov. 2018.

RIBEIRO, Elisa Antonia. A perspectiva da entrevista na investigação qualitativa. Evidência, Araxá, v. 4, n. 4, p. 129-148, jan./dez., 2008. Disponível em: http://www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/article/view/328/310. Acesso em: 20 fev. 2019.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

Notas

1. Título original da pesquisa: O lugar vivido, percebido e concebido: as relações entre a categoria lugar e os conteúdos de Geografia a partir da análise da prática docente. CAAE: 14754919.1.0000.8113.