Regina Márcia Ferreira Silva
regina.silva@ifg.edu.br

Cinthia Maria Felício
cinthia.felicio@ifgoiano.edu.br

Matias Noll
matias.noll@ifgoiano.edu.br

EIXO
Educação Física e Dança

Um Bate Papo Sobre Sedentarismo na Adolescência: uma prática educacional

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Resumo: A pesquisa foi desenvolvida com a comunidade externa e estudantes do IF Goiás- Câmpus Itumbiara, como uma atividade complementar remota, de uma hora de duração, intitulada “Bate-papo: Sedentarismo na adolescência, conceitos e contexto atual”. O objetivo foi à aplicação de uma prática educativa, com uso de metodologias ativas, para tratar dos conceitos de formação integral, formação física, atividades físicas e sedentarismo na adolescência e no contexto atual na quarentena do Covid 19. Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa e com método de pesquisa-ação. A atividade foi realizada com 22 participantes, discentes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio, dos cursos superiores e membros da comunidade externa. A atividade se dividiu em três momentos, sendo eles uma pré-atividade, a realização da atividade e uma pós-atividade. Os participantes afirmaram que a atividade lhes proporcionou grandes aprendizagens e conhecimentos. Portanto, considerando que o sedentarismo é um grande problema de saúde pública em especial na população adolescente, e que a atividade física é um direito previsto na legislação brasileira. São necessárias ações que possibilitem um diálogo constante sobre a temática, para conscientização dos adolescentes sobre os malefícios do sedentarismo e os benefícios das atividades físicas regulares para a saúde.

Palavras-Chave: Adolescentes. Formação Integral. Sedentarismo.

Introdução

Aos adolescentes brasileiros é garantido legalmente o direito a uma formação integral. Na Constituição Federal Brasileira de 1988 está previsto o pleno desenvolvimento humano. O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a BNCC prevê que seja garantido aos adolescentes educação para o seu desenvolvimento integral (BRASIL, 2017).

A Organização Mundial da Saúde define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. O grande desafio atual à saúde pública são as doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas, responsáveis por mais de 70% das mortes no mundo (WHO, 2020). Neste sentido, a prática de atividades físicas regulares se caracteriza como um fator de proteção contra as doenças crônicas não transmissíveis (ANDERSON; DURSTINE, 2019; OMS, 2018).

A maioria dos jovens não atingem os níveis mínimos recomendados de atividade física. Mais de 81% dos adolescentes do mundo são considerados inativos fisicamente (GUTHOLD et al., 2020). Além disso, a prática de atividade física diminui com o avanço da idade, começando na adolescência (HALLAL et al., 2012).

Recente estudo com jovens noruegueses identificou que os estudantes se exercitaram menos em 2018 do que em 2014, a prevalência de excesso de peso aumentou substancialmente de 2010 em relação a 2018, e aproximadamente apenas 20% dos estudantes cumpriu com os critérios recomendados para frequência, intensidade e duração das atividades físicas (GRASDALSMOEN et al., 2019). Outro grande problema relacionado à inatividade física é o comportamento sedentário, e se relaciona diretamente com a obesidade.

A obesidade e o sedentarismo tiveram um aumento considerável, entre as populações de jovens, se comparado às décadas anteriores (CUREAU et al., 2012; SILVA JUNIOR, 2012; PINHO; BOTELHO; CALDEIRA, 2014; NOGUEIRA et al. , 2014; CARNEIRO et al., 2017). De acordo com Barata (2009, p. 24), “o sistema de reprodução social dos diferentes grupos inclui os padrões de trabalho e consumo, as atividades práticas da vida cotidiana, as formas organizativas ou de participação social, a politica e a cultura”.

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É por meio das contradições expressas nas sociedades, a condição social do indivíduo determinará se ele terá acesso aos processos benéficos mantenedores de saúde ou aos processos produtores de doenças (BARATA, 2009; BAGRICHEVSKY et al., 2013; NOGUEIRA et al., 2014). Objetivo da pesquisa, aplicação de uma prática educativa, utilizando metodologias ativas, sobre os conceitos de formação integral, focado no sedentarismo entre adolescentes.

Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida com 22 participantes, estudantes do ensino médio, da graduação do IF Goiás – Câmpus Itumbiara e com membros da comunidade externa. Devido ao contexto de distanciamento social, a pesquisa foi realizada em uma sala virtual do Google Meet, com 1h de duração. A finalidade foi aplicar uma prática educativa usando metodologia ativa, para abordar o sedentarismo em adolescentes. A pesquisa se caracteriza como descritiva, e abordagem qualitativa e com método de pesquisa-ação.

O estudo foi desenvolvido juntamente ao projeto de ACR (Atividade Complementares Remotas 2020) do IFG - Câmpus Itumbiara. Uma pré-atividade foi desenvolvida na véspera da atividade, os inscritos receberam um link do site Mentimeter, para responder a questão: “Quais são as duas primeiras palavras que vem a sua cabeça, quando você ouve a palavra sedentarismo?”. A atividade recebeu 16 respostas e estas formaram uma nuvem de palavras.

Figura 1. Nuvem de palavras.
Nuvem de palavras.

Fonte: elaborado pelos autores.

A atividade foi divida em quatro etapas, a primeira foi realizada uma rodada de apresentações dos participantes. Posteriormente aplicamos um game (diagnóstico) para identificar os conhecimentos prévios dos participantes. Na terceira etapa aplicou-se outro game e conversamos sobre os conceitos, por fim um game com dez questões para avaliação.

Uma pós-atividade foi aplicada via questionário do google forms com três questionamentos, se o participante gostou da atividade, se a atividade lhe proporcionou novos conhecimentos, e por fim que ele atribuísse no mínimo um ponto positivo e um ponto negativo à atividade.

Resultados e Discussão

A ideia de formação integrada sugere superar o ser humano que historicamente foram separados pela divisão social do trabalho, superar a redução da preparação para o trabalho ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social. A formação omnilateral compreende a formação física, mental, cultural, política e científico-tecnológica (CIAVATTA, 2005).

A origem da palavra sedentarismo vem da pré-história, surgiu quando os povos aprenderam a plantar, domesticar animais e utilizar ferramentas. Deixaram de ser nômades, e passaram a ser sedentários, aqueles que permanecem no mesmo lugar por muito tempo. O conceito de sedentarismo é utilizado atualmente para definir a ausência de exercícios físicos regulares, é um problema de saúde pública e afeta mais de 80% dos adolescentes em todo o mundo, no Brasil o percentual é de 83,5%.

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As respostas do game (diagnóstico) possibilitou identificar que cerca de 68% dos estudantes demonstraram possuir pouco conhecimento prévio sobre os conceitos, e 11% apresentaram nenhum conhecimento sobre os conceitos, e apenas 21% afirmaram possuir conhecimentos sobre os conceitos. Grande parte dos participantes não possuía no inicio da atividade conhecimentos suficientes acerca dos conceitos. Analisando a avaliação final, 15% dos participantes acertaram mais que 70% da avaliação e 40% acertaram mais que 50% da avaliação.

No questionário aplicado como pós-atividade, havia três questionamentos, se o participante gostou de participar da atividade, se a atividade lhe proporcionou novos conhecimentos e que ele atribuísse no mínimo um ponto positivo e um negativo em relação à atividade. Se o participante gostou de participar da atividade, 94,1% responderam que sim, 5,9% responderam que foi indiferente, nenhum participante respondeu que não gostou de participar da atividade.

Se a atividade lhe proporcionou novos conhecimentos, 100% dos participantes responderam que sim. Sobre a atribuição de no mínimo um ponto positivo e um ponto negativo em relação à atividade. Sobre os pontos positivos apresentados: melhor entendimento e esclarecimento sobre o sedentarismo e os benefícios da atividade física regular, a utilização dos games e a interação prática. Os pontos negativos, foram o tempo muito curto e à falta de adesão de alguns participantes.

As percepções dos participantes em relação à atividade foram de grandes aprendizagens e conhecimentos. O sedentarismo é um grande problema de saúde pública que afeta especialmente os adolescentes, e a formação integral é um direito previsto na legislação brasileira. Portanto, são necessárias ações que possibilitem um diálogo constante sobre a temática, para conscientização sobre os malefícios do sedentarismo e os benefícios das atividades físicas regulares para a saúde.

Referências

ANDERSON, E.; DURSTINE, J. L. Physical activity, exercise, and chronic diseases: A brief review. Sports Medicine and Health Science, v. 1, n. 1, p. 3–10, 2019.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 4 jul. 2020.

CIAVATTA, M. A formação integrada a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade. Revista Trabalho Necessário, v. 3, n. 3, p. 1–20, 2005.

GRASDALSMOEN, M. et al. Physical exercise and body-mass index in young adults: A national survey of Norwegian university students. BMC Public Health, v. 19, n. 1, 2019.

GUTHOLD, R. et al. Articles Global trends in insufficient physical activity among adolescents: a pooled analysis of 298 population-based surveys with 1 · 6 million participants. The Lancet child and Adolescent Health, v. 4, n. 1, p. 23–35, 2020.

HALLAL, P. C. et al. Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet (London, England), v. 380, n. 9838, p. 247–257, jul. 2012.

OMS. Plano de ação global para a atividade física 2018-2030. Disponível em: https://www.cref6.org.br/wp-content/uploads/2018/09/Plano-Global.pdf. Acesso em: 9 jul. 2020.

WHO. Noncommunicable diseases progress monitor 2020. Disponível em: https://www.who.int/publications-detail-redirect/ncd-progress-monitor-2020. Acesso em: 9 jul. 2020.