Sheila Santos de Oliveira
sheilasaoliv@ufg.br/p>

Marilza Vanessa Rosa Suanno
marilza_suanno@ufg.br

João Henrique Suanno
suanno@uol.com.br

EIXO
Educação e Formação de Professores

Webnário no Quintal da Casa Verde: Série Pandemia, Educação Básica e Ensino Remoto

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Resumo:O evento de extensão Webnário no quintal da Casa Verde: Série pandemia, educação básica e ensino remoto (EV157-2020) é organizado em quatro lives transimidas ao vivo pelo YouTube. Essa proposta surge da necessidade de oportunizar o diálogo e a troca de experiências entre escolas, professoras/professores, pesquisadores e famílias da educação básica que vivem um momento difícil, diferente e emergencial. Esse é um momento de intercâmbio de troca de experiencias e reflexões. É uma ação realizada em parceria entre a Universidade Federal de Goiás, a Universidade Estadual de Goiás, a Rede Internacional de Escola Criativas/ ADEC e a Escola Casa Verde.

Palavras-Chave: Educação Básica. Ensino Remoto. Pandemia.

Introdução

Vivemos em 2020 uma situação de pandemia no que se refere à infecção pelo coronavírus (Sars-Cov-2), causador da doença Covid 19, conforme declarou a Organização Mundial de Saúde – OMS, no dia 11 de março de 2020. No Brasil, a Lei Nº 13.979 de 6 de fevereiro de 2020 previa medidas que poderiam vir a ser adotadas para enfrentamento de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019.

Pouco mais de um mês depois, no dia 20 de março de 2020 a Portaria nº 454 do Ministério da Saúde (MS) declarou, em todo o território nacional, o estado de transmissão comunitária do coronavírus. Tal fato fez com fosse ampliada a orientação para isolamento social a fim de evitar a contaminação e/ou a propagação do coronavírus, bem como orientação de quarenta de catorze dias para pessoas suspeitas de contaminação.

O Ministério da Educação, por meio da Portaria 343, de 17 de março de 2020, dispôs sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia. A pandemia tem alterado as formas de produzir a vida, de se relacionar, de ensinar e de aprender na sociedade. O distanciamento social posto pela situação de pandemia, impõe ao campo educacional uma série de reflexões e exigências, sobretudo para aquele processo que entendemos ser objeto da didática: o processo ensino aprendizagem.

Diante da impossibilidade da realização da educação presencial, a população de estudantes de todas os níveis e modalidades mantem-se afasta das instituições de ensino que têm, nesse contexto, o desafio de se organizarem para atuar com o ensino remoto.

Estamos, portanto, frente a uma situação emergencial que exige práticas educativas emergenciais mediada pelas tecnologias digitais. Assim, além da ausência das relações que se dão nas relações cotidianas com o outro, compreender e enfrentar a realidade, os dilemas e as dificuldades de professores, de alunos e das famílias foi o objeto dessa atividade de extensão.

Essa demanda chega até a UFG e a UEG por interlocução e solicitação de um grupo de escolas investigadas pela Rede Internacional de Escolas Criativas – RIEC (Acordo Multilateral de Cooperação entre dezessete instituição nacionais e internacionais para o fortalecimento das atividades de ensino, pesquisa, extensão e formação - Processo SEI/UFG Nº 23070.036497/2019-94).

Desta forma, entendendo que a extensão é uma exigência das instituições de Ensino Superior que converge com o compromisso que estas instituições têm com o conhecimento, com a educação e a sociedade, como nos aponta Severino (2016), nos propusemos a refletir sobre a escola, educação básica e práticas do ensino remoto em tempos de pandemia com o intuito de promover o intercâmbio de experiências entre escolas sobre a educação básica e as práticas do ensino remoto durante a pandemia, além de oportunizar o diálogo entre escolas, professoras/professores, pesquisadores e famílias da educação básica que vivem um momento difícil, diferente e emergencial.

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Nesse sentido, o Webinário no quintal da Casa Verde – Série pandemia, educação básica e ensino remoto, foi um movimento de intercâmbio de trocas de experiências e reflexões promovido em quatro encontros temáticos, como veremos adiante, realizado em parceria entre a Universidade Federal de Goiás, a Universidade Estadual de Goiás, a Rede Internacional de Escola Criativas, Asociación de Escuelas Creativas - ADEC e a Escola Casa Verde (Aparecida de Goiânia/GO).

Metodologia

Considerando as (im)possibilidades do momento atual, buscamos conduzir as discussões propostas no evento de extensão Webinário no quintal da Casa Verde – Série pandemia, educação básica e ensino remoto de forma dialógica. Realizamos quatro encontros (lives) síncronos, chamados de episódios, cada um debatia uma temática pertinente a reflexão sobre as especificidades da educação básica e seus desafios em tempos de pandemia.

Em cada encontro participaram representantes de escolas públicas e privadas, de Goiás e outros estados do país, membros da Rede Internacional de Escolas Criativas. Os procedimentos adotados nos encontros foram o uso de entrevista semiestruturada e de questões abertas a serem realizadas pelo público participante das lives. Utilizamos o softwere Streamyard para a transmissão no canal da Escola Casa Verde, pelo Youtube.

Resultados e Discussão

O projeto de extensão Webnário no quintal da Casa Verde - Série pandemia, educação básica e ensino remoto, reflete os anseios e as necessidades de promover o diálogo entre escolas, professores/professoras, pesquisadores, alunos e famílias acerca da educação em tempos de pandemia e seus desdobramentos.

A primeira live do Webnário teve como discussão o tema Escola e família na educação das crianças em tempos de pandemia. Essa live teve como objetivo aproximar a escola e a família em tempos de pandemia a partir da promoção do diálogo entre as instituições e os grupos participantes.

A mediação foi realizada pelas professoras Dra. Sheila Santos de Oliveira e Dra. Marilza Vanessa Rosa Suanno. Recebemos como palestrantes Profa. Ma. Jeane Pitz Pukall representante da Escola Básica Municipal Visconde De Taunay (Blumenau/SC). Profa. Esp. Elzita Maria de Lima representante da Escola Casa Verde (Aparecida de Goiânia/GO). Profa. Ma. Elaine Almeida Sleiman representante da Escola Casa Verde.

As questões para as representantes das unidades escolares referiam-se ao sentido das escolas de educação infantil e ensino fundamental desenvolverem atividades escolares remotas em tempos de pandemia, as condições e o auxílio as famílias para acompanharem os estudantes e as atividades realizadas até o momento. Guardadas as especificidades de cada unidade, o que as palestrantes trouxeram em comum para a reflexão foi a perspectiva formativa das atividades remotas pensadas para além do cumprimento do calendário.

Seguem, as orientações expressas em seus projetos pedagógicos que contemplam o direito a educação para todos e os direitos de conviver, brincar, participar e explorar. Enfatizaram a importância do lúdico, das brincadeiras e interações que nessas circunstancias ocorrem com a família. Desta forma, as atividades planejadas buscam estreitar as relações familiares, entendendo as dificuldades do momento, ao mesmo tempo em que prosseguem atuando, com todas as limitações, de acordo com seus objetivos, princípios e com seus marcos filosóficos.

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Na segunda live a discutimos o tema Educação Infantil em tempos de pandemia: diálogo entre educadores e famílias que teve como objetivo promover reflexões sobre as especificidades da educação infantil e do ensino remoto em tempos de pandemia, nesta etapa da educação básica.

Participaram como mediadoras as professoras Dra. Sheila Santos de Oliveira e Ma. Lindalva Passoni e como palestrantes a profª Dra. Gisela Wajskop – representante da Escola do Bairro (São Paulo/SP), profª Dra. Maria José Pereira De Oliveira Dias – representante do Departamento de Educação Infantil DEI/CEPAE/UFG (Goiânia/GO) e a Profª Esp. Elizete Maria de Lima - representante da Escola Casa Verde (Aparecida de Goiânia/GO).

Nesse encontro, as palestrantes foram indagadas a respeito do vínculo ou atividade remota com as crianças e as famílias, sobre o uso das ferramentas tecnológicas e seu foco (nas crianças, objetivos ou conteúdos). A opção do DEI/CEPAE/UFG, conforme a entrevista, foi por não realizar atividade remota naquele momento e sim desenvolver um trabalho de apoio e assistência às famílias das crianças, seguindo as proposições políticas e pedagógicas do Departamento.

Essa opção é justificada pela preocupação com a exclusão/inclusão, com o aprofundamento das desigualdades e com a situação real das famílias durante a pandemia. A escola Casa Verde buscou interagir com a família através de reuniões consultivas nas quais os pais opinavam sobre as possibilidades do ensino remoto, sobre suas necessidade e dificuldades.

Assim, as atividades remotas dessa unidade teriam a criança como foco, dessa forma, ressignificaram seus fazeres pedagógicos de maneira a construir nexos com contexto atual, considerando as demandas das famílias e a perspectiva formativa baseada no sensível. Na mesma direção, a Escola do Bairro buscou o diálogo com as famílias e a adesão as ferramentas tecnológicas. Apresentou experiências exitosas que tinham o foco na criança e nos caminhos de seu desenvolvimento, mesmo em situação de distanciamento.

O terceiro episódio, live 3, discutiu as Escolas e temas ambientais/ permaculturais. Mediaram essa discussão a professora Dra. Sheila Santos de Oliveira e o professor Dr. João Henrique Suanno. Como palestrantes tivemos a presença da Profa. Ma. Tauana Patrícia Bonsenhor – Representante do IPEVI – Instituto de Permacultura do Vale do Itajaí - Blumenau/SC, Prof. João Batista de Lima – Representante da Escola Casa Verde (Aparecida de Goiânia/GO) e a Profa. Dra. Patrícia Limaverde – Representante da UECE/Escola Vila (Fortaleza/CE).

O encontro teve como objetivo pensar a permacultura dentro e fora da escola como um aprendizado lúdico que permite uma melhor compreensão da dinâmica de desenvolvimento dos recursos naturais. Nesse sentido, os professores fizeram a exposição de suas experiências nessa direção, trazendo o conceito de que permacultura é “um sistema de design para criação de meio ambientes humanos sustentáveis” (MOLLISON e SLAY, 1998).

No campo educacional a permacultura possibilita produzir reflexões sobre alternativas aos modos de produção, ao estilo de vida e a relação ser humano/natureza predominantes. A aposta é que é possível “aprender dentro da cultura da permanência”.

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Na quarta live, episódio 4, o debate foi sobre Escola, cultura e estética. Seu objetivo foi compartilhar o trabalho desenvolvido em torno da cultura e estética, em tempos de ensino remoto e pandemia. Os mediadores da atividade foram a professora Dra. Sheila Santos de Oliveira e o professor Dr. Carlos Cardoso Silva. Como palestrantes, recebemos a Profª Dra. Ebe Maria de Lima Siqueira – representante da Escola Casa Verde (Aparecida de Goiânia/GO), Profª Esp. Emicleia Alves Pinheiro – representante da Escola Pluricultural Odé Kayodê EPOK (Cidade de Goiás/GO) e Profº Ms. Jonathas Vilas Boas de Sant’Ana – professor da Escola Classe 512 (Samambaia/Distrito Federal).

As questões eram sobre a cultura e a arte no projeto pedagógico, o trabalhado com a cultura e o multiculturalismo e o lugar da estética na formação das crianças. As três escolas presentes nesse encontro entendem a escola como espaço de produção e reprodução cultural. Mesmo com todas as dificuldades do ensino remoto, elas buscaram reinventar suas práticas sem perder a perspectiva do trabalho intercultural. Esta perspectiva ressalta a importância de pensar a cultura, a diversidade, as etnias, raças, questões de gênero, num movimento de resistência e ruptura com os preconceitos e discriminações (CANDAU, 2019). Essas questões estão presentes nos projetos pedagógicos e reforçam o lugar da estética na formação.

A dimensão estética de que tratamos tem a ver com o sensível, com o afeto, com a capacidade de sensibilizar e ser sensibilizado. Amorim e Castanho (2011) indicam que a dimensão estética é o lugar da beleza na educação e propõem que “a beleza e a educação deem-se as mãos, justamente quando se vivencia a insensibilização do homem contemporâneo” (p. 95).

Nesse sentido, os trabalhos relatados religam os sujeitos, buscam tocá-los, afetá-los, pela beleza da experiência com a arte, com a literatura, com o acolhimento as múltiplas culturas e com o reconhecimento do outro. Importa ressaltar que em cada live dialogamos, on line, com cerca de 60 pessoas. As publicações no Youtube já têm mais de 500 visualizações e o Webnário, todos os episódios, foram objetos de análise de Curso de Formação Continuada de Professores.

Referências

AMORIM. V. M.; CASTANHO. M. E. Da dimensão estética da aula ou do lugar da beleza na educação. In: VEIGA. I. P. A (org.) Aula : gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas, SP: Papirus, 2011.

CANDAU, V. M. Educação intercultural e práticas pedagógicas. In: SILVA, M., ORLANDO,

C.; ZEN, G. (Orgs.). Didática: abordagens teóricas e contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2019.

MOLLINSON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Brasília MA/SDR/PNFC, 1998.

SUANNO, Marilza Vanessa Rosa; HOELZEL, Carlos Gustavo Martins. Biodesign uma ecoaprendizagem: conhecimento, consciência e novas relações com a vida. Revista Electrónica de Investigación y Docencia – REID. Disponível: https://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/reid/article/view/5641/5031. Acesso: 20/08/2020.

Notas

1. Registro ADEC no Ministério del Interior, Madrid/Espanha, 07 de março de 2018, processo nº 100068-2017.