Anne Gabriele Camargos de Oliveira
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EIXO
Educação e Formação de Professores

O Cuidar de Si na Formação do Estudante Trabalhador em Pedagogia

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Resumo:Este resumo aborda a experiência discente dos estudantes trabalhadores no curso de pedagogia, da Universidade Federal de Goiás. O artigo é fruto de desenvolvimento do Programa de Iniciação à Pesquisa, associado ao projeto em andamento “Tecnologias de si na formação em pedagogia: uma cartografia dos sujeitos”, coordenado pela Prof.ª Dra. Maria Izabel Machado. Pretende-se averiguar como esses estudantes trabalhadores se desenvolvem ao longo da formação em Pedagogia. O mesmo tem por objetivo focar no cuidado de si e na saúde mental/física dos estudantes trabalhadores durante a graduação em pedagogia.

Palavras-Chave: Cuidado de si. Formação. Estudante-Trabalhador.

Introdução

Este trabalho é vinculado ao projeto de Iniciação a Pesquisa na modalidade voluntária PIVIC/UFG, com o seguinte plano de trabalho “Estudante que trabalha ou trabalhador que estuda? A experiência discente no curso de pedagogia”, que se encontra em fase II. O presente plano de trabalho é continuidade das atividades de pesquisa desenvolvidas entre 2019 e 2020 e se inscreve no conjunto de reflexões acerca dos processos formativos empreendidos ao longo da formação em Pedagogia ofertada pela Universidade Federal de Goiás.

Com o título: “Tecnologias de si na formação em pedagogia: uma cartografia dos sujeitos” o projeto de pesquisa pretende mapear processos formativos que ultrapassam a formação profissional ao longo da graduação, sendo o recorte proposto para este plano de trabalho refletir acerca da imbricação entre classe, raça e gênero.

Nos últimos anos acompanhamos uma mudança no perfil dos estudantes ocupantes das vagas no ensino superior público, ao contrário do que se veiculou via senso comum por certo tempo, a maior parte dos estudantes é formada por jovens com renda familiar de até três salários mínimos.

Nesse sentido o presente plano de trabalho pretende aprofundar a experiência dos sujeitos ingressantes no curso de pedagogia à luz de dados sócio econômicos tendo em vista os inúmeros arranjos necessários feitos pelos estudantes a fim de assegurarem sua permanência no ensino superior.

Nesta segunda fase de execução do plano serão abordadas questões não previstas inicialmente em especial relacionadas à saúde mental (emocional desgastado, doenças psicológicas) e física (horas dormidas, pular refeições, não comer bem) dos discentes trabalhadores, onde muitos relataram uma dificuldade que vai além de estudos e horários.

Metodologia

A abordagem do estudo é qualitativa que busca compreender o grupo social citado, para coleta de dados realizamos entrevistas semiestruturadas, cujas perguntas visavam esclarecer o desempenho acadêmico dos estudantes trabalhadores, dificuldades, rotinas, conciliação de estudos e trabalho, composição familiar, relação com os familiares, mudanças, expectativas com o curso, focando na saúde mental/física, pretendendo averiguar como se encontram perante o desenvolvimento no curso de Pedagogia.

Planeja-se entrevistar ao longo da pesquisa oito pessoas, sendo mulheres e homens do turno matutino e noturno do curso de pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás.

Conforme base teórica assumida, pretendemos destacar as tecnologias do cuidado de si que se associa ao referencial teórico desenvolvido por Michel Foucault e por Marlene Tamanini. Elegemos a autora Maria Cecília Minayo, que também contribuiu com a proposta de técnicas e métodos de coleta de dados, na trajetória da pesquisa.

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E escolhemos Maria Gertrudes Guimarães, que nos ajudou a compreender as dificuldades enfrentadas pelos estudantes trabalhadores do ensino superior.

Resultados e Discussão

Embora em desenvolvimento da pesquisa em fase II, já podemos apresentar alguns resultados: ao mapear e sistematizar as falas dos discentes trabalhadores, levantamos dados sobre classe social, raça e gênero, formação e experiências dos sujeitos.

Ao perguntado o que cada um fazia para se cuidar, percebe que as mulheres têm dificuldade de responder tal pergunta, pois ao longo do tempo deduz-se que:

Que ela tem a obrigação moral de cuidar. Estou falando de situações de cuidado tanto de doentes, de idosos, crianças, mas também de faxina, limpeza, diaristas, limpeza das cidades, coleta do lixo, serviços diversos, e ambientes de trabalho em fábricas, ou informais nas ruas, ou no virtual (TAMANINI, 2018, p.33).

E desta forma, os entrevistados estabeleceram três formas de autocuidado: a primeira é comer; a segunda é lazer; a outra é a educação. Outras entrevistadas relataram que não se cuidam, aparecendo falas sobre falta de tempo e logo em seguida mencionando a saúde mental e física. E outras discentes falaram que o cuidado se encontra em desenvolvimento.

No que tange a saúde mental, os alunos trabalhadores mencionaram que a saúde se encontra em desequilíbrio, perturbada e confusa, aparecendo falas sobre chorar o tempo todo. Neste viés, entendemos o quão necessário será uma busca profunda nesses dados, por isso, a segunda fase da pesquisa terá como objetivo focar nas questões de saúde mental e física dos estudantes trabalhadores.

Ainda sistematizamos as experiências relatadas, que foram a construção de artefatos imprescindíveis desenvolvidas pelos estudantes trabalhadores para que possam garantir a sua estabilidade e permanência na graduação. Entendemos que as ações desenvolvidas pelos estudantes trabalhadores os afastam do caminho da evasão escolar.

Dar voz ao estudante trabalhador tem oportunizado que o mesmo exponha seus significados sobre a formação e experiências, e os relatos também enfatizam a importância da manutenção do trabalho e o cuidado de si. Essa manutenção tem se mostrado um desafio para a trajetória daqueles estudantes, bem como do desenvolvimento da trajetória desta pesquisa.

Referências

FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. 2ª edição. Trad. Márcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2006.

GUIMARÃES, Maria Gertrudes Gonçalves de Sousa. Trabalhadores-estudantes: um olhar para o contexto da relação entre trabalho e ensino superior noturno. 2006. 129 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pós-Graduação em Educação, Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, 2006. Disponível em: http://bdtd.unoeste.br:8080/tede/handle/tede/834. Acesso em: 27 de ago. 2020.

TAMANINI, Marlene. Para uma epistemologia do cuidado: teorias e políticas. In: TAMANINI, Marlene; HEIDEMANN, Francisco G.; VARGAS, Eliane Portes; ARAÚJO, Sandro Marcos Castro de. O cuidado em cena, Desafios políticos, teóricos e práticos. Florianópolis: UDESC, 2018. p. 31-69.

MINAYO, Maria Cecília Sousa de. Quantitativo versus qualitativo, subjetivo versus objetivo. In: O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1992. p. 28-88.