Lillian Jordânia Batista Franczak
lillianjordaniac@hotmail.com

Vanessa Helena Santana Dalla Déa
vanessasantana@ufg.br

Cláudia Santos Gonçalves Barreto Bezerra
claudiabarreto.ufg@gmail.com

EIXO
Educação e Formação de Professores

A Inclusão e os Desafios da Biblioteca Escolar no Contexto da Educação mediada por Tecnologias

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Resumo:As tecnologias de informação e comunicação são de usos comuns nas bibliotecas escolares e utilizam de recursos materiais e tecnológicos há algum tempo para capacitações de usuários, formação de multiplicadores, apresentação de palestras para a comunidade escolar, entre outras possibilidades. Objetiva-se provocar reflexões sobre como a biblioteca escolar pode promover inclusão no contexto da educação fazendo uso de tecnologias. Como bibliotecários e professores podem se auxiliarem e realizarem as mudanças que a inclusão tanto necessita. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica desenvolvida com base científica explorando os pensamentos de diferentes autores como Brandão (1983), Campello (2008), Freire (2015), Marconi e Lakatos (2003), Moro e Estabel (2004) para que a partir de seus conceitos embasar teoricamente a referida pesquisa. Percebe-se que os serviços que as bibliotecas escolares desenvolvem nas suas comunidades escolares devem fazer uso das tecnologias, envolver a comunidade e para, além disso, trabalhar em prol dos direitos, sejam eles direitos humanos, das pessoas com deficiência, das pessoas com necessidades específicas ou de qualquer outra minoria garantindo assim, um mundo mais inclusivo.

Palavras-Chave: Inclusão. Biblioteca escolar. Tecnologias.

Introdução

Pessoas circulam pelas escolas mundo afora. Alunos, professores, diretores, bibliotecários, funcionários, entre outros. São nelas que o acesso à informação pode ser a chave da inclusão. A biblioteca escolar se torna um espaço universal e democrático que ao longo dos tempos congrega passado, presente e futuro. Antes, lugar de silêncio, hoje, lugar de burburinho, alegria, comunicação, interação e inúmeras possibilidades para democratização do saber e do conhecimento. Lugar que acolhe, promove a construção do conhecimento e compartilhamentos, que servem como ambientes de mediação de sujeitos dentro de uma rede integrada de pessoas, tecnologias e novas aprendizagens.

O presente trabalho contemplam resultados parciais da pesquisa “Leitura e acessibilidade: práticas inclusivas para a formação de leitores no Espaço de Leitura Acessível do Laboratório Multidisciplinar de Inclusão Escolar e Formação de Professores do CEPAE/UFG”, que se encontra em andamento no Mestrado Profissional em Ensino na Educação Básica, do Programa de Pós-Graduação do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, da Universidade Federal de Goiás (CEPAE/UFG), na linha de pesquisa “Práticas Escolares e Aplicação do Conhecimento”.

Sabe-se que as pessoas com deficiência e minorias sempre “enfrentaram desafios na busca de uma educação [...] que lhes ofereça a oportunidade de se apropriarem dos conhecimentos” (SACARDO; SILVEIRA, 2018, p. 124). Sabe-se também que a “deficiência não se encontra apenas no ser humano, mas em uma sociedade que é altamente incapacitante e excludente” (SACARDO; SILVEIRA, 2018, p. 127), até mesmo porque a Lei nº 13.146, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, versa sobre o “Direito à Educação” e não é cumprida em sua plenitude. Ela afirma que é: “dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação” (BRASIL, 2015).

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Na escola, a “biblioteca escolar é, sem dúvida, o espaço por excelência, para promover experiências criativas de uso de informação”. E acrescentaria das tecnologias, pois ao “reproduzir o ambiente informacional da sociedade contemporânea, a biblioteca pode, através de seu programa, aproximar o aluno de uma realidade que ele vai vivenciar no seu dia a dia” (CAMPELLO, 2008, p.11). Nela, as tecnologias permitem “possibilidades de leitura”. [...] que [...] ensejam processos de práticas leitoras” (FEITOSA, 2018, p. 61, grifo do autor). E ao concretizar essa interação é que a escola e a biblioteca realizam a mediação entre as possíveis leituras de mundo. Leituras de mundo essas, que segundo Lajolo (2006, p. 7) transformam “a leitura em prática circular e infinita”. A leitura, através da literatura, pode estimular contextos empobrecidos de cultura que excluem. Pena (2009, p. 1), nos confirma que as pessoas com deficiência “são geralmente expostas a um contexto culturalmente pobre”.Apesar das “ferramentas da cultura”, o mais importante são as mudanças atitudinais, o que “significa reconhecer e confiar em sua capacidade de superar as dificuldades” por meio das interações sociais (PENA, 2009, p. 04).

O bibliotecário escolar enquanto agente social de transformação não pode permitir que a exclusão dentro da escola elimine o acesso às tecnologias e ferramentas culturais. Seu desafio é lutar com mais afinco para que as crianças e jovens com deficiência e as minorias “entendam o mundo, [...] a tecnologia, [...] a cultura, a educação, a vida coletiva, ampliando enriquecendo e aprofundando seus horizontes de existência humana, no ver, sentir, pensar e agir” (COÊLHO, 2012, p. 88). Além de uma “compreensão crítica de educação” que “propõe ensinar a leitura do texto lendo o contexto histórico, a leitura da palavra ao lado da leitura do mundo[...] implica, pois, na conscientização da realidade” (FREIRE, 2015, p. 297).

Metodologia

A metodologia se constituiu através da pesquisa bibliográfica. Ao escolher esse tipo de metodologia, aconteceu o encontro com “uma gama de fenômenos muito mais ampla” (GIL, 2010, p. 30) de informações, documentos e conhecimentos já produzidos por autores das áreas abordadas.

As oito fases abordadas por Marconi e Lakatos (2003, p. 44) da pesquisa bibliográfica foram percorridas, a saber: “escolha do tema; elaboração do plano de trabalho; identificação; localização; compilação; fichamento; análise e interpretação; redação”, o que resultou nessas reflexões para professores e bibliotecários.

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Resultados e Discussão

Alguns resultados que poderão diminuir as lacunas ainda existentes nesse processo são: Promoção da cidadania e da inclusão – segundo o Manifesto IFLA/UNESCO (documento norteador sobre as bibliotecas escolares) “a missão da biblioteca escolar é a promoção de serviços de apoio à aprendizagem” para [...] “se tornarem pensadores críticos e efetivos usuários da informação, em todos os formatos e meios”; Disponibilização de tecnologias assistivas – “cada vez mais os professores têm descoberto que muitos recursos podem ser utilizados por todos os alunos, melhorando a aprendizagem de toda a sala.” (BANDEIRA; ROCHA; DALLA DÉA, 2018, p. 46). Biblioteca escolar como parte integral do sistema educativo – “organiza materiais bibliográficos, audiovisuais e outros meios e os coloca à disposição de uma comunidade educacional”. Faz parte enquanto instrumento de desenvolvimento do currículo para fomentar a leitura, “a formação de uma atitude científica”, buscando proporcionar “aprendizagem permanente” de forma criativa. Também é responsável pelo apoio aos “docentes em sua capacitação profissional”, além de atuar em toda comunidade escolar (FEBAB, 1985); Maior interação entre professores e bibliotecários – para que “oportunizem o acesso às ferramentas de pesquisa estimulando os usuários a ampliar suas informações, desenvolver a curiosidade e o espírito crítico” (MORO; ESTABEL, 2004, p. 2); Uso das tecnologias disponíveis – “É aprender a comunicar-nos verdadeiramente: [...] com todas as linguagens, verbais e não verbais” (MORAN, 1998), através de lista de discussão, e-mail, chats e salas de Bate-Papo, equitext, fórum, sites ou home pages, videoconferência, lives de contação de histórias e peças teatrais, treinamentos de usuários on-line, capacitações on-line, jogos literários, saraus virtuais, etc.

Apesar de tantas formas de uso das tecnologias pode-se afirmar que ainda são muitos os obstáculos nesse processo, pois faltam equipamentos com condições adequadas de uso, pouca ou quase nenhum acesso a conexão, dificuldades de natureza em operacionalização, tecnologias obsoletas, entre outras. Assim sendo, a biblioteca escolar precisa garantir “o acesso ao conjunto sistematizado de conhecimentos como recursos a serem mobilizados” (BRASIL, 2004, p. 7). É preciso compreender o tamanho do abismo cultural e tecnológico que separa as crianças e jovens com deficiência e minorias nesse contexto da Educação Básica. Mesmo assim, os atores escolares jamais devem esquecer da “esperança que se pode ter na educação” (BRANDÃO, 1983, p. 110).

É através dela que a construção de uma biblioteca escolar inclusiva acontece buscando sempre as “transformações no contexto educacional: transformações de idéias, de atitudes, e da prática das relações sociais, tanto no âmbito político, no administrativo, como no didático-pedagógico” e a promoção de mudanças na “construção de novas formas de relacionamento, no contexto educacional, levando em conta o potencial e o interesse de cada aluno” (BRASIL, 2004, p. 9).

Referências

BANDEIRA, Ana; ROCHA, Cleomar; DALLA DÉA, Vanessa. Se inclui: formação docente para inclusão e acessibilidade. Goiânia: Gráfica UFG, 2018.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de junho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa Com Deficiência: (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Presidência da República, [2015]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 20 ago. 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação inclusiva: a escola. Brasília: MEC: Secretaria de Educação Especial, 2004. 30 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf. Acesso em: 31 jul. 2019.

CAMPELLO, Bernadete Santos et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

COÊLHO, Ildeu Moreira (Org.). Escritos sobre o sentido da escola. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2012.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS. Modelo Flexível para um Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares. Brasília: Comissão Brasileira de Bibliotecas Públicas e Escolares/FEBAB, 1985. p.49-52.

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FEITOSA, Tadeu. Leitura e cultura. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2018.

FREIRE, Ana Maria Araújo. A leitura do mundo e a leitura da palavra em Paulo Freire. Cadernos Cedes, Campinas, v. 35, n. 96, p. 291-298, maio-ago. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v35n96/1678-7110-ccedes-35-96-00291.pdf. Acesso em: 05 abr. 2019.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS. School Library Manifesto. Disponível em: http://www.ifla.org/VII/s11/pubs/schoolmanif.htm Acesso em: 18 jun. 2011.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6. ed. São Paulo: Ática, 2006.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MORAN, José Manoel. Mudanças na comunicação pessoal: Gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e psicológica. São Paulo: Paulinas, 1998.

MORO, Eliane Lourdes da Silva; ESTABEL, Lizandra Brasil. A Pesquisa Escolar Propiciando a Integração dos Atores – Alunos, Educadores e Bibliotecários – Irradiando o Benefício Coletivo e a Cidadania em um Ambiente de Aprendizagem Mediado por Computador. Novas Tecnologias na Educação, v. 2, n. 1, p. 1-10, mar. 2004.

PENA, Gil. A deficiência intelectual em indivíduos com síndrome de Down é consequencia de privação cultural, não uma determinação genética. Disponível em: https://disdeficiencia.wordpress.com/2009/07/05/a-deficiencia-intelectual-em-individuos-com-sindrome-de-down-e-consequencia-de-privacao-cultural-nao-uma-determinacao-genetica/. Acesso em: 04 abr. 2019.

SACARDO, Michele Silva; SILVEIRA, Sirlane V. S. Políticas públicas e inclusão escolar no município de Jataí/GO: o que tem sido proposto? In: SILVA, Régis Henrique dos Reis; SACARDO, Michele Silva; DALLA DÉA, Vanessa (orgs.). Educação especial e inclusão: pesquisas do centro oeste brasileiro. Goiânia, Gráfica UFG, 2018. p. 123-144.