Mariana Marques Ferreira
meur7.97@gmail.com

Luís Carlos Vasconcelos Furtado
luiscarlosfurtado@gmail.com

Thaís Lobosque Aquino
tlobosque@ufg.br

EIXO
Arte e música

O Ensino de Flauta Transversal: achados iniciais do estudo comparativo entre metodologias tradicionais e ativas

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Resumo:A presente pesquisa em andamento tem como objetivo geral analisar o ensino de flauta transversal, por meio de um estudo comparativo entre metodologias tradicionais e ativas. O tema está sendo analisado de forma qualitativa, envolvendo pesquisa teórica com revisão bibliográfica sobre os conceitos, características e diferenças entre o ensino conservatorial e as metodologias ativas, além de uma pesquisa documental nos artigos da Opus-Revista da Anppom e da Revista da Abem, desde seus primórdios até a atualidade. O tema também está recebendo tratamento empírico, inspirado nos pressupostos da pesquisa ação, com intervenções pedagógicas através de duas vídeo-aulas postadas no YouTube (realizadas pela pesquisadora). Com as análises dos artigos da Opus-Revista da Anppom e da Revista da Abem foi possível notar que: i) não há artigo que fale especificamente do ensino de flauta transversal; ii) não há artigo que associe metodologias ativas e o ensino de flauta transversal; e, finalmente, iii) grande parte dos artigos encontrados sobre metodologias ativas tratam da educação musical de forma geral. A pesquisa empírica está sendo operacionalizada, de modo a perceber possíveis características e diferenças de cada metodologia (tradicional e ativa) no ensino de flauta transversal por intermédio de plataformas digitais.

Palavras-Chave: Flauta Transversal. Ensino Conservatorial. Metodologias Ativas.

Introdução

A presente pesquisa em andamento tem como objetivo geral analisar o ensino de flauta transversal, por meio de um estudo comparativo entre metodologias tradicionais e ativas. Sobre o tema, é necessário ter em mente que as metodologias tradicionais, ainda hoje, estão fortemente presentes na educação brasileira: “não é exagero afirmar que na maior parte das escolas brasileiras, em quase todos os níveis e modalidades de ensino, predomina a pedagogia tradicional” (LIB NEO, s.d, p. 18 apud AQUINO, 2015, p. 5).

No campo da educação musical, é notória a seguinte problemática: muitos profissionais que lecionam em escolas especializadas de música permanecem adotando métodos tradicionais ao ensinarem um instrumento musical. É importante lembrar também que os métodos tradicionais, no campo musical, são comumente referenciados pela terminologia ensino conservatorial. Segundo Aquino: “o ensino conservatorial guarda semelhanças com a pedagogia tradicional” (AQUINO, 2015, p. 5).

Entretanto, torna-se necessário deixar claro que não há relação de correspondência direta entre o ensino ministrado em conservatórios e o que é conhecido como ensino conservatorial, afinal algumas daquelas instituições inovaram ao trazer para dentro de suas salas de aula as metodologias ativas.

A esse respeito, Mateiro e Ilari (2012) comentam que “O Método Dalcroze foi implantado pela primeira vez no Brasil em 1937 no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro, exatamente um ano após a fundação desse conservatório.” (MATEIRO, ILARI, 2012, p. 32).

Outra problemática a ser considerada é que muitos professores de instrumento (especificamente professores de flauta transversal) não utilizam metodologias ativas em suas aulas. Aqueles que utilizam tais metodologias, acabam por não fazerem relatos sobre isso em artigos e pesquisas.

Essa constatação pode ser comprovada através de análises feitas nas revistas Opus-Revista da Anppom e da Revista da Abem, conforme se verá a seguir. A carência de artigos e pesquisas gera um círculo vicioso que termina por dificultar, também, o acesso a materiais e métodos que auxiliem os professores de instrumentos na inserção das metodologias ativas em suas aulas. Logo, é visível a necessidade de problematizar o uso dessas metodologias no ensino específico de instrumentos, incluindo o ensino de flauta transversal.

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Nesta pesquisa, de orientação qualitativa, propõe-se um estudo comparativo entre metodologias tradicionais e ativas no ensino de flauta transversal, envolvendo pesquisa teórica (revisão bibliográfica e pesquisa documental nos artigos da Opus-Revista da Anppom e da Revista da Abem) e pesquisa empírica com intervenções pedagógicas baseadas em ambas as metodologias em duas vídeo-aulas ministradas pela pesquisadoras e postadas no YouTube.

Metodologia

Conforme mencionado anteriormente, o tema é abordado qualitativamente com pesquisa teórica e empírica.. Sobre a abordagem qualitativa, Freire afirma: “[...] essa abordagem de pesquisa privilegia o nível subjetivo e, consequentemente, interpretativo da pesquisa [...]” (FREIRE, 2010 p.14).

Na pesquisa teórica foi feita uma revisão bibliográfica sobre conceitos, características e diferenças do ensino conservatorial e das metodologias ativas. Em outro momento, foi realizada pesquisa documental em artigos da Opus-Revista da Anppom e da Revista da Abem, desde seus primórdios até a atualidade, com o objetivo de perceber a presença de metodologias ativas nas práticas de ensino-aprendizagem do instrumento. A seleção dos artigos se baseou nos seguintes critérios: a) artigos que retratam as metodologias ativas; b) artigos que falam sobre a flauta transversal; c) artigos que associam o ensino de flauta transversal com as metodologias ativas.

A pesquisa empírica ora desenvolvida se embasa na pesquisa ação, com intervenções pedagógicas através de duas vídeo-aulas postadas no YouTube. A pesquisa ação pode ser definida como: “uma forma de investigação-ação que utiliza técnicas de pesquisa consagradas para informar a ação que se decide tomar para melhorar a prática” (TRIPP, 2005, p. 447). No campo da educação, a pesquisa ação é vista como “[...] uma estratégia para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos” (TRIPP, 2005, p. 445).

A intervenção pedagógica com as duas vídeo-aulas de flauta transversal está em fase de gravação e/ou edição. Ambas as intervenções se voltam para alunos de aproximadamente 10 anos de idade. A primeira terá características do ensino conservatorial/ ensino tradicional, utilizando o exercício de número 34, do método Taffanel e Gaubert (1958); a segunda conterá características gerais das metodologias ativas e se utilizará um repertório conectado a realidade do aluno (a música do folclore brasileiro: Marcha Soldado, por exemplo). Por fim, ambas as aulas serão analisadas, comparadas e postadas no YouTube.

Resultados e Discussão

Ao analisar os artigos da Opus-Revista da Anppom e da Revista da Abem foi possível concluir que: i) não existe nenhum artigo que fale especificamente do ensino de flauta transversal; ii) não há nenhum artigo que associe metodologias ativas e o ensino de flauta Transversal; iii) grande parte dos artigos encontrados sobre metodologias ativas fazem uma ligação da aula de educação musical escolar com as metodologias ativas, mas são poucos os artigos que fazem uma relação da aula de instrumento com a metodologia ativa; iv) os artigos sobre flauta transversal falam sobre técnicas do instrumento/ ensino tradicional (tendo como base, uma música específica, por exemplo) ou sobre a história ligada a esse instrumento; v) há mais artigos escritos sobre o instrumento flauta transversal na revista da Opus-Revista da Anppom (7 artigos) do que na Revista da Abem (1 artigo); vi) os artigos sobre o ensino de flauta doce e sobre o instrumento flauta transversal começaram a ser escritos no ano de 2003 aproximadamente; nos anos posteriores a 2003 teve-se uma linha crescente de escritos sobre esses assuntos, embora essa linha não tenha sido constante, pois são raros os anos e volumes que podem se encontrar escritos sobre isso; vii) as metodologias ativas, nos artigos analisados, são tratadas de modo tangencial e não de forma central ao tema, ou seja, a maioria dos textos não tem como foco de pesquisa as metodologias ativas, mas as citam de forma muito breve.

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Por meio da pesquisa documental, pôde-se notar que há diversas pesquisas sobre a performance do flautista, a história e as técnicas analisadas com base em determinada música, mas não foi encontrado nenhum artigo sobre a reflexão do ensino de flauta transversal e, por consequência, nenhum que articulasse tal ensino com metodologias ativas.

A ausência de artigos referentes a metodologia ativa de ensino da flauta transversal na Opus-Revista da Anppom e na Revista da Abem, pode estar relacionado ao seguinte fato: ainda há uma falta de incentivo às pesquisas relacionadas à reflexão crítica do ensino de instrumento e à prática de metodologias ativas nas aulas de flauta transversal.

Sobre as duas vídeo-aulas, voltadas para a aula de flauta transversal, elas estão sendo elaboradas com a duração de aproximadamente 15 minutos. Assim que estiverem finalizadas, serão analisadas e comparadas visando perceber as peculiaridades das metodologias tradicionais e das metodologias ativas.

Enfim, acredita-se que a presente pesquisa poderá contribuir para alunos, professores e docentes em formação, pois com o estudo comparativo entre metodologias tradicionais e ativas no ensino da flauta transversal, os professores e alunos podem ter os seus horizontes de estudos amplificados, de forma que os docentes em formação, por exemplo, possam compreender na prática as duas metodologias de ensino.

Referências

AQUINO, Thaís Lobosque. A música como conteúdo obrigatório na educação básica: reflexões acerca da epistemologia da educação musical. In: CONGRESSO NACIONAL DA ABEM, 22, 2015, Natal. Anais. Natal: ABEM, 2015.

FREIRE, Vanda Bellard. Música, pesquisa e Subjetividade: Aspectos gerais. In. Freire, Vanda Bellard. Horizontes da Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: 7 letras, 2010, p. 9 – 59.

MATEIRO, Tereza; ILARI, Beatriz. Pedagogias em Educação Musical. Curitiba: InterSaberes, 2012.

TAFFANEL, Paul; GAUBERT, Philippe. Exercise 34. De l’articulation et du simple coup de langue. In: TAFFANEL, Paul; GAUBERT, Philippe. Méthod Compléte de Flûte. Paris: Alphonse Leduc, 1958. p. 15.

TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005.