Karina de Oliveira Santos Cordeiro

Adda Daniela Lima Figueiredo Echalar

RODAS DE CONVERSA

Fórum de licenciatura no contexto universitário: lutas políticas em defesa da formação e valorização docente

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Introdução

Após a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, fóruns e comissões de licenciaturas foram institucionalizados para realizarem proposições de reestruturação dos cursos de licenciatura. Após este período, os fóruns de licenciatura continuaram ganhando espaço no interior das universidades, sendo compostos por representantes de professores dos cursos de licenciatura, coordenadores de cursos e, em algumas instituições, contavam com a participação de estudantes. Alguns foram aprovados pelos colegiados superiores, como a exemplo da UFG.

Segundo Romanowski, Gisi e Martins (2008, p. 125), “Em levantamento, realizado em 1999, durante o I Encontro Nacional de Fóruns de Licenciaturas, foram encontrados oito fóruns institucionalizados e quatro similares, criados na década de 1990”. Marques e Pereira (2002), ao discutirem os fóruns de licenciaturas nas universidades brasileiras por meio da consulta às suas resoluções, afirmam que:

Finalmente, a instalação de fóruns permanentes para discussão da problemática específica dos cursos de formação dos profissionais da educação, com poder deliberativo ou não, tem o mérito de fomentar o debate nas instituições de ensino superior brasileiras e de incentivar a realização de projetos, bem como o levantamento de propostas para as diferentes licenciaturas. Esse espaço institucionalizado e apoiado pela administração central das universidades não deve concentrar seus esforços unicamente em elaborar e executar a implantação de uma nova estrutura curricular. Os fóruns devem investir, por meio de discussões políticas mais amplas e de estudos sistematizados, na análise da situação dos cursos de formação docente nessas instituições. A síntese dos debates e as propostas, curriculares ou não, para a solução e/ou amenização dos problemas, podem desembocar em um projeto político-pedagógico específico para as licenciaturas (MARQUES; PEREIRA, 2002, p. 181-182, grifos nossos).

De tal modo, historicamente os Fóruns de Licenciatura têm se constituído como um espaço importante de articulação política e pedagógica das licenciaturas em suas instituições, visando a construir alternativas e auxiliar na transformação qualitativa desses cursos. Para Oliveira, Dourado e Guimarães (2003, p. 200):

A estruturação de um projeto de licenciatura deve considerar a legislação vigente, regulamento geral de cursos, contribuições do Fórum de Licenciatura e das entidades nacionais da área (Anpae, Anped, Anfope, ForumDir, Fórum de Pró-Reitores de Graduação, Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública), em sintonia com o projeto de autonomia da instituição.

Então, são atribuições comuns aos fóruns: a) definição de política institucional para os cursos de formação de professores para a Educação Básica; b) discutir e avaliar as propostas dos cursos visando melhorias e c) propor inovações a serem desenvolvidas nos cursos (MARQUES; PEREIRA, 2002).

Neste texto, buscaremos apresentar brevemente as historicidades de dois fóruns de licenciatura de universidade públicas brasileiras, suas lutas políticas em defesa da formação e valorização docente.

Fórum de Licenciatura da Universidade Federal de Goiás (UFG)

O Fórum de Licenciatura da UFG foi gestado a partir do “I Seminário sobre Licenciatura da UFG”, realizado em julho de 1980, no qual se discutiu, em especial, a crise do ensino básico enquanto resultado da LDB 5692/71. O “II Seminário sobre Licenciatura da UFG” ocorreu em novembro de 1989, com amplo debate sobre a educação no país e o regime serial na graduação, para sua implantação em 1990.

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Dois anos depois, houve a criação do Fórum de Licenciatura da UFG, por meio da resolução n. 336 do Conselho Coordenador de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (CCEP) de 25 de março de 1992 (UFG, 1992), ano em que se inicia o quarto momento histórico da UFG, no contexto de reformulação do projeto acadêmico das graduações da instituição, conforme considera Foerste (1996).

E em 1993, realizou-se o III Seminário sobre Licenciatura da UFG, com foco expressivo nas discussões sobre a redefinição do Colégio de Aplicação. Tal seminário teve como prioridade “a discussão aprofundada do projeto curricular de cada licenciatura, verificando em que medida o currículo está voltado para um projeto de Formação de Professores” (UFG, 1993, p. 41). No mesmo ano, o Fórum de Licenciatura lançou e coordenou “o primeiro caderno dedicado à história da discussão da licenciatura na UFG”, apresentando as memórias das discussões realizadas no contexto do Fórum (UFG, 1995, p. 5). Os três cadernos subsequentes foram organizados pelo Fórum e constituídos em formatos distintos em consonância com a evolução do trabalho que foi desenvolvido.

O Caderno n. 2, publicado ainda em 1993, se destinou à comunidade universitária e apresentou a síntese do “III Seminário de Licenciatura da UFG”, que havia ocorrido no primeiro semestre de 1993. O Caderno n. 3, por sua vez, modifica sua natureza de “registrador de memórias”, para relatar experiências alternativas por outras instituições universitárias. Neste evento, o IV Seminário, entre outros assuntos, se discutiu a “base comum nacional”, as tendências de formação dos profissionais da Educação, a desvalorização da profissão e o desinteresse dos jovens das escolas médias pelas licenciaturas.

A “Jornada das Licenciaturas” de 1994 já aponta críticas dos docentes que foram deslocados para as Unidades Acadêmicas, quanto à sua representatividade nas discussões das Licenciaturas e em relação ao lugar marginalizado que passaram a ocupar. As discussões e projetos desenvolvidos nesse evento são publicados no Caderno n. 4 do Fórum. No ano de 1997, a UFG realizou o “V Seminário de Licenciatura da UFG”, com a temática “A política de formação de professores da UFG”. No “II Encontro Nacional de Fóruns de Licenciaturas”, realizado em 2000, esses fóruns e comissões continuavam em expansão nas instituições (MARQUES; PEREIRA, 2002).

Entre os anos 2000 e 2013 o Fórum foi praticamente desativado, sendo sua revitalização retomada no momento da campanha à reitoria relativo ao quadriênio 2014/2017, com intuito de “realização de reuniões mensais que debatam a política nacional de formação e valorização de professores e os cursos de licenciatura na UFG. Acompanhamento das discussões acerca da formação de professores nas Regionais da UFG e publicação do Fórum de Licenciatura dirigida a comunidade local e nacional” (UFG, 2-17, p. 1).

Entre os anos de 2015 e 2017 o Fórum estruturou seu regulamento interno, suas reuniões mensais e site para divulgação de suas ações, junto à Coordenação de Licenciatura e Educação Básica da Pró-reitoria de Graduação da UFG. No ano de 2015:

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aconteceram seis reuniões ao longo do ano, pautando temas diversos sobre as licenciaturas e a educação básica: organização e estrutura do Fórum de Licenciatura na UFG; as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores; a Educação Básica em Goiás; Base Nacional Comum Curricular. O Fórum também promoveu debate com a Secretária Estadual de Educação para discutir a educação básica em Goiás e participou da organização de três mesas redondas no 12º Conpeex para debater “Formação e atuação docente para a Educação Básica”, a “Base Nacional Comum Curricular” e o “Uso das Tecnologias na Educação. O Fórum também realizou Seminário conjunto com a UEG, o IF Goiano e o IFGoiás para discutir a implantação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores (UFG, 2017, p. 11).

Ainda no mesmo ano, foi aprovada a Resolução CEPEC n. 1402/2016 que “faculta a criação de Fórum de Licenciatura em cada Regional da UFG”. Após tal documento, as ações desenvolvidas em Goiânia foram assumidas como do Fórum de Licenciatura, regional Goiânia, que operacionalizou a construção de seu regimento interno.

Em 2016 foram 11 reuniões que pautavam: regulamento do Fórum; as Organizações sociais na gestão da escola pública goiana; grupo de trabalho (GT) com a Política de Formação de Professores da UFG, construção de uma Comissão Inter Regional para a construção de uma política de formação de professores UFG (reformulação da CEPEC n. 631/2003). Além de uma mesa-redonda promovida na Semana do Calouro que tinha como tema “Relação público e privado na Educação Básica e suas implicações para a formação de professores” e as atividades do 13º Conpeex que promoveu uma mesa redonda “A escola pública em análise: ameaças a liberdade de aprender e ensinar” (UFG, 2017, p. 12).

No ano de 2017 foi construída no interior do Fórum a Resolução CEPEC nº 1541/2017 que “Estabelece a política para a formação de professores(as) da educação básica, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e dá outras providências, revogando-se a Resolução CEPEC no 631/2003”. O Fórum construiu, também, coletivamente o texto que compõe o PDI 2018/2022 das páginas 24 a 26.

No mesmo ano, discutiu-se em nove reuniões: a mesa-redonda “Reforma do ensino médio e a formação de professores” com a participação da Dra. Mônica Ribeiro (UFPR), Me. Ramon Marcelino Ribeiro Júnior (IF Goiano), Dr. João Ferreira de Oliveira (FE UFG) e Dr. Elias Nazzareno (PIBID Diversidade UFG) na atividades com outras instituições formativas: UEG, PUC Goiás, IF Goiano e IF Goiás; constitui-se grupos de trabalho para realizar uma análise da 3ª versão da BNCC (EI e EF); reformulou-se a Instrução normativa à PPC - licenciatura; efetivou-se uma reunião com os candidatos a Reitor para discutir o tema da "Formação de Professores e as Licenciaturas na UFG" e coordenou-se a mesa-redonda sobre a "BNCC e reforma do Ensino Médio: o que muda na educação básica?”, com participação de João Batista Peres Júnior (Superintendente de ensino médio da SEDUCE Goiás), Geovana Reis (FE-UFG) e Miriam Fábia (mediadora - Prograd UFG).

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No PDI da UFG 2018/2022 em sua página 59 assevera que o planejamento estratégico para os anos de 2018 e 2019 é o de “Consolidar o Fórum de Licenciaturas da UFG, em suas diversas Regionais”. No mesmo ano, a organização do Fórum foi reorganizada para uma gestão coletiva, ficando a Prograd como membro do Fórum, sem compor a coordenadoria. Foram oito reuniões neste ano, nas quais se discutiu os editais do CNPq (PIBID e RP), bem como as possibilidades de institucionalização efetiva do Fórum junto a gestão superior, já que a Resolução CEPEC nº 1402/2016 faculta tal possibilidade. Além disso, organizou-se uma palestra sobre “Institucionalização da EAD na UFG” com a Profª Dra. Daniela Costa Lima Brito - FE UFG.

No ano de 2019 foram efetivadas três reuniões nas quais se consolidou notas em relação aos desmandos dos governos federal, estadual e municipal, além de decidirmos por alinhar alguns projetos e ações de extensão ativos para a construção do Fórum, também como Programa de Extensão. Organizou-se o “VI Seminário de Licenciatura da UFG”, com intuito de discutir pautas que tocam a formação de professores e a Educação Básica tanto no âmbito externo a UFG, quanto interno. No final do ano o Fórum compôs a Comissão de Política Institucional de Formação de Profissionais da Educação (CPFor UFG) que avança em sua função social ao construir um projeto institucional e formação de profissionais da Educação da UFG, cujo documento preliminar foi entregue a gestão superior no começo de 2022 para trâmites internos e sua regulamentação. Essa comissão foi criada com a finalidade de rever a política de formação de professores no interior da UFG e a incorporação do fórum nessa discussão mostra avanço quanto ao reconhecimento dessa instância e de observação sobre o que os docentes pensam, fora dos quadros institucionais da Prograd.

Em junho de 2020 o Fórum passou por uma reformulação de seu regimento e se constitui como Fórum de Licenciatura da UFG, atuando enquanto Programa de Extensão e estrutura colegiada da CPFor UFG, cintando com representantes de todas as licenciaturas da UFG. Foram sete reuniões, notas, deliberações em 2020 com readequações das reuniões para o modo virtual. Já em 2021 foram 10 reuniões, com estudos direcionados aos desmontes da resolução CNE/CP n. 002/2015, BNC-Formação e suas implicações na formação/trabalho docente. Bem como discussão sobre a integração da extensão aos currículos e o papel do Fórum nos espaços formativos dentro e fora da UFG, com participação ativa no diálogo com outros Fóruns pelo país.

Fórum de Licenciaturas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

Criada em 2005, a implantação da UFRB esteve inserida em um contexto de uma política de expansão e interiorização das universidades federais no Brasil que permitiu a criação de 20 novas universidades e quase 180 novos campi universitários. A UFRB, segunda universidade federal com presença territorial exclusiva na Bahia é uma prova inconteste do êxito desse projeto de inclusão e desenvolvimento social. Em apenas 16 anos, a universidade criada no Recôncavo baiano tem um papel fundamental no desenvolvimento regional, em várias dimensões, desde a formação educacional e cultural, até a produção do conhecimento científico e tecnológico.

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Com estrutura multicampi, fisicamente situada em sete municípios (Cruz das Almas, Feira de Santana, Santo Amaro, Amargosa, Cachoeira, São Félix e Santo Antônio de Jesus). A UFRB oferece atualmente 57 cursos de graduação, sendo 32 bacharelados, 17 licenciaturas e 8 tecnólogos; 34 cursos de pós-graduação, sendo 2 doutorados e 19 mestrados. O único município dentre os mencionados que não possui curso de Licenciatura é Santo Antônio de Jesus.

Destaca-se que em Amargosa temos o Centro de Formação de Professores - CFP cuja vocação é de abarcar a maioria das licenciaturas. Além do CFP temos os seguintes centros envolvidos neste projeto de formação inicial e continuada de professores: Centro de Artes, Humanidades e Letras - CAHL; Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas - CCAAB; Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas - CECULT e o Centro de Ciência Tecnologia em Energia e Sustentabilidade - CETENS.

Uma das primeiras ações para a constituição do Fórum de Licenciatura da UFRB ocorreu em 2009, quando realizou-se no Centro de Formação de Professores – Campus de Amargosa o debate no evento intitulado “Fórum das Licenciaturas da UFRB” com os coordenadores de Colegiado de Cursos de Licenciatura, diretores e Gestores dos Centros de Ensino, com os docentes que atuavam nos cursos de formação de professores, com os discentes e membros da Pró-reitoria de Graduação. A proposição inicial foi proporcionar que o evento se tornasse um espaço de debate sobre a formação inicial de professores na UFRB. Nesse sentido, os objetivos do I Fórum de Licenciatura da UFRB foram: Constitui-se um espaço de interlocução acadêmica sobre formação de professores e discutir uma política de Licenciatura para os cursos da UFRB. Atendendo a deliberação do I Fórum de Licenciaturas da UFRB, desde 2012 foi estabelecido em nossa universidade pela Resolução 07/2012 do Conselho Acadêmico (CONAC) a institucionalização do Fórum de Licenciaturas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, nessa mesma resolução foi aprovado o regulamento dessa instância.

No que diz respeito às propostas de institucionalização e da valorização da formação de professores na instituição tem grande relevância a instância do Fórum das Licenciaturas da UFRB. De acordo com o regulamento do Fórum de Licenciaturas da UFRB no que diz respeito a natureza e a vinculação indica que: “O Fórum de Licenciaturas da UFRB é instância de caráter propositivo e consultivo, vinculada à Pró-reitoria de Graduação, para elaboração e discussão de políticas institucionais de formação de professores” (Art. 1º Resolução CONAC 07/2012).

A missão dessa instância inicialmente foi realizar o acompanhamento dos cursos de formação docente da UFRB, contribuindo para assegurar a formação de professores pesquisadores qualificados e comprometidos com a transformação da realidade da escola pública e com o processo de ensino e aprendizagem de todos os estudantes.

De acordo com a Resolução 07/2012 do CONAC os objetivos do Fórum eram:

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1) Reunir professores, pesquisadores e licenciados para debate permanente sobre a formação de educadores nos cursos de Licenciatura da UFRB;

2) Refletir sobre o currículo dos cursos de Licenciaturas da UFRB e suas implicações na formação do licenciado;

3) Discutir a realização de estágios nos cursos de Licenciaturas da UFRB e suas implicações na formação do licenciado;

4) Construir percursos curriculares alternativos para a formação inicial de professores;

5) Discutir sobre a formação e prática de ensino nos cursos de licenciatura;

6) Construir proposta de articulação entre a universidade e as escolas públicas;

7) Instituir nos currículos dos cursos de Licenciatura da UFRB a iniciação à docência como parte da política formativa, transformando a escola básica em espaço formativo;

8) Avaliar os programas especiais de formação de professores;

9) Incentivar a realização de projetos e propostas inovadoras para as diferentes licenciaturas;

10) Construir alternativas para que o currículo de formação de professores na UFRB contemple a pesquisa e a extensão

11) Acompanhar a atualização dos currículos dos cursos de Licenciatura da UFRB tendo como base a legislação vigente.

A partir da Resolução CONAC 45/2017 indica no Art. 5 que as reuniões do Fórum devem ser convocadas pela presidência do mesmo e faz pequenas alterações sobre os objetivos. Na Resolução CONAC 04/2020 no Art. 4 tem-se a incorporação na comissão executiva dos seguintes membros: Coordenação Institucional da Residência Pedagógica, 01 representante da Secretaria Estadual da Bahia, bem como um representante de Secretaria Municipal de Educação de cada município onde a UFRB possua curso de licenciatura. Desse modo, o Fórum conta atualmente em sua composição executiva com a participação da Pró-Reitora de Graduação, da Direção do CFP, de dois docentes do CFP, de um docente de cada um dos demais Centros de Ensino, de um discente de cada um dos Centros, da representação da Educação Básica dos municípios de Cruz das Almas, Feira de Santana, Cachoeira, Santo Amaro e Amargosa, da representação do Núcleo Territorial de Educação do Estado da Bahia e das Coordenações Institucionais do PARFOR, do PIBID e da RP.

As reuniões da Comissão Executiva do Fórum de Licenciatura da UFRB de acordo o Art. 5º ocorrem “bimestralmente em caráter ordinário ou extraordinariamente, quando houver necessidade, mediante convocação de sua presidência” (Resolução CONAC 04/2020).

Além de constituir-se como instância institucional da UFRB o Fórum das Licenciaturas tem realizado de maneira permanente várias atividades voltadas para a formação de professores, dentre as quais, destacam-se os eventos de caráter acadêmico-científicos. Dessa maneira, reafirmamos que o Fórum das Licenciaturas da UFRB é um espaço de reflexão, debate e proposição sobre a formação de professores. Existente desde 2009, o evento do Fórum das Licenciaturas - que chegou a sua sexta edição em 2021 - tem sido lócus de debate intenso acerca do papel das licenciaturas na UFRB, destacando-se por absorver as a dinâmicas e questões trazidas pelas ações de projetos de ensino, como o PARFOR, PIBID e o Residência Pedagógica em articulação com a Educação Básica. Deste modo, se entende o papel estratégico do Fórum em consolidar a institucionalização da formação de professores, valorizando as licenciaturas na UFRB.

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A partir da compilação das temáticas de discussões das edições dos eventos do Fórum de Licenciaturas da UFRB, observa-se que esse evento anual reuni professores, pesquisadores e licenciandos para refletir sobre um tema central que foi apresentado como demanda pela Comissão Executiva do Fórum de Licenciaturas da UFRB. Em edições anteriores os temas abaixo relacionados deram a oportunidade da ampliação do debate:

1) No II Fórum de Licenciaturas da UFRB a temática central fomentou discussões sobre Formação de Inicial e Continuada de Professores no Brasil: qual o papel da UFRB?

2) No III Fórum de Licenciaturas da UFRB as discussões centrais foram realizadas com base no tema “Currículo e Formação Docente: Da Universidade à Sociedade, onde fica a escola?”

3) No IV Fórum de Licenciaturas da UFRB as discussões centrais foram realizadas com base no tema “Formação e valorização dos/as profissionais da educação: Situação atual e perspectivas futuras”

4) No V Fórum de Licenciaturas da UFRB, o tema proporcionou a reflexão sobre a “Formação de Professores na UFRB: qual o lugar das licenciaturas?”

5) E a última edição do VI Fórum de Licenciaturas da UFRB refletiu sobre o tema “Desafios das licenciaturas em contexto distópico: refletir, resistir e esperançar”.

Destaca-se que na elaboração do PDI (2019-2030) da UFRB, dada a importância do Fórum das Licenciaturas na UFRB para a consolidação da política de formação inicial e continuada, há o reconhecimento das ações desenvolvidas pelo coletivo:

Ainda em relação à formação docente, especificamente nas licenciaturas, convém destacar a atuação do Fórum de licenciaturas como espaço político e contínuo de discussão, reflexão e diagnóstico. Desse modo, de forma articulada, buscar-se-á, a partir do eixo reflexão-ação-reflexão, criar espaços formativos em que os docentes da Universidade construam saberes a partir de suas próprias formações, fortalecendo as licenciaturas e a formação de professores de forma a privilegiar o conhecimento de forma inter-transdisciplinar. (UFRB – PDI 2019-2030).

Uma das ações importantes para o fortalecimento dessa luta política para a defesa do projeto da formação de professores, foi a articulação com os outros Fórum de Licenciaturas das universidades públicas brasileiras para a construção coletiva de estratégias de resistência para assegurar a formação inicial e continuada dos professores.

Nesse sentido, em nome da representação institucional do Fórum das Licenciatura da UFRB foi possível em 2021 debater e participar de diversas atividades acadêmicas, a saber: o Painel intitulado “O movimento institucional das IES públicas da Bahia no contexto das Resoluções 02/2015 e 02/2019: um olhar das Pró-Reitorias de Ensino de Graduação no Fórum das Licenciaturas 2021, promovido pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação da Universidade do Estado da Bahia; a Roda de Conversa cujo tema foi “Fórum de licenciatura no contexto universitário: lutas políticas e em defesa da formação e valorização docente” durante o III Encontro de Licenciaturas e Educação Básica, realizado pela Universidade Federal de Goiás, bem como no seminário “As Universidades Públicas da Bahia e o Futuro da Formação: Legado, Dissensos e Possibilidades, promovido pela Pró-reitoria de Graduação - PROGRAD/UESB, em parceria com as Universidades Estaduais e Federais da Bahia. Os aprendizados e trocas de experiências a partir dessa ação nos coloca num cenário de construção coletiva para o fortalecimento dos Fóruns de Licenciatura das universidades públicas brasileiras.

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Considerações finais

As universidades federais, no Brasil, representam o espaço privilegiado de resistência científica e cultural, capaz de contribuir com as mudanças necessárias em favor de um projeto de formação de professores robusto e progressista. Ocorrem diversos tensionamentos sobre o projeto de formação, valorização dos profissionais e papel das universidades nesse diálogo com a educação básica. Esse texto pretendeu contextualizar os fóruns das licenciaturas, com recorte da UFG e da UFRB. Mostramos que os fóruns de licenciaturas dessas universidades possuem um lastro estrutural forte, com qualidade acadêmica em suas discussões e proposições para o fortalecimento da formação inicial e continuada de professores e uma solidez na discussão sobre pautas relativas ao escopo da formação de docentes.

Percebeu-se que os fóruns têm se efetivado enquanto importante espaço de lutas políticas em defesa da formação e valorização docente, a partir das discussões das demandas, das possibilidades e desafios da instituição no âmbito da formação de professores e dos dilemas da Educação Básica, diante das peculiaridades de cada uma de suas unidades acadêmicas e da complexidade dos diferentes contextos político-econômicos e sociais que se apresentam, em âmbito nacional, regional e municipal. Esse texto ilustrou como essas instâncias de discussão têm atendido às especificidades do Projeto de Desenvolvimento Institucional das universidades, inserindo as licenciaturas nesse processo.

No entanto, mostramos os limites desses fóruns nas diversas instâncias da universidade. Mostramos que há resistências quanto à presença do Fórum das licenciaturas, sobretudo, no que diz respeito à legitimidade de suas ações, já que é constituído por docentes desses cursos, não aparecendo na estrutura institucional das instituições onde estão inseridos.

Contudo, ainda que tenha limites sobre o poder decisório, os fóruns têm contribuído para informar, orientar e atender aos debates realizados pelas licenciaturas. Assim, vêm assumindo um ativismo frente às Pró-reitorias de graduação, apresentando demandas para a universidade como um todo e foi objeto desse texto apresentar esse panorama de atividades.

Referências

MARQUES, Carlos Alberto; PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. Fóruns das licenciaturas em universidades brasileiras: construindo alternativas para a formação inicial de professores. Educação & Sociedade. Campinas, v. 23, n. 78, p. 171-186, abr. 2002.

OLIVEIRA, João Ferreira; DOURADO, Luiz Fernandes; GUIMARÃES, Valter Soares. A reformulação dos cursos de licenciatura da UFG: construindo um projeto coletivo. Revista Inter Ação, v. 28, n. 2, p. 195-204, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.5216/ia.v28i2.1454. Acesso em: 19 abr. 2019.

ROMANOWSKI, Joana Paulin; GISI, Maria Lourdes; MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Fóruns de licenciatura: que contribuições para a formação de professores? Revista Diálogo Educacional, v. 8, n. 23, p. 121-135, jul. 2008. ISSN 1981-416X. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/view/3991/3907. Acesso em: 19 abr. 2019. Doi: http://dx.doi.org/10.7213/rde.v8i23.3991.

UFG. Resolução do Conselho Coordenador de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (CCEP) n. 336 de 25 de março de 1992. Dispõe sobre a criação do Fórum de Licenciatura. Disponível em: https://sistemas.ufg.br/consultas_publicas/resolucoes/arquivos/Resolucao_CEPEC_1992_0336.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019.

UFG. Caderno do Fórum n. 2, 1993.

UFG. Caderno do Fórum n. 3, 1995. 65p.

UFG. Relatório da Coordenação de Licenciatura e Educação Básica – Pró-reitoria de Graduação – PROGRAD Universidade Federal de Goiás - UFG (2014-2017). Disponível em: https://prograd.ufg.br/up/90/o/RELATÓRIO_PROGRAD2014-2017.pdf.

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UFRB. Resolução do Conselho Acadêmico da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CONAC) n. 12 de 20 de março de 2012. Dispõe sobre a institucionalização do Fórum de Licenciaturas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Disponível em: https://ufrb.edu.br/soc/components/com_chronoforms5/chronoforms/uploads/documento/resolucao-07-12-1conac.pdf.pdf. Acesso em: 20 jan. 2021.

UFRB. Resolução do Conselho Acadêmico da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CONAC) n. 45 de 16 de outubro de 2017. Dispõe sobre a institucionalização do Fórum de Licenciaturas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Disponível em: https://ufrb.edu.br/soc/components/com_chronoforms5/chronoforms/uploads/documento/20171030101413_075619.PDF. Acesso em: 20 jan. 2021.

UFRB. Resolução do Conselho Acadêmico da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CONAC) n. 04 de 04 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre a institucionalização do Fórum de Licenciaturas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Disponível em:https://ufrb.edu.br/soc/components/com_chronoforms5/chronoforms/uploads/documento/20200204175914_150707.PDF. Acesso em: 20 jan. 2021.

UFRB. Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI 2019-2030). Disponível em: https://www.ufrb.edu.br/pdi/images/documentos/PDI_2019-2030_1.pdf. Acesso em: 20 jan. 2021

Notas

1. Doutora em Educação. Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Presidente do Fórum de Licenciatura da UFRB.

2. Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Departamento de Educação em Ciências no Instituto de Ciências Biológicas (DEC ICB) da UFG. Membro da gestão coletiva do Fórum de Licenciatura da UFG.

3. Site do Fórum de Licenciatura da UFG - https://forumlicenciatura.prograd.ufg.br/

4. VI Seminário de Licenciatura da UFG, com o tema “Formação de professores para Educação Básica: contextos e projetos em disputas”. Disponível em: https://www.even3.com.br/visemliceufg/