Luana Pagano Peres Molina
luana.molina@unioeste.br

MESA REDONDA

Uma escola acolhedora: o bachillerato popular mocha celis na visibilidade das travestis e dos/as transexuais em Buenos Aires/Argentina

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Resumo

O Bachillerato Popular Trans Mocha Celis foi fundado em 2011, com início das aulas em 2012, na cidade de Buenos Aires/Argentina. Com apoio dos movimentos sociais relacionados à população LGBTTTI+, juntamente com os avanços legislativos do país, como, por exemplo, a Lei de Identidade de Gênero, o Mocha Celis tornou-se um espaço educacional que proporciona às travestis e as/os transexuais a inclusão social por meio do retorno aos estudos secundários, equivalente ao ensino médio no Brasil, como forma de enfrentamento às vulnerabilidades que impactam na realidade educacional e social desses coletivos. A metodologia parte de caráter etnográfico, com relatos e observações, entre abril de 2015 e maio de 2016. Apresentam-se como resultados alguns dos projetos pedagógicos pensados a partir da concepção de Cidadania e da Educação Sexual às/aos estudantes com ênfase nas medidas humanitárias e proativas no endossamento das práticas aos Direitos Humanos e diversidade sexual na Argentina.

Palavras-chave: Diversidade Sexual; Educação Popular; Travestis; Transexuais; Educação Sexual.

Introdução

O Bachillerato Popular Trans Mocha Celis foi criado em 2011 por Francisco Quiñones e Agustín Fuchs, e iniciou seu funcionamento/ano letivo em 2012, com 15 estudantes. Esta iniciativa educacional se concretizou a partir do período de ascensão dos direitos conquistados pela comunidade LGBTTTI+ no início do século XXI nos governos dos Kirchner.

Os movimentos sociais argentinos passaram a se organizar fortemente e se reestruturam, em meados dos anos 1980, após a última ditadura militar (1976–1983) no país, por meio de um discurso voltado aos direitos humanos e de reconhecimento às necessidades das minorias sociais. O movimento feminista uniu-se aos movimentos de direitos humanos e de diversidade sexual para alcançarem possíveis avanços sociais que garantissem o exercício da cidadania e da liberdade (BARRANCOS, 2004).

A mobilização política concentrou-se especialmente na cidade de Buenos Aires, mas, aos poucos, foi atingindo outras regiões do país. Nesse contexto de mudanças sociais e políticas, vale ressaltar que foi também na década de 1980 que ocorreu o boom da epidemia da HIV/AIDS, o que levou a novas discussões a respeito das diferentes orientações sexuais, pautando-se na necessidade de informar e discutir sobre as formas de prevenções nas práticas sexuais. Diante de tal contexto, houve, por parte do governo, a necessidade de reconhecer as diversas relações afetivo-sexuais, com ênfase na criação de campanhas de conscientização para o uso de preservativos como a camisinha, por exemplo.

Dessa maneira, iniciou-se uma série de estudos para as políticas públicas que possibilitaram mapear e tornar visíveis as situações de vulnerabilidade, injustiça e desigualdade da população LGBTTTI+ daquele período. Ainda na década de 1980 surgiu a Comunidad Homosexual Argentina (CHA), um das organizações sociais cujo foco foi reivindicar ações na área do direito à livre vivência sexual, assimilando conjuntamente os discursos dos direitos humanos e de ações participativas, como: grandes passeatas, manifestos e mobilizações públicas em defesa da democracia e reivindicações aos direitos das/os homossexuais (PECHENY; FIGARI; JONES, 2008).

Essas chamadas “Políticas de Visibilidades” ocorreram no decorrer das décadas de 1980 e 1990, quando organizações sociais começaram a denunciar a falta de representações positivas e de impactos sobre as condições das existências de gays, lésbicas, travestis e transexuais. Percebeu-se, então, que era necessária a criação de uma série de estratégias que se articulassem e que acarretassem ganhos sociais.

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A tarefa de promover uma valorização positiva da diversidade sexual e dos avanços de uma legislação igualitária foi pautada cada vez mais ao longo dos anos e, diante de todo esse contexto, dos direitos humanos à visibilidade, possibilitou-se o fortalecimento do coletivo para a população trans, objetivando a coleta de denúncias de travestis e transexuais vítimas de violências. Ressalte-se que pessoas trans já vinham para a capital do país em fuga de áreas muito conservadoras e interioranas com forte influência da Igreja Católica (BERKINS y FERNÁNDEZ, 2005).

A organização das travestis e transexuais começou a manifestar-se e suas principais denúncias e argumentações voltaram-se para a visibilidade das suas condições, a dificuldade ao acesso à saúde e pelo fim dos Edictos Policiales. Para Barrancos (2014:24) podemos esclarecer os Edictos como [...] normas inconstitucionales, elaboradas por los propios cuerpos de policía [...] daban capacidad a las fuerzas policiales para actuar en materiales tales como la prostitución y [...] contra la franca perturbación de las buenas costumbres.

Ao longo da década de 1990, as travestis e as/os transexuais trouxeram ao espaço social e ao cenário público reivindicações pelo direito às suas identidades e denúncias a respeito da exclusão, da falta de reconhecimento social, da repressão social e a falta do convívio familiar. No livro de Lohana Berkins e Josefina Fernández “La Gesta del nombre próprio”, de 2005, as autoras desenvolveram uma pesquisa sobre a comunidade travesti na Argentina e, em seus resultados, explanaram a dificuldade de ascender a condição de cidadania, apontando para os problemas nos campos da saúde, da educação, da violência policial, sexual e familiar. O livro tornou-se um marco para o movimento trans argentino, influenciando, inclusive, os fundadores da escola Mocha Celis.

La intolerancia y la agresividad contra las travestis, la humillación y la marginación son la respuesta reluctante al revisar la construcción de todas las sexualidades; entonces aparecen el temor a la interpelación de aquello que se cree un destino biológico, la prepotencia del dogma impuesto por la ciencia, el derecho y la religión que trasladan su poder a la política. Las travestis, desde la primera e íntima convicción de su identidad, comienzan la carrera de obstáculos para la conservación de sus derechos. (BERKINS, FERNÁNDEZ, 2005:10)

Apoiados em novos discursos, como a teoria queer, e com a força política crescente dos movimentos sociais, a partir do início do século XXI a Argentina conquistou grandes direitos para a população LGBTTTI+, tornando-se referência internacional pela legalidade e pelo reconhecimento da diversidade sexual, como: a Lei da União Civil (2003), a Lei da Educação Sexual Integral (2006), o Casamento Igualitário (2010) e a Lei de Identidade de Gênero (2012).

O avanço legislativo é notável, mas, e os questionamentos referentes à (re)inserção educacional da comunidade travesti e transexual? A transfobia no ambiente escolar foi, e ainda é, um dos principais motivos que levaram as pessoas trans a deixarem a escola, o que gerou e gera dificuldades ao acesso profissional e reforçam a situação de marginalização. Como, então, se adaptar a um espaço que sempre se mostrou heteronormativo e excludente?

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É nesse contexto que o Bachillerato Popular Trans Mocha Celis foi fundado. Um centro educativo no bairro Chacaritas, em Buenos Aires, e o primeiro no mundo a ser fundado na perspectiva dos estudos de gênero e sexualidade. Além de produzir mudanças significativas na forma que a comunidade trans está se inserindo na sociedade, observamos possibilidades de acesso tanto à educação quanto ao mercado de trabalho.

Materiais e Métodos

O recorte metodológico utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa foi a etnografia, que tem como característica analisar e objetivar o comportamento social do sujeito inserido em seu cenário cotidiano, a partir da obtenção de dados qualitativos por meio de uma série de observações.

O teórico Lapassade (2001, p.72) pontua que a observação participante inicia-se com a chegada do/da pesquisador/a ao campo da investigação e as negociações que lhe permitirão ter acesso ao espaço investigativo para o desdobramento da pesquisa até, por fim, o término do estudo. A esse respeito, nesta pesquisa, a observação foi aplicada desde o primeiro contato por e-mail, e continuou com a minha chegada à cidade de Buenos Aires e com os contatos iniciais, incluindo, posteriormente, o início da participação no Mocha Celis, o reconhecimento do espaço nas primeiras visitas e de todo o processo que, aos poucos, me possibilitou construir uma rede de relações naquele ambiente.

Esses aspectos apresentados possibilitam uma análise detalhada e aprofundada na compreensão do significado de práticas e ações sociais. Ainda nessa perspectiva metodológica, para Pereira e Lima (2010), a etnografia torna-se um plano aberto e flexível conforme o cotidiano é observado e descrito. Caracteriza-se pela observação densa, criteriosa e detalhada sobre o entorno sociocultural no qual os/as participantes da pesquisa estão inseridos/as e destaca-se por formar dois pilares metodológicos: a interação prolongada entre o/a pesquisador/a e o/a participante da pesquisa e a interação forjada no cotidiano do universo do/da participante.

O desenvolvimento da experiência no Mocha Celis, enquanto observadora, iniciou- se em abril de 2015 e foi até maio de 2016. A coleta de dados desdobrou-se através das observações no ambiente escolar, com alguns encontros na disciplina Género y Educación e apoiadas na confecção de um diário de campo.

Os Bachilleratos Populares: Ressignificando o espaço e a vivência escolar

Para melhor compreensão do funcionamento deste sistema educacional, busco apresentar uma breve conceituação do que são os Bachilleratos. Areal e Terzibachian (2012, p. 529) definem os Bachilleratos como escolas autogestionadas e populares. De forma que fazem parte de uma educação formal, mas que ainda reivindicam sua autonomia frente ao Estado e obrigam que este reconheça as diferentes realidades sociais em que essas escolas estão inseridas. Portanto, acredita-se que o principal objetivo desses locais de ensino seja a educação popular e o empoderamento das classes populares.

Os Bachilleratos Populares ressurgem das forças das assembleias de bairros, por parte dos movimentos sociais e das estratégias para abrirem espaços que resolvam os problemas educativos apresentados. Pensa-se em uma educação inclusiva, participativa e que se ajuste às necessidades do grupo que se apresenta, perdendo principalmente as características das estruturas rígidas e hierárquicas das escolas tradicionais.

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Uma das principais características dos Bachilleratos é ser uma organização institucional horizontal, ou seja, as decisões de seu funcionamento, dos projetos e dos conteúdos são tomadas pelas/os docentes e estudantes, em assembleias, e não de maneira hierárquica e vertical como em escolas tradicionais. Afinal, não se trata de um/uma ter mais conhecimento que o/a outro/a, mas, sim, terem saberes diferentes e tratarem de compartilhar estes saberes para a possibilidade da construção da aprendizagem (GLUZ, 2010).

Desse contexto político e social na Argentina, juntamente com essa nova prática educacional, que se popularizou pelo país, teremos o surgimento de um Bachillerato trans. O objetivo foi o de criar um espaço educativo, público e gratuito voltado às pessoas travestis, transexuais e transgêneros/as da Capital Federal e arredores, de maneira a garantir-lhes o acesso a uma educação livre de discriminação pela orientação sexual e/ou identidade de gênero.

A experiência educacional do Bachillerato Popular Trans Mocha Celis

Como já citado anteriormente, o estudo do livro La Gesta del Nombre Propio de Josefina Fernandez e Lohana Berkins (2005) inspirou a formação do Bachillerato Mocha Celis. O livro apresenta um informe sobre a situação da comunidade das travestis na Argentina, com média de vida em 35 anos, e analisa as principais causas de morte, sendo, em primeiro lugar, a violência policial; logo em seguida, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e intervenções cirúrgicas como produto da inacessibilidade deste coletivo ao sistema de saúde público. Na educação, o mesmo informe aponta que o nível de evasão da comunidade travesti duplica a proporção da população geral (maiores de 15 anos) que não terminaram seus estudos. Por isso a importância de se pensar em políticas públicas e de reconhecimento para um grupo que vive em extrema vulnerabilidade.

O nome do espaço educacional Mocha Celis foi escolhido em homenagem à travesti argentina Mocha Celis, que ficou conhecida no Bairro de Flores devido à brutalidade de sua morte, em decorrência de três tiros na cabeça. A travesti homenageada não sabia ler nem escrever, por isso sempre pedia às colegas para lerem seus documentos. Durante os períodos em que esteve presa, algumas colegas começaram a alfabetizá-la; porém Mocha Celis faleceu antes de completar seus estudos.

Esta iniciativa educacional é a primeira no mundo fundada a partir da perspectiva de gênero e sexualidade e, portanto, decidiu-se por incorporar essas temáticas em todas as disciplinas, de maneira interdisciplinar, como, por exemplo: no inglês se ensina vocabulário LGBT; em matemática, a ler os números de alguma análise clínica de casos pertinentes à problemática da sexualidade; em história, fala-se de minorias, do movimento social LGBTTTI+ e de sua formação, além de Direitos Humanos.

Uma das disciplinas da grade curricuar é Educação e Gênero que tem como base o currículo implantado da Educação Sexual Integral, para as/os estudantes desenvolverem atividades vistas como ferramentas para expressarem suas emoções e seus sentimentos, respeitando a si e ao outro a partir de um entendimento da sexualidade humana e da diversidade sexual, construindo e reconstruindo conceitos, ressignificando ações de cuidado da saúde e do corpo.

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De acordo com o projeto pedagógico da disciplina (2015), o enfoque é abranger e debater as noções, os tabus e as ideias que envolvem e cercam as construções de gênero e sexualidade. Nesse processo, os debates perpassam temáticas como: prostituição, identidade de gênero, sexualidade na adolescência, discriminações e preconceitos, abuso sexual, violências simbólicas, papéis sexuais, orientações sexuais, entre outras categorias.

Durante meu período de observação, acompanhei quatro aulas da disciplina Gênero e Educação nos mês de setembro de 2015. As aulas ocorriam de quinta-feira, com a turma do 3º ano, com a proposta de desenvolver um spot publicitário dentro da temática da diversidade sexual. A proposta feita pela professora responsável da disciplina tinha por objetivo que as/os estudantes tivessem autonomia para construir uma campanha publicitária que conscientizasse sobre a diversidade sexual humana e, também, ensinasse conceitos como orientação sexual e identidade de gênero para um público que não tivesse conhecimento dessas conceitualizações, mirando o combate às práticas de homofobia e transfobia.

Para isso, a professora exemplificou o que eram spots publicitários com “peças” que foram utilizadas durante as campanhas do movimento LGBTTTI+ de Buenos Aires no período da campanha para o casamento igualitário e Lei de Identidade de Gênero. Dois exemplos das “peças” publicitárias podem ser vistos a segui

r:
Figura 1. Campanha Casamento Igualitário. Disponível em: http://www.falgbt.org/matrimonio-igualitario/ 09/05/2016.
Figura 2. Campanha Lei de Identidade de Gênero. Disponível em: http://www.falgbt.org/ley-de-identidad/ 09/05/2016.
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Na primeira aula, a professora apresentou as instruções para o processo de desenvolvimento da atividade: os spots poderiam (ou não) ser em grupos e sua apresentação deveria ser entre 2 e 3 minutos. Poderia ser um vídeo gravado e editado, cartazes ou, para as pessoas que não tinham como gravar, poderiam encenar como propaganda ali mesmo, no espaço e no horário da aula.

Após a explanação, a aula foi dividida em dois momentos: a explicação do que era um spot publicitário e a retomada de conceitos, já trabalhados, sobre a diversidade sexual que poderiam ser abordados nos trabalhos, como: identidade de gênero, homofobia, transfobia e orientação sexual. A partir dessas instruções, ocorreram as divisões dos grupos e, nas duas aulas seguintes as/os estudantes prepararam seus materiais.

Um grupo quis falar sobre o que era a Lei da Educação Sexual, implantada em 2006; outro grupo falou sobre o que era a Lei de Identidade de Gênero de 2012; outros dois falaram sobre homofobia e transfobia e, por fim, mais dois grupos apresentaram a temática da transexualidade. A maioria recorreu à biblioteca para buscar materiais e referenciais teóricos para tornar as narrativas bem coerentes, com uma linguagem clara e objetiva, justamente adaptada a um modelo de spot publicitário.

No último dia foram apresentados dois vídeos: um sobre relatos do dia a dia de um transexual em um ambiente escolar tradicional, sofrendo bullying dos/as colegas de sala de aula com gracinhas e piadinhas sobre sua identidade e perseguições no intervalo, o que fez com que o estudante retratado deixasse a escola. O outro grupo recriou em vídeo um momento/ato de transfobia, em que duas amigas, uma travesti e outra transexual, foram juntas tomar café em uma cafeteria famosa na cidade e enfrentaram situações de discriminações por meio de olhares e comentários de outros/as clientes e do próprio garçom, que as atendeu de maneira grosseira.

Outros grupos apresentaram cartazes: um sobre o combate à homofobia, com os dizeres: “A homossexualidade não é uma enfermidade. A homofobia sim.”; e outro sobre a importância da Lei de Identidade de Gênero: “Nós éramos invisíveis, não existíamos, agora com a Lei 26.743 – Lei de Identidade de Gênero – somos alguém, agora existimos e temos identidade”.

O interessante da atividade foi o envolvimento que as/os estudantes apresentaram na confecção dos spots e na própria apresentação, em que retrataram muitas vivências particulares das suas realidades, como: a dificuldade da convivência no ambiente escolar; a aceitação da sociedade em relação às identidades trans; a violência gerada pela homofobia, fundada em um discurso patológico a respeito das orientações sexuais homossexuais, gays e lésbicas; e, por fim, exaltando as mudanças geradas a partir da Lei de Identidade de Gênero criada no ano de 2012.

A Lei de Identidade de Gênero deu um passo essencial à dignidade trans: o do reconhecimento da identidade baseada exclusivamente na autodeterminação. Tornou-se pioneira em todo o mundo ao deslocar o discurso médico e transferi-lo unicamente para o discurso dos Direitos Humanos, para a noção de identidade. A Lei No. 26.743 autoriza travestis e transexuais a alterar e escolher seu sexo no registro civil. A norma estabelece que qualquer pessoa possa solicitar a retificação de seu sexo no registro civil, incluindo o nome de batismo e a foto de identidade. Com a vigência da medida, a mudança de sexo não necessita mais do aval da justiça e do laudo psiquiátrico para reconhecimento e o sistema de saúde deve incluir operações e tratamentos para a adequação ao gênero escolhido (ARGENTINA, Lei 26.743, Art. 2, 2012).

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Por fim, apontamos uma das atividades realizadas no Mocha Celis, dentro de uma perspectiva de Gênero e Sexualidade, em uma disciplina com base curricular para desenvolver essas temáticas de maneira emancipatória, formal e transformadora. A proposta do Bachillerato Popular Mocha Celis é um espaço educacional que combate qualquer forma de discriminação, colocandose como um ambiente educativo em (re)construção, baseado em processos de ensino e aprendizagem – além das vivências –, democrático e igualitário.

Considerações Finais

São diversas as violências cometidas contra as pessoas LGBTTTI+, em diversos espaços sociais, inclusive o escolar. Por isso, um dos desafios enfrentados para quem lida com educação e políticas públicas educacionais é refletir sobre a evasão escolar desse coletivo, em especial as pessoas trans.

O Bachillerato Educacional Mocha Celis busca oferecer e desenvolver uma resposta a um círculo de violências simbólicas que ocorrem no cotidiano escolar que marginalizam minorias, resgatando principalmente os saberes próprios do coletivo trans e transformando-os em um projeto cooperativista, de cidadania e reinserção laboral.

Por fim, este Bachillerato desenvolve e representa ações nos âmbitos político, educacional e social que se tornaram igualmente indispensáveis na luta e nos esforços no combate às discriminações e às violências institucionais. Além disso, proporciona ações que se orientam por princípios e atitudes críticas, dialógicas e humanitárias. Um espaço educativo formal aberto para negociar e reconstruir sentidos e desestabilizar relações de poder e doutrinas opressivas.

Referências

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Notas

1. Professora Colaboradora da Universidade Estadual Oeste do Paraná – Unioeste.

2. O termo ‘trans’ utilizado no desenolvimento deste artigo refere-se conjuntamente às identidades de gênero das travestis, dos/as transexuais e transgêneros.

3. Neste artigo utilizaremos a sigla LGBTTTI+ para nos referirmos às populações de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Intersexuais e o sinal de mais para agregar outras identidades e orientações sexuais.

4. Estamos nos referindo ao governo de Nestor Kirchner (2003–2007) e, posteriormente, ao de Cristina Kirchner (2007–2015).

5. Nos anos 1990 estavam em plena vigência os Edictos Policiales, ou seja, uma normativa dos Códigos de Faltas e Contravenciones que trazia sanções às pessoas que exibissem publicamente roupas de outro sexo. Era uma época de detenções e repressão a pessoas travestis e transexuais.