Daiane Alves da Silva
gabi.de.paula.vieira@gmail.com

Juselino Pereira
juselinopereira@discente.ufg.br

Maria Alice de Sousa Carvalho Rocha
maria.carvalho@ufg.br

EIXO
Pedagogia e Psicologia

Vida e evolução: um caminho para uma melhor relação com a vida

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Resumo: Este trabalho apresenta um projeto de ensino realizado no 2° ano dos Anos Iniciais da Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás, durante a última escala do ano letivo de 2020. Foi elaborado conforme a Instrução Normativa de nº 01/2020- Cepae/UFG para realizar o Ensino Remoto Emergencial e a Proposta do Estágio Obrigatório da Faculdade de Educação/UFG. Seu desenvolvimento foi baseado em uma perspectiva interdisciplinar e colaborativa a partir da temática Vida e Evolução (plantas). Foi realizada uma série de atividades semanais de investigação, recolhimento e análise de descobertas partilhadas, levando em consideração os recursos e as possibilidades subjetivas dos sujeitos participantes. Os resultados deste projeto apontam para sua eficácia, pois conseguiu ativar o envolvimento de todos na realização do que foi proposto, promovendo um ensino de qualidade e atento às condições da pandemia da Covid-19.

Palavras-chave: Educação Básica. Projeto de Ensino. Vida e Evolução.

Introdução

O atual contexto da pandemia da Covid 19, iniciado em 2020, acabou por estabelecer um distanciamento físico dos estudantes das escolas oficiais brasileiras no intuito de impedir a proliferação do vírus, de acordo com as recomendações dos órgãos internacionais e nacionais, como a Organização Mundial de Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde. No entanto, essa condição não poderia impedir que a escola continuasse a promover laços sociais e ofertasse um ensino de qualidade. Mesmo ciente das dificuldades, logo percebidas, como por exemplo, a falta de acesso à internet e dos dispositivos necessários para o acompanhamento remoto das aulas por parte da maioria dos estudantes brasileiros, o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás (Cepae/UFG) publicou a Instrução Normativa de nº 01/2020 do Cepae/UFG, dispondo sobre o Ensino Remoto Emergencial (ERE) de modo a viabilizar a continuidade do ano letivo.

Neste documento, estabeleceu-se que o Cepae continuaria seu trabalho, de acordo com suas possibilidades, destacando que os momentos de ensino-aprendizagem aconteceriam por meio de atividades assíncronas (roteiros) e atendimentos síncronos (encontros online pelas plataformas oficiais), sob a supervisão da família, usando os dispositivos do celular e/ou computador.

Assim sendo, foi possível viabilizar o encontro entre a disciplina do Estágio em Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Pedagogia da Faculdade de Educação (UFG) e a turma do 2º ano dos Anos Iniciais do Cepae para realizar um projeto de ensino durante a última escala do ano letivo de 2020, precisamente nos meses de março, abril, maio e junho de 2021. Foi verificado, por meio de consultas às famílias responsáveis, os recursos necessários para viabilizar o funcionamento desse projeto, respeitando e garantindo a participação de todos.

Este projeto foi inspirado pelo vídeo de uma estudante da turma que apresentava o espaço verde cultivado pelo seu pai e familiares em um lote baldio ao lado de sua casa e também pelo projeto TiNis. Utilizou-se, portanto, como eixo, a temática “Vida e Evolução”, por assumir importância crucial na formação dos estudantes, na medida em que instiga a todos a estabelecerem um vínculo maior com a natureza, desenvolverem a sensibilidade e a responsabilidade com e para a vida. Sabendo que, devido à pandemia, os estudantes estão em casa e cada um com condições diferenciadas, foi proposto um conjunto de atividades que, em nosso entendimento, poderiam promover experiências significativas, considerando a perspectiva dialógica e criativa de um ensino colaborativo.

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Por certo, essa unidade temática já era prevista no plano de ensino e permitiu a interdisciplinaridade entre as disciplinas ministradas, principalmente Língua Portuguesa, Geografia, História e Ciências. A temática pôde ser explorada, conforme as condições contextuais de cada estudante e, por isso, pôde produzir conhecimentos em relação à identificação e descrição de características das plantas (partes da planta, tamanho, forma, cor, germinação, fase da vida, qual função desempenha, relação entre as plantas etc), investigação da importância da água e da luz para conservação da vida, criação e manutenção de espaços verdes em sua moradia e em seu bairro, escrita de relatos de observação e experimento, conscientização da dependência entre os seres vivos, especificamente das plantas para a alimentação e conservação da vida humana, dentre outros.

Metodologia

O projeto foi desenvolvido colaborativamente entre as crianças, professores e estagiários, com encontros semanais online e por meio de roteiro mensal que foi disponibilizado no site oficial do CEPAE e na plataforma MOODLE IPÊ ou entregue impresso para os responsáveis, mediante solicitação. As atividades contidas no projeto foram elaboradas para atender ao modelo de Ensino Remoto Emergencial, seguindo as orientações definidas em comum acordo entre os professores e os responsáveis pelos estudantes e teve como base metodológica também o diálogo constante para partilha de descobertas e para acompanhar o desenvolvimento das atividades, contribuindo inclusive para proporcionar os aspectos formativos de uma avaliação diagnóstica e processual, contidos no Projeto Político Pedagógico do CEPAE (2021).

Ademais, procurou considerar os três momentos pedagógicos propostos por GENOVESE, L. G. R.; GENOVESE, C. L. C. R. ( 2012 apud DELIZOICOV E ANGOITTI 2009), ou seja, primeiro, a problematização inicial com o levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema. O segundo, a organização do conhecimento para direcionar as leituras, vídeos, exercícios escritos e discussões orais a fim de assimilar os conteúdos abordados e relacioná-los com o que já sabiam. E, como terceiro momento, a aplicação do conhecimento, isto é, a realização e a exposição do conteúdo aprendido pelo estudante por meio de atividades escritas, orais, desenhos, fotos e vídeos que compartilharam de maneira significativa e dialógica, por meio de aplicativos disponibilizados de forma online, nos aplicativos e plataformas definidos em comum acordo com a turma e suas famílias.

Resultados e discussões

A pandemia provocada pelo Covid-19 convocou todos a pensarem sobre a vida e as condições humanas de existência. Nessa tarefa, a escola também foi convidada e, mesmo com as dificuldades observadas pela comunidade escolar, foi um desafio manter os vínculos e promover conhecimentos. Entretanto, com as condições necessárias viabilizadas por meio de acesso à internet, aquisição de recursos (celulares e computadores), apoio pedagógico, auxílio dos familiares e monitores foi possível minimizar as perdas provocadas pelo distanciamento físico das escolas e promover um ensino de qualidade, instigando a curiosidade dos estudantes em relação ao tema e o seu comprometimento em relação às atividades propostas.

Foi possível verificar que o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação-TDICs na educação serviu como auxílio no processo de ensino de maneira criativa e responsável. Observamos o quanto esses recursos permitiram que os estudantes participassem, mesmo online, com interesse e mantivessem o foco no que estava sendo proposto como estudo. Sem dúvida, os aplicativos de captação de imagens, áudios, edições e compartilhamento provocaram a atenção de todos, colaborando para novas aprendizagens e fazendo circular o conhecimento produzido.

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Destacamos, nesse sentido, os vídeos produzidos pelos estagiários e estudantes, o livro das fábulas produzidas pelos alunos no formato digital, as entrevistas gravadas em celulares, as imagens produzidas, realizadas pela câmera de celulares que alimentaram e apresentaram os conteúdos trabalhados e também um PADLET. Esse último, uma forma selecionada para organizar uma devolutiva das atividades realizadas pelos estudantes com as fotos e relatos de experiências sobre a mini-horta e/ou espaço verde construídos pelos estudantes.

Ao citar esses resultados podemos considerar algumas questões sinalizadas por Freire (1996) no âmbito da educação, principalmente em relação ao reconhecimento das experiências dos alunos fora do âmbito escolar. Ausentes da sala de aula, mas presentes e aproveitando os recursos disponíveis em suas moradias e com a colaboração de suas famílias, foi possível reinventar seu cotidiano e produzir conhecimento. A produção da mini-horta foi um modo de vivenciar essa experiência e ficar ciente de sua responsabilidade enquanto sujeito capaz de colaborar para criar um mundo mais solidário que mantém o círculo da vida.

Durante os atendimentos síncronos, os estudantes participaram ativamente, relatando as descobertas em torno da temática estudada e discutiram suas implicações no âmbito da cultura, revelando pensamentos críticos. De acordo com Saviani (2008), essa abertura ao diálogo foi uma maneira de explorar a dimensão política da prática escolar. Ausentes fisicamente da escola, mas com as condições necessárias para experimentar, investigar e crescer intelectualmente, bem como cientes de serem também produtores de cultura e com capacidades de transformar a realidade.

Esse projeto conseguiu, de certa forma, ativar a esperança de que há caminhos possíveis para se vislumbrar uma escola democrática, com possibilidades de proporcionar um ensino colaborativo e integrado à comunidade, mesmo nas atuais circunstâncias de pandemia. Para isso, vale lembrar, é preciso não só estabelecer diretrizes, mas garantir os recursos necessários para o acompanhamento remoto das aulas e a discussão de soluções que também passam por condições econômicas, sociais e sanitárias adequadas.

Referências

CEPAE/UFG. CONSELHO DIRETOR DO CEPAE. Resolução Nº 01/2010 do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/80/o/Instru%C3%A7%C3%A3o_Normativa_CEPAE___01_2020_SET.pdf. Acesso em: 05 de dez. de 2020.

CEPAE. Plano de curso anos iniciais do ensino fundamental. Disponível em: https://www.cepae.ufg.br/p/34813-plano-de-curso-anos-inciais-do-ensino-fundamental. Acesso em 30 de jun. de 2021.

CEPAE. Projeto Pedagógico de Curso do CEPAE (PPC). Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/80/o/PPC_Versa%CC%83o_Final.pdf?1581521218. Acesso em: 14 abr. 2021.

FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa (Coleção Leitura). São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GENOVESE, L. G. R.; GENOVESE, C. L. C. R. Metodologias de Ensino de Ciências como Elementos de Pesquisa para o Estágio Supervisionado em Física: considerações preliminares. Goiânia: UFG/IF/Ciar; FUNAPE, 2012.

SAVIANI. D. Escola e democracia. Edição Comemorativa. Campinas: Autores Associados, 2008.