Gabriela de Paula Vieira Justo
gabi.de.paula.vieira@gmail.com

Alba Cristhiane Santana

EIXO
Pedagogia e Psicologia

A Afetividade nas Relações Interpessoais no PIBID

54

Resumo: O estudo se deu a partir de investigação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Teve o objetivo de investigar as relações interpessoais no PIBID, com ênfase na afetividade. Como objetivos específicos: investigar as relações afetivas entre pibidiano e o aluno da escola; identificar as relações afetivas entre o pibidiano e os professores-supervisores da escola; e analisar como a experiência do PIBID contribui com a formação do professor, a partir da percepção dos participantes. Foi realizada uma pesquisa de base qualitativa, com a participação de licenciandos-pibidianos e professores-supervisores de duas escolas públicas vinculadas ao programa de PIBID da UFG. Os procedimentos foram: análise de documentos, observação de atividades do PIBID e questionários. Os resultados indicam uma boa relação dos pibidianos com os alunos da escola, além de uma relação ainda distante entre os estagiários do PIBID e os professores-surpervisores. O estudo demonstrou que o PIBID possibilita interações e experiências afetivas importantes para o processo de formação docente. Percebeu-se que a experiência do PIBID propicia aos licenciandos contato próximo com as distintas situações que permeiam a prática docente nos contextos escolares.

Introdução

O PIBID é uma política pública que proporciona uma importante experiência formativa para alunos de cursos de licenciatura no país, por contribuir com a aproximação entre a educação superior e a educação básica.

A preocupação com um espaço diferenciado para a formação docente que propiciasse contribuições para o processo formativo de professores nos contextos da educação básica é a base estruturante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), em 2013. Um programa amplo e presente em todo Brasil, que despertou, também, várias pesquisas relacionadas à produtividade e à efetividade de sua ação nas Universidades, devido ao interesse dos pesquisadores da área de formação docente, bem como da apresentação dos projetos desenvolvidos pelos alunos-pibidianos nas escolas-campo. Os alunos-pibidianos são os bolsistas do PIBID que cursam alguma licenciatura no país.

O tema desta pesquisa insere-se em um espaço ainda pouco estudado acerca do PIBID e a formação de professores. Para compreensão dos processos de mediação e das relações afetivas o estudo se fundamentou na perspectiva histórico-social partindo de Vygotsky (2003, 2010) sobre o desenvolvimento humano. Nessa perspectiva, a cognição e a afetividade são vistos como processos psicológicos superiores desenvolvidos no ambiente cultural e social, de forma inseparável. Também foram base para a pesquisa os estudos de autores como Leite (2012, 2018) e Masetto, Moran e Behrens (2001) sobre a mediação pedagógica e as relações afetivas no contexto educativo.

O objetivo geral do estudo foi investigar as relações interpessoais no PIBID. Os objetivos específicos foram: compreender a troca afetiva realizada entre pibidianos e alunos das escolas e investigar a troca afetiva entre pibidianos e professores-supervisores das escolas.

Metodologia

Foi realizada uma pesquisa qualitativa, baseada em um processo construtivo-interpretativo para a produção de conhecimentos sobre o tema pesquisado, segundo as discussões de Flick (2009). Os contextos da pesquisa foram duas escolas estaduais, no município de Goiânia, que participam do PIBID oferecido pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

55

Os participantes da pesquisa foram os alunos de licenciatura em Letras/Português que participam do PIBID, ou seja, os Pibidianos, além dos professores da escola estadual que supervisionam os pibidianos, denominados professores-supervisores. Os pibidianos (alunos da licenciatura) e professores-supervisores foram selecionados a partir de informações da coordenação do PIBID.

Participaram 16 pibidianos, sendo 25% homens e 75% mulheres, licenciandos do curso de Letras: Português da UFG, com 50% no 4º período, 6,25% no 5º período, 31,25% no 6º período e 12,5% no 8º período. O tempo de participação destes licenciandos no PIBID era: 43,75% de 11 meses a 1 ano, 43,75% de 1 ano e 3 meses a 1 ano e 6 meses e 12,5% não informaram o tempo de participação.

Participaram do estudo 03 Professoras-Supervisoras que são professoras das escolas. Foram usados nomes fictícios para apresentar estas professoras. Todas possuem mais de 40 anos. A professora Tereza possui 18 anos de experiência em sala de aula, a professora Alice possui 25 anos e a professora Marta, 26 anos de experiência. Todas lecionam língua portuguesa. A professora Tereza possui licenciatura em Língua Portuguesa e Língua Inglesa. As outras duas professoras são doutoras, na mesma área.

Os procedimentos do estudo foram:

  1. Estudos teóricos e revisão bibliográfica: foi realizada pesquisa teórica na base do indexador Scielo.br, com a busca das palavras-chave: PIBID, Mediação Pedagógica e Afetividade;
  2. Análise de documentos: foram selecionados documentos relacionados ao PIBID, como: o Decreto nº 7.219, de 24 de junho de 2010 (BRASIL, 2010); a Lei nº 12.796, de 12 de abril de 2013 (BRASIL, 2013); a Portaria nº 46, de 11 de abril de 2016 (BRASIL, 2016). O objetivo da análise dos documentos foi compreender a proposta, os princípios e os procedimentos para realização do PIBID.
  3. Observações de atividades realizadas por pibidianos nas escolas de educação básica: o objetivo das observações foi identificar as características das relações interpessoais entre os pibidianos e os alunos das escolas e os professores-supervisores. Foram acompanhadas atividades do PIBID durante a participação do programa.
  4. Questionário: foram aplicados questionários para os pibidianos e os professores-supervisores, com questões formuladas previamente conforme os objetivos do estudo (GIL, 2002). O instrumento foi composto por questões fechadas e abertas, sem intenção de validação. Os participantes foram convidados a responderem o questionário, apresentou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respeitando os parâmetros normativos de uma pesquisa científica que envolve seres humanos. Foram analisados os questionários por meio de estatísticas simples para as questões fechadas e análise temática para as questões abertas.

Resultados e discussões

Esta seção foi organizada em três eixos de discussão, de acordo com os objetivos da pesquisa: a) a relação entre os Pibidianos e os alunos da escola; b) a relação entre os pibidianos e os Professores-supervisores; e c) PIBID e a Formação de professores.

No primeiro eixo foram selecionadas questões que evidenciaram as características da relação entre o Pibidiano e os alunos da escola. As informações sobre essa temática foram construídas a partir das observações das atividades desenvolvidas na escola e das respostas do questionário.

Durante as observações das atividades, foi possível identificar, de modo geral, uma relação afetiva positiva entre os pibidianos e os alunos da escola, com a presença de respeito, simpatia e cordialidade.

56

A análise do questionário demonstrou que os pibidianos percebem a importância de uma relação que mobiliza afetos positivos, por criar um contexto de ensino e aprendizagem motivador, que gera interesse e envolvimento dos participantes. São percepções que se aproximam dos estudos de Leite (2012, 2018) e Leite e Tassoni (2000), que afirmam que a interação no processo educativo é marcada pela afetividade em todos os seus aspectos.

No segundo eixo Relação entre os pibidianos e os professores-supervisores, de modo geral, foi possível observar que, na percepção das profissionais, a relação com os pibidianos é boa, com a presença de poucas situações de conflito e de insatisfação que são resolvidas com diálogo quando possível. Essa situação é coerente com os estudos de Leite (2018) que indicam inúmeras situações e fatores que ocorrem no contexto escolar e que podem afetar professores e alunos, favorecendo ou não o processo ensino-aprendizagem.

Em relação aos pibidianos, notou-se que, na percepção da maioria, falta envolvimento e tempo para supervisão e acompanhamento das atividades. Essas são situações que podem comprometer a relação vivenciada com os professores-supervisores.

O terceiro eixo de discussão, O PIBID e a formação de professores, foi elaborado com informações construídas nos questionários com os pibidianos e as professoras-supervisoras, nas observações das atividades do PIBID. E atende ao terceiro objetivo específico da pesquisa, que é investigar como a experiência do PIBID contribui com a formação do professor.

A análise dos dados aponta distintos fatores possibilitados pelo PIBID que contribuem com a formação docente e ainda, o valor afetivo das vivências que incentivam o pibidiano na sua formação. Baseado na discussão de Leite e Tassoni (2000) entende-se que a relação afetiva estabelecida nas experiências do PIBID pode gerar sentimentos de confiança e autonomia que enriquecem o processo formativo.

De modo geral, os objetivos propostos pelo estudo, foram alcançados e resultaram em uma compreensão melhor sobre as características das relações afetivas no PIBID e no processo formativo dos pibidianos.

O estudo demonstrou que o PIBID possibilita interações e, consequentemente, proporciona experiências afetivas importantes para o processo de formação docente. As informações da pesquisa demonstraram que uma boa relação entre o pibidiano e o aluno da escola pode motivar o trabalho do licenciando, além de qualificar o processo de mediação pedagógica.

Na revisão de literatura foram identificados poucos estudos sobre as relações interpessoais no PIBID, por isso, reafirma-se a importância de desenvolver pesquisas que se direcionem para essa temática, com ênfase na dimensão afetiva, que faz parte da constituição do sujeito e o influencia em todas as interações. Acredita-se que pesquisas nessa direção podem contribuir para potencializar o PIBID, que é uma política executada no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. São necessárias pesquisas que possam fortalecer a capacidade do PIBID em contribuir ainda mais com o aperfeiçoamento da formação de docentes em nível superior e para a melhoria de qualidade da educação básica pública brasileira.

Referências

BRASIL. Portaria n. 46, de 11 de abril de 2016. Aprova o Regulamento do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - Pibid. Disponível em:. Acesso em: 2 de jul. 2019.

57

BRASIL. Lei 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/L12796.htm. Acesso em: 2 jul. 2019.

BRASIL. Decreto n. 7.219, de 24 de junho de 2010. Dispõe sobre o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBIS e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7219.htm. Acesso em: 2 jul. 2019.

FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Joice Elias Costa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa.4. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LEITE, S.A.S. Bases teóricas do grupo do afeto. In: LEITE, S.A.S. (orgs.). Afetividade: as marcas do professor inesquecível. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2018, p.27-52.

LEITE, S. A. S. (Org.). Afetividade e práticas pedagógicas. Temas em Psicologia, São Paulo, v.20, n.2, p.355-368, 2012.

LEITE, S. A. da S.; TASSONI, E. C. M. A afetividade em sala de aula: as condições de ensino e a mediação do professor, 2000. Disponível em https://www.fe.unicamp.br/alle/textos/SASL-AAfetividadeemSaladeAula.pdf. Acesso em: 10 out. 2019.

MASSETO, M. T.; MORAN, J. M.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2001.

VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. Trad. P. Bezerra. 2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Textos originais de diferentes datas).