Kethlen Botelho de Sá
botelhokethlen@gmail.com

Cláudia Helena dos Santos Araújo
helena.claudia@ifg.edu.br

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

Usos e apropriações das tecnologias digitais por docentes da licenciatura em química do Instituto Federal de Goiás (IFG)

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Resumo

Este texto tem como objetivo investigar os usos e as apropriações das tecnologias digitais por docentes da Licenciatura em Química do Instituto Federal de Goiás (IFG). Parte da hipótese da existência de lacunas dessas apropriações das tecnologias no trabalho pedagógico. Fundamenta-se na teoria crítica da tecnologia e suas relações com o trabalho docente no ensino de Química. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa que se constitui um diagnóstico documental do campo empírico e de estudos teóricos do tema. Por meio de um estudo de caso, analisaremos as percepções dos docentes dos cursos de Licenciatura em Química do IFG. O método analítico será a análise de conteúdo. Discutiremos resultados parciais sobre as relações entre os usos e apropriações das tecnologias no trabalho docente, subsidiando possíveis contribuições no campo da formação e atuação no ensino de Química.

Palavras-chave: Tecnologia. Ensino de Química. Trabalho Docente.

Introdução

Vivemos em uma era onde a tecnologia está presente em diversos os espaços da sociedade. De acordo com Vieira Pinto (2005, p. 220), “encontramos o conceito de ‘tecnologia’ entendido como o conjunto de todas as técnicas de que dispõe uma determinada sociedade, em qualquer fase histórica de seu desenvolvimento”.

Além disso, segundo o autor, “estamos vivendo uma época excepcional, caracterizada pela assombrosa ‘explosão tecnológica’ que engloba a vida da humanidade, a ponto de modificá-la em todas as suas manifestações” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 233), dessa forma, a sociedade se transforma aos poucos. Assim como tivemos que trocar nosso sinal da TV para o sinal digital, ou trocar os Telefones de Uso Público (TUP) pelos celulares, também tivemos que atualizar várias outras situações em nosso dia a dia. A educação é uma delas, os docentes buscaram se integrar mediante as apropriações dos usos das tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem.

Diante dessa afirmação é importante que o docente entenda acerca da utilização da tecnologia como recurso pedagógico, e inscreva a Química como ciência em sua prática educativa. Nessa perspectiva é onde se insere a tecnologia digital, com ela podemos mostrar aos nossos discentes uma forma tridimensional, por exemplo, de algum elemento químico. É possível apresentar ao estudante como funciona determinado conteúdo, contribuindo para a formação do pensamento científico, e para a sua aprendizagem, objetivando uma educação de qualidade.

O docente se depara com algumas barreiras quando se fala de tecnologias: “O professor passa a ser o encarregado de uma grande responsabilidade – a de utilizar as TIC como recurso para construir e difundir conhecimentos em sua prática docente.” (SCHUHMACHER; ALVES FILHO; SCHUHMACHER, 2017, p. 564) Vemos a importância da tecnologia nos processos educativos e os vários modos como podemos organizar uma aula, seja no formato on-line ou híbrido (presencial e a distância). A tecnologia digital surge como um dispositivo tecnológico que consegue gerar, distribuir e compartilhar informações de diversas formas e em distintos meios. No entanto, existem alguns debates sobre sua presença nas escolas como a questão da utilização dos laboratórios de informática em instituições educativas.

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Os laboratórios de informática, presentes nas unidades escolares em todo o Brasil, suscitam debates em torno dos modos de uso do computador no processo pedagógico de ensino e aprendizagem e, principalmente, em torno das vantagens e desvantagens de tê-los nas escolas. Equipar as escolas é um dos grandes esforços das políticas públicas educacionais de informática na educação exigindo recursos financeiros, processo de seleção e aquisição de equipamentos e o uso pedagógico das máquinas instaladas. (ARAÚJO, 2008, p. 33)

O trabalho docente é muito importante para o processo educacional. De acordo com Monteiro e Olini (2019, p. 111) abrange a dimensão ontológica e histórica, ou seja, “trata-se de considerar o trabalho como experiência produtora do homem no sentido de se configurar como atividade vital para o desenvolvimento das potencialidades humanas”. É através do trabalho pedagógico realizado pelo docente que se constitui a parte cultural, profissional e ética do discente, tendo o papel de formar o estudante para o mundo do trabalho, de integrá-lo à capacidade de tomar decisões e de construir um pensamento crítico, em específico, na formação para a Licenciatura em Química.

Diante desse pensamento, vemos a importância do trabalho docente, no processo de formação do pensamento científico, visando à aprendizagem do estudante. Desse modo, este escrito apresenta como objetivo apresentar resultados e discussões parciais acerca dos usos e apropriações das tecnologias digitais por docentes da Licenciatura em Química do Instituto Federal de Goiás (IFG).

Métodos

Essa pesquisa é qualitativa do tipo estudo de caso a partir da coleta de dados, tendo como universo de pesquisa cinco Câmpus que ofertam os cursos de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás: Anápolis, Inhumas, Itumbiara, Luziânia e Uruaçu. Tem-se como hipótese a existência de lacunas dessas apropriações das tecnologias no processo educacional.

Analisaremos as percepções dos docentes sobre a problemática da pesquisa, sendo estes os professores que constituem o corpus da área delimitada (colegiado dos cinco Câmpus) e utilizando como instrumento de coleta de dados o questionário a ser aplicado de forma on-line por meio do Google Formulário, respeitando o distanciamento social no contexto da pandemia da Covid-19.

O problema de pesquisa em estudo proporciona a investigação dos usos e apropriações das tecnologias, e o exame dos documentos institucionais como os planos dos cursos e os planos de ensino das disciplinas específicas e pedagógicas das licenciaturas envolvidas na pesquisa. Além da realização de estudos teóricos sobre o tema a partir da base de dados do Portal de Periódicos da CAPES nos últimos cinco anos (2015 a 2020).

Resultados parciais e Discussões

A educação brasileira perpassa vários desafios desde a sua criação até os dias atuais para conseguir levar uma educação de qualidade à sociedade. Um dos desafios é de conseguir inserir as tecnologias digitais na educação brasileira.

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Principalmente na última década, os governos, nos seus três níveis (municipal, estadual e federal), vêm instituindo políticas públicas voltadas para a inclusão digital da população no Brasil. Ações conjuntas dos governos, federal e estadual, por exemplo, através de programas como Programa Nacional de Informática na Educação, PROINFO, têm implantado, nas escolas da rede pública, salas de informática com acesso à internet. A tecnologia possibilitou os cursos à distância, levando a informação e o conhecimento em quase todas as cidades do país. (LEITE; RIBEIRO, 2012, p. 176)

Inserir essas tecnologias no meio educacional envolve vários parâmetros que precisam ser observados como a falta de estrutura tecnológica e pedagógica das escolas para receber esses aparatos tecnológicos e realizar seu funcionamento.

Assim, a tecnologia se mostra um recurso para os métodos de ensino utilizados na prática pedagógica, ou seja, nos convidando “a realizar uma análise das mudanças provocadas pela tecnologia, demonstrando que vivemos em um universo tecnológico e que tudo que realizamos em qualquer atividade que seja, é necessário o uso da tecnologia” (ARAÚJO, 2008, p. 35). Tal como em uma instituição educativa de ensino, em qualquer espaço que envolva ações educativas seja uma educação não formal, informal ou formal existe algum tipo de tecnologia. Na graduação, o momento inicial da formação docente nas licenciaturas, temos uma preocupação com a era tecnológica, para que os docentes em formação quando forem para a escola compreendam a tecnologia como artefato cultural utilizado nos espaços educativos. Mesmo a tecnologia sendo um recurso útil para a aprendizagem, seu uso possui consequências se efetuado de maneira inadequada.

O lugar do professor se situa na sua atuação docente ao promover a integração das tecnologias ao processo educacional e isto feito de maneira apropriada, com conhecimento integrado do uso da tecnologia aplicado à educação, proporciona um espaço ‘positivo’ do uso da tecnologia, ou então, se de maneira inadequada, uma fatalidade. (ARAÚJO, 2008, p. 35).

Acerca da inserção das tecnologias em Projetos Político-Pedagógicos (PPP), Schuhmacher, Alves Filho e Schuhmacher (2017) questionaram coordenadores de cursos de Licenciatura:

Os coordenadores relatam obstáculos estruturais que impactam na decisão de acomodar as TIC em sua prática, tais como: as questões gerenciais e institucionais que interferem na formatação da grade curricular; a valorização do formador frente a questões como sua carga horária didática, ou mesmo, sua possibilidade de progressão na carreira. A dificuldade na inserção é permeada pela estrutura física necessária para o bom uso das TIC no ensino. (SCHUHMACHER; ALVES FILHO; SCHUHMACHER, 2017, p. 570)

Mediante essas informações, observamos as resistências dos professores em relação ao usos e apropriações por receio de não conseguirem se aproximar das tecnologias, por considerarem que a educação de abordagem tradicional é a melhor forma de trabalho pedagógico para obter uma educação de qualidade, pela ausência das condições objetivas e subjetivas de trabalho e da oferta de uma formação precarizada para a sua atuação na educação escolar, em particular, nas Licenciaturas em Química.

Referências

ARAÚJO, C. H. S. Discursos pedagógicos sobre os usos do computador na Educação Escolar (1997-2007). 2008. 178f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Educação) – Universidade Católica de Goiás, Goiânia. 2008.

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LEITE, W. S. S. RIBEIRO, C. A. N. A inclusão das TICs na educação brasileira: problemas e desafios. Revista Magis Internacional de Investigación en Educación, Bogotá, v.5, n.10, 2012. p. 173-187. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=28102489601. Acesso em: 24 jan.2021.

MONTEIRO, S. B. OLINI, P. Coleção Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino: Diversidade e Tecnologias Digitais. Cuiabá: Editora Sustentável, 2019. 3 v.

NASCIMENTO, S. P. As TIC Na Formação Continuada De Professores: desafios para os núcleos de tecnologia educacional no estado de Goiás. Anápolis: Centro Universitário de Anápolis, 2015. 134 p.

SCHUHMACHER, V. R. N.; ALVES FILHO, J.P.; SCHUHMACHER, E. As barreiras da prática docente no uso das tecnologias de informação e comunicação. Revista Ciência e Educação, Bauru, v. 23, n. 3, 2017, p. 563-576. Disponível em: https://doi.org/10.1516-731320170030002<. Acesso em: 24 jan. 2021.

VIEIRA PINTO, Á. O Conceito de Tecnologia. 2005. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. 1v.