Maria Amélia Cândida Machado
mariaameliacm@gmail.com

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

O estágio supervisionado em tempos de pandemia e a formação docente: relato de experiência

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Resumo

O objetivo do presente estudo é realizar uma análise das condições que têm permeado a formação continuada de professores no ensino remoto, especificamente, no que concerne a duas instituições de ensino vinculadas às Secretarias Municipais de Educação (SME) de Goiânia e Aparecida de Goiânia, cidades situadas no Estado de Goiás. Para isto, desenvolvemos uma Pesquisa Descritiva, realizando a coleta de dados por meio de um questionário online por meio do Google Formulários. Os resultados indicam que existem limites na formação continuada destes professores, posto que há centralidade nas capacidades voltadas ao manuseio das plataformas digitais. Atrelado a isto, constatamos que houve um aumento da carga horária de trabalho, a qual é acompanhada pela diminuição da carga horária dedicada à formação continuada.

Palavras-chave: Formação Continuada. Docência. Ensino Remoto.

Introdução

Devido ao cenário pandêmico ocasionado pela Covid-19, que tem assolado toda população mundial desde o início do ano de 2020, para preservação da vida, a Organização Mundial de Saúde recomendou o isolamento social. Nesse sentido, as aulas presenciais foram suspensas e as instituições de ensino necessitaram adaptar-se rapidamente ao novo momento, reorganizando as suas práticas pedagógicas. Muitas unidades de ensino adotaram um sistema emergencial, recorreram a tecnologia e a comunicação via internet para continuarem suas atividades, conforme cada realidade educacional.

Amparado pela Portaria Nº 544, de 16 de junho de 2020, que regulamenta a realização de atividades práticas e laboratoriais juntamente com a oferta de estágios das Instituições de Ensino Superior (IES), enquanto durar a pandemia da Covid-19, o Estágio Supervisionado dos cursos de licenciaturas passou a ser realizado de forma remota, conforme a realidade apresentada. Através de vivências no transcorrer da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Educação Infantil, do curso de Pedagogia, deparou-se com desafios significantes nesse novo contexto que cotidianamente os professores vem enfrentando nas aulas remotas, assim como o compromisso que abarca sobre a profissão.

Através dessas considerações, o presente estudo tem como objetivo relatar as experiências vivenciadas no Estágio Supervisionado em Educação Infantil, que foi realizado em tempos de pandemia, no formato de Projeto de Extensão, tendo como proposta a formação de professores. A metodologia utilizada para a realização do Estágio Supervisionado foi baseada em pesquisa bibliográfica, o Projeto de Extensão foi fundamentado nos pilares da Educação Infantil, Formação de Professores, Estágio Supervisionado (PIMENTA; LIMA, 2010; PICONEZ, 2012) e Ensino por Investigação (SASSERON; CARVALHO, 2008; SASSERON, 2015).

A literatura também foi utilizada para validação das informações detectadas durante o desenvolvimento do projeto e nas anotações de campo. A realização de uma revisão de literatura ampla e consistente ocorreu em decorrência da relevância do tema abordado e as concepções vivenciadas durante o processo de estágio, tendo em vista obter o máximo de informações relevantes sobre o assunto, para um melhor aprimoramento da pesquisa.

Fundamentação teórica

A realização do Estágio Supervisionado em Educação Infantil é de fundamental importância para o conhecimento e a formação integral do graduando em Pedagogia. Sendo esse o momento da inversão de papeis, o futuro docente não se encontra mais apenas como expectador (PIMENTA; LIMA, 2010). Por necessidade formativa, o licenciando inicia a atuação de mediador do conhecimento e se posiciona como protagonista do aprendizado adquirido durante os momentos de formação inicial. O graduando, nesse processo, assumi a posição de professor, desde o momento do planejamento até a condução dos conteúdos dentro da sala de aula.

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Piconez (2012) aponta que o estágio se configura como um espaço teórico-prático, detendo de uma vasta visão teórica, prática, material e social, próprio do contexto em que o estagiário está imerso. O estágio é fundamental para a aquisição de experiências e conhecimento, antecedendo o exercício da função docente. Outro fator que justifica a realização do estágio é a fundamentação teórica que é vivenciada e colocada em prática no cotidiano escolar.

As atividades extensionistas são ações que as Instituições de Ensino Superior disponibilizam para a comunidade interna e externa. Parte de propostas organizadas pela comunidade acadêmica – estudantes e professores – ofertando atividades para a população. A extensão na Universidade pode ser definida como instrumento a ser utilizado para a efetivação do seu compromisso social. A construção do conceito de extensão tem como base, persuadir a Universidade e a comunidade proporcionando benefícios e adquirindo conhecimentos para ambas as partes (RODRIGUES et al 2013, p. 142). Perante a este preceito, a Universidade tem como responsabilidade a formação profissional e a transmissão dos conhecimentos adquiridos pelos graduandos, pela ampliação e extrapolação de seus saberes além do ambiente de sala de aula (SOUSA, BARROS, AGOSTINHO FILHO, 2017).

Relatório de evidências

Neste tópico será descrito o desenvolvimento do estágio, abordando todas as suas etapas, desde sua idealização, execução e relato das atividades desenvolvidas no Projeto de Extensão.

O presente relato de experiência aborda as evidências vivenciadas no Estágio Supervisionado em Educação Infantil. No caso deste estágio, foi idealizado e apresentado um Projeto de Extensão a ser desenvolvido para comunidade externa da Universidade, no formato de um curso, denominado como “Ensino por Investigação em Ciências da Natureza: desenvolvendo ações na Educação Infantil”, com carga horaria de 6 horas. Os objetivos da ação foram:

O público alvo do projeto de extensão foi formado por professores de pedagogia em formação e professores que atuam na Educação Infantil. Após a aprovação do projeto pela coordenação do curso e coordenação de extensão, iniciou-se o processo de divulgação do curso proposto. A divulgação foi realizada entre os dias 25/11/202 à 28/11/2020, por meio de grupos e contatos do WhatsApp. Para a divulgação, confeccionou um cartaz informativo, contendo: nome do curso, período de inscrição, período de realização, horário de realização, carga horária do curso e nome da ministrante do curso. Juntamente com o cartaz, foi divulgado um texto informativo sobre a inscrição e como se organizava o curso de formação.

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Para realização das inscrições, foi elaborado uma ficha através de Formulário do Google, sendo disponibilizado o link para preenchimento. Após o encerramento de inscrições, os inscritos foram contatados por e-mail e receberam o link de acesso para a sala virtual. Conforme o cronograma de realização da ação extensionista, foram desenvolvidos dois momentos síncronos, por meio do recurso de vídeo conferência - Google Meet, com duração de duas horas cada, e um momento assíncrono, de 2 horas, em que os cursistas realizaram uma proposta de atividade, totalizando 6 horas de curso proposto e implementado.

O primeiro encontro realizado no dia 30/11/2020, iniciou-se com a apresentação da ministrante do curso e dos cursistas. Após esse momento, foi realizado um diálogo a respeito da ciência e sobre o Ensino de Ciências com os participantes do curso, culminando no ponto central de discussão do encontro: “Uma palavra que representa nosso principal objetivo para o Ensino de Ciências”. Diante deste questionamento, o cursista poderia responder até três palavras, sendo que ao final, formou-se uma nuvem de palavras a partir das respostas de cada cursista. Para criação da nuvem de palavras foi utilizado o site mentimeter.com. Para completar a organização e dinamização do encontro, utilizou-se ainda o recurso de apresentação em slides.

Ainda durante o primeiro encontro, foi apresentado o conceito de investigação, seguido por momentos de diálogo sobre as experiências que os cursistas haviam tido durante sua vida escolar, utilizando a metodologia de ensino por investigação. Durante esse encontro, ainda foram apresentadas propostas de atividades investigativas, sendo que essas propostas foram subsidiadas pela literatura dentro dessa temática, foram utilizados os relatos de experiências dos pesquisadores e estudiosos do tema. Foi apresentado aos cursistas uma Sequência Didática como proposta para ser desenvolvida na Educação Infantil, abordando o seguinte tema: “O Universo dos Insetos”. Ao final desse primeiro dia de curso, foi proposto os cursista o desenvolvimento e apresentação de atividade investigativa no próximo encontro síncrono.

A opção pela sequência didática decorreu por ser já de conhecimento do meio escolar, pois ela vem sendo utilizada em sala de aula e tem despertado interesse, decorrente das inúmeras possibilidades de planejamento. (TARGINO, 2017). Segundo Targino (2017), a sequência didática, de modo geral, configura-se em planejamento de três etapas: conhecimento prévio das concepções dos estudantes sobre determinado conteúdo; ensinar conceitos definidos por meio de atividades; a partir do desenvolvimento da sequência didática realizar avaliação dos resultados. O planejamento e a avaliação são processos cíclicos de elaboração e reelaboração do trabalho. A sequência didática para Viecheneski e Carletto (2016) é definida como uma sequência de atividades estruturadas e articuladas com objetivos educacional e com princípio e um fim, conhecido por todos os envolvidos, tanto alunos e quanto professor.

O encontro assíncrono se configurou pela elaboração, por parte dos cursistas, da proposta de atividade investigativa. Para auxiliar os cursistas, foi disponibilizado ainda o contato da ministrante do projeto de extensão, para atender as dúvidas e auxiliar os cursistas no desenvolvimento da atividade a eles incumbida. No segundo encontro síncrono, realizado no dia 03/12/2020, os participantes do projeto de extensão apresentaram, em duplas, as propostas elaboradas por eles de atividades investigativas. As propostas apresentadas foram: “Investigando os seres vivos”; “Árvore genealógica: o meu nome e dos membros da minha família”; “As frutas: cores, formas, cheiros e sabores”; e “Cuidando do sorriso: higiene bucal”. Ao final da apresentação, a ministrante do curso de extensão instigava os cursistas, a partir do tema apresentado, a propor outras atividades e alternativas que completariam a atividade proposta apresentada.

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Considerações finais

O estágio, na modalidade de extensão, contribuiu para uma reflexão sobre como a prática docente pode ser realizada, em suas diversas dimensões, desde a elaboração e planejamento da aula, no caso do curso, até a confecção de relatório sobre o desenvolvimento dos alunos, aqui os cursistas. Pode-se ainda considerar a expansão de conhecimento promovida pela pesquisa bibliográfica inicial, que fundamentou o tema proposto para o curso, além do conhecimento dos recursos tecnológicos e o emprego de metodologias no processo de ensino e aprendizagem.

Nesse sentido, as atividades com propostas de práticas pedagógicas investigativas tornam o ensino um processo desafiador, levando o professor a explorar os conhecimentos prévios e buscar o que os cursistas querem desenvolver, através da análise das situações e discussões do primeiro encontro, com vistas a atender suas expectativas de formação.

O formato remoto do estágio proporcionou várias reflexões sobre da educação brasileira e como a pandemia ressaltou as desigualdades sociais no ensino. Por fim, cenários como o descrito neste trabalho e o desenvolvimento de cursos focados na formação docente, fortalece as oportunidades ao professor em formação, que o aproxime de momentos práticos e do trabalho pedagógico, proporcionando uma construção identitária.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro portaria nº 544, de 16 de junho de 2020. Brasília, 2020.

PICONEZ, S. C. B. A prática de ensino e o estágio supervisionado. 24ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2010.

RODRIGUES, A. L. L.; PRATA, M. S.; BATALHA, T. B. S.; COSTA, C. L. N. DO A.; PASSOS NETO, I. DE F. Contribuições da extensão universitária na sociedade. Cadernos de Graduação – Ciências Humanas e Sociais - UNIT, v. 1, n. 16, p. 141-148, 2013.

SASSERON, L. H; CARVALHO, A. M. P. Almejando a alfabetização científica no ensino fundamental: a proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 13, p. 333- 352, 2008.

SASSERON, L. H. Alfabetização científica, ensino por investigação e argumentação: relações entre ciências da natureza e escola. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 17, p. 49-67, 2015.

SOUSA, R. F. R.; BARROS, C. M. P.; AGOSTINHO FILHO, J. C. Docência e Extensão: projeto “Caminhos do Saber em Secretariado Executivo”. Revista Extensão em Ação, v. 2, n. 14, p. 67-80, 2017.

TARGINO, A. R. L. Textos literários de divulgação cientifica na elaboração e aplicação de uma sequência didática sobre a lei periódica dos elementos químicos. 2017. 345f. Dissertação (Mestrado em Educação) -Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2017).

VIECHENESKI, J. P.; CARLETTO, M. R. Iniciação à alfabetização científica nos anos iniciais: contribuições de uma sequência didática. Investigações em Ensino de Ciências, v.8, n. 3, p. 525-543, 2016.

Notas

1. Graduanda de Pedagogia do Centro Universitário Internacional.

2. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade Federal de Catalão