Nathalia Felix Frigo
nathaliafelix@discente.ufg.br

Maria Eduarda Viana Batista
viana_eduarda@discente.ufg.br

Wellinton Lima Cedro
wcedro@ufg.br

EIXO
Formação de Professores (Didática, Didáticas Específicas)

Contribuições formativas do projeto matemática básica em perspectiva do programa de educação tutorial da licenciatura em matemática da UFG

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Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise qualitativa das contribuições formativas que o projeto Matemática Básica em Perspectiva (MBP) proporciona aos bolsistas e estagiários do Programa de Educação Tutorial da Licenciatura em Matemática da UFG (PETMAT). O projeto de extensão se constitui como um curso ofertado à toda comunidade com idade superior aos 14 anos e visa diagnosticar, compreender e propor ações formativas acerca do conhecimento matemático da Educação Básica. Dessa maneira, atuam na equipe executora professores colaboradores e estudantes do curso de licenciatura em Matemática da UFG, sendo que estes últimos são os bolsistas do PETMAT ou os estagiários da graduação. Os membros da equipe são responsáveis pelo planejamento das atividades desenvolvidas, acompanhamento dos alunos, análise crítica das ações realizadas e produção de material didático, ou seja, têm a oportunidade de vivenciar todas as atribuições de um professor atuante.

Palavras-chave: Formação de professores. Educação tutorial. Matemática básica.

Introdução

O Programa de Educação Tutorial (PET), administrado pela Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, tem o objetivo de promover e subsidiar, aos estudantes de instituições federais de Ensino Superior, oportunidades de experimentação de vivências extracurriculares que nem sempre são oferecidas nos cursos de graduação, melhorando a qualidade da aprendizagem e, consequentemente, o nível dos futuros profissionais formados. Estão em atividade atualmente mais de 840 grupos PET, alocados em cerca de 121 Instituições de Ensino Superior. Um deles é o PETMAT: PET da licenciatura em Matemática da UFG, contando com 12 bolsistas, 2 voluntários e um tutor.

Dentre os objetivos específicos que podem ser destacados no Manual de Orientações Básicas do PET, disponibilizado pelo Ministério da Educação (2006), é possível destacar : “[...] do envolvimento dos bolsistas em tarefas e atividades que propiciem o APRENDER FAZENDO E REFLETINDO SOBRE”; "a promoção da integração da formação acadêmica com a futura atividade profissional, especialmente no caso da carreira universitária, através de interação constante com a futuro ambiente profissional”; “discussão de temas [...] relevantes para o País e/ou para o exercício profissional e para a construção da cidadania”.

De acordo com o INEP (2019), a edição 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) revela que “[...] 68,1% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico de matemática”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram desenvolvidos pelo Ministério da Educação com o objetivo de auxiliar e direcionar os professores da Educação Básica no processo de ensino, criando práticas pedagógicas que propiciem a reflexão crítica dos conteúdos abordados. Estes, qualificam a Matemática como um fruto da interação humana com o meio, de forma que pode ser dividida em dois aspectos indissociáveis: a aplicação às atividades humanas e a especulação pura.

Assim, observando os apontamentos de Brasil (1997), pode-se observar que, sendo fruto da atividade humana e estando presente em todas as suas ramificações, a matemática é elemento essencial para que os indivíduos compreendam e saibam refletir sobre o mundo que os cerca. Informações como a revelada pelo Pisa 2018, se mostram, dessa forma, como sendo extremamente preocupantes, pois mostram que mais da metade dos estudantes avaliados não têm condições de exercer sua cidadania com dignidade.

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Em consonância com os objetivos destacados anteriormente e pensando na tentativa de reverter os quadros como o revelado pelo Pisa 2018, o PETMAT desenvolve, desde 2011, o projeto de extensão intitulado Matemática Básica em Perspectiva (MBP), que se constitui como um curso ofertado à toda comunidade com idade superior aos 14 anos, visando diagnosticar, compreender e propor ações formativas acerca do conhecimento matemático da Educação Básica.

Objetiva-se, neste trabalho, relatar a experiência, do ponto de vista das contribuições formativas, dos bolsistas do PEMAT e membros da equipe executora do projeto MBP no primeiro semestre de 2021, que se encontra em etapa final de aplicação e ocorre de forma remota.

Organização do projeto

Com atividades de planejamento realizadas nos anos de 2011 e 2012, o projeto MBP oferta o curso de Matemática Básica semestralmente desde 2013 de forma presencial. Aos sábados, a equipe executora e os alunos inscritos encontravam-se na UFG, no campus Colemar Natal e Silva, para estudar os conteúdos propostos. Ao todo, são 12 encontros, sendo um por semana. O material didático utilizado é a apostila elaborada pela equipe durante o planejamento do curso, que contém explicações teóricas, interpretação histórica e exercícios propostos, podendo ser mais contextualizados, de fixação e/ou de desafios interpretativos. O método utilizado é o de aulas expositivas interativas.

As inscrições para realização do curso no primeiro semestre de 2020 já haviam sido realizadas quando o vírus causador da COVID - 19 se proliferou pelo país, de forma que as condições sanitárias deixaram de ser propícias à realização de atividades presenciais. Através da Resolução CONSUNI n° 19/2020, publicada no dia 02 de abril de 2020, o reitor da UFG, Prof. Edward Madureira Brasil, no uso de suas atribuições, suspendeu por tempo indeterminado todas atividades acadêmicas de cursos na modalidade presencial.

Dessa maneira, em maio de 2020, a equipe resolveu executar o curso de maneira remota, iniciando-se assim o estudo das possibilidades e o planejamento. A nova organização passou a contar com um material didático virtual e vídeo-aulas gravadas e editadas pelos bolsistas e estagiários do projeto, auxiliados e supervisionados pelos professores colaboradores. Para o acompanhamento do desenvolvimento dos alunos matriculados, iniciou-se o uso da ferramenta on-line Google Classroom. As aulas passaram a ser realizadas por uma sala virtual no Google Meet aos sábados, das 8h30min às 12h, seguindo o horário de Brasília.

Apresentada a metodologia adotada para realização do curso, segue-se agora com a metodologia de estudos do presente trabalho: será feito um relato de experiência baseado na análise qualitativa das ações pedagógicas realizadas pela equipe executora do projeto no semestre 2021/1, buscando as contribuições formativas aos licenciandos, bem como os desafios encontrados. De acordo com Suárez (2011), os relatos de experiências pedagógicas transmitem o sentido que os autores atribuíram às suas vivências e as interpretações acerca dos acontecimentos relatados. Ainda, a característica auto-reflexiva desse tipo de documentação permite que o autor atribua um novo sentido à própria prática, transformando-a.

Todos os membros da equipe executora produzem, ao término de cada uma das aulas semanais, relatos de experiências individuais a serem discutidos pela equipe nas reuniões de planejamento. O esquema a seguir apresenta o cronograma da equipe a fim de promover a máxima qualidade das aulas do curso e da formação complementar dos membros da equipe executora como futuros professores da educação básica:

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Esquema 1. Cronograma de atividades semanais da equipe executora.

Análise dos relatos de experiência individuais

Importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem

De acordo com Tassoni e Santos (2013), é possível dizer que “[...] para Piaget, a afetividade é considerada como o combustível que leva o motor a funcionar, ou seja, traz a possibilidade de acelerar ou atrasar os processos de desenvolvimento da inteligência”.

Dentro dessa perspectiva, é válido dizer que os bolsistas do PETMAT e membros da equipe executora do projeto MBP têm desenvolvido a capacidade de potencializar o aprendizado dos alunos do curso, uma vez que, em diversos relatos de experiências das autoras é possível observar a valorização do afeto, como em: “houve uma melhoria na participação dos monitores e os alunos participaram bastante”, onde a participação dos monitores (membros da equipe) é vista como um estímulo à participação dos alunos; “do meu ponto de vista ele transmitiu empenho e animação ao resolver os exercícios sempre procurando a participação do alunos”, no qual o empenho e a animação de um ministrante são bem vistos e elogiados; “ficou claro que ele estava bastante atento ao chat com os alunos, sempre parabenizando e citando os nomes de quem estava participando”, onde a bolsista se atenta ao fato de um ministrante ser atencioso.

Reconhecimento da importância e da necessidade do planejamento das atividades

De acordo com Libâneo (2001), “o planejamento consiste numa atividade de previsão da ação a ser realizada, implicando definições de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tempo de execução”. As reuniões semanais de equipe executora têm possibilitado, aos bolsistas do Programa, reconhecer a importância do planejamento das aulas que ocorrem aos sábados. São discutidos sempre os métodos de ensino a serem utilizados pelos ministrantes, bem como são avaliados criticamente os pontos negativos e positivos das aulas anteriores para que se possam analisar as práticas pedagógicas que devem ou não ser mantidas pela equipe.

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É possível observar estes aspectos nos seguintes trechos retirados dos relatos das autoras: “Só tenho um adendo em relação a um exercício que necessitaria de conteúdos que são trabalhados nas próximas aulas para ser feito”, onde a autora percebe uma falha no planejamento de um exercício proposto por um ministrante; “Minha observação é com relação ao fato de que, durante esse momento, alguns de nós continuaram respondendo às dúvidas geradas no momento anterior, que já havia se encerrado. [...] fazer isso durante a exibição da vídeo-aula pode atrapalhar a concentração na explicação do professor.”, no qual a autora percebe a necessidade de planejar melhor os momentos de esclarecimento de dúvidas dos alunos.

A reflexão crítica das atividades realizadas

De acordo com Miranda (2015), o professor deve buscar fazer uma autorreflexão crítica e autônoma sobre sua prática. Os bolsistas do PETMAT e membros da equipe do projeto MBP são estimulados a realizar relatos de experiência semanalmente sobre a própria prática e a dos demais membros. É possível observar este aspecto nos seguintes trechos dos relatos das autoras: “também tenho que corrigir minha fala. Revi a aula e percebi que repetidamente ficava falando “agente” , “nois” , [...]. Como foi minha primeira aula achei razoável meu desempenho tenho muito a melhorar”; “eu acabei não planejando nenhum exercício rápido que envolvesse equações de segundo grau com discriminante maior que zero. Portanto, fiquei sem “cartas na manga” para contornar o tempo apertado. Foi erro meu, vou me atentar mais nas próximas oportunidades”. Nestes trechos é possível perceber que as autoras fazem críticas sobre as aulas que deram e demonstram que se empenharão em melhorar.

Conclusão

A partir das reflexões realizadas com base nas práticas pedagógicas aplicadas pelas autoras bolsistas durante o desenvolvimento do projeto Matemática Básica em Perspectiva, do Programa de Educação Tutorial da licenciatura em Matemática da UFG, é possível afirmar que os objetivos do Programa com relação à formação docente estabelecidos do Manual de Orientações Básicas vêm sendo alcançados com êxito.

Dentre as várias contribuições formativas observadas, destacam-se as várias oportunidades que os bolsistas - licenciandos em Matemática - têm tido de relacionar a teoria estudada nas disciplinas cursadas e a prática propriamente dita. O MBP pode ser visto como um ambiente de aperfeiçoamento da atividade docente, onde a equipe deve planejar aulas, planejar exercícios, acompanhar os alunos observando suas individualidades, observar e criticar a própria prática e a prática dos demais membros, refletir sobre os aspectos que devem ser mantidos, aperfeiçoados ou mudados, escolher os melhores métodos e colocar em execução tudo o que está sendo aprendido, promovendo renovação da própria atuação.

Referências

BRASIL. Assessoria de Comunicação Social. Pisa 2018 revela baixo desempenho escolar em leitura, matemática e ciências no Brasil. Brasília, DF,2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Manual de Orientações Básicas do Programa de Educação Tutorial. Brasília, DF, 2006.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília, DF, 1997.

LIB NEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001.

MIRANDA, M. G.; A psicologia como instância formativa. In: CHAVES, Juliana de C.; BITTAR, Mona; GEBRIM, Virgínia S. Escritos de psicologia, educação e cultura. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015, p. 169-182.

TASSONI, E. C. M.; SANTOS, A. N. M. Afetividade, ensino e aprendizagem: Um estudo no GT20 da ANPEd. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 17, Número 1, Janeiro/Junho de 2013: 65-76.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Resolução CONSUNI Nº 19/2020, 2 abr. 2020.