Ana Luiza Fernandes Novaes
ana.fernandes@discente.ufg.br

Elisa Vitória Mendonça Santos
elisa.santos@discente.ufg.br

EIXO
Arte, Dança, Educação Física, Música e Teatro

Um olhar sobre a formação de educadores acerca da experiência de docente-aprendiz no projeto PIBID-EMAC/UFG a partir da pedagogia da autonomia

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Resumo

O presente trabalho propõe uma revisitação à obra Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, à luz da experiência vivenciada no projeto Pibid pelos docentes-aprendizes da EMAC/UFG. A pesquisa centra-se na investigação e reflexão sobre os saberes necessários à prática educativa levantados por Paulo Freire na obra, tendo em vista a formação de novos docentes a partir da experiência vivenciada pelos pibidianos em contexto de pesquisa de iniciação à docência.

Palavras-chave: Docência. Saberes. Prática educativa.

Introdução

A prática docente, segundo Paulo Freire (2021), exige uma série de saberes por parte dos educadores. A reflexão aqui posta se debruça sobre o modo como esses saberes e suas implicações se concretizam no processo educativo por meio da articulação entre prática e teoria.

À luz da experiência de aprendiz-docente no Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) é possível elucubrar a respeito da formação de educadores e do modo como se colocam em sala, tendo em vista alguns dos aspectos levantados por Paulo Freire (2021), como o comprometimento, o rigor à pesquisa, o respeito aos saberes dos educandos, a consciência de que conhecimento não se transfere, o respeito à autonomia, a apreensão da realidade, a capacidade de ensinar aprendendo e aprender ensinando, a convicção de que a mudança é possível e de que ensinar é uma maneira de intervir no mundo.

Metodologia

A pesquisa é um olhar Freiriano sobre o estudo teórico e a experiência prática da docência vivenciada em contexto de Pibid. A investigação é um comparativo e uma reflexão a respeito da construção do debate teórico sobre o exercício dos saberes levantados por Freire, a partir da experiência de se reconhecer como um docente-aprendiz.

Resultados e discussões

A reflexão sobre a obra de Paulo Freire evidencia o grande expediente necessário para se tornar um educador ético e político em função de uma educação transformadora. A prática educativa exige comprometimento, rigorosidade, retidão ética e consciência crítica perante o fato de que o exercício de ensinar não consiste em uma transferência de conhecimentos.

É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimento, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 2021, p. 25)

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Essa troca de saberes se evidencia ao longo das experiências dos integrantes do Pibid para com os estudantes do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à educação (CEPAE-UFG) que compõe o projeto de extensão Revoada Musical, o qual busca desenvolver atividades artísticas como teatro, dança, artes plásticas e música, através da produção de espetáculos musicais –que este ano conta com a temática do centenário de Paulo Freire-. Os saberes de cada indivíduo são compartilhados de forma espontânea, logo se tornando parte de uma rede infindável de conhecimento.

Em função do modo pelo qual a troca de conhecimentos tem passado por certa mudança decorrente do isolamento social e medidas sanitárias para enfrentamento do novo Corona-vírus, o ensino remoto foi assumido como uma forma de prosseguir os estudos, se fazendo necessárias adaptações para que os processos e troca de saberes continuem ocorrendo de maneira fluida. A tecnologia é uma forte aliada das atuais circunstâncias, pois além de facilitar a comunicação, oferecendo diversas ferramentas que podem ser aliadas no ambiente das aulas virtuais, também proporciona diversas camadas de interações e troca de informações que facilitam execuções de atividades.

Dos exemplos práticos que ocorrem com frequência durante os encontros Pibid/ Revoada, temos o compartilhamento de novas terminologias aprendidas, de sugestões de softwares de edição, de aplicativos que podem auxiliar nas atividades diárias, extensões que podem facilitar a participação nas aulas síncronas, além do importante espaço para troca de experiências e do registro das informações trocadas. Algo interessante a ser observado é que a distância tende a impulsionar um esforço maior para alcançar os estudantes e professores de forma mais sólida e buscar mais formas de aproximação. Consequentemente, estabelecem-se mais caminhos para aprender e para aprender a aprender.

O contato com os estudantes proporciona a troca dos aprendizados diários em que, a partir do diálogo, as relações são estruturadas de forma saudável. A figura do professor é característica da experiência humana de formação, e, portanto, é necessário que esta figura estabeleça uma relação de respeito à dignidade, à autonomia e à diversidade de saberes que os próprios educandos trazem de suas experiências pessoais, o que é, segundo Freire “um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” (FREIRE, 2021, p. 58). Apenas assim é possível uma realidade onde o conhecimento é um ponto de partida para a troca educativa no qual, no exercício de aprender ensinando e de ensinar aprendendo, o educador contribui com a formação de estudantes que sejam sujeitos de seu próprio aprendizado.

Para isso, é exigido do educador o exercício de compreender que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” (FREIRE, 2021, p. 30). Na formação constante do docente, o ato inacabado de construir conhecimento deve se fazer presente a todo instante à natureza prática de ensinar. É necessário “se assumir, porque professor, como pesquisador” (FREIRE, 2021, p. 30).

Nesse sentido, encontrar um espaço acadêmico cujo enfoque seja precisamente a pesquisa sobre a docência, como é o caso dos programas Pibid, é crucial para a articulação prática da formação comprometida de professores. Resguardar programas acadêmicos voltados para a educação deve ser uma pauta de reivindicação estudantil urgente, pois é dentro de espaços como esses que os estudantes se veem estimulados a pesquisar a prática educativa com seriedade e a construir conhecimento de forma ética e política.

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Outro levantamento de Freire é o de que o educador deve ser capaz de apreender a realidade e suas implicações que chegam para a sala de aula. O autor diz que “como professor preciso me mover com clareza na minha prática. Preciso conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais seguro no meu próprio desempenho” (FREIRE, 2021, p. 67). A esse tópico se resguarda, especialmente, a questão do ensino remoto instaurado em contexto de pandemia. Compreender os novos desafios das novas realidades dadas, e que essas mudanças interferem no exercício de ensinar, e também no de aprender, são questões latentes para as quais tem sido preciso se voltar com atenção.

Por fim, Freire aponta para o ato esperançoso de acreditar na mudança, na medida em que se compreende o exercício de ensinar como uma forma de intervir no mundo.

Saber do futuro como problema e não como inexorabilidade. É um saber da história como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só de quem constata o que ocorre, mas também de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar. (FREIRE, 2021, pp .74-75)

A perspectiva que entende o ofício de educador como uma ação transformadora é apresentada aos pibidianos ao passo em que se tem a oportunidade de participar ativamente da formação artística, cultural e social de educandos que, a cada aula, se mostram mais sujeitos do próprio aprendizado, da mesma forma que gradativamente se apresentam mais confortáveis para compartilhar dos próprios saberes que carregam de suas experiências pessoais. Perceber que, no início do programa, as crianças do projeto não conheciam Paulo Freire e, um ano depois, se encontram articulando um espetáculo para homenagear seu centenário e contar um pouco de sua história e contribuição é a evidência de uma troca de saberes que, embasada em um estudo esperançoso, se corporifica pelo exemplo de uma prática educativa transformadora.

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 67º ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2021.

Notas

1. O em questão é parte das pesquisas realizadas no PIBID 2020/2021 subprojeto artes, sob orientação das professoras doutoras, Joana Abreu e Thaís Lobosque, e supervisão das professoras doutoras, Ana de Pellegrin, Kely de Castro e Telma de Oliveira.

2. PIBID-EMAC/UFG

3. PIBID-EMAC/UFG