Amanda Rodrigues Lopes
r.amanda.lopes09@gmail.com

Luiz Roberto Monteiro Neto
adluizmonteiro@gmail.com

Joana Abreu Pereira de Oliveira
joana.abreu@ufg.br

Thaís Lobosque Aquino
tlobosque@ufg.br

EIXO
Arte, Dança, Educação Física, Música e Teatro

Artes integradas no projeto revoada musical

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Resumo

O Revoada Musical é um projeto de extensão do CEPAE-UFG, que conta com docentes de três linguagens artísticas, oito bolsistas do PIBID-Artes/UFG e crianças. O presente trabalho se propõe a caracterizar este projeto, bem como o conceito de artes integradas que o fundamenta. Para isso, são utilizados os pressupostos da pesquisa participante a partir de um estudo de caso. O conceito de artes integradas é compreendido como uma metodologia de ensino da arte em que se articulam as diferentes linguagens artísticas numa perspectiva fortemente humana.

Palavras-chave: Artes Integradas. Produção de Musicais. Projeto.

Introdução

Em seu site oficial, o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás (CEPAE-UFG) deu início às suas atividades em 1968 e, hoje, constitui um importante espaço de formação de alunos e futuros professores. É também importante campo de estágio e pesquisa para alunos da Universidade Federal de Goiás e conta ainda com projetos de extensão voltados para a comunidade em geral.

Uma das características mais marcantes dos projetos de extensão do CEPAE nos é apresentada no site oficial da instituição, o qual afirma que com esses projetos a escola “oportuniza um espaço de produção de novos saberes nas várias áreas do conhecimento, enquanto articulada com o ensino e a pesquisa, numa concepção transformadora e crítica” (CEPAE, 2017, p.7).

O Revoada Musical é um projeto de extensão do CEPAE que tem como objetivo a produção de musicais infanto-juvenis. O projeto é coordenado pela Profa. Dra. Telma de Oliveira Ferreira e conta com a participação das Profas. Dras. Kely Elias de Castro e Ana de Pellegrin. Estas atuam respectivamente nas áreas da música, teatro e dança. Além disto, desde outubro de 2020, o projeto passou a contar com a participação de oito bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da UFG (PIBID), subprojeto Artes, e suas orientadoras Profa. Dra. Thaís Lobosque Aquino e Profa. Dra. Joana Abreu, das áreas de música e de teatro, respectivamente.

Dos oito bolsistas, quatro são discentes da licenciatura em música e quatro discentes da licenciatura em teatro. Ambos os cursos são ofertados pela Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG, o que favorece a integração entre as linguagens artísticas, aspecto central para o desenvolvimento dos trabalhos oriundos da parceria entre Revoada e PIBID – Artes/UFG.

Tal integração, aliada à maneira com que o projeto é conduzido a cada encontro, nos permite localizá-lo dentro das artes integradas. Partiremos das ideias propostas por Aline Folly Faria em sua dissertação de mestrado ARTES INTEGRADAS: características das práticas desenvolvidas em escolas de Goiânia (2009), tanto para compreender o que caracteriza as artes integradas quanto para localizar o Projeto Revoada Musical neste contexto.

Buscando a compreensão deste pensamento integrativo e do ritmo que move essa perspectiva, analisaremos brevemente algumas afirmações a respeito de uma das linguagens artísticas presentes no CEPAE-UFG. Para tanto, utilizaremos as proposições de Telma de Oliveira Ferreira e Denize Álvares Campos (2004), formuladas no artigo A Música na Escola: Ações Pedagógicas em Música Desenvolvidas no Ensino Fundamental e Médio do Cepae/Ufg. Desta maneira, tentaremos localizar a gênese e o que move os envolvidos no Projeto Revoada Musical, bem como sua complexidade e relevância para a formação dos bolsistas do PIBID-Artes que dele participam.

Metodologia

Com base no paradigma qualitativo, o presente resumo expandido constitui um breve estudo de caso à medida que nos debruçamos sobre um projeto específico, que constitui uma prática significativa a ponto de ser passível de generalizações (SEVERINO, 2007, p. 121).

A autoria é de quatro envolvidos que participam ativamente do Projeto Revoada e do PIBID-Artes/UFG, tanto em momentos de atuação docente como em demais momentos formativos. Estamos em constante contato com os sujeitos que movem este processo: alunos e professoras. Na mesma medida, somos sujeitos que têm sua formação acadêmica (inicial ou continuada) ampliada através da prática docente propiciada pelo PIBID-Artes/UFG e do contato com as práticas de artes integradas.

Desta maneira, fazemo-nos valer também do que Severino (2007, p. 120) chamou de pesquisa participante. Observamos os fatos sem perder de vista que os vivenciamos: somos diretamente atores e público desta grande construção.

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Resultados e discussões

Desde 16 de março de 2020, as aulas presenciais da UFG foram suspensas em virtude da pandemia de Covid-19. Após a suspensão total das atividades, a retomada do Projeto Revoada Musical ocorreu em 24 de novembro de 2020, trazendo consigo o desafio da nova rotina online. Neste período, foi decidido que o musical seria feito em homenagem ao centenário de nascimento de Paulo Freire.

No Revoada, os encontros com as crianças ocorrem semanalmente às terças-feiras e, no ambiente virtual, tiveram sua carga horária reduzida para uma hora. Por se tratar de um projeto de extensão, há o contato com crianças de diversas realidades sociais e econômicas e com variadas estruturas familiares e crenças, o que torna as reuniões um momento de troca rico e valioso para alunos e professores. Para tornar o momento acolhedor, há sempre espaço para a fala das crianças acerca de dificuldades e benefícios do Projeto Revoada Musical e de questões surgidas em função da pandemia de Covid-19.

Da mesma maneira, as reuniões de planejamento pedagógico que ocorrem semanalmente tornaram-se um espaço de partilha das vitórias e enfrentamentos trazidos pelo novo momento e um espaço democrático onde bolsistas e professoras (orientadoras e supervisoras) tomam as decisões juntos. Ideias são sempre bem-vindas, ouvidas e discutidas. Todos os presentes possuem seu espaço de fala, que é dotado de formação em uma linguagem específica da arte, como já citado, e juntos tornamos o projeto uma prática de artes integradas.

Faria (2009, p.14) nos coloca que as artes integradas constituem uma metodologia que busca a integração entre linguagens artísticas e sua co-relação com outros temas. A busca por esta integração parte, a todo momento, do que Faria (2009, p. 20) chama de “um novo olhar”.

Produzir um musical partindo apenas da experiência do profissional de uma linguagem poderia gerar uma performance. No entanto, a busca das artes integradas é por uma integração, antes de tudo, humana. Cada uma das professoras e bolsistas envolvidas procura incessantemente a construção de seu próprio conhecimento em diálogo umas com as outras. Falamos de cinco doutoras e oito estudantes que buscam ampliar sua formação docente através da prática e da reflexão acerca do ensino de artes na Educação Básica.

Até o presente momento houve apenas dois momentos nos quais as profissionais das duas linguagens, música e teatro, reuniram-se separadamente. Salvos estes, todas as reuniões, encontros e discussões ocorreram de maneira conjunta e democrática.

Para a composição de uma canção para o musical, a professora Dra. Telma de Oliveira Ferreira propôs a seguinte frase musical:

Figura 1. Frase Musical. Fonte: Arquivo pessoal dos autores.

A partir desta frase musical, foram realizadas reuniões com a presença das quatro bolsistas da área de música. Anteriormente, havíamos solicitado que as crianças realizassem a gravação de um vídeo cantando, dançando ou encenando, e que tratasse de sua nova rotina de estudos em casa durante o ensino remoto. A partir deles, foi composta a letra, a melodia e a harmonia da canção que foi posteriormente transcrita para partitura.

Paralelamente, os estudantes de teatro se reuniram com a professora Dra. Kely de Castro e, a partir da inspiração da analogia entre as janelas das casas ou apartamentos – que proporcionam a visão para o lado externo e hoje podem ser consideradas o pátio ao qual as crianças têm acesso em seu momento de lazer – e as chamadas janelas do computador ou celular – que são as várias abas abertas na tela e que intermediam as aulas das crianças. Após reflexões, um dos bolsistas de teatro construiu, com papelão, uma janela semelhante à de uma casa e gravou para as crianças uma breve cena com a abertura desta janela e duas abordagens diferentes ao abri-la: uma que descrevia literalmente o que estava sendo visto e outra com uma descrição mais poética e metafórica do que se vê da janela.

Ver uma janela real e, ao mesmo tempo, lúdica e construída com material acessível fez os olhos das crianças brilharem. Para muitas delas, a produção de sua própria janela foi um momento artístico que enriqueceu o exercício teatral com mais identificação, emoção e dedicação.

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Figura 2. Exemplo de janela. Fonte: Arquivo pessoal dos autores.

Buscamos o que Morin (2005, p. 13) chama de pensamento complexo, onde respeitar as multidimensionalidades envolvidas inclui permitir que as crianças escolham de qual maneira realizarão sua atividade. Algumas cantaram, outras dançaram, outras contaram histórias. Após a produção do clipe da música Casa vira Escola havia representatividade visual e musical do que as próprias crianças produziram. Ao mesmo tempo, bolsistas e professoras lidaram com a certeza do constante inacabamento. Ainda mais em tempos tão complexos da pandemia que uma de nossas alunas do Projeto chama de “Mocorongavírus”, em analogia ao Coronavírus, responsável pela doença Covid-19, e manifestando sua insatisfação com o momento pandêmico.

Tal complexidade torna-se estruturante das artes integradas. Citamos os dois únicos momentos em que o trabalho com cada linguagem ocorreu separadamente, algo importante para se contemplar as especificidades de cada uma delas, e gostaríamos de destacar a presença intrínseca das várias linguagens neles. Cada profissional fala de seu próprio espaço de atuação com respeito, interesse e curiosidade com outras manifestações. Arriscamo-nos com edições de vídeo e artesanato com papelão, por exemplo, para enriquecer os processos musical e teatral. E estas outras construções que nos parecem distantes de nossa formação acadêmica diversificam nossa formação artística e humana.

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Especificamente sobre as práticas musicais do CEPAE-UFG, Campos e Ferreira (2004, p. 282) destacam que as práticas performáticas só faziam sentido no currículo escolar se estivessem inseridas “em práticas abrangentes de educação musical”. Ao tratar da linguagem musical, por exemplo, era explorada a chamada linguagem formal, mas, também formas alternativas de grafia musical. Desta maneira, as crianças apreendem não apenas conceitos musicais, mas sentidos e significados inerentes à linguagem como um todo, à comunicação, à função do conhecimento científico/acadêmico.

Ao tratarmos do centenário do nascimento de Paulo Freire no musical que está sendo produzido pelo Projeto Revoada extrapolamos mais uma vez os limites da arte numa busca pela integração com o conhecimento como um todo e com a humanidade envolvida no processo de ensino-aprendizagem. O olhar que cada um dos envolvidos leva para as reuniões do Projeto é um olhar que se integra ao nosso a cada encontro. É um olhar percebido, por exemplo, no citado currículo de música do CEPAE-UFG e, logo, antes de tudo, na professora responsável por este currículo e pela coordenação do Projeto Revoada Musical.

Os resultados e as trocas já alcançados fazem brilhar os olhos dos alunos e de nós, adultos. No entanto, temos a certeza de que novos desafios surgirão sempre no processo de ensino aprendizagem, junto do alcance de novas perspectivas.

Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo. (Paulo Freire)

Referências

CAMPOS, Denize Álvares; FERREIRA, Telma de Oliveira. A Música na Escola: Ações Pedagógicas em Música Desenvolvidas no Ensino Fundamental e Médio Do Cepae/Ufg. In: Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical, 13, 2014, Rio de Janeiro/RJ. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro/RJ: ABEM, 2004. P. 282- 289. Disponível em: http://abemeducacaomusical.com.br/sistemas/anais/congressos/ABEM_2004.pdf. Acesso em: 22/06/2021.

CEPAE. Caracterização do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação CEPAE/ PROGRAD/ UFG. 2017. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/80/o/Caracteriza%C3%A7%C3%A3o_do_CEPAE_2017.pdf. Acesso em: 25/07/2021.

FARIA, Aline Folly. Artes integradas: características das práticas desenvolvidas em escolas de Goiânia. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1996.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Sulina, 2005. p.13 -15.

MUSICAL, Revoada. Casa Vira Escola. Youtube, 08/06/2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ScJgBNTr8UA. Acesso em 05/08/2021.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Notas

1. Este trabalho é parte da pesquisa desenvolvida no PIBID 2020 – Subprojeto Arte, orientado pelas professoras doutoras Joana Abreu Pereira de Oliveira e Thaís Lobosque Aquino, da EMAC-UFG, e supervisionado pelas professoras doutoras Kely de Castro e Telma de Oliveira Ferreira, do CEPAE-UFG, e Ana de Pellegrin (aposentada da FEFD-UFG).

2. EMAC/ UFG

3. EMAC/ UFG

4. EMAC/ UFG

5. EMAC/ UFG

6. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/80/o/Caracteriza%C3%A7%C3%A3o_do_CEPAE_2017.pdf. Acesso em: 5 ago. 2021.